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Velas Içadas


leia o texto ouvindo a canção.                
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Velas Içadas é uma canção de Ivan Lins e Victor Martins e está no álbum de 1979 chamado A Noite. Velas Içadas diz assim:

SEU CORAÇÃO É UM BARCO DE VELAS IÇADAS / LONGE DOS MARES, DO TEMPO, DAS LOUCAS MARÉS / SEU CORAÇÃO É UM BARCO DE VELAS IÇADAS / SEM NEVOEIROS, TORMENTAS, SEQUER UM REVÉS

Os artistas usam o barco como metáfora para falar de um coração que nunca se lançou, que ainda não se aventurou nas ondas dos mares de amor. Um coração que nunca se aventurou apesar das ‘velas içadas’, ou seja, apesar de preparado e pronto para navegar, prefere permanecer naquele mesmo lugar, num porto ou num cais, distante das tormentas, longe dos mares, do tempo, das loucas marés. A canção continua:

SEU CORAÇÃO É UM BARCO JAMAIS NAVEGADO / NUNCA MOSTROU-SE POR DENTRO, ABRINDO OS PORÕES / SEU CORAÇÃO É UM BARCO QUE VIVE ANCORADO / NUNCA ARRISCOU-SE AO VENTO, ÀS GRANDES PAIXÕES

O coração é descrito como um barco que, mesmo diante das possibilidades, dos mistérios e das aventuras de imensos mares e oceanos, de águas e marés, de ventos e tempestades, de sóis e de luas, de belezas e calmarias, de silêncios e canto de pássaros, de surpresas e imprevistos, que mesmo diante de inimagináveis possibilidades, escolheu manter-se fechado e ancorado evitando, assim, o risco. Existem perigos nas experiências. Toda experiência carrega algum perigo. Vitor e, sobretudo, Ivan podem estar falando dos perigos e riscos que envolvem as grandes paixões, parecem estar falando daquilo que dá mais sabor à vida. Assim, ‘nunca soltou as amarras, nunca ficou à deriva’ pode dizer de uma vida contida onde uma certa obsessão por segurança e certezas dificultam, para não dizer impedem, experimentações. Falo aqui de experiência não como o acúmulo do tempo cronológico, não como acúmulo de saberes específicos, mas a experiência compreendida como aquilo que se experimenta, como experimentação e, no limite, como viver uma vida em intensidade, na potência, naquilo que a vida pode.

NUNCA SOLTOU AS AMARRAS / NUNCA FICOU À DERIVA / NUNCA SOFREU UM NAUFRÁGIO / NUNCA CRUZOU COM PIRATAS E AVENTUREIROS / NUNCA CUMPRIU O DESTINO DAS EMBARCAÇÕES

“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Diante da imensidão do mar, o barco precisa de orientação. Astrolábio, bússola, mapas, cartas náuticas, o GPS, radares e computadores garantem a chegada a um destino. Navegar é, portanto, necessário: marinheiros e aventureiros têm necessidade de navegação, ambicionam o desconhecidos, não conseguem ficar muito tempo em terra. Viver, por sua vez, não tem precisão, viver é incerto, viver é arriscar-se. Sem isso a vida pode parecer oca, a vida parece ficar sem sentido. Inerte, parada, ancorada, a vida parece insossa, inerte, desvitalizada e a consequência é a perda da esperança, opacidade da alma, adoecimento do corpo, enfraquecimento dos sentidos. Abrir mão de olhar, ouvir, cheirar o mundo, de tocar e se deixar tocar pelas belezas do mundo, impermeabilizar a pele para o mundo e suas belezas é tornar a humanidade fraca. É como vestir uma armadura, vestir uma capa para se proteger da chuva, do vento, da alegria-destino das embarcações. E, de tão protegidos, deixamos de viver ao ponto de aceitar qualquer coisa como arte, aceitar qualquer coisa como vida, aceitar qualquer coisa como amor.

Ivan Rubens