Roda BALEIRO, atenção

Quem, mais ou menos da minha geração, se lembra das balas de leite Kids?

Roda, roda baleiro, atenção. Quando o baleiro parar põe a mão. Pegue a bala mais gostosa do planeta. Não deixe que a sorte se intrometa. Bala de leite Kids, a melhor bala que há. Bala de leite Kids, quando o baleiro parar. Esse jingle de autoria de Sérgio Mineiro e Renato Teixeira, foi veiculado no final da década de 1970 e é lembrado até hoje. Sim, o caipira Renato Teixeira de Romaria gravada por Elis Regina, Tocando em frente gravada por Maria Bethânia, Amanheceu, peguei a viola, das parcerias com Almir Sater, Sérgio Reis e outros. Sonho de criança ser bombeiro, astronauta, cientista, eu pensava em ser caminhoneiro inspirado nas histórias de Pedro e Bino da sério Carga Pesada, e na canção Frete, tema de abertura.

O álbum de 1992 com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho ao vivo em Tatuí, prêmio Sharp de melhor disco e prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte é um dos mais belos da minha coleção. Me encontrei com Pena Branca no Terminal Rodoviário do Tietê. Eu a caminho de Rio Claro, ele e suas violas a caminho de algum lugar que já não me lembro. Falamos da parceria e do álbum. O que mais me chamou a atenção durante a conversa foi o carinho e a saudade que devotava ao irmão, Xavantinho, falecido em 1999 aos 56 anos de idade. Pena Branca faleceu em 2010 aos 70 anos de idade.

Mas vamos falar de outro Baleiro. José Ribamar Coelho Santos, maranhense de São Luiz nascido em 11 de abril de 1966. Descendente de comerciantes cristãos vindos de Homs na Síria que aportaram em terras brasileiras em 1905. Músico, cantor e compositor de influência eclética que resultou numa musicalidade bem peculiar. Suas composições são interessantes, suas letras criativas, suas sacadas perspicazes, o que torna sua obra marcante. Ao ouvir algumas de suas canções interpretadas por outros cantores ou cantoras, é possível perceber: essa canção é do Zeca Baleiro.

A influência musical da mãe trouxe o samba de Noel Rosa, Wilson Batista, Ismael Silva e outros bambas. Baleiro adora Jackson do Pandeiro, gosta de rock, folk, blues, e revela a influência da música africana em sua obra, também do baião, do pop e até da música eletrônica.

Em coro com as crianças de casa, cantamos Mamãe Oxum, de domínio público cuja adaptação de Zeca Baleiro interpretada em parceria com Chico Cesar, está no bom CD Por onde andará Stephen Fry (1997). Eu vi mamãe oxum na cachoeira / sentada na beira do rio / colhendo lírio lirulê / colhendo lírio lirulá / colhendo lírio pra enfeitar o seu gongá (...). No mesmo disco está Pedra de Responsa em parceria com Chico César. Baleiro começou sua carreira com canções para peças infantis. Foi morar em São Paulo onde, nos anos 90, dividiu apartamento com Chico César. Gravou também com Arnaldo Antunes, Paulinho Moska, Fagner, Zeca Pagodinho, Zé Ramalho e outros.

Brinca com a sonoridade das palavras independente do idioma. Samba do approach e Babylon são exemplos. Fala do cotidiano com uma graça respeitosa. Eu curto Heavy metal do senhor e Salão de Beleza.

Zeca Baleiro esteve em Rio Claro no aniversário da cidade. Acompanhado da Orquestra Sinfônica de Rio Claro, o show rolou no Jardim Público. Foi muito bom. O centro da cidade como pólo atrativo, o povo na praça, um show aberto à participação de todos e todas democratizando o acesso. Boa iniciativa da Prefeitura Municipal que caminha para se tornar política pública de cultura.

Espetáculo de convívio social. Saímos de casa, fomos às ruas, ocupamos o espaço público com boa música, com dança e com alegria. Rodamos com o Baleiro a sola do meu bamba chegar ao fim, como ele sugere na canção Vai de Madureira.

Bem, para desvendar o mistério, o apelido deste Baleiro vem de seu consumo implacável de doces, balas e outras guloseimas.

Ivan Rubens Dário Jr

Publicado do Jornal Cidade de Rio Claro

 


Frete



em Rio Claro




Salão de Beleza - lindo o clipe

Crise terminal do capitalismo?

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adapatar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugual 12% no pais e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos paises periféricos. Hoje é global e atingiu os paises centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentitentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamene nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários paises europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhois gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumo-sacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.



Leonardo Boff é autor de Proteger a Terra-cuidar da vida: como evitar o fim do mund, Record 2010.

Os temperos da vida de Maria Witzel e Juca Jordão

Ivan Rubens Dário Jr[1]

De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh'alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu[2]


            Algumas perguntas movem homens e mulheres desde o tempo em que a espécie humana tomou consciência da sua existência neste minúsculo ponto azul na imensidão do universo. No meu caso, desde o momento que tomei consciência da minha existência, nessa cidade azul, a imagem refletida no espelho insiste: de onde viemos?
            Na tentativa de uma, dentre tantas respostas possíveis, as histórias aqui apresentadas talvez não guardem toda a veracidade, o rigor nas datas, os lugares e contextos. Os personagens talvez não sejam tão reais, e nem tão fictícios. Talvez nem sejam “personagens”, no sentido da história tradicional. Mas uma coisa é certa: prefiro essas narrativas contadas assim, com a precisão e o rigor da repetição e da recontagem desde a infância, a adolescência e a juventude de toda uma família genuinamente rio-clarense como insiste o Juca, nosso personagem em foco. E saiba o leitor que, ao longo de tanto tempo, os ajustes foram melhorando as histórias, a cada nova versão. Vô Juca foi burilando cuidadosamente as histórias e lhes garantia sempre uma pontinha a mais de graça, provocando riso e alegria nas gerações de descendentes que ele e a Mariquinha foram aglutinando. Assim crescemos, ouvindo histórias e recebendo carinho de duas pessoas encantadoras, que dedicaram a maior parte da vida às nossas vidas, nos preparando e nos ajudando a interagir com o mundo, na cidade de Rio Claro, SP. Duas pessoas maravilhosas, se cabe assim sintetizar.
            Escolhi para este texto a prosa e o verso, e não poderia ser diferente. Cresci ao som das serestas e cantorias, ao sabor do café com leite e outras delícias envolvidas na história de nosso viver coletivo rioclarense. Vivi no cerne do afeto junto a essas histórias.
            Vejo no Juca Jordão algo que está na inspiração do filme estadunidense Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas[3]. Quando jovem, o protagonista saiu em viagem de volta ao mundo e durante toda sua vida contou as histórias mesclando realidade com fantasia. Eu nunca desconfiei das histórias do Juca. Pelo contrário. Aprendi com ele a ajeitar uns trechos para melhorar as histórias adaptando-as aos sonhos e fantasias. O estilo que aqui se tece deve algo, portanto, exatamente ao jeito de Juca Jordão tecer a vida e sua narrativa.
            E na Mariquinha vejo a inspiração do filme grego de 2003 O Tempero da Vida, de Tassos Boulmetis. O personagem Vassilis é um filósofo culinário que ensina ao neto Fanis que tanto a comida quanto a vida precisam de um pouco de tempero para ter sabor. Com essa influência, o neto Fanis se torna astrofísico e usa seus dotes de culinária para temperar as vidas das pessoas que o cercam. Em nossa casa, Juca escolhe ingredientes com cuidado, e Mariquinha os prepara adicionando seus melhores sentimentos. Resulta disso uma vida com sabor, que um arquivamento objetivo não poderia contemplar.
            Como registro de nosso repertório musical, estão antigas canções, pois Juca é gaiteiro dos bons. Tocou na Orquestra de Gaitas de Rio Claro[4] ainda menino. Tocou também no Rapaziada do Morro - Quarteto Aparecida[5]. Mais tarde, no Trio Continental de Gaitas[6] em meados de 1950 e, por fim, nos Anjos da Gaita[7], acompanhou a turnê de Nelson Gonçalves pelo interior do estado de São Paulo. Na década de 1950, visitou no Rio de Janeiro Raul Brunini e Lúcia Helena, rioclarenses que eram locutores da Rádio Nacional e acabou fazendo amizadecom Orlando Silva, Francisco Alves, Ivon Cury, com quem conheceu a boemia carioca. Acompanhou Luis Vieira na Rádio Tupy, e a amizade redeu-lhe o apelido de Caracú, em referência à cervejaria instalada em Rio Claro. Nesse contexto de cantos, recebeu em casa Sérgio Reis, com quem tocou o Menino da Porteira em comemoração ao aniversário da vizinha, Clarisse Xavier de Camargo. Como gaiteiro esteve ainda com Roberto Carlos na casa de Floriza Stein. Em 1987 os Anjos da Gaita apresentaram-se na TV Bandeirantes com Fausto Silva no programa Safenados e Safadinhos. E suas proezas de músico não param por aí. Tocando uma gaitinha miniatura de apenas quatro furos, solando e acompanhando Cidade Maravilhosa e outras canções, Juca venceu um concurso de avós talentosos na TV Record[8].
            Juca também toca violão. Agora, o mais legal é quando ele resolve tocar os dois instrumentos ao mesmo tempo. Sob os raios do luar, Juca e seus amigos cantavam e encantavam a cidade de Rio Claro em serenatas. Saíam da escola e passavam pelas casas, instrumentos às mãos e belas canções. Janelas abertas e o convite para um café. Alguns faziam coro, os mais empolgados deixavam a casa e seguiam o grupo cantarolando noite adentro. Uma flor colocada perto da janela encerrava a apresentação. Vez ou outra, os boêmios eram recebidos com um banho de água fria como forma de protesto. Cantavam: Lábios que eu beijei (1937) de J. Cascata e Leonel Azevedo, Velho Realejo (1940) de Custódio Mesquita e Sadi Cabral, Quero-te cada vez mais (1937) de João de Freitas e Zeca Ivo, Ave Maria (início do século XX) Erothides de Campos, Adeus (cinco letras que choram - 1947) de Silvino Neto, dentre outras.
            Na década de 1970, Juca e Mariquinha atuaram no Movimento Católico dos Cursilhos de Cristandade e aproveitavam a vocação artística para ajudar cursilhistas a descobrir e realizar a vocação pessoal, na criação de núcleos de base, cantando De colores de Paulo Roberto, O rio de Piracicaba de Tonico e Tinoco, Como é grande o meu amor por você de Roberto Carlos e outras.
            Em nossa casa e no rancho de pescaria da Cachoeira de Emas[9], fazíamos muita cantoria, encantados com as peripécias dele e a voz suave e afinada da sua Mariquinha. No repertório, Luar do sertão provavelmente de Catuto da Paixão Cearense e João Pernambuco, Naquela Mesa (1970) e Modinha (olho a rosa na janela - 1968) de Sérgio Bittencourt, O ébrio (1936) de Vicente Celestino, Cavaleiro do Céu (Riders in the sky de Stan Jones, versão de Haroldo Barbosa), Chalana de Mario Zan e Arlindo Pinto, Chuá, chuá de Pedro Sá Pereira e Ary Pavão e outras tantas canções. Pelos olhares e gestos, imagino que ele tenha cantado para ela diversas vezes, desde a juventude, a canção Rosa, de Pixinguinha e Otávio de Souza. As crianças, por sua vez, gostavam das canções engraçadas, como Romance de uma caveira de Alvarenga, Ranchinho e Flavio Salles, ou Superstição, de Nhô Mário e Nhô Luiz.
Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam (...)
Superstição
Pra curar soluço escuta aqui seu moço
Pega uma meia velha e enrola no pescoço (...)
Se você quer pegar peixe, peixe bom e dos maior
Você dá uma cuspida bem na ponta do anzol (...)

Juca, filho de Zezinho Ferreira que tirava cisco dos olhos na vila Aparecida
            Não pude observar a mudança de lua cheia para minguante naquela 6ª feira, nem os astros poderiam supor a minha existência, mas naquele dia dois de julho de 1926, tenho certeza que Rio Claro amanheceu mais alegre: até hoje Juca é um grande contador de piadas e anedotas, sua presença transforma o ambiente em riso. Com ajuda da parteira, José Rodrigues Jordão Filho nasceu na rua 1-A entre avenidas 24 e 26, onde passou toda sua infância e juventude. Completa 85 anos em 2011. É fruto da união de José Rodrigues Jordão e Anna Torres Santiago, que se casaram em 16 de junho de 1916.
            O pai de Juca era conhecido como Zezinho Ferreira que tirava cisco dos olhos, arrancava “cavaco de ferro” que se desprendia no uso de torno mecânico e da esmerilhadeira, que fazia buchinha da índia para curar sinusite: era uma espécie de curandeiro. O Juca conta que em sua casa tinha raiz de bico de corvo[10], amburana[11], açafrão[12], aspirina[13], cravo[14], tudo curtido na pinga: um “santo remédio”. Tinha gente que para ficar bom, tomava uma pouco de cada. Natural de Dois Córregos, em 2 de março de 1893, e falecido em 4 de novembro de 1979, com 86 anos, seu pai, Zezinho, foi ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Já o avô do Juca, Abílio Rodrigues Jordão, nasceu em Porto Ferreira aos 17 de novembro de 1898 e faleceu em cinco de maio de 1975.
            Zezinho Ferreira foi um dos pioneiros na construção da Igreja da Aparecida junto com seu Franucho (pai do Otacílio) e outro amigo. Como a memória sempre é falha, tiveram a sabedoria de colocar esses nomes escritos numa folha de papel, dentro de uma garrafa, que está enterrada no pátio da igreja. Quando menino, Juca foi coroinha, tirava as lágrimas das velas e acumulava a tarefa de tocar o sino da igreja.
            Como de costume naquela época, a família de Zezinho e Anna era numerosa. Foram dez filhos, nesta ordem: Mauro, Celina, Aparecida, Adelino, Juca, Miguel, Luiz (falecido aos 6 anos), Doroti, Darcy e Maria Célia. Não cheguei a conhecer o tio Mauro Rodrigues Jordão, mas sempre olhei para a foto dele na galeria dos prefeitos de Rio Claro. Ele chefiou o Poder Executivo Municipal durante um período, em 1947.
            Juca Jordão cursou o antigo primário no Grupo Escolar Irineu Penteado, foi para a Escola de Contabilidade Artur Bilac e depois foi aluno fundador do colégio Alem. Formou-se guarda livros, contador, professor primário, pedagogo, orientador e diretor de escola, advogado e cientista social.
            A partir dessa múltipla formação, seus trabalhos e engajamentos com a cidade também foram diversificados. Foi comissário de menores e subdelegado de polícia. Trabalhou na S.A. Central Elétrica de Rio Claro, lecionou Educação moral e cívica e Estudo dos problemas brasileiros. Ingressou no serviço público estadual em 1955 e no magistério em 1964.
            Com o vigor de homem público ativo, Juca foi vereador na Câmara Municipal de Rio Claro, por três legislaturas, portanto durante doze anos, até o limiar do golpe militar de 1964. Sua atuação parlamentar foi popular. Já naquela época, andava pelos bairros no diálogo direto com a população, sempre ao lado do também edil Antonio Fabris. Seus conhecimentos em contabilidade permitia um acompanhamento rigoroso das contas públicas. Aposentou-se da advocacia em 1978, e do magistério em 1989 e 1996. É associado da União dos Ferroviários Aposentados onde em conversas diárias formulam solução para problemas da cidade e para todos os problemas do mundo.

Mariquinha, a filha de Anastácio
            Conta-se que na primeira noite de julho de 1928, em reverência à chegada de Maria Witzel, a natureza transformou a lua crescente em lua cheia. Sua chegada preencheu aquele domingo e muitos dias mais. O pai Anastácio Vitzel nasceu em 2 de fevereiro de 1895, filho de João e Gervina. A mãe era Maria Donato, nascida em 9 de janeiro de 1900, filha de italiano e alemã. Anastário e Maria são naturais de Rio Claro.
            Mariquinha cursou o antigo primário no Grupo Escolar Irineu Penteado, o ginasial na Escola Normal Puríssimo Coração de Maria e o curso Normal no Instituto de Educação Joaquim Ribeiro. Trabalhou como professora primária e exerceu a função de auxiliar de direção de escola por longo período. Aposentou-se em dezembro de 1980.
            Como se sabe, os ambientes fazem parte da organização da memória. Mariquinha sempre morou próximo ao centro da cidade. Tanto na rua 1 com avenida14 quanto na rua 5 com avenida 8, para onde mudou com a família em 1940. As casas possuíam amplos quintais, com muito espaço para brincar, com plantas muito bem cuidadas pelo pai Anastácio, com árvores de balanços pendurados e frondosas sombras, sob as quais ela saboreava as frutas da estação, a poesia e a literatura. Nos passeios pela cidade, o pai Anastácio sempre chamava sua atenção para as cores das borboletas e a tonalidade das flores. Tem no pai a grande referência de ser humano. Fala dele com saudade, e com o poema Visita à casa paterna, de Luiz Guimarães Júnior (1845-1898).

depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
fantasma, talvez, do amor materno,
tomou-me as mãos, olhou-me grave e terno,
e, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (O se me lembro! e quanto!)
em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto

jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
- Uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade...

O universo conspira a favor do amor
            Apesar de o mundo estar em guerra, certo dia Rio Claro amanheceu diferente. Um oásis de bem querer tomava conta da pequena cidade. Quando todas as evidências demonstram improbabilidade, a natureza ajuda e o universo conspira em favor do amor.
            O município foi instituído em 1845, quando ganhou autonomia administrativa, e a denominação ‘Sao Joao do Rio Claro’, simplificada para Rio Claro em 1905. Nas décadas de 1930 e 1940, a vila Aparecida, onde nasceu Juca era conhecida como o bairro do cangaço. No lugar das ruas que conhecemos hoje, tudo era mato, recortado por trilhas e cercas que limitavam alguns terrenos. O arruamento ainda não estava definido na paisagem urbana. No que hoje conhecemos como rua 2-A, a primeira casa era número 196, lá até hoje. Não podia faltar um bar, no caso o bar do Elias. Do outro lado da linha do trem estavam os alemães, que chegaram a Rio Claro com a cultura do café, daí o nome de vila Alemã. Uma mina d’água motivava caminhadas até a vila Cristina. Conta-se que durante o passeio catavam gabiroba, cabeludinha, sebo de grilo, goiaba do mato e araçá. Ali também ficavam o Saibreiro I e Saibreiro II, que abasteciam com saibro as construções da época[15]. A vila Operária era o bairro dos formigueiros. Ao redor da atual Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade, havia chácaras. Os bairros São Benedito e Boa Morte nas proximidades do cemitério municipal e do hospital que recebia os ‘leprosos’. O centro da cidade representava um retângulo, delimitado entre rua 1 e rua 4, avenidas 4 a 5. A ‘zona do baixo meretrício’ ficava na região do Grêmio Recreativo dos Empregados da Companhia Paulista.
            Vinte e cinco de agosto é uma data que pode ser lembrada por vários motivos, como a apresentação do telescópio em 1609, invenção do italiano Galileu Galilei, a morte do filósofo alemão Friedrich W. Nietzshe, em 1900, as forças ocultas que levaram à renúncia de Janio Quadros, em 1961, a primeira exposição pública do santo sudário pelo Vaticano em 1978. Mas para mim, o episódio que marca definitivamente essa data é a comemoração do dia do soldado que aconteceu no ano de 1944 na Sociedade Italiana, esquina da avenida 5 com rua 3, onde hoje funciona o paço municipal.
            Aquela terça feira amanheceu diferente. Não dava para identificar com precisão o que estava acontecendo, mas estava diferente. Mariquinha acordou com os primeiros raios de sol e o beijo doce do pai Anastácio. Levantou-se apressada para chegar antes do horário marcado e acertar os últimos detalhes do recital. Conta-se que ela nem percebeu a folhagem das árvores centenárias debruçadas dos galhos fazendo reverência à passagem da rainha. Cruzou o jardim público municipal e nem percebeu que os pássaros cantavam em louvação àquela que seria, ao longo das próximas décadas, a mulher mais importante na vida de um grupo grande de pessoas que com ela conviveria. Estava tudo ali, diante dela, sua sina, seu destino, como se a história estivesse previamente redigida nos pergaminhos dos deuses do amor.
            Juca acordou mais cedo ainda e, fardado, marchou na tropa com destino à sede da Sociedade Italiana, onde renderiam as homenagens ao dia do soldado, ato oficial no calendário nacional. Aquele ano de 1944 era particularmente delicado porque o primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira, com cerca de cinco mil homens, estava na Itália participando do teatro de operações do Mediterrâneo. Os atiradores do Tiro de Guerra 40 podiam ser convocados a qualquer momento, o que confundia os planos daqueles jovens.
            Soldados perfilados seguiam os rigores militares. As normalistas traziam leveza naquele momento, carregado de expectativa e de emoção. Em meio ao grande acontecimento, uma linda normalista, aluna de Ivanira Bohn Prado, recita uma poesia que ficará guardada na memória como uma aliança.
            Que segredos guardavam aquela mulher? Que mistérios carregam os olhos de Mona Lisa de Leonardo Da Vinci? De tamanha intensidade, o brilho da moça arrombou as retinas de um jovem soldado. Estupefato, ele percebeu as palavras dela viajando pelo ar e penetrando suavemente em seus ouvidos, em seu ser. Inebriado, percebeu o jovem soldado uma revolução dos sentidos no seu corpo. Visão e audição embriagavam ao mesmo tempo em que os outros sentidos reivindicavam, como ele conta. Não resta outra alternativa ao Juca senão ir ao encontro dela. Mas como se as artistas, em particular as poetizas, parecem seres inatingíveis? (Você já ouviu que a natureza conspira a favor do amor?) Então, surgiu na história um cupido, Adolfo Santana Lopes, amigo de ambos.
            Feitas as primeiras aproximações, o próximo passo foi o encontro no fut. Naquele tempo a juventude se encontrava na avenida 1. As moças caminhavam nas calçadas, circulando desde a esquina com a rua 3 até quase o cruzamento com a rua 6. Aparentemente havia alguma organização social: as moças mais namoradeiras passeavam na calçada dos prédios pares enquanto as moças mais comportadas (segundo a moral da época), caminhavam do lado impar. Outra possibilidade dessa organização era por classe social. As moças de classe média na calçada dos números ímpares e as trabalhadoras, do lado par. Os rapazes, por sua vez, ficavam na rua, parados e observando. Quando rolava um flerte, seguiam para o jardim público e sentavam no banco da praça para conversar. Havia também a possibilidade de acompanhar a donzela até o portão da casa, afinal a cidade era pouco iluminada. A iluminação pública estava instalada ao longo da linha do trem com apenas três postes por quarteirão. Eram raras as casas que possuíam iluminação externa, pois naquela época a energia era cobrada por bico de luz instalado. Mas o cinema abria as janelas para o mundo. Juca e Mariquinha assistiram a filmes belíssimos, no cine Fênix (avenida 1 com rua 3), com ingressos para geral, cadeiras, frisa e pulma, e no cine Variedades (avenida 2 com rua 6) com ingressos para cadeiras, frisa e camarote.

Lá vem a noiva... as filhas, netas/os, bisnetas/os e tataraneta
Em 1946, dia onze de fevereiro, os noivos assinam os documentos no cartório da família Pimentel (esquina da avenida 1 com rua 7), e na terça-feira doze de fevereiro, Juca recebe no altar da Igreja Matriz de São João Batista, das mãos do seu Anastácio Vitzel, a encantadora Mariquinha, em cerimônia celebrada pelo padre Antônio Martins.
Esse lindo romance trouxe à luz duas meninas: Vera Lúcia Rodrigues Jordão Bartiromo e Sandra Elisabete Rodrigues Jordão. Depois vieram as netas e netos: Carla e Junior, Ivan, Graziella e Ivanessa. E as bisnetas e bisnetos: Thais e Fábio, Raphael e Victor, Helena e Sofia, e a pequenina Alícia. Mas não para por aí: mais uma geração foi iniciada em 2005 com a chegada da tataraneta Beatriz.
Completaram 65 anos de união. Estão aí há cinco gerações, todas iniciadas por mulheres, professoras, o que se narra como um refrão nessa grande família. E todos somos contaminados pela doçura dela e pela alegria dele.
No dia em que completaram 65 anos de união, perguntei o que enxergam ao olharem para trás. Ela respondeu que a felicidade está nos mandamentos de Deus. “Sempre me esforcei em viver o mandamento: amai ao próximo como a si mesmo. Diariamente peço nas minhas orações que cada um dos meus descendentes siga a Jesus Cristo, que todos sejam pregadores do evangelho e encontrem a justiça e a paz”. Esse sentimento da presença de Deus supera as dificuldades, completou. Juca, por sua vez, se arrepende de não ter estudado mais, e diz que “Gostar de si mesmo é muito importante. Aprendi que fumar faz muito mal a saúde”.
            Repito: parte do que foi dito aqui pode não corresponder à narrativa exata dos fatos. Contudo, trata-se da narrativa de alguém que esteve presente, que ouviu, e que jamais cogitou a possibilidade de tratar dessa história com isenção. Meus dias, que já somam 40 anos, estiveram imersos nesse contexto. Sou, como todos e todas de casa, fruto e resultado desse amor e desse convívio saboroso que rompe décadas, que sobrevive às intempéries e que alimenta todos os amores que dão tempero às nossas vidas. Vivemos em um universo e em uma história carregado de bem querer. Como já é público, que fique registrado o meu testemunho do maior amor do mundo, um amor por inteiro, um amor em todas as dimensões, um amor que não tem limites, como este amor que sinto pelo Juca e pela Mariquinha.
            Para além do registro, espero que o leitor reconheça nesse texto uma declaração de amor. Como fez a cantora Maria Gadú a sua avó na canção Dona Cila.
Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for

Dedico esse texto a Maria Witzel Jordão, minha avó, mulher excepcional que perfuma o mundo e faz acreditar no ser humano.
Dedico esse texto a José Rodrigues Jordão Filho, meu avô, que, sendo homem público forte, sabe tornar a vida mais alegre e colorida.
Agradeço às contribuições da amiga Onice Payer.





[1] O autor é um neto apaixonado por seus avós. Com formação em Geografia (Unesp Rio Claro), atuou na Defesa Civil de Rio Claro/SP e foi responsável implementação do Orçamento Participativo na cidade de Suzano/SP. ivanrubens@hotmail.com.br
[2] Trecho da canção Dona Cila de Maria Gadú. Composição feita para sua avó.
[3] Filme de 2003, baseado no livro Big Fish: a Novel of Mythic Proportions, de Daniel Wallace.
[4] Com Mario Cupido, Celso Volff e Nelsom Ortiz Bezerra, José Maria Rocco, Adelino Rodrigues Jordão e outros. Sob a regência de Neco que também tocava banjo, a orquestra teve existência nos anos de 1938 a 1940 e apresentavam-se na Rádio Clube de Rio Claro, PRF2.
[5] Esse conjunto era composto por Mario Cupido e Juca Jordão, na gaita, Joaquim Furquim no violão e Carvalho no cavaquinho. Tocou no período entre 1940 a 1945 também na Rádio Clube e no serviço de alto-falantes Primavera.
[6] Formado por Juca Jordão, Sidney Barreto e Névio Belo, substituído por Carmelo na segunda formação, e por Quelito na terceira formação. O locutor da Rádio Clube de Rio Claro, (rua 3 avenida 6 e 8) Altino Silva era o empresário e apresentador do grupo.
[7] Formado por Juca Jordão, Sidney Barreto e Luiz (Quelito), ampliaram o universo das apresentações a partir da década de 1950.
[8] Programa Tudo é possível, quadro Avós do Brasil, em dezembro de 2005
[9] Município de Pirassununga/SP
[10] Popularmente utilizada no combate a febres, fraqueza, fadiga.
[11] Popularmente utilizada no combate a gripes, resfriados, inflamações, asma, bronquite.
[12] Popularmente utilizada como digestivo, laxante, inflamações, tireóide, prisão de ventre.
[13] Popularmente utilizada para dores em geral. Casca da árvore conhecida como Salgueiro ou Chorão.
[14] É Anti-séptico. Alivia a dor de dente, auxilia a digestão, ajuda a vender as fraquezas sexuais.
[15] Referência aos tios Ana e Luis Britsky. A família doou o terreno onde hoje estão a igreja São Judas Tadeu, a Escola Municipal Monsenhor Martins e a praça Anna Vitzel Britsky.

Publicado na revista do Arquivo Histórico de Rio Claro/SP n° 7.























tocando a gaitinha de 4 furos
Cidade Maravilhosa na gaitinha

Potpourri de canções juninas

Eu, Juca, Carol Rios, Olga Salomão e Mariquinha


Publicado na Revista nr 07 do Arquivo Público Histórico de Rio Claro

 

Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir

Há muitos anos, venho trabalhando sobre a crise de civilização que se abateu perigosamente sobre a humanidade. Não me contentei com a análise estrutural de suas causas, mas, através de inúmeros escritos, tratei de trabalhar positivamente as saidas possíveis em termos de valores e princípios que confiram real sustentatibilidade ao mundo que deverá vir. Ajudou-me muito, minha paricipação na elaboração da Carta da Terra, a meu ver, um dos documentos mais inspiradores para a presente crise. Esta afirma:”o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”.
Dois valores, entre outros, considero axiais, para esse novo começo: a sustentabilidade e o cuidado.
A sustentabilidade, já abordada no artigo anterior, significa o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem prejudicar o capital natural, mantido em condições de sua reprodução, em vista ainda  ao atendimento das necessidades das gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável.
Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de  economia respeitadora dos limites de cada ecossistema e da própria Terra, de uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e de um meio ambiente suficientemente preservado para atender as demandas humanas.
Como se pode inferir, a sustentabilidadae alcança  a sociedade, a política, a cultura,  a arte,  a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmente importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização. O que, na verdade, estamos constatando, com clareza crescente, é que o nosso estilo de vida, hoje mundializado, não possui suficiente sustentabildade. É demasiado hostil à vida e deixa de fora grande parte da humanidade. Reina uma perversa injustiça social mundial com suas terríveis sequelas, fato geralmente esquecido quando se aborda o tema do aquecimento globl.
A outra categoria, tão importante quanto a da sustentabilidade, é o cuidado, sobre o qual temos escrito vários estudos. O cuidado representa uma relação amorosa, respeitosa e não agressiva para com a realidade e por isso não destrutiva. Ela pressupõe  que os seres humanos são parte da natureza e membros da comunidade biótica e cósmica com a responsabilidade  de protege-la, regenerá-la e cuidá-la. Mais que uma técnica, o cuidado é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos.
Se a sustentabilidade representa o lado mais objetivo, ambiental, econômico e social da gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota mais seu lado subjetivo: as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo sem os quais a própria sustentabilidade não acontece ou não se garante a médio e longo prazo.

Sustentabilidade e cuidado devem ser assumidos conjutamente para impedir que a crise se transforme em tragédia e para conferir eficácia às praticas que visam a fundar um novo paradigma de convivência ser-humano-vida-Terra. A crise atual, com as severas ameaças que globalmente pesam sobre todos, coloca uma improstergável indagação filosófica: que tipo de seres somos, ora capazes de depredar a natureza e  de por em risco a própria sobrevivência como espécie e ora de cuidar e de responsabilizar-nos pelo futuro comum? Qual, enfim, é nosso lugar na Terra e qual é a nossa missão? Não seria a de sermos os guardiães e e os cuidadores dessa herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram que é esse Planeta, vivo, que se autoregula, de cujo útero todos nós nascemos?

É aqui que, novamente, se recorre ao cuidado como uma possível definição operativa e essencial do ser humano. Ele inclui um certo modo de estar-no-mundo-com-os-outros e uma determinada práxis, preservadora da natureza. Não sem razão, uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade e que culmina em Heidegger e em Winnicott defina a natureza do ser humano como um ser de cuidado. Sem o cuidado essencial ele não estaria aqui nem  o mundo que o rodeia. Sustentabilidade e  cuidado, juntos,  nos mostram um caminho a seguir.
Leonardo BoffTeólogo/Filósofo