Navegando na participação popular

O ano de 2007 é particularmente interessante para a participação popular em Suzano. Originado no histórico de lutas das forças progressivas da sociedade, a participação popular na construção de políticas públicas, programas e projetos, teve início antes mesmo do governo Marcelo Candido. Nesse contexto, sempre me vem à memória a experiência do programa de governo, vitorioso nas eleições municipais de 2004.

A construção coletiva do programa de governo aproximou os saberes populares, as experiências dos movimentos e a energia da militância na elaboração do caderno “diretrizes para o programa de governo” da frente reconstruindo Suzano, cuja expressão pública era o então candidato a prefeito Marcelo Candido. Milhares de pessoas participaram de reuniões e debates, em especial das 13 plenárias temáticas realizadas no espaço denominado “idéias no lugar”.

O desafio de implementar nosso programa apontou para cinco eixos de governo, dentre os quais o da participação popular, sustentado em alguns instrumentos. Nos conselhos são cerca de 1.500 vagas criadas até esse momento possibilitando à população conhecer, discutir e aprimorar o Estado e, ao mesmo tempo, permitem ao Estado ser reinventado pela força do poder instituinte. O plano diretor participativo, que permite à população planejar a cidade, seu crescimento e desenvolvimento para os próximos 10 anos. Sem contar as ações que visam a educação popular, como plenárias, audiências, reuniões públicas e o orçamento participativo (OP). Este último coloca na pauta a questão do dinheiro público e do planejamento orçamentário.

Com essa intencionalidade política, o prefeito Marcelo Candido descolou a discussão dos gabinetes para a praça pública e desencadeou um processo de compreensão da dimensão pública e de empoderamento popular. Assim, o povo veleja por mares nunca dantes navegados. A primeira onda foi o plano plurianual (PPA) que mobilizou mais de 5 mil pessoas para um tema complexo, pois, grosso modo, oficializa a implementação do programa de governo elaborando uma “carta náutica” que orienta nossa viagem durante os 4 anos do governo. Trata-se da primeira peça do planejamento orçamentário.

A segunda onda é a lei das diretrizes orçamentárias (LDO), esta anual que liga o PPA à 3a peça do planejamento: a lei do orçamento anual (LOA). A LDO é a bússola que ajuda a não desviar da rota, e a LOA o instrumento que materializa a execução do orçamento. E a elaboração da LOA em 2006 e em vigor durante este ano, de 1o de janeiro a 31 de dezembro, contém 14 itens decididos pelas 10 mil pessoas que participaram das reuniões preparatórias e plenárias deliberativas do OP, com os encaminhamentos finais do Conselho do OP, cujos representantes foram eleitos pela população presente nas 12 plenárias.

Estamos num momento delicado de nossa viagem. Iniciaremos brevemente o 2o ciclo do OP e, durante as plenárias de 2007, as decisões de 2006 estarão cumprindo o trâmite que leva aos procedimentos licitatórios, para contratação das obras e/ou serviços, obedecendo às exigências legais. A partir de agora, o CORPO iniciará o acompanhamento das ações internas ao governo. Para tanto, é preciso aprofundar o conhecimento deste complexo mundo da execução orçamentária. Grande desafio que enfrentaremos com verdade, transparência e responsabilidade coletiva.

E é assim mesmo. Imaginem o que foi cruzar o oceano atlântico em três caravelas com os recursos de navegação de 500 anos atrás?

Começa o 2o ciclo do Orçamento Participativo

Às 9 horas do dia 29 de março, no Centro de Educação e Cultura “Francisco Carlos Moriconi”, tem início oficialmente o Orçamento Participativo 2007. Trata-se de um importante instrumento de participação popular que, desde o ano passado, aprimora as decisões da Prefeitura de Suzano.

Experiência inédita no Alto Tietê, o OP coloca outro paradigma no planejamento orçamentário. Suzano é o único município da região que adota o OP, porque cabe ao poder executivo a iniciativa do projeto de lei do orçamento anual. Orçamento é o dinheiro público vindo dos impostos e taxas pagos pelo povo. Portanto, é dinheiro do povo. Ora, se é dinheiro do povo por que só o prefeito e sua equipe decidem como e onde investir o dinheiro que é do povo? Prefeito é um sujeito escolhido pelo povo para, em nome do povo, cuidar da cidade usando o dinheiro do povo. Assim, a opção política pelo OP demonstra coerência, ousadia e coragem do prefeito Marcelo Candido.

Um bom OP deve ser rico no processo. Riqueza no processo significa, grosso modo, democratização das informações, preocupação pedagógica e cuidado com as questões subjetivas. Na perspectiva do encontro, governo e população aproximam seus saberes e, nessa riqueza, um se permite afetar pelo conhecimento do outro. Esse encontro deve ser generoso, deve criar vínculos e, a cada novo encontro, fortalecer esses vínculos. Afinal, se a cidade é de todos, é coletiva a responsabilidade de torna-la um lugar melhor para se viver.

Um bom OP deve ser bem-sucedido nos resultados. Do ponto de vista mais objetivo, as decisões populares que compõem o Plano de Investimentos devem ser executadas durante o ano de execução do orçamento. Plano de Investimentos é o conjunto de ações (obras públicas ou programas) que o Conselho do OP entrega ao prefeito para que ele incorpore à LOA. O cumprimento desse acordo político, verdadeiramente democrático, garante uma relação transparente e crível. Digo democrático, porque o OP desloca os debates e as decisões dos gabinetes palacianos para a praça pública e isso não é tranqüilo. É permanente a tensão dos setores mais reacionários e conservadores para quem as estruturas verticalizadas e hierarquizadas de poder, e suas conseqüentes relações de subordinação, são as mais interessantes.

Riqueza do processo sustenta sucesso nos resultados e vice-versa. Em levantamento recente, Rogério da Silva que sabiamente vive “di boa”, concluiu serem cerca de 1.500 vagas de conselheiros criadas na legislação. O raciocínio acima descrito serve para outros instrumentos de participação popular (de maior ou menor intensidade) nas decisões do governo e na formulação de políticas públicas. Falando um pouco de sua experiência à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o professor Paulo Freire destaca no livro “À sombra desta mangueira” a necessidade de “estar com”. Na esteira do professor, penso que: formular com é diferente de formular para; construir com é diferente de construir para. Certamente a preposição “com” seja mais apropriada para quem se deseja democrático, popular e participativo.

O despertar da Cidade das Flores permite que agora o povo participe das decisões. Com todas as dificuldades, Suzano está construindo a democracia.

Participação popular e a cultura política local

A cidade de Araraquara sediou, no dia 24 de fevereiro, um importante debate sobre participação popular. Com enfoque regional, o curso intitulado “Participação Popular: Mudança da Cultura Política Local” foi organizado pela Coordenadoria de Participação Popular de Araraquara em parceria com a Coordenação do Orçamento Participativo (OP) de São Carlos e o Fórum Paulista de Participação Popular. Conforme o relatório que foi produzido sobre a atividade e compartilhado com outras prefeituras que integram o Fórum Paulista de Participação Popular, incluindo a de Suzano, 15 municípios participaram da iniciativa.

Durante a abertura do curso, o prefeito de Araraquara Edinho Silva abordou a relação entre o OP e os conselhos municipais instituídos. Ele enfatizou que o OP inova as relações de poder na cidade e se institui como importante ferramenta na inversão das prioridades da gestão. “O grande desafio do OP é, de fato, a população entender que o processo não é apenas para a escolha de obras. O desafio é que tenham a consciência de que a cidade não pode ser dirigida apenas por aqueles que têm o poder formal”, acrescentou o prefeito.

O desafio é de transformar as concepções, afinal esse processo só pode ser construído a partir de pessoas comprometidas com a transformação social e com o poder popular. Para isso, contudo, não basta apenas vontade, é necessária uma metodologia pedagógica. Um método capaz de decifrar as expectativas e um esforço de tradução (debate aprofundado pelo sociólogo português Boaventura de Souza Santos) e uma linguagem que aproxima as realidades e democratiza a máquina estatal.

Outro eixo da discussão foi o da representação. Afinal, a ampliação da democracia exige socialização das informações, construção de processos participativos e requer ainda construção de redes articuladas de participação popular. O pano de fundo é a descentralização do poder.

Falando pelo Fórum Paulista de Participação Popular, o coordenador do OP de São Carlos Rosoé Francisco Donato destacou a proposição de um projeto de lei de iniciativa popular junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo tratando da implementação do Orçamento Participativo estadual.

A última fala da mesa foi a do Coordenador de Participação Popular da Prefeitura de Araraquara Edmilson de Nola Sá. Para ele, encontros desse tipo são importantes para aproximar as cidades e suas experiências de participação popular. Segundo ele, a dedicação de todos na atividade faria a participação popular ganhar novos horizontes e perspectivas de desenvolvimento regional.

Na tarde de debates foram três grupos de trabalho que discutiram a “representatividade”, “conselhos municipais” e “OP como ferramenta de gestão e planejamento”.

Suzano tem participado dos debates no Fórum Paulista de Participação Popular e já manifestou o interesse em sediar formações como a descrita neste artigo considerando, evidentemente, nossa cultura política experimentada no OP. Construir a democracia é tarefa longa trabalhosa. Que dirá reinventá-la.