Experiência: leia o texto ouvindo a canção.
É só clicar aqui:
Vibra o aparelho celular, chegou uma mensagem: é uma foto belíssima, estética e simbolicamente. Ao olhar a fotografia, marcas de um passado recente se fizeram vivas na memória mas também se fizeram vivas no corpo, vivas no desejo. Ou seja, vibraram o corpo e a alma. Para alguns indígenas, “a alma é a parte invisível do corpo”, portanto a alma é corpo também. É a alma que viaja quando sonhamos, quando o corpo está repousando, o sonho é o passeio da alma, o sonho é o voo da alma. Nos sonhos, almas se encontram. Sonhar com alguém e ter encontro de almas.
A foto mostrava uma praia fluvial iluminada pelo sol poente. O sol no horizonte refletindo todo seu brilho amarelo meio fogo, meio puxando para o dourado, cor de fogo na água doce parada daquela pequena cidade na fronteira Brasil e Guiana Francesa.
Uma pessoa de luz própria, iluminada de sensibilidade, faz a fotografia. Na cena, tem um Sol ardendo em chamas. Tem a luz de Sol brilhando as águas doces de uma praia fluvial. Tudo isso no segundo plano, um plano de horizontes abertos. No primeiro plano a areia fina preenchendo todo o espaço entre a fotógrafa brilhante de olhar sensível até o ponto onde a lâmina d'água toca suavemente a superfície de areia fina.
Maria Bethânia canta: Eu vi um menino correndo / eu vi o tempo / brincando ao redor do caminho daquele menino. Linda composição da iluminada, da brilhante artista das imagens e dos sons. Uma outra canção aparece: Enquanto houver sol…
Quando não houver saída / Quando não houver mais solução / Ainda há de haver saída / Nenhuma ideia vale uma vida / Quando não houver esperança / Quando não restar nem ilusão / Ainda há de haver esperança / Em cada um de nós, algo de uma criança
Ainda na foto, exatamente na linha onde se encontram a água doce com a areia fina, uma criança de quase 4 anos está agachada sentindo nos pés a areia, e nas mãos a água doce. O menino belíssimo, brinca tranquilamente. Imaginem um menino bem no início, um menino que, apesar de amazônida, mostra certa fobia da areia nos pés. Um menino urbano que, apesar de amazônida, está absolutamente aprisionado no medo da água. Um menino amazônida que não toma banho de rio, tampouco brinca nas águas.
Quando não houver caminho / Mesmo sem amor, sem direção / A sós ninguém está sozinho / É caminhando que se faz o caminho / Quando não houver desejo / Quando não restar nem mesmo dor / Ainda há de haver desejo / Em cada um de nós…
Mas o desejo de sol ilumina um coração que, apaixonado pela vida, brinca com o menino belíssimo. Brincam de fazer massagem nos dedos dos pés com a areia do rio. Brincam com a água pelo vão dos dentes numa brincadeira de molhar os cabelos cacheados, lindos como o da mãe. Brincam no pneu que balança sobre o espelho d’água. Brincam o menino belíssimo e o coração iluminado de sol. Uma espécie de alfabetização aconteceu e a foto mostra o infante 'beníssimo' livre do medo, brincando peladinho nas águas do rio como um pequeno curumim.
Enquanto houver sol / Enquanto houver sol / Ainda haverá…
Coração iluminado de sol, coração à espera de sol, coração ardendo de sol. Enquanto houver sol é uma canção da banda Titãs.
Ivan Rubens
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