Por Janaina Freitas Calado e Ivan Rubens
A escrita te escolheu
A escrita me escolheu
Escrevendo, te convido a escrever.
Vamos escrever juntos? Escrever pelo simples prazer de escrever.
Escrever sobre ESCREVER?
Mas como?
Você me escolheu para escrever ou foi a escrita que nos juntou para ela?
Será que já estamos escrevendo?
Talvez. Em comum temos o fato de escrevermos pela alegria de escrever.
Não escrevemos pela obrigação, mas pela alegria.
Sim!! Já topei! O texto começou no convite.
Mas eu só escrevo o óbvio.
Não pretendemos escrever nada complexo, mas algo simples.
Tão simples quanto o desejo que nos toma neste momento da escrita.
Neste encontro inusitado que começou nas leituras de um e outro.
É preciso dizer o óbvio, por mais que ele seja óbvio.
Mas um óbvio que salta aos olhos.
Um óbvio que pode passar despercebido.
Então, como enxergar o óbvio para dizer do óbvio?
Eu não sabia que sabia escrever.
Mas eu escrevia, e ainda escrevo, com amor.
Acho que o amor faz a gente transbordar em palavras o que sente,
aí, a gente escreve.
Escrevemos pelo simples prazer de escrever.
Escrevemos por uma escolha,
mas não uma escolha nossa,
não por uma escolha desse sujeito ocidental, moderno, racional, cristão blábláblá…
Mas por uma escolha modesta,
Uma escolha que não foi nossa mas foi do texto.
O texto que nos escolheu!!
É, acho que é isso.
Por isso escrevemos, porque não temos escolha.
Quando você dá fé, já saiu.
O dedo no teclado, a caneta no papel são mais rápidos em expressar nosso querer.
Escrever é desenrolar os fios de pensamento que estão enrolados dentro da gente.
Escrever é uma arte democrática. Não precisa muita coisa, não. Basta sentar e escrever.
Seja uma carta, seja uma dissertação
Seja um bilhete, seja uma tese.
Seja um texto, seja um livro.
Basta pensar, pensar, pensar, sentar e escrever.
Que coisa bonita de se dizer,
Quero dizer, de se escrever!
“Escrever é desenrolar os fios de pensamento que estão enrolados dentro da gente”
Acho que tenho muita coisa enrolada dentro de mim,
e quando escrevo, me sinto aliviada.
Eu tenho um monte de cartas escritas e não enviadas,
bilhetes de amor, textos não publicados, fragmentos que não servem de nada.
Escrever torna o pesado leve,
torna o superficial profundo.
É um suspiro de amor aliviado.
….Por fora da cabeça, os fios de cabelo podem estar lisos,
podem estar cacheados, podem estar enrolados.
Mas os fios que ficam dentro da cabeça, esses são todos enrolados, muito enrolados.
Os pensamentos são uma espécie de bolo de linhas,
dentro da cabeça, dentro do corpo está tudo embolado.
Escrever é um jeito de desenrolar.
Você encontra uma ponta, puxa, desenrola um pouquinho, mais um pouquinho e segue.
Mas realmente se a gente parar pra pensar assim,
desse jeito que você me propôs,
fica tudo muito complexo mesmo.
Até quando se escreve o óbvio.
O óbvio se torna óbvio depois de descoberto.
Antes de descoberto, mesmo o óbvio é mistério, é ‘não saber’.
Então, como enxergar, como ver, como dizer do óbvio,
Como transformar o óbvio num conjunto de palavras?
Porque mesmo óbvio tem uma complexidade.
E escrever é parte também
Pois de tudo que a gente vive, sente e experimenta,
a gente só consegue expressar uma parte.
A parte que transborda na escrita.
Acho importante Ser Parte na escrita,
Porque a escrita só se completa quando o outro ler
E quando o outro ler já não é mais o que a gente quis escrever,
mas o que atravessou quem leu.
Entendo escrever como um processo de elaboração.
Os fios de cabelo enrolado ou os fios,
as linhas enroladas são uma imagem do pensamento.
No início, é uma massa disforme. Com nosso trabalho de elaboração,
vai ganhando contorno, vai ganhando forma. Escrever é, entre outras possibilidades,
esse trabalho de elaboração, de escultura, de dar alguma forma.
Agora, o que o/a outro/a, leitor e leitora farão com o texto, aí é com eles.
Trata-se de uma experiência de liberdade: a liberdade de pensar.
Quando releio textos antigos, fragmentos abandonados, anotações esparsas,
sinto como se me encontrasse com alguém que eu já fui.
Eu também, esse encontro me causa sensações diferentes.
Eu tento entender o que eu estava vivendo naquela hora, para ter escrito aquilo.
Aquele texto antigo me atravessa diferente.
Às vezes dói, dá saudade.
Às vezes dá orgulho e sinto esperança.
Quando sinto beleza em algo que escrevi
quando leio e sinto que ficou realmente bonito,
isso me dá esperança. A beleza me dá esperança,
uma esperança freiriana, uma esperança ativa.
E me faz escrever mais pois a beleza é forte
A arte, a beleza, a estética pode produzir uma nova ética
A beleza é capaz de abrir possibilidades de uma nova sensibilidade
Acho que a escrita é esperança.
Não é uma esperança parada, inerte, que espera o sol inevitavelmente se pôr.
É uma esperança ativa, que faz acontecer o que a gente quer.
Aí depois de ter muito feito, de ter muito agido, de ter muito escrito...
Você espera…
Espera o alívio de ter desenrolado um pouquinho o nó que tinha na cabeça,
espera alguém ler
e espera que aquilo faça algum sentido.
A escrita espera com esperança.
A escrita nos moveu, nos escolheu
Éramos um, dois e, juntos, somos mais que três
Escrever é verbo, é o ato de pôr palavra com palavra.
Por COM, com por.
Compor.
Palavra que se abraçam,
palavras de mãos dadas,
palavras faladas,
palavras coladas,
palavras contadas,
palavras inventadas,
palavras caladas,
palavras vividas.
Palavras que vão se compondo, compondo frases.
O destino dos escritores
desembaraçar ideias
criar estratégias
Escritores amadores, criadores de possibilidades,
fazedores de convites, relógios
despertadores de interesses, de sonhos e desejos
O destino dos escritores
eternizar suas dores, temores,
saberes, sabores e amores.
Você ainda está aí?
Estou.
Estou escrevendo.
Às vezes, tenho dificuldades de parar de escrever
Será que alguém vai nos ler?
Talvez.
Mas agora isso não é mais conosco.
Espero que esta composição toque
toque cabeças e corações,
toque flautas e violões,
e que faça alguém sorrir.