Transparência e Participação







Em Rio Claro, a Consocial está programada para o início de dezembro. “É a primeira vez que o país vai discutir como controlar a máquina pública e o governo. Isso nunca foi visto no Brasil e, portanto, tem um valor muito grande”, disse a secretária de governo Olga Salomão. E ela tem razão. Mas antes disso, ainda neste final de semana, acontecerá a Conferência Municipal de Política Cultural.

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Carta ao amigo Juarez Braga


Suzano, 6 de outubro de 2011
Há quase um ano não nos vemos e nosso último encontro não foi dos mais alegres. Vamos falar das boas lembranças, momentos alegres e intensos que partilhamos, e das coisas que estão acontecendo desde sua partida. Tem muita coisa importante acontecendo aqui.
Lembro como se fosse hoje meu primeiro contato com suas idéias. Foi na plenária de encerramento do mandato do então Deputado Estadual Marcelo Candido, lá pelos idos de dezembro de 2004 quando você e o filósofo Roberto Romano fizeram um debate político de alto nível. Acompanhei sua preparação, as leituras habituais e seus textos. Não o cumprimentei à época. Junto dos parabéns pela brilhante contribuição, digo que me arrependo de não insistir contigo para publicar seus escritos.
Alguns meses depois, em 2005, também assumimos a responsabilidade de governar Suzano compondo a equipe de governo do Partido dos Trabalhadores com o particular desafio de criar mecanismos para democratização da gestão pública. Reuniões preparatórias foram algumas centenas, quarenta plenárias do Orçamento Participativo e do PPA Participativo, formações de conselheiros de escola, reuniões de conselho e vai por aí. Das inesquecíveis viagens de intercâmbio pelo Brasil em Fóruns e Seminários. Sempre em boa companhia mergulhamos nesse universo e nesse tema. Vivemos boas experiências que estão se eternizando numa perceptível mudança na cultura política local. Modesta se analisada na perspectiva de um país cuja democracia é muito jovem, mas enorme na perspectiva das mudanças possíveis neste momento histórico e neste curto espaço de tempo. Você repetia como um mantra: “não há democracia sem participação popular”. Seguindo o teu exemplo, dialoguei com essa reflexão num texto publicado em agosto de 2008.
Ainda hoje vejo suas opiniões sobre futebol, sobre o cotidiano, e sua reflexão política postados nos sítios especializados na internet. Sempre admirei sua desenvoltura na lida com a tecnologia e no mundo virtual. Sempre cito seu exemplo em ingressar na universidade já sexagenário.
Tenho várias coisas para te contar, Juarez. Lembra dos ‘Encantos Pedagógicos’? A Secretaria Municipal de Educação trabalha na reedição do projeto que você coordenou em 2005. E outra: criamos um coletivo político socialista que leva teu nome cujo manifesto de criação tem 122 assinaturas de apoio. A Ananda Grinkraut acha que assumimos grande responsabilidade e que para honrar teu nome e tua história o coletivo deve lutar por um mundo justo a partir do diálogo e da construção coletiva. Ela também falou da sua influência no jeito como ela vê e dialoga com o mundo. Legal, não?
Lembra-se das nossas idas para minha terra natal? Lembra da Floresta? Lembra do melhor sorvete do mundo nas intermináveis taças da Gelateria? Para você uma taça diet. No caminho entre a floresta e a sorveteria, o ônibus de turismo com o destino escrito: ‘puta que pariu’. Muita risada. E você dizia assim: ‘imagina pegar um ônibus que vai pra puta que pariu?’
Imagino que o tempo dedicado à luta te afastou um pouco do convívio familiar. Pois saiba que teus filhos e filhas reconhecem e valorizam sua luta. A Débora fica feliz com as homenagens e lembranças que te tornam presente por aqui; o Flávio disse que você transmitiu sua dimensão de humanidade às pessoas que tiveram contato contigo. Saiba que ética é, para sua família, uma marcante característica tua. Imagino que você esteja feliz ouvindo isso.
Walmir Pinto carrega um ensinamento que ouviu de ti numa reunião do PT: não se deve ter vergonha daquilo que é feito com amor, carinho e verdade. Cecília Figueiredo que te acha um semeador de coletivos, disse que você e o Júlio Mariano acreditavam na participação do povo como instrumento efetivo de lutas e vitórias. O Ivo Reseck sente falta da sua disposição para ‘baladinhas’ e da sua animação em convocar-nos para as mesas de bar onde resolvíamos todos os problemas do mundo. Cecilia Tome Habu te acha uma figura maravilhosa. Vanessa Alves disse que você vive dentro do coração da gente. Saber disso me deixa mais tranqüilo porque de coração você entende. Putz, já ia me esquecendo: Marcelo Candido que devota amor táctil aos livros e diz que aprendeu a anotar durante a leitura numa conversa contigo na câmara municipal nos tempos do mandato de vereador do José Candido.
Leonel Luz sente falta das suas histórias sobre futebol, música e política. Te tem na cota das pessoas que conseguem transcender gerações, te acha atemporal. E o pessoal do setor de gestão democrática da educação guarda na retina a tua imagem com microfone à mão e dedo em riste falando aos quatro cantos da democracia com participação popular. E do seu carinhoso bom dia acompanhado de: “chefe e merda para mim é a mesma coisa”. Sempre que a Lili (Eliana Ramos) escuta alguém falando ‘chefe’, conta sua passagem entre risos. Esse seu comportamento é entendido como expressão do seu espírito subversivo, incendiário e obcecado na construção de relações de poder horizontais no trabalho, na escola, nos partidos e etc. Estão com saudade de ti e das ‘Bachianas’ de Vila Lobos como trilha sonora desta relação de carinho e afeto.
Quanto a mim, sinto muito a falta das noites divertidas com nossos amigos no Bar do Zé Vitor em intermináveis conversas e da boa música. Não sei se já te disse dos pensamentos que as suas histórias me provocavam. Suas reflexões sobre o futebol, a escalação do teu Palestra das décadas de 1940 e 50, e do meu tricolor paulista dos tempos do Teixeirinha e Canhoteiro, o Mané Garrincha da ponta esquerda. De batucar na mesa entre um cochilo e outro, e de cantar contigo a saudade da professorinha em ‘Meus Tempos de Criança’ de Ataulfo Alves:
Eu daria tudo que eu tivesse / Pra voltar aos dias de criança / Eu não sei pra que a gente cresce / Se não sai da gente essa lembrança. Aos domingos, missa na matriz / Da cidadezinha onde eu nasci / Ai, meu Deus, eu era tão feliz / No meu pequenino Miraí. Que saudade da professorinha / Que me ensinou o beabá / Onde andará Mariazinha / Meu primeiro amor, onde andará? Eu igual a toda meninada / Quanta travessura que eu fazia / Jogo de botões sobre a calçada / Eu era feliz e não sabia.
Não sei onde você está neste momento da inauguração do Espaço Cultural Juarez Braga, mas acho que está muito perto daqui. Na verdade, acho que está aqui conosco, batucando na mesa, tomando uma taça de vinho tinto seco. Pensando bem, meu amigo, você permanecerá entre nós porque sua existência está eternizada nos seus filhos, filhas e descendentes. Suas idéias estão vivas e pulsando entre nós. Sua trajetória é lembrada e orienta nosso trabalho. Suas histórias povoam as nossas lembranças. Seu exemplo de homem ético, como disse seu filho Flávio no dia em que foste homenageado no projeto Memória Viva da Secretaria Municipal de Cultura, orientam nossa luta política na construção de uma sociedade justa.
É tanta coisa que eu tinha há dizer mais me foge à lembrança. Dilma Rousseff ganhou a eleição e nosso projeto político para o Brasil segue em frente. A popularidade do ex-presidente Lula só cresce. O projeto do Hospital em Suzano está se tornando realidade. José di Filippi é Deputado Federal e seu escritório Político em Suzano funciona junto do nosso Espaço Cultural Juarez Braga. O Luis Cláudio está dizendo que nosso programa de formação e debate político chama-se ‘a cidade em debate: um olhar para Suzano’, te convida para participar na certeza que podemos contar contigo.
Um abraço saudoso.
Ivan Rubens

Meus tempos de criança - Ataulfo Alves