A festa do CORPO

Na noite de 15 de fevereiro, o conselho do orçamento participativo (CORPO) se reuniu na Emef Antonio Marques Figueira. Mais um encontro animado com a presença de vários conselheiros, suplentes e representantes das diversas regiões da cidade de Suzano, além dos conselheiros que representam o governo. Na pauta, a preparação do ciclo 2007 do orçamento participativo, que exige uma metodologia participativa de planejamento, termo tão esgarçado nos dias de hoje. Por planejamento se entende tudo, já ouvi até a comparação, para fins didáticos é claro, a um plano de vôo. Exemplo que, aliás, exprime uma compreensão limitada de coletivos, uma vez que na cabine, além do piloto ficam mais uma ou duas pessoas enquanto a maioria é conduzida na condição de meros passageiros. Importante destacar que a última reunião de 2006 avaliou o OP, deu o pontapé inicial do planejamento que destacamos neste artigo.

Antecipando o carnaval, o conselheiro Pedro chegou com seu “trio elétrico” (uma bicicleta equipada com som), contagiando os demais que esperavam para dar início à reunião. O riso e a alegria do reencontro contagiaram de vez, quando Paulo e Barroso caíram na dança, afinal foram semanas de recesso. Na minha opinião, o CORPO de 2006 é um ótimo exemplo de convívio respeitoso entre contraditórios, de delegação do poder de decidir, de que o trabalho em grupo é mais acertado e mais rico.

O início formal da reunião, digo formal por entender que o trabalho é permanente para esse grupo que não se cansa de demonstrar o compromisso e o afeto com a cidade de Suzano, se deu com os informes e a leitura da pauta. Representando a Secretaria Municipal de Saúde, Creuza dos Santos convidou o CORPO para as atividades do carnaval, especialmente para participarem do Bloco da Prevenção. O simples encontro do CORPO é uma festa. Não vejo a hora de encontrar o CORPO nas festas de carnaval. Definimos o calendário do OP 2007, as escolas que sediarão as plenárias regionais deliberativas e ajustes no agrupamento dos bairros e loteamentos que compõem cada uma das reuniões. Assim se desenha coletivamente o OP 2007.

Quanto ao carnaval, para o antropólogo Roberto DaMatta, o carnaval brasileiro seria um ritual de inversão, onde as hierarquias se apagam: o pobre fantasia-se de príncipe, o homem de mulher e assim por diante. No carnaval, contrariando o projeto social, as leis são mínimas: "É o folião que conta. É o folião que decidirá de que modo irá ‘brincar’ o Carnaval".(DaMatta, 1978:93). Quando a pessoa está feliz, o corpo pede festa. Nosso CORPO está feliz, nossa cidade está em festa. Brinque o carnaval, cidade das flores. Motivos para comemorar é o que não faltam.

Saúde, qualidade de vida e participação popular

No dia 1º de fevereiro, aconteceu a reunião pública “Saúde em Suzano – Avanços e Perspectivas”. A atividade reuniu mais de 500 pessoas, entre trabalhadores da saúde, agentes comunitários do programa saúde da família, usuários do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), lideranças de bairro e conselheiros do Orçamento Participativo (OP).

A reunião começou com um texto sobre flores, jardim, cultivo e cuidado. Na melhor acepção da palavra, o cuidado como ato de carinho, de promoção da saúde, de ampliação da vida.

Em seguida, a Secretária Municipal de Saúde, Célia Cristina Pereira Bortoletto, prestou contas das conquistas dos últimos dois anos e falou de desafios para 2007. No eixo da participação popular são avanços a realização da Conferência Municipal de Saúde e a eleição do atuante Conselho Municipal de Saúde. A criação dos conselhos gestores de unidade de saúde aponta para uma relação diferente entre o usuário e o prestador do serviço de saúde, o que ganha relevância quando suportado num programa de formação para os conselheiros. Por meio desses mecanismos, população, trabalhadores e gestores passam a discutir e construir soluções para os problemas encontrados.

Em cumprimento ao compromisso assumido no OP, o planejamento da Secretaria aponta para a construção e reforma de várias unidades e ampliação do horário de atendimento em outras.

Estar doente exprime a tragédia do viver. Nos coloca diante das nossas fragilidades, nos demonstra os limites do corpo e torna presente a certeza inexorável da morte. Ter saúde é estar pronto para a festa. Quando se está feliz, a cabeça está boa, o corpo pede festa. Assim, o ato de comemorar normalmente implica em comer, beber, cantar, dançar. Cuidar das pessoas é permitir a expansão da vida. Muitos governos em Suzano trabalhavam a saúde pública exclusivamente na perspectiva de curar as doenças, o que não passa de obrigação. Para mim, o desafio de um governo comprometido com o povo é permitir a expansão da vida nas suas mais diversas formas de manifestação.

A saúde pública em Suzano caminha para a consolidação do modelo preventivo, que se antecipa às doenças e promove a saúde das pessoas, superando o antigo modelo centrado na doença. Esse entendimento reorienta o investimento público, uma vez que educação, cultura, esporte, lazer promovem a saúde e, saudável, a pessoa pode, dentre outra coisas, participar do OP e decidir como melhorar ainda mais sua cidade e sua vida. A Praça Cidade das Flores, por exemplo, representa melhoria na qualidade de vida: um espaço público pode ser um “areião” destinado ao estacionamento de carros ou um lugar bonito e agradável onde as pessoas possam se integrar, passear, se encontrar e se divertir.

Desta maneira, qualidade de vida e participação popular, mais do que eixos do governo representam transformações efetivas na vida das pessoas.