discurso em homenagem ao JUCA JORDÃO na Câmara Municipal de Rio Claro/SP



Boa noite.

Eu sou Ivan Rubens, neto de José Rodrigues Jordão Filho, o Juca Jordão, homenageado nesta noite.
Quero cumprimentar aos presentes nessa noite, em particular a minha família, na pessoa da minha avó. MARIA WITZEL JORDÃO.
Cumprimentar aos vereadores dessa casa na pessoa do vereador SÉRGIO DESIDERÁ.
Agradecer ao vereador SÉRGIO CARNEVALE pela iniciativa, e aos demais vereadores e vereadoras que aprovaram o decreto legislativo e nesta sessão solene entregam a medalha de honra post mortem. Importante dizer que esse tipo de homenagem, os cumprimentos, as lembranças revelam o quão querido era o Juca e confortam nossa família e ajudam a preencher o vazio deixado por ele.
Quero cumprimentar ainda a família LUIZ GONZAGA DE ARRUDA CAMPOS, CARLOS RAFAEL SANTOS ANDRADE e ARIOVALDO BUENO, homenageados nesta noite.
E, na pessoa do músico SYDNEI BARRETO, parceiro de gaita do meu avô, cumprimentar os músicos homenageados e presentes.
Quero cumprimentar também OLGA SALOMÃO, vice Prefeita de Rio Claro, Dr. ÁLVARO PERIM, ex-prefeito de Rio Claro e Dr. FERNANDO PADULA, mui digno juiz de direito.

Esta noite solene e festiva reúne algumas coincidências curiosas. Meu avô está, de algum lugar, nos olhando com um sorriso largo e muito orgulhoso por ter reconhecida sua dedicação à comunidade rio-clarense. Mas principalmente por estar mais uma vez junto do seu grande amigo Dr. Luiz Gonzaga de Arruda Campos, e pela homenagem aos músicos. Neste dia da música, vou falar do meu avô a partir de uma canção do João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro.

Chama-se: ALÉM DO ESPELHO

Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor do meu pai não se perdeu
Só de olhar seu olhar eu sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora num cortejo
E no espelho eu chorei porque doeu
Só que vendo meu filho agora eu vejo
Que ele é o espelho do espelho que sou eu

Vou falar do Juca Jordão começando por sua contribuição cultural. Sua musicalidade merece destaque. Foi gaiteiro dos bons. Tocou na Orquestra de Gaitas de Rio Claro ainda menino. Tocou no Rapaziada do Morro - Quarteto Aparecida, no Trio Continental de Gaitas e nos Anjos da Gaita. Acompanhou Nelson Gonçalves, ficou amigo de Orlando Silva, Francisco Alves, Ivon Cury. Acompanhou Luis Vieira na Rádio Tupy. Tocou com Sérgio Reis, esteve com Roberto Carlos. Em 1987 os Anjos da Gaita se apresentaram na TV Bandeirantes com Fausto Silva, o Barreto estava lá. Em 2005 venceu o quadro avós do Brasil no programa da Eliana na TV Record tocando numa gaitinha de 4 furos a canção Cidade Maravilhosa.
Juca também tocava violão. Bacana mesmo era tocar violão e gaita ao mesmo tempo, cantar e fazer graça.
Juca transbordava alegria em seus causos e piadas. E tinha a habilidade de aprimorar seus causos a cada repetição, burilando e melhorando, tornando-os ainda mais engraçados.
Ouvimos histórias curiosas e engraçadíssimas do meu avô. Numa das tantas passagens com o Dr. Luiz Gonzaga, ambos desciam a avenida 1 na baratinha 29 do Juca. Dr. Luiz pediu para parar em frente ao cine Variedades quando meu avô respondeu: agora é tarde. O senhor precisa avisar antes porque preciso de uns 100 metros para frear até parar. A baratinha 29 tinha freios a varão.
Além dos causos, muitos casos judiciais envolveram o Juiz de Direito e o advogado, via de regra, na defesa dos interesses populares, do povo pobre e socialmente injustiçado.
Juca nasceu nas mãos de parteira, na Vila Aparecida em 1926. O pai do Juca, Zezinho Ferreira, foi um dos pioneiros na construção da Igreja da Aparecida. Quando menino, Juca foi coroinha, tirava as lágrimas das velas e acumulava a tarefa de tocar o sino da igreja.
A família era numerosa: Mauro, Celina, Aparecida, Adelino, Juca, Miguel, Luiz, Doroti, Darcy e Maria Célia. Tio Mauro assumiu a prefeitura em 1947.
Juca Jordão estudou no Grupo Escolar Irineu Penteado, no Bilac e no Alem. 
Formou-se contador, professor primário, pedagogo, orientador e diretor de escola, advogado e cientista social.
Foi comissário de menores e subdelegado de polícia. Trabalhou na Central Elétrica de Rio Claro, lecionou na rede pública.
Juca foi vereador na Câmara Municipal de Rio Claro, por três legislaturas até o limiar do golpe militar de 1964. Sua atuação parlamentar foi popular. Já naquela época, andava pelos bairros no diálogo direto com a população. Seus conhecimentos em contabilidade permitiam um acompanhamento rigoroso das contas públicas. Foi presidente da comissão de finanças, não é Dr. Perin?
Foi professor muito querido. Era comum vermos ex-alunos falando com carinho ao encontrá-lo na rua. Calculamos que cerca de 13.000 alunos aprenderam com ele muita coisa, principalmente a gostar da vida e das pessoas.

Durante os quase 70 anos de união com minha avó, MARIA WITZEL JORDÃO, a vida lhe deu 5 gerações sempre iniciadas por uma mulher professora:
as filhas Vera Lúcia e Sandra Elisabete.
netas e netos: Carla e Junior, Ivan, Graziella e Ivanessa.
Bisnetas/os: Thais e Fábio, Raphael, Victor e Alícia, Helena e Sofia.
E a tataraneta: Beatriz.
Gostava de todos à sua volta. Irritantemente pontual. E pescador, donde buscava inspiração para as suas melhores histórias.

Quero dizer, vereador Sergio Desiderá, da justa homenagem e do reconhecimento que muito conforta a família nessa experiência ainda recente da perda. Um processo de luto que não termina com a aceitação da ausência do Juca, mas com o aprendizado da ausência física dele, e a felicidade de poder sentir saudade, recordando os bons momentos com ele vividos.

A canção ALÉM DO ESPELHO continua assim:

Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos tem qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão do meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se o meu pai foi espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu

Que a memória do Juca e do Dr. Luiz permaneça viva servindo de espelho para essa Câmara Municipal nos princípios da ética e na luta por uma por uma sociedade justa, democrática e tolerante.

Que fique para os vereadores, independentemente de coloração partidária ou opções ideológicas, como espelho no sentido da coerência de quem nunca terceirizou a prerrogativa de legislar tampouco privilegiou interesses privados. Muito pelo contrário, o vereador Sergio Carnevalle sabe disso, sempre trabalhou como vereador, professor ou advogado, pelo bem de uma cidade inteira, para todos e todas, sem distinção.

Que a memória do Juca permaneça viva num espelho de alegria, de convite para a festa e de amor pela vida, a todos os presentes e em particular aos músicos.
Que a memória do Juca permaneça viva espelhando carinho, dedicação, cuidado e união em cada uma das filhas, netos e netas, bisnetos, bisnetas, tataraneta e tantos que ainda virão.

Por fim, quero agradecer aos trabalhadores e trabalhadoras desta casa, o pessoal de apoio, funcionários, enfim, todos aqueles e aquelas que fazem viva essa casa de leis e tornam possível essa bela e justa homenagem.

Sabe Olga, o samba do João Nogueira e do Paulo Cesar Pinheiro termina com o refrão que diz assim:

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Que todos se espelhem nas pessoas que amam ou que amaram. 
Obrigado e Boa noite


 Dr. Álvaro Perin e Maria Witzel Jordão.

 Maria Witzel, Vera Lúcia e, ao fundo, Maria Tereza e Pedro Ivo

 Maria Witzel, Vera Lucia e Sandra Elisabete ao fundo



Fala da vice prefeita de Rio Claro, Olga Salomão

com o vereador Sérgio Desiderá



 Dr. Fernando Padula, Juiz de Direito; vereador Sérgio Carnevale, autor do decreto legislativo e Olga Salomão, vice prefeita de Rio Claro.

 Com Malaguenha, Sidnei Barreto encerrou a sessão solene.


Além do espelho. João Nogueira