Jatobá

 (introdução com o som dos jatobás)


O som da cachoeira vindo/feito de Jatobá

Nasci na cordilheira / Desaguei no Guamá

Tesouro escondido que atrai o olhar

Banzeiro diferente, Araxá, Macapá.

Paisagem, simetria, coração por um fio

Poesia rabiscada, ensaiada num canto do Brasil


Lampejo, gravidade / estou saindo do chão

Vestindo um chapéu / de palha “azul confusão”

Na aba o mistério, tão intensa atração!

Maria que o diga, acordes desta canção.

Ensaio, fim de tarde, bossa, blue, um café

E eu tiro o chapéu, retiro meu chapéu só pr'aquela mulher


É nessa onda carimbó, marabaixo

que eu saio pro mato sem pressa de voltar

Visto o chapéu azul que controla o tempo,

no preciso momento, à sombra do jatobá.


Cláudio Bolão e Ivan Rubens


Falsete da emoção

Falsete de emoção 


Pare na ladeira / Manhã bem traiçoeira / Mudança de Estação 

Em raios lancinantes / Manhã tão cintilante / torrente de paixão


Num cofre ali guardado / Um ponto iluminado / E pulsa o coração

Se abro a janela / Solfejo em aquarelas / Falsete da emoção


Se a noite ali está / um poeta a pensar  / Um acorde, um violão

Se o tempo não passar / Que não é de se  estranhar / o poder da criação


Seja do jeito que for / mas que seja uma canção / que toque a alma e dê sabor / que sapeca, o coração

Seja do jeito que for / seja lá o que Deus quiser / que agrade o coração / no peito de uma mulher



Cláudio Bolão e Ivan Rubens


Deixa chover, ô ô ô


A cidade de Belém/PA é conhecida por muitas coisas, inclusive pela chuva. Dizem que em Belém chove quase todos os dias sempre no final da tarde. Dizem que é comum as pessoas marcarem compromissos para depois da chuva: "nos encontramos depois da chuva". Uma pesquisa rápida apresenta várias cidades brasileiras onde a chuva ultrapassa os 3.000 milímetros no período de um ano, a maioria delas situadas na região Norte do Brasil. O ano de 2023 foi bastante chuvoso na cidade de Rio Claro/SP também: 1.837 milímetros.

Guilherme Arantes é um artista brasileiro, cantor e compositor, nascido na cidade de São Paulo no ano de 1953. A canção “Deixa Chover” começa assim:

CERTOS DIAS DE CHUVA / NEM É BOM SAIR DE CASA, AGITAR / É MELHOR DORMIR / SE VOCÊ TENTOU E NÃO ACONTECEU... VALEU! / INFELIZMENTE NEM TUDO É / EXATAMENTE COMO A GENTE QUER

A cantora Vanessa Moreno diz que, quando era criança e tinha algum pedido negado pela mãe, tal negativa se justificava com a canção do Guilherme na voz materna: "Infelizmente nem tudo é / Exatamente como a gente quer". Aqui vemos um trecho bem pedagógico, desses que educa para a vida. Porque a vida nos ensina exatamente isso: nem tudo é exatamente do jeitinho que a gente quer. O nosso desejo é ilimitado, mas a vida nos coloca limites, o mundo nos coloca limites, a sociedade nos coloca limites. O tempo nos dá limites, as outras pessoas nos colocam limites. Nosso próprio corpo nos coloca limites. Tudo isso que nos dá limites, também nos dá possibilidades... A canção continua:

AS PESSOAS SEMPRE TÊM CHANCE DE JOGAR / DE NOVO E ERRAR / VER O QUE CONVÉM / RECEBER ALGUÉM / NO SEU CORAÇÃO... OU NÃO / INFELIZMENTE NEM TUDO É / EXATAMENTE COMO A GENTE QUER

Que bom!!! poder errar e continuar tentando. A canção nos convida a pensar na errância, o erro livre do acerto, do certo em oposição ao errado, mas pensar e experimentar o erro como errância, e a errância como movimento. O movimento mesmo da vida, possibilidades de vida dentro do tempo determinado da vida, porque o corpo tem limites e a vida que habita um corpo tem fim, o fim determinado pela morte.

DEIXA CHOVER Ô Ô Ô / DEIXA A CHUVA MOLHAR / DENTRO DO PEITO TEM UM FOGO ARDENDO / QUE NUNCA VAI SE APAGAR

Fogo que arde no peito pode ser compreendido como a chama do desejo, da vontade. Desejo de viver, vontade de lutar pela vida, uma força que alimenta, que anima, que coloca nosso corpo na ativa. Mas tudo isso tem o limite inexorável da morte. A canção “Deixa Chover” estourou no Brasil em 1981 na voz do próprio Guilherme Arantes mas, para mim e para as minhas irmãs Graziella e Ivanessa, a canção fez sucesso mesmo na voz grave de um rioclarense que, violão no colo e bigode proeminente, cantava para as crianças embalando aquela década mágica de nossas vidas.

João Afonso Faglioni, nos encontramos depois da chuva.

DEIXA CHOVER Ô Ô Ô…




Ivan Rubens

publicado no Jornal Cidade de Rio Claro na edição de 16 de abril de 2024






Um Homem Comum


sobre Nietzsche, Peter Gast e Caetano Veloso


O baiano Caetano Veloso tem uma obra vastíssima. Você, certamente, conhece alguma canção deste artista baiano, talvez nem saiba tratar-se de uma canção de Caetano ao cantarolar. Neste texto vamos falar de uma canção pouco conhecida intitulada 'Peter Gast'. A canção está no álbum chamado UNS, de 1983, onde aparecem clássicos como o samba enredo É Hoje, como Eclipse Oculto e outras canções. A canção ‘Peter Gast’ começa assim:

SOU UM HOMEM COMUM, QUALQUER UM / ENGANANDO ENTRE A DOR E O PRAZER / HEI DE VIVER E MORRER COMO UM HOMEM COMUM / MAS O MEU CORAÇÃO DE POETA PROJETA-ME EM TAL SOLIDÃO...

Sou um homem comum.... O artista pode estar falando de si mesmo, mas se Caetano estiver falando de um eu lírico, ‘Sou’ pode ser qualquer pessoa. Assim ele nos empurra a pensar para fora do ego, para fora ou para além do sujeito, pensar sem sujeito. Então, ‘sou um homem comum’, sou uma mulher comum. Qualquer homem, qualquer mulher, apenas mais um, apenas mais uma, na multidão. Assim a canção começa nos convidando para um passeio pelo comunal, por esta dimensão daquilo que pode ser de todos, de todas, de cada um e cada uma, que ao mesmo tempo não é de ninguém. Mas (e sempre tem um mas...), um coração de poeta, mas a poesia pode projetar, a poesia pode lançar, a poesia pode ascender a alma, elevar o espírito, a poesia pode ampliar os horizontes, pode nos fazer voar. Um outro verso da mesma 'Peter Gast' diz assim:

NINGUÉM É COMUM, E EU SOU NINGUÉM. NO MEIO DE TANTA GENTE / DE REPENTE VEM (...) O PROFUNDO SILÊNCIO / DA MÚSICA LÍMPIDA DE PETER GAST

Mas (e sempre tem um mas), ninguém é igual, mesmo gêmeos não são iguais. Toda pessoa é singular, se faz na singularidade do percurso da vida.

ESCUTO A MÚSICA SILENCIOSA DE PETER GAST / PETER GAST, O HÓSPEDE DO PROFETA SEM MORADA / O MENINO BONITO, PETER GAST / ROSA DO CREPÚSCULO DE VENEZA / MESMO AQUI NO SAMBA-CANÇÃO DO MEU ROCK'N'ROLL / ESCUTO A MÚSICA SILENCIOSA DE PETER GAST

Você talvez esteja se perguntando: quem é esse tal de Peter Gast? de onde a inspiração para o artista criar a sua obra de arte? Acontece que Caetano Veloso estava muito interessado no filósofo alemão Friedrich Nietzsche, leu um livro a respeito da vida do filósofo e ficou fascinado com a personalidade de Johann Köselitz, igualmente músico e compositor, amigo de Nietzsche até o final de sua vida, que dedicou parte significativa de sua vida à amizade com seu ex-professor e sua produção filosófica e intelectual. A propósito do livro ‘Humano, demasiado humano’, Nietzsche dizia: “fundamentalmente, Gast foi o escritor enquanto eu fui apenas o autor”. Assim ficou conhecido Köselitz: Peter Gast.

ESCUTO A MÚSICA SILENCIOSA DE PETER GAST / PETER GAST

Composição: Gast pode significar ‘hóspede’, pode significar ‘visitante’ ou ‘convidado’. Um homem comum, um homem ninguém, um menino bonito, um músico e compositor que se fez conhecido na voz e nas palavras do amigo Nietzsche.



Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 19 de março de 2024







Noite definitiva


Estrelas refletem o brilho do sol, este sim uma estrela de luz própria. O sol é uma estrela de luz própria cuja energia na forma de raios solares viajam pelo espaço até atingir nossa pele, até atingir os planetas e as estrelas cujo reflexo observamos aqui do nosso mundinho quando admiramos a beleza do céu estrelado numa noite de luar.

Sol, a estrela maior, mais quente, mais brilhante.

Sol ilumina, aquece, dá vida.

Sol vai embora quando é noite e aparece trazendo o dia.

Exceto à noite. Noite é o tempo sem sol.

E chega a noite definitiva.



De volta pro Aconchego

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para ler escutando a canção 
uma experiência 



Dominguinhos (José Domingos de Morais, 1941-2013) é pernambucano, sanfoneiro, cantor e compositor. Amigo de Luiz Gonzaga, sua formação musical passa pelo baião, bossa-nova, choro, forró, xote e jazz.

Dominguinhos e Luiz Gonzaga são artistas. Artistas são pessoas dotadas de grande sensibilidade, são pessoas à flor da pele. Artistas são pessoas que carregam dentro de si a energia da criação. Sem a criação, artistas talvez não conseguissem viver, talvez implodiriam. Trata-se do contrário: artistas são seres em explosão, seres em erupção. Imagine uma bexiga de festa infantil que explode quando cheia demais. Imagine um vulcão que dá passagem ao magma incandescente desde as profundezas da Terra para a superfície, derramando lava, a rocha em estado líquido. A imagem do vulcão nos ajuda a pensar como eu imagino que aconteça no corpo dos artistas: a criação como uma fervura que está nas profundezas da alma humana, que passa pelo corpo do artista e chega à superfície, que derrama no mundo sua beleza em forma de arte. Uma canção, por exemplo.

De Dominguinhos e Nando Cordel, a canção “De volta pro aconchego” diz assim:

Estou de volta pro meu aconchego / Trazendo na mala bastante saudade / Querendo um sorriso sincero, um abraço / Para aliviar meu cansaço / E toda essa minha vontade

O eu lírico fala da alegria de retornar a um lugar. Um lugar que, neste caso, pode ser uma cidade, uma casa, um lugar de aconchego. Ele chega trazendo na mala saudade, o desejo de um sorriso e um abraço. Um abraço como o lugar do aconchego. A canção continua…

Que bom poder tá contigo de novo / Roçando o teu corpo e beijando você / Pra mim tu és a estrela mais linda / Seus olhos me prendem, fascinam / A paz que eu gosto de ter

Contigo, "roçando o teu corpo e beijando você", indica ser o lugar do aconchego uma pessoa. Uma pessoa com o brilho da estrela mais linda, cujo olhar fascina, cuja presença produz um ambiente de paz. Afinal, “quando a gente ama, brilha mais que o Sol”, mas essa é outra canção (rs).

É duro ficar sem você, vez em quando / Parece que falta um pedaço de mim / Me alegro na hora de regressar / Parece que eu vou mergulhar / Na felicidade sem fim

Se é duro ficar sem esse lugar de aconchego (e é), por outro lado, acessar este lugar do aconchego é sentir uma felicidade sem fim, uma alegria eterna. Uma eternidade no sentido da ternura, da chama acesa, da vida que pulsa. E do desejo de mergulhar mais profundo, mesmo que um pouquinho mais profundo, num encontro potente, um encontro que significa um tempo e um espaço à parte, um tempo e espaço separado da rotina, separado do dia-a-dia, um tempo e um espaço para contemplação e sublimação. Sublimação como observar um amanhecer, um nascer de Sol, um ser novo que vem à luz do dia, ou um golfinho que salta nas águas, um boto, uma preguiça na árvore. Uma criança que pedala a bicicleta sem as rodinhas e sem as mãos de um adulto, que caminha pela primeira vez, uma criança desenhando ou lendo sozinha as primeiras letras. Uma castanheira na floresta amazônica. Comer fruta do pé.

Ivan Rubens
educador




Aconchego


Dominguinhos (José Domingos de Morais, 1941-2013) é pernambucano, sanfoneiro, cantor e compositor. Amigo de Luiz Gonzaga, sua formação musical passa pelo baião, bossa-nova, choro, forró, xote e jazz.

Dominguinhos e Luiz Gonzaga são artistas. Artistas são pessoas dotadas de grande sensibilidade, são pessoas à flor da pele. Artistas são pessoas que carregam dentro de si a energia da criação. Sem a criação, artistas talvez não conseguissem viver, talvez implodiriam. Pelo contrário, os artistas são seres em explosão, seres em erupção. Imagine uma bexiga de festa infantil que explode quando cheia demais. Imagine um vulcão que dá passagem ao magma incandescente desde as profundezas da Terra para a superfície, derramando em lava a rocha em estado líquido. A imagem do vulcão nos ajuda a pensar como eu imagino que aconteça no corpo dos artistas: a criação como uma fervura que está nas profundezas da alma humana, que passa pelo corpo do artista e chega à superfície, que derrama no mundo sua beleza em forma de arte. Uma canção, por exemplo.

Em parceria com Nando Cordel, a canção “De volta pro aconchego” diz assim:

Estou de volta pro meu aconchego / Trazendo na mala bastante saudade / Querendo um sorriso sincero, um abraço / Para aliviar meu cansaço / E toda essa minha vontade

O eu lírico fala da alegria de retornar a um lugar. Um lugar que, neste caso, pode ser uma cidade, uma casa, um lugar de aconchego. Ele chega trazendo na mala saudade, o desejo de um sorriso e um abraço. Este lugar de aconchego poderia ser um abraço? A canção continua…

Que bom poder tá contigo de novo / Roçando o teu corpo e beijando você / Pra mim tu és a estrela mais linda / Seus olhos me prendem, fascinam / A paz que eu gosto de ter

Contigo, "roçando o teu corpo e beijando você", indica ser o lugar do aconchego uma pessoa. Uma pessoa com o brilho da estrela mais linda, cujo olhar fascina, cuja presença produz um ambiente de paz.

É duro ficar sem você, vez em quando / Parece que falta um pedaço de mim / Me alegro na hora de regressar / Parece que eu vou mergulhar / Na felicidade sem fim

Se é duro ficar sem esse lugar de aconchego (e é), por outro lado, acessar este lugar do aconchego é como se tomado por uma sensação de felicidade sem fim, uma espécie de alegria eterna. Mas lembremos que eterno não é para sempre. Talvez seja e_terno no sentido de uma ternura, da chama acesa, da vida que pulsa. E do desejo de mergulhar mais profundo, mesmo que um pouquinho mais profundo, num encontro potente, um encontro que significa um tempo e um espaço à parte, um tempo e espaço separado da rotina, separado do dia-a-dia, um tempo e um espaço para contemplação e sublimação. Como observar um amanhecer, um nascer de Sol, ou mesmo imaginar o sol nascendo como se fosse uma criança, rompendo barriga da noite e trazendo a luz, a força, o calor e a alegria. Imagino que seja contemplar uma barriga que cresce, contar os dias em 40 semanas, ouvir o primeiro choro da criança que nasce.

Ivan Rubens

Cidades me habitam

eu adoro Brasília

vista de cima, a cidade tem o desenho de um avião.

É o Plano Piloto

no corpo do avião ficam os ministérios. na cabine do avião fica a sede dos 3 poderes: executivo (Palácio do Planalto onde fica o presidente da república), legislativo (congresso nacional onde ficam deputados e senadores) e judiciário (o supremo tribunal federal). Isso que a TV mostra todos os dias

eu já trabalhei em Brasília. adoro a cidade

nas asas do avião são a asa sul e a asa norte. Casas, apartamentos, comércio e serviços.

cidade cara demais. Museu a céu aberto, no corpo do avião, prédios são obras de arte.

uma cidade linda e toda planejada. tudo feito da melhor qualidade. paisagem de rara beleza, se ha natureza é construída por mãos humanas. a natureza de uma certa humanidade.

uma cidade mto diferente das outras.

fazia um tempão q eu não vinha a Brasília. Vim na posse do Lula em primeiro de janeiro de 2023.

eu sinto saudade das cidades que eu conheço. E até das cidades que ainda não conheço eu sinto saudade. Sinto saudade de Barcelona e Madri. Sinto saudade de Sevilha. Sinto saudade de Lisboa. Sinto saudade do museu do Louvre em Paris, das ruas de Roma, até de Montevidéo, Caracas e Bogotá que estão pertinho eu sinto saudade. Sinto muita saudade de Havana. Cidades que ainda não conheço mas sinto saudade. Budapeste, Moscou, Pequim, Tokyo, Cidade do Cabo, Luanda, Nairóbi, Lagos, Dakar, Lomé, Porto Novo, Lagos. Sinto saudade de Bombaim, de Kuala Lumpur, de Hanói. Se acaso conhecê-las, ainda sentirei saudade dessas cidades. Conhecer uma cidade é estar em contato com um pedacinho dela, um pedacinho de sua matéria. Passamos pelas cidades mas nunca conheceremos as cidades. E as cidades passam por nós em sua concretudd e seu misterio. Portanto sentiremos saudade das cidades que nos habitam. 

Eu mora na cidade e as cidades me habitam. Morar e habitar, morar e habitar e conhecer. Uma busca e_terna, uma busca com ternura.

rios, ruas e risos


Para quem vive na cidade, transporte e trânsito pressupõem rodas. tudo sobre rodas: caminhões, ônibus, carros, motos, bicicletas. Tudo transitando sobre estradas, ruas e avenidas, de asfalto ou chão de terra batida.

Imagine você um lugar onde rios são mais e maiores que as ruas. Ilhas onde carros não transitam, onde asfalto não faz lá muita diferença. Um lugar onde roda que mais interessa é a roda do carrinho de mão que transporta nos quintais e terrenos as bananas e mandioca. Imagine você um lugar onde a rua é menos importante que o rio. Um lugar onde o rio é mais importante que a rua.

Rio mais que rua

Rio maior que rua

rio mais importante que rua

Quando cheguei ao Norte do Brasil, ri muito disso: rio mais que rua.

Eu ria disso, ainda rio. Ainda rio disso: rio mais que rua.

Neste Norte do Brasil, pessoas e mercadorias transitam pelos rios mais que pelas ruas. Trânsito maior por rios que ruas.

rios são ruas

rios que são estradas 

rios ruas

rios estrada

Rios por onde transitam, por onde passam, por onde circulam pessoas e mercadorias. Tudo isso dá p ver porque estão passando por cima do rio. mas por baixo, dentro das águas, o que tem ? peixes, bichos, sedimentos, e histórias fantásticas. histórias de boto, de sereias, história do minhocão d'água, história de encantados. História da deusa que levou pela mão o homem para morar no fundo do rio.

Rios por onde passam catráias encantadas entre Brasil e França. Brasil indígena que vive dentro da água, de gente q toma banho de rio, vários banhos por dia para aliviar o calor. Vários banhos por dia para viver com o calor, para conviver na quentura. A França, famosa por seus perfumes, está na outra beira do rio Oiapoque.

Aqui no Brasil do hemisfério Norte, eu busco, eu procuro, me encanto em todo canto, rio. Eu rio, meu eu rio ri de gente que não gosta de rio.

Mergulho no rio

(M)eu rio

Eu rio

Rio como metáfora da vida. Rio e vida... rio passa, vida passa. Nem rio nem vida voltam atrás. Olhar atentamente para um rio é entender um pouco mais a vida, a fluidez da vida, o movimento da vida, a vida que passa. A vida que passa e não volta atrás. A vida sem o movimento da maré, a vida que passa como a areia que passa pela ampulheta e, ao final, repousa no fundo de terra.  


Ivan Rubens

Flor da idade

Suavidade 

sua idade, 

tenra idade. 

toda idade é tempo, 

tempo de flor


flor da idade

idade da flor

floridade

florada

mulher florada florida 

criança querida

nascida na Flórida