Ébrios

 

Que sejamos nós os ébrios

Os que espalham, régios,

O mundano evangelho das esquinas!


Proclamemos, nós, sinais 

Do fígado das horas

E as canções profanas!


Não nos dobremos, nós

À putrefata voz do algoz

Que nos sublima!


Devoremos, sim, a vida

A sina, os dias, os anos

Intrépidos? Profanos!


Que sejamos nós os bêbados

que caminham, trôpegos,

As esquinas mundanas da cidade fria


Beberemos, nós, sinais

Do trânsito acelerado

E dos carros violentos


Só nos dobremos, nós 

À marquise úmida 

Que nos abriga


Devoremos, sim, a vida

A sina, os dias, os anos

Artrópodes? Profanos!


Que sejamos nós os loucos

Os que empurram, poucos,

Carrinhos, papelões, amigos fiéis


Reclamemos, nós, sinais

Do muro alto que separa

E do portão que aprisiona


Só nos dobremos, nós

À beleza da arte

Que nos liberta


Devoremos, sim, a vida

A sina, os dias, os anos

Antropófagos profanos! 



Nuno Moraes e Ivan Rubena

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