Manga tem sabor de infância

A manga é o fruto da mangueira. Originária da Índia, chegou ao Brasil trazida pelos colonizadores. Árvore de porte elevado em seu estágio selvagem, copa frondosa e sombra convidativa. No prefácio de À sombra desta mangueira, Paulo Freire conta que as árvores sempre o atraíram, inclusive os pássaros multicores e cantadores que nelas repousam. “O título deste livro é uma licença que me permito e com a qual sublinho a importância que teve na minha infância a sobra de diferentes árvores. (...) Sombra e luz, céu azul, horizonte fundo e amplo dizem de mim. Sem eles apenas sobrevivo, menos que existo. Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira da minha infância.”

Pode ser a árvore da família das anacardiáceas (Mangifera indica), de origem asiática, de flores pequeninas e ordenadas em tirsos, e cujo fruto é uma drupa carnosa e saborosa, do qual há numerosas variedades. Manga e mangueira podem ainda ser tantas outras coisas.

Mangueira pode ser o tubo de borracha ou plástico para condução de água, ou ainda um grande curral. Manga pode ser uma parte da peça de vestuário, pode ser um grupo, ajuntamento, bando ou turma.

Para mim, a manga é sonora. Soa o calor dos trópicos, transpira e enche a boca d’água: “MAANNGA”. Quem já visitou o Museu da Língua Portuguesa sabe do que estou falando. Aproveite para passear no parque da Luz, na Pinacoteca do Estado e para observar o vai e vem frenético e cosmopolita que parte e chega à estação da Luz. E tem um piano à disposição da multiplicidade dos talentos populares e eruditos.

A manga pode ser bonita, cheirosa e adocicada. Manga verde com sal, saborosa quando amarela, sedutoramente vermelha quando bem madura. Descascar a manga com os dentes e comê-la com as mãos, escapando da boca e escorrendo manga pelo corpo. Os fiapos da manga no vão dos dentes? Nada que um fio dental não resolva. Suco de manga e geleia são delícias difíceis de descrever.

A manga pode ser divertida. Mangar significa caçoar, zombar. Tem sabor de quintal, de comer fruta no pé. Tem sabor de jabuticaba, por incrível que possa parecer, a manga tem sabor de outras frutas. Tem sabor de pitanga e até de laranja poncã.

A manga, danadinha, tem vida. Pelo menos as mangas das mangueiras do quintal dos meus tempos de menino. A manga brinca de esconde-esconde, joga futebol de golzinho, joga hóquei sobre patins, sem os patins é claro, nas traves de caixote de laranja que pegávamos na quitanda para jogar com os cabos de vassoura. Como pode uma criança crescer sem um quintal para brincar? O quintal da minha infância era interminável de tão grande. Ainda hoje sua imensidão cabe na memória deste adulto. Esse espaço para brincar chamado quintal, cujos limites físicos estabelecidos pelos muros não limitam as fantasias e a infância.

Mangueira pode ser, ainda, tradicional escola de samba carioca. O corpo docente é influente: Cartola, Carlos Cachaça, Jamelão, Nelson Sargento, dona Neuma, dona Zica e tantos/as mais. Mangueira, teu cenário é uma beleza. Intacto na memória o casarão da Rua 5 com Avenida 10, fresquinhas na lembrança as duas mangueiras, a jabuticabeira, as laranjeiras, as abelhas que enrolavam no cabelo. Os cães e gatos que durante muito tempo viveram em harmonia, assim como o pintinho que dividia a tigela de ração com a gatinha. Pode parecer história, e é. Histórias de tempos idos que trago no peito e na memória, assim como as brincadeiras e os amigos, as amigas, as alegrias e as fantasias que nunca morrerão e nunca crescerão. E como era grande o meu quintal. Já não dá mais para correr no quintal da minha infância. Ele continua do mesmo tamanho. Eu é que cresci. Portanto, o quintal da minha infância está bem menor. Já não comporta mais as intermináveis brincadeiras, as ilimitadas histórias, as irrealizáveis fantasias. Ou seja, proporcional às dimensões reduzidas das infâncias de um adulto.

Manga tem sabor de infância.

Ivan Rubens Dário Jr.

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Agora eu era...

"Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês. A noiva do cowboy era você além das outras três. Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões...". Sabe quando bate aquela vontade de descobrir uma coisa? Vontade que mobiliza, faz sonhar com maneiras de desvendar o mistério e saciar a curiosidade, vontade de vencer o desafio que se nos apresenta. Aproveitei o feriado e me lancei. Aceitei o desafio, remexi minhas coisas, tirei os livros da prateleira, selecionei CDs para ouvir novamente. Até que se desenhou um caminho.

Encontrei num dos documentários sobre a vida e a obra do Chico Buarque o fio condutor. Comentando sobre seu processo de criação, especialmente da composição de suas canções, Chico traça um caminho a percorrer atento ao trajeto, pois muitas coisas podem acontecer. Uma palavra, por exemplo, aparece sem querer ou um acorde errado. Errado? É criação, não tem certo nem errado. Sugere o erro enquanto possibilidade, caminho diferente ou mesmo um atalho que leve para um resultado tão ou ainda mais interessante. Segundo ele, o próprio Leonardo Da Vinci iniciava seus murais aproveitando as manchas existentes nas paredes para cobri-las com sua obra.

Ainda no DVD uma palavra, Chico fala sobre a composição da letra de João e Maria. Recebeu, lá pelos idos de 1976-77, uma fita cassete de Severino Dias De Oliveira, mais conhecido como Sivuca, com o pedido para que Chico escrevesse a letra para a música. O toque da sanfona e a melodia provocaram em Chico a lembrança das brincadeiras de infância. Fantasiando, as crianças diziam: agora eu era o herói; agora eu era o rei; agora eu era... Num mundo em que as brincadeiras são aceitas, os tempos misturam o passado lírico ao presente sapeca, e a vida fica recheada de alegria.

Essa capacidade criativa não é privilégio de alguns. É da natureza humana. A curiosidade e a vontade de desvendar os mistérios, também. É tudo uma questão de exercício associado ao olhar atento às belezas do mundo e da vida. O mesmo Chico Buarque caminhava pela Candelária no Rio de Janeiro quando ouviu os meninos poliglotas pedindo dinheiro aos turistas: monsieur have money per mangiare? Está na canção Pivete.

Assisti recentemente ao longa entre os muros da escola. O filme do cineasta francês Laurent Cantet, que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, aborda a geografia de uma sala de aula, as múltiplas relações entre aquele ambiente e as pessoas que ali convivem: alunos e professor, alunos e alunos, professor e professores, professor e pais, alunos e pais. É envolvente e muito realista: o elenco é de professores, alunos e pais na vida real que não interpretam a si mesmos, passaram por um workshop. O roteiro é inspirado no livro de bom François Bégaudeau, que interpreta o professor protagonista. Algumas dicas para o final de semana.



Publicado no Diário de Suzano

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro

Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Ele é o cara

Luis Inácio da Silva nasceu em Garanhuns, interior de Pernambuco, em 1945. É o sétimo de oito filhos. Aos sete anos de idade, veio com a mãe e os irmãos para o Guarujá/SP numa viagem de 13 dias num “pau de arara”. Fixaram residência num cômodo atrás de um bar na Vila Carioca na cidade de São Paulo. Foi alfabetizado no grupo escolar Marcílio Dias, começou a trabalhar aos 12 anos em uma tinturaria, foi engraxate e office-boy. Formou-se torneiro mecânico no SENAI e trabalhou na metalúrgica Aliança. Em São Bernardo do Campo filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos em 1968, foi eleito diretor sindical, eleito presidente em 1975 e reeleito em 1978, foi importante liderança política na restauração da prática de greves. Na luta pela redemocratização do país, junto a outros sindicalistas, intelectuais, católicos da teologia militantes da libertação e artistas, fundaram um partido para representar os interesses da classe trabalhadora, o PT. Foi preso pelo DOPS. Foi Deputado Federal constituinte e chegou à Presidência da República.

Descendente de três gerações de generais, Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro em 1931. Sociólogo, lecionou na USP onde assumiu a cátedra de ciência política. Lecionou no Chile, na França, Inglaterra e nos Estados Unidos. Foi pesquisador e diretor do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), militou no antigo Movimento Democrático Nacional (MDB) estimulando a aproximação ao Partido Democrata norte-americano. Seu trânsito junto aos militares e à maçonaria, facilitou o diálogo com setores conservadores na transição da ditadura para redemocratização. No Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), foi senador líder do governo José Sarney, ministro do governo Itamar Franco. Foi presidente da república por dois mandatos.

FHC é um intelectual vaidoso. Lula é uma das maiores lideranças políticas do mundo na atualidade. Serra e Aécio Neves fogem do príncipe da sociologia, a âncora eleitoral. Por melhorar a vida de milhões de brasileiros/as, o governo Lula conquista índices de aprovação jamais vistos, a aprovação pessoal do presidente é simplesmente impressionante. Com o apoio integral de Lula, Dilma Roussef será a primeira mulher presidente do Brasil. Essa situação deve incomodar muito as elites conservadoras desse país.

Aqui em Suzano o raciocínio é bem parecido. Filho de uma família simples lá do Jardim Revista, um jovem negro implementou políticas públicas e mudou para melhor a vida dos/as suzanenses. A primeira gestão de Marcelo Candido realizou mais que seu antecessor que administrou a cidade várias vezes influencia seus destinos desde que se elegeu vereador em 1973. Nas eleições de 2008, Marcelo Candido derrotou esse ícone da direita reacionária e conservadora de Suzano e continua governando para uma cidade inteira. São dois projetos antagônicos que polarizam a política local e permitem comparações na região. Isso deve incomodar muito as elites conservadoras desta cidade a ponto de seus representantes na câmara municipal tentaram incansavelmente desestabilizar um governo aprovado pelo povo.

Ivan Rubens Dario Jr.

A manga tem sabor de infância

Lara e sua manga. Foto da Fabiane.
A manga é o fruto da mangueira. Originária da Índia, chegou ao Brasil trazida pelos colonizadores. Árvore de porte elevado em seu estágio selvagem, copa frondosa e sombra convidativa. No prefácio de 'À sombra desta mangueira', Paulo Freire conta que as árvores sempre o atraíram, inclusive os pássaros multicores e cantadores que nelas repousam. “O título deste livro é uma licença que me permito e com a qual sublinho a importância que teve na minha infância a sobra de diferentes árvores. (...) Sombra e luz, céu azul, horizonte fundo e amplo dizem de mim. Sem eles apenas sobrevivo, menos que existo. Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira da minha infância.”

Mangueira pode ser a árvore da família das anacardiáceas (Mangifera indica), de origem asiática, de flores pequeninas e ordenadas em tirsos, e cujo fruto é uma drupa carnosa e saborosa, do qual há numerosas variedades. Manga e mangueira podem ainda ser tantas outras coisas.

Mangueira pode ser o tubo de borracha ou plástico para condução de água, ou ainda um grande curral. Manga pode ser uma parte da peça de vestuário, pode ser um grupo, ajuntamento, bando ou turma.

Para mim, a manga é sonora. Soa o calor dos trópicos, transpira e enche a boca d’água: “MAANNGA”. Quem já visitou o Museu da Língua Portuguesa sabe do que estou falando. Aproveite para passear no parque da Luz, na Pinacoteca do Estado e para observar o vai e vem frenético e cosmopolita que parte e chega à estação da Luz. E tem um piano à disposição da multiplicidade dos talentos populares e eruditos.

A manga pode ser bonita, cheirosa e adocicada. Manga verde com sal, saborosa quando amarela, sedutoramente vermelha quando bem madura. Descascar a manga com os dentes e comê-la com as mãos, escapando da boca e escorrendo manga pelo corpo. Os fiapos da manga no vão entre os dentes? Nada que um fio dental não resolva. Suco de manga e geleia são delícias difíceis de descrever.

A manga pode ser divertida. Mangar significa caçoar, zombar. Tem sabor de quintal, de comer fruta no pé. Tem sabor de jabuticaba, por incrível que possa parecer, a manga tem sabor de outras frutas. Tem sabor de pitanga e até de laranja poncã.

A manga, danadinha, tem vida. Pelo menos as mangas das mangueiras do quintal dos meus tempos de menino. A manga brinca de esconde-esconde, joga futebol de golzinho, joga hóquei sobre patins, sem os patins é claro, nas traves de caixote de laranja que pegávamos na quitanda para jogar com os cabos de vassoura. Como pode uma criança crescer sem um quintal para brincar? O quintal da minha infância era interminável de tão grande. Ainda hoje sua imensidão cabe na memória deste adulto. Esse espaço para brincar chamado quintal, cujos limites físicos estabelecidos pelos muros não limitam as fantasias e a infância.

Mangueira pode ser, ainda, tradicional escola de samba carioca. O corpo docente é influente: Cartola, Carlos Cachaça, Jamelão, Nelson Sargento, dona Neuma, dona Zica e tantos/as mais. Mangueira, teu cenário é uma beleza. Intacto na memória o casarão da Rua 5 com Avenida 8, fresquinhas na lembrança as duas mangueiras, a jabuticabeira, as laranjeiras, as abelhas que enrolavam no cabelo. Os cães e gatos que durante muito tempo viveram em harmonia, assim como o pintinho que dividia a tigela de ração com a gata. Pode parecer história, e é. Histórias de tempos idos que trago no peito e na memória, assim como as brincadeiras e os amigos, as amigas, as alegrias e as fantasias que nunca morrerão e nunca crescerão. E como era grande o meu quintal. Já não dá mais para correr no quintal da minha infância. Ele continua do mesmo tamanho. Eu é que cresci. Portanto, o quintal da minha infância está bem menor. Já não comporta mais as intermináveis brincadeiras, as ilimitadas histórias, as irrealizáveis fantasias. Ou seja, proporcional às dimensões reduzidas das infâncias de um adulto.

A manga tem sabor de infância.

Ivan Rubens Dário Jr

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 01 de Abril de 2010

Disponível no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Farsas eleitorais

Não é novidade que várias eleições são definidas pelo marketing. Foi assim em 1989 quando a maioria foi convencida de que Collor representava novidade, mudança, progresso. Foi assim que convenceram o eleitorado paulistano que Pitta era um homem de luta e que representava São Paulo. Foi assim que um candidato de trajetória no mínimo duvidosa foi eleito escondido na ideia de que São Paulo já sabe que o prefeito é Kassab. Quem?!

A prática de falsear a realidade e ludibriar o eleitorado com estratégias de marketing é ação comum dos partidos da chamada direita no Brasil. Vejamos alguns exemplos: o Partido de Kassab foi Arena, partido que sustentou a ditadura, depois virou PDS (Partido Democrático Social) onde se reuniram as oligarquias mais conservadoras, virou PFL (Partido da Frente Liberal) e agora, tentando apresentar-se simpático à sociedade, ressurge como Democratas. Democratas? Chega a ser ofensivo à origem grega da democracia (demo: povo; cracia: poder).

Durante a campanha eleitoral, Kassab também atacou a gestão Marta (2000-04) dizendo que ela não acabou com as escolas de lata. O que Kassab não disse é que as escolas de lata foram criadas nas gestões Maluf (1993-96) e Pitta (1997-2000), que contaram com a participação do mesmo Kassab. Foi, por exemplo, Secretário de Planejamento de Pitta, que por sua vez foi secretário de Finanças do Maluf. Como diria o Dudu Nobre: “Essa família é muito unida...”

Além de acabar com muitas escolas de lata, Marta criou os CEUs (Centros de Educação Unificada), grandes escolas que oferecem aos alunos e à comunidade mais do que aulas tradicionais, garantia também cursos de artes, cinema, opções de cultura, esporte e lazer, priorizando áreas mais necessitadas a partir de um estudo profundo a partir do ‘mapa da exclusão social . A aliança PSDB-PFL/DEM, incluindo Pitta, Maluf, Kassab, José Serra, Geraldo Alckmin, e suas bancadas legislativas, foram contra a criação dos CEUs. Acompanhamos os debates na tribuna da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo no período da implantação da política dos CEUs quase que diariamente. Hoje, política pública consolidada, significa um avanço significativo para a população paulistana, especialmente aos/às mais desassistidos pelo poder público.
Os CEUs foram criados, mudaram para melhor a vida de muita gente. Em 2008, Kassab mostrava os CEUs no seu programa eleitoral dizendo que foi ele quem fez.

Em Suzano, município da zona Leste de São Paulo, um candidato prometeu de tudo nas eleições de 2008. Concorria à chefia do poder executivo pela quinta vez. E, só para variar, tentava capitalizar politicamente para si as conquistas populares implementadas pelos governos do campo democrático-popular cujas políticas estão coerentes com o projeto de construir uma sociedade justa, democrática e igualitária. Para o PFL/DEM não passam de peças publicitárias eleitorais.

Essa prática está ficando manjada... Segundo a Folha de São Paulo (03/02/09), o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro pediu às emissoras de TVs Globo e Bandeirantes informações a respeito de campanhas publicitárias da Sabesp veiculadas no Estado. Na resposta da Globo, a agência Nova S/B pagou um total R$ 7,450 milhões para patrocinar a campanha que contava com inserções em rede nacional. Ainda segundo a matéria, o então presidente do TRE-RJ, desembargador Alberto Motta Moraes, ficou surpreso ao ver a inserção na Band. É uma empresa pública estadual, sem prestação de serviço no Rio. Tive contato com o presidente do TRE do Amapá, onde também houve esse tipo de propaganda. Ele vai adotar a mesma providência. Vamos entrar em contato com o Ministério Público Eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral também será informado, disse Moraes.

O TRE quer analisar eventual uso da máquina em benefício de possível candidatura do governador José Serra (PSDB) à Presidência da República. As inserções foram exibidas pela rede Globo duas vezes por dia, durante 45 dias, de dezembro a janeiro. O mesmo José Serra que prometeu investimentos públicos em Suzano condicionando-os à eleição do seu candidato em 2008, que foi derrotado. E agora, José? O povo ainda espera os investimentos públicos prometidos.

Ivan Rubens Dário Jr

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 11 de março de 2010
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro
Publicado no sítio Incorporativa - a revista corporativa

por que anda agora falando de mim? ou a estrela de Israel

A propósito da fala de um vereador à câmara municipal de Suzano no uso da tribuna que repercutiu no jornal Diário de Suzano de 03/12/2009.


A estrela de Israel

É de Chico Buarque de Holanda a canção INJURIADO que está no álbum Carioca lançado em 1998. Envolta num episódio no mínimo curioso, a canção diz assim:

Se eu só lhe fizesse o bem / Talvez fosse um vício a mais / Você me teria desprezo por fim / Porém não fui tão imprudente / E agora não há francamente / Motivo para você se injuriar assim. Dinheiro não lhe emprestei / Favores nunca lhe fiz / Não alimentei seu gênio ruim. Você nada está me devendo / Por isso, meu bem, não entendo / Porque anda agora falando de mim.

Garantida a aprovação da emenda constitucional que permitiu sua reeleição, em conversa com Mário Soares, ex-presidente de Portugal, Fernando Henrique Cardoso disse que Chico Buarque era um artista da ‘elite tradicional’. “Quer ser crítico mas é repetitivo”, disse. Em 1994, Chico havia apoiado Luis Inácio Lula da Silva para presidente da república, enquanto Gilberto Gil e Caetano Veloso ficaram com FHC. Este, por sua vez, rasgou-se em elogios aos dois baianos. Ao torná-la pública, o tiro saiu pela culatra pois Gil e Caetano posicionaram-se a favor de Chico.

Quando do lançamento do álbum ‘Carioca’, em 1998, Chico foi bombardeado com perguntas relacionando a canção ‘Injuriado’ ao episódico FHC. Em resposta, afirmava que fulanizar uma questão que é política (Chico fez oposição ao governo FHC) é uma forma de banalizar a política. Bem manjada, diga-se de passagem. E disse: “Isso é uma piada, só rindo. Primeiro porque não fiquei injuriado com nada, segundo porque nunca vou chamar Fernando Henrique de meu bem”.

Um vereador à câmara municipal de Suzano (não digo o nome a favor da boa educação) tem o hábito de utilizar essa mesma estratégia contra quem discorda dele. Para esse jovem senhor, o símbolo mais apropriado certamente não seja uma estrela, como não é de fato. A cruz gamada parece mais apropriada.

E a canção termina repetindo a seguinte expressão: “Por que anda agora falando de mim? por que anda agora falando de mim?”

Ivan Rubens Dário Jr

texto foi publicado apenas neste blog

O desafio de assumir o país democraticamente

Lá nos idos de 2005, aceitei o desafio de coordenar a implementação do Orçamento Participativo na cidade de Suzano, região metropolitana, zona Leste de São Paulo. Os municípios da região do alto Tietê caracterizam-se pela pequena alternância de poder político institucional e pelo conservadorismo. Assim, a experiência política suzanense é referência regional quando se discute a formulação e execução de políticas públicas destinadas à maioria da população na perspectiva da construção de uma cidade para todos e todas.

Falar da formulação de políticas é falar também de método. Do grego ‘méthodos’, “caminho para chegar a algum fim”. Se essa experiência de construir métodos democráticos é recente no Brasil, infelizmente em muitos municípios brasileiros o autoritarismo presente na cultura política ainda tem muita força e impede que processos cada vez mais democráticos sejam desencadeados no interior das instituições. Mandar fazer é bem mais fácil e proporcionalmente menos edificante. Nessa perspectiva, Rio Claro optou na última eleição municipal por um projeto político mais amplo, superando (espero que definitivamente) o outro projeto mais estreito, representado pelas figuras conservadoras da política local.

Iniciamos a implementação do Orçamento Participativo (OP) em Suzano diante do desafio de exercitar um governo municipal conectado com o esforço imenso de ampliar a democracia no país. Enquanto marca, denominamos participação popular um conjunto de ações nas diferentes áreas e trabalhamos essa idéia como eixo de governo. Animados(as), escolhemos a trilha sonora: ‘Vai passar’ de Chico Buarque.

Da mesma forma, um sem número de debates, livros e textos, conversas e canções nos animaram. Uma fala de Paulo Freire ajuda a dimensionar o desafio: “Tudo que a gente puder fazer no sentido de abrir mais a escola, no sentido de provocar, pedir, convocar, desafiar estudantes, merendeiras, zeladores, vigias, diretores de escola, coordenadores pedagógicos, médicos, dentistas, alunos, vizinho da escola, tudo que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão também. Tudo que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse país democraticamente. Quer dizer: o de ter voz, de ganhar voz e não apenas o de falar, não apenas o de dar bom dia. Ora, o conselho de escola é um dos momentos, um dos meios de que a gente pode se servir, se é que eu posso usar esse verbo, nessa luta pela democratização da escola e pela democratização do ensino no Brasil.” Nosso grande educador disse isso no período em que foi Secretário Municipal de Educação durante a gestão de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo.

Mas o raciocínio ganha amplitude e provoca inspiração se considerarmos que a atividade política é também pedagógica, e que todos os processos desencadeados no campo da ampliação da democracia são educativos. Para mim, trata-se de mostrar para as pessoas a necessidade de se apropriar daquilo que é nosso, daquilo que é de todos e todas, daquilo que é do povo. Todos os espaços e oportunidades se somam na construção paciente e cotidiana da democracia nas cidades e no país.

Você estava pensando que me esqueci do estado? não esqueci, não. É que na atual conjuntura, essa luta no estado de São Paulo é ainda muito maior.

Ivan Rubens Dario Jr.

Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 02 de dezembro de 2009
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil

Adoro viajar. Gosto de conhecer lugares, de vivenciar outras culturas. Recentemente, estive no Rio de Janeiro, ex-capital da República, com meus primos Pedro (15) e Giovanna (12). Iniciamos o passeio pela Confeitaria Colombo (1894), que preserva sua arquitetura art nouveau, imensos espelhos belgas, mármores italianos e mobiliário em jacarandá, local outrora frequentado por Olavo Bilac, Chiquinha Gonzaga, Rui Barbosa, Villa Lobos, entre outros.

Na Biblioteca Nacional (1910), descobrimos um acervo de 5 milhões de obras e registros. No Museu Nacional de Belas Artes (1937), pinturas de Tarsila e Portinari, desenhos de Anita Malfatti, gravuras de Miró, Goya e Picasso e, bem pertinho, a beleza do Teatro Municipal (1909), que está em restauração. A Igreja da Candelária e a inevitável lembrança do massacre de crianças e adolescentes em situação de rua, em 1993. Por que morar numa praça fria e perigosa? Tudo provocava uma boa conversa.

A caminho do Estádio Mário Filho, jornalista irmão de Nelson Rodrigues, observamos outra paisagem carioca pelo vidro do trem. Do tupi-guarani, Maracanã significa semelhante a um chocalho, em homenagem às aves Maracanã-guaçu que ali existiam, e ao rio que cruza a Tijuca e São Cristóvão e deságua na Baía da Guanabara. Jogavam Flamengo e São Paulo no Maracanã lotado. Sai cabisbaixo.

Falamos sobre diversidade na Lapa e em Ipanema. Para ele e também para ela, o importante é ser feliz. E se escolhas à procura da felicidade estão na dimensão individual, do jeito deles criticavam a homofobia e valorizavam os direitos da pessoa humana. Desejávamos em nossa conversa uma sociedade tolerante, justa e respeitosa.

Nessa perspectiva, conheci o Bairro Educador, projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Ministério da Educação, iniciado na Cidade de Deus e hoje também no Morro do Alemão, onde não à toa uma área pública ficou conhecida como Praça Kosovo, as trilhas educativas vão alterando as ocupações. As escolas vão ocupando espaços, aproveitando os saberes acumulados, tornando-os lugares educativos. Os territórios são, devagarzinho, devolvidos às crianças. A escola vai se derramando pelo bairro.

Um resultado que chamou minha atenção foi a recuperação de áreas públicas a partir de um trabalho pedagógico em que alunos e alunas pesquisaram o bairro. Eram três ‘arquitetos’, um ‘fotógrafo’ e um ‘jornalista’. Acompanhados por educadores e educadoras, os relatórios alimentaram os projetos de recuperação de espaços urbanos pela prefeitura. Um professor sacou que é mais legal aprender fração numa oficina de arte culinária. Falou com a merendeira. Quantos gramas de farinha? Quantos mililitros de água? Comeram ¾ de uma pizza de oito pedaços.

A escola ficou bonita quando os alunos e alunas das oficinas de pintura e mosaico resolveram decorar os muros externos. Um dia não precisarão dos muros. Aliás, deu para trabalhar os eixos cartesianos. E mais: os alunos e alunas cuidam do paisagismo nas imediações da escola. Aprenderam com o paisagista da Prefeitura e criaram a Comissão de Parques e Jardins.

Como diz um provérbio africano, é preciso uma aldeia para educar uma criança.

Ivan Rubens Dario Jr.

Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro
Qui, 22 de Outubro de 2009

É proibido fumar ou proibir?

“É proibido fumar, diz o aviso que eu li”, cantavam a partir de 1964 o bom moço Roberto Carlos e o ‘tremendão’ Erasmo Carlos. Eu ainda nem pensava em nascer. Sou de 1971. Porém, sendo uma canção bem conhecida, inspira uma reflexão acerca da Lei Antifumo proposta pelo governador do estado de São Paulo e aprovada por 69 deputados estaduais contra 18 votos. Estiveram presentes 88 dos 94 parlamentares na sessão.

Não fumo, não gosto da fumaça, não gosto do cheiro de cigarro. Mas proibir o consumo de cigarros em locais públicos me incomoda tanto quanto o cigarro ou mais. Por essa razão, ao debater sobre a Lei Antifumo, quero contribuir com algumas reflexões.

Alguém entra num bar e tira a roupa. A turma chama a polícia e o peladão vai preso. Seguindo a lógica da Lei Antifumo, o peladão fica numa boa e o dono do bar é quem vai em cana. E o proprietário é responsabilizado pela contravenção cometida no seu próprio estabelecimento comercial. Ou seja, a irresponsabilização de quem infringe a lei e a responsabilização do proprietário como se ele fosse cúmplice de um homicídio. Não dá para punir alguém pelo ato cometido por outra pessoa. A liberdade de escolha e a responsabilização individual são duas grandes conquistas éticas da civilização ocidental.

O verborrágico governador lista índices de saúde para punir a sociedade que, por sua vez, confunde saúde com acesso aos medicamentos. Os danos à saúde provocados pelo cigarro, além de estarem constantemente nos veículos de comunicação, estão estampados nos maços de cigarro, o que garante às pessoas razoável volume de informações sobre os danos à saúde causados por essa droga lícita. Contudo, é central na discussão o distanciamento entre o conceito de saúde enquanto sinônimo de bem viver, superando o entendimento minimalista de acesso ao tratamento e à medicação. É central, exceto para o governador do estado de São Paulo.

Outro aspecto é o da judicialização excessiva da vida em detrimento dos direitos individuais, dos direitos fundamentais, a partir de um Estado impositor, um governo truculento e pretensioso em ditar até aquilo que seduz as pessoas pelo prazer. Por outro lado, um grande amigo meu, fumante convicto, fala das estratégias absurdamente criativas para saciar o vício em locais proibidos. Ou seja, existe um resultado inverso a partir da Lei Antifumo: o prazer na transgressão. Torna-se irresistível transgredir, potencializando o prazer de fumar.

Freud explica que as pessoas gostam do prazer e da dor. Em outras palavras, os impulsos de vida e os impulsos de morte. Dá para escolher viver tranquilamente por mais tempo ou viver mais intensamente mesmo que dure pouco tempo. Os prazeres da vida, mesmo que encurtando seu percurso, são escolhas (ou decisões) que estão limitadas à dimensão individual.
A Lei Antifumo fere direitos democráticos. Em grego, phármakon significa remédio, cuja tradução também pode ser ‘veneno’. E, nesse caso, o remédio proposto pelo governador do estado de São Paulo é veneno para uma sociedade democrática. Aliás, como é esquisito ver os deputados estaduais que votaram a favor dos interesses demagógicos e eleitoreiros presentes na Lei Antifumo rebolando para fumar sua cigarrilha e seu charuto. De elogiável disposição...

Por fim, também na década de 1960, Caetano Veloso cantava que “é proibido proibir”. Conclusão da história: o governador prefere ouvir o bem comportado Roberto Carlos.

Ivan Rubens Dario Jr
(O autor é não fumante agredido pelos ‘efeitos colaterais’ da Lei Antifumo)


Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 23 de setembro de 2009
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

A casa dos artistas

Detesto programas do tipo reality show. Já a ideia de dar publicidade, de tornar pública a participação de quem deve trabalhar pelo interesse público parece interessante. Não se trata de invadir os espaços da vida privada, mas de tornar públicos os espaços onde se trabalha pelo interesse público.

Todo/a ocupante de cargo público ou função pública deve satisfação à população. Não estou falando apenas de quem é escolhido pelo povo por meio do voto. Todas as atitudes e decisões devem estar coerentes com o interesse público. Quem atua nesse sentido não tem o que esconder.

Tive acesso a uma pesquisa sobre os canais de televisão do Poder Legislativo no Brasil, da socióloga Márcia de Almeida Jardim. Segundo ela, a TV legislativa no Brasil está regulamentada na lei da TV a cabo, havendo uma regra específica: todas as sessões plenárias devem ser transmitidas ao vivo e sem cortes. Isto acontece em todas as emissoras estudadas, sejam de câmaras de vereadores, de assembleias ou da Câmara dos Deputados e do Senado. "Os parlamentares não ficam mais sozinhos", disse a socióloga.

As TVs legislativas devem ser entendidas como mecanismos de prestação de contas dos representantes para com os representados e, por outro lado, de controle social que os representados exercem sobre os representantes. Uma espécie de "olho eletrônico" vigiando o parlamentar no exercício do mandato, além de permitir informar e formar politicamente o eleitor espectador. Trata-se de um passo importante visando ampliar a democracia.
É evidente que existem problemas. Para aumentar a transparência quanto aos gastos com as TVs uma vez que são (e devem mesmo ser) mantidas com dinheiro público, para evitar decisões autoritárias pois a manipulação e interpretação das informações provoca distorções, duas medidas podem ser implantadas para aperfeiçoá-las: a formação de conselhos editoriais e fiscais, com representação dos parlamentares, dos profissionais das TVs e da sociedade; e a eleição do diretor da TV. E esse espaço tende a aumentar ainda mais considerando que a internet está cada vez mais difundida e as TVs web são uma possibilidade de custos bem mais reduzidos.

Bom, se o raciocínio serve para os representantes eleitos pela população para defender o interesse público no parlamento, o mesmo raciocínio serve também para os espaços de participação popular. Imaginem que legal se as reuniões de conselhos institucionais de políticas públicas junto ao poder executivo, por exemplo, fossem transmitidas para quem quiser assistir? O Conselho Municipal de Educação discutindo a política educacional, o Conselho Municipal de Saúde discutindo a política de saúde com as falas, os gestos, o comportamento dos nossos representantes disponíveis via internet aos interessados por esses temas? E por aí vai... Cada vez mais gente podendo acessar aquilo que é de todos e todas nós.

E o Brasil vive um momento bastante oportuno para esse tipo de conversa. Entre 14 e 17 de dezembro acontecerá a plenária nacional da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), oportunidade para nossos/as representantes eleitos nas plenárias municipais e estaduais aprofundarem as discussões sobre inclusão digital, cidades digitais, concessões de canais de rádio e TV, mas não apenas eles/as. Para todos/as nós também.

Ivan Rubens Dario Jr.

Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 10 de dezembro de 2009
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Publicado no sítio do Claudio Di Mauro

Sobre um tal de Tom Zé

Adoro música. Sou de família de musicistas. Mas, para felicidade geral da nação, dedico minha herança genética à audição. Afinal, a exemplo de um aparelho de videokê, ninguém merece vozes esganiçadas aos berros ou um instrumento musical, qualquer um, mal tocado. Dentre os compositores que ouço habitualmente está Antônio José Santana Martins. Dia desses nos conhecemos pessoalmente durante sua apresentação promovida pela secretaria municipal de cultura em Suzano.

Tom Zé é sertanejo de Irará, interior da Bahia, nascido em 1936. Com presença importante na MPB, nas décadas de 1960 e 1970, no final da década de 1980 sua carreira deu uma reviravolta quando o músico norte-americano David Byrne descobriu num sebo o inovador "Estudando o Samba". Fascinado, Byrne lançou o compositor brasileiro no mercado internacional. O sucesso conquistado na Europa e nos Estados Unidos durante a década de 1990, só se refletiu no Brasil em 1999, com o lançamento de seu CD "Com Defeito de Fabricação".

Estudou na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia na década de 1960. Esteve com Caetano, Gil, Bethânia e Gal no movimento tropicalista e no álbum ‘Tropicália ou Panis et Circenses’. Em cena, atuou sob a direção de Augusto Boal, fundador do 'teatro do oprimido' que entende o teatro como instrumento de emancipação política inspirado nas propostas do educador Paulo Freire.

Com a canção ‘São, São Paulo, Meu Amor’, conquistou o IV Festival de Música da TV Record. Torcedores do São Paulo Futebol Clube cantam "São, São Paulo, Tricolor". O primeiro show de Tom Zé que assisti foi aqui na UNESP em 1994. Na atividade cultural organizada pelo Diretório Acadêmico - DA, ele cantou e contou histórias. Falou da sua vida, da cultura brasileira, falou de política, falou... Descontraído, convidou-nos para continuar a conversa no bar, molhando o verbo e ajudando a angariar fundos para o DA. Chegando, lá estava ele do lado de dentro do balcão servindo bebida e simpatia.

Tom Zé é um grande artista. Tem opinião, coloca seu talento na luta por um mundo justo. "Tem pessoas que sabem que não podem ser felizes sozinhas. Olham para os olhos das outras e ficam fracas quando a mensagem que recebem não é de satisfação. Eu sou político quando eu compreendo isso, que uma pessoa não pode ser feliz se há em volta dela pessoas infelizes", disse.

Feliz escolha do prefeito Marcelo Candido e do secretário de Cultura Walmir Pinto em convidá-lo para comemorar com o povo o aniversário da cidade. Durante o show, Tom Zé fortaleceu a luta pela emancipação sexual das mulheres, falou da felicidade e do gozo. Estava satisfeito ao saber que 2% do orçamento público municipal é investido pela secretaria de cultura e provocou os/as presentes dizendo que é preciso aproveitar muito bem cada centavo deste. Elogiou a descentralização da Cultura com a construção de centros culturais na periferia, um deles inclusive por decisão popular nas plenárias do Orçamento Participativo. Aliás, duas outras pessoas interessantíssimas que estiveram em Suzano e conversei bastante, disseram a mesma coisa: o ator Sérgio Mamberti, atual presidente da Fundação Nacional de Arte – FUNART, e o filósofo e teólogo Leonardo Boff.

Ouça ‘Tô’ na interpretação de Zélia Duncan no excelente álbum “Eu me Transformo em Outras. Descubra em ‘Menina’ que "amanhã de manhã a felicidade vai desabar sobre os homens” e encontre elementos ‘Sobre a liberdade e Democracia’ no álbum ‘No jardim da política’.

A canção ‘Classe operária’ diz assim: "Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé, que vai defender a classe operária, salvar a classe operária e cantar o que é bom para a classe operária. Nenhum operário foi consultado, não há nenhum operário no palco, talvez nem mesmo na plateia, mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários. Os operários que se calem, que procurem seu lugar, com sua ignorância, porque Tom Zé e seus amigos estão falando do dia que virá e na felicidade dos operários. Se continuarem assim, todos os operários vão ser demitidos, talvez até presos, porque ficam atrapalhando Tom Zé e o seu público, que estão cuidando do paraíso da classe operária. Distante e bondoso, Deus cuida de suas ovelhas, mesmo que elas não entendam seus desígnios. E assim, depois de determinar qual é a política conveniente para a classe operária, Tom Zé e o seu público se sentem reconfortados e felizes e com o sentimento de culpa aliviado".

Desde o começo dos anos 90, Tom Zé cuida do jardim de um prédio de apartamentos, no bairro de Perdizes, São Paulo. Hoje ele nem mora mais lá. Mudou-se para o edifício da frente. Cuida da terra, planta flores e frutas, aprendendo a eliminar as pragas das folhas, formigas enxeridas e condôminos de mau humor. “Já aprendi vários tipos de poda, a lua certa, essas coisas. Aprendi a sublimar o barulho da rua. E também aprendi a lidar com as pessoas do condomínio. Tem todo tipo de gente. Há pessoas que têm ciúme, algumas reclamam que eu estou gastando muita água, outras trazem plantas e não entendem quando digo que não dá para plantar ali porque uma pode fazer sombra para a outra... Mas eu converso, explico, vou me virando” disse a uma revista. Esse é Tom Zé, um músico brasileiro considerado pela revista Rolling Stone um dos “melhores artistas do mundo na década de 90”.

Ivan Rubens Dario Jr.

Publicado no Diário de Suzano



8 de março: 364 dias para transformar a realidade

Oito de março é o Dia Internacional da Mulher. Dentre muitas manifestações de carinho, veremos mulheres recebendo botões de rosa, veremos a figura da mulher associada à imagem da virgem Maria, veremos supervalorização da dimensão materna. Isso não é aleatório, está presente na nossa cultura.
De acordo com a literatura judaico-cristã, milenar, a mulher foi feita da costela de Adão. Nem do pé nem da cabeça, mas da costela num claro sinal de companheirismo por estar ao lado, remetendo à ideia de igualdade entre homens e mulheres.

Bacana, mas é necessário olhar para uma realidade pouco romântica. Segundo o Dieese, as brasileiras correspondem a 41% da população economicamente ativa e mais de 1/4 das famílias são chefiadas por mulheres. Elas possuem maior nível de escolaridade que os homens, porém não ocupam funções compatíveis com sua formação, além de terem remuneração menor quando nas mesmas funções do sexo oposto. Então, qual o sentido do oito de março?
Nova Iorque, 1857. Mulheres organizaram uma greve por melhores condições de trabalho e contra a jornada de 12 horas. Conta-se que, ao serem reprimidas pela polícia, as trabalhadoras refugiaram-se dentro da fábrica. Os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando-as carbonizadas.

Ainda nos Estados Unidos da América, 1911. O incêndio aconteceu na Triangle Shirtwaist Company, uma fábrica têxtil que empregava 600 trabalhadores, sendo a maioria jovens mulheres imigrantes judias e italianas. Morreram 125 trabalhadoras. Essa tragédia reforçou a luta de socialistas americanas e europeias na instituição do Dia Internacional da Mulher.

Rússia, 1917. Em greve geral, operárias saíram às ruas para reivindicar o fim da fome, da guerra e do czarismo. Nem imaginavam, mas no dia 8 de março elas inauguraram a Revolução Russa. Em 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu oficialmente o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.

Em Suzano/SP, onde trabalho, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher junto ao poder executivo municipal, chefiado pelo geógrafo Marcelo Candido, organiza e oferece pelo sexto ano consecutivo uma ampla programação. Para além das comemorações, um mergulho nas reflexões sobre a situação da mulher, sobre sua vida, seu presente concreto, seus sonhos, seu futuro. Espero que em Suzano, em Rio Claro e em todos os lugares 8 de março seja um dia para pensar, repensar e organizar as mudanças em benefício da mulher e, consequentemente, de toda a sociedade em favor da justiça e da igualdade. E o restinho do ano? 364 dias para mudar comportamentos e transformar a realidade.

Ivan Rubens Dario Jr

Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 03 de março de 2010
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Do direito e do dever de mudar o mundo

Uma amiga pedagoga, companheira de trabalho com quem partilhei parte da responsabilidade de implementar o Orçamento Participativo na cidade de Suzano/SP, comentou comigo sobre o livro ‘Pedagogia da indignação – cartas pedagógicas e outros escritos’. Curioso, recorri à publicação para ‘dialogar’ com Paulo Freire.

No dia 2 de maio de 1997 o mundo perdeu o educador Paulo Freire. O desejo da minha amiga Paula é pela leitura de uma obra inacabada, cuja finalização se deu em 11 de fevereiro de 2000 por sua companheira Ana Maria Araújo Freire, a Nita. A primeira parte do livro é composta por três ‘cartas pedagógicas’. Ao final de cada carta, Nita conta sua história e comenta as reflexões de Paulo Freire.

Ela conta que em 17 de abril de 1997, quando a Marcha dos Sem-Terra, organizadamente, vinda de diferentes partes do Brasil e confluindo num só corpo nos corpos de crianças, velhos e jovens, negros ou brancos, entrou em Brasília. Paulo e Nita assistiam ao evento político pela televisão e lamentavam não estar com aqueles homens e mulheres na capital federal. “Quando Paulo viu aquela mutidão entrando, altiva e disciplinadamente, na Esplanada dos Ministérios, ficou de pé caminhando de um lado para outro da sala. Repetia com voz emocionada: ‘É isso minha gente, gente do povo, gente brasileira. Esse Brasil é de todos e todas nós. Vamos em frente, na luta sem violência, na resistência consciente, com determinação tomá-lo para construirmos, solidariamente, o país de todos e de todas os/as que aqui nasceram ou a ele se juntaram para engrandecê-lo. Esse país não pode continuar sendo de poucos... Lutemos pela democratização desse país. Marchem, gente de nosso país...” No mesmo dia, Paulo Freire concluiu a carta pedagógica Do direito e do dever de mudar o mundo. Isso me fez pensar nas mudanças que acontecem no Brasil e que escapam aos olhos, às vezes aparecem nas conversas, raramente são noticiadas nos canais de rádio, televisão, jornais e revistas pertencentes aos grandes conglomerados de comunicação.

A carta fala do sonho de um mundo melhor, de um mundo justo, cuja possibilidade depende da luta ideológica, política, pedagógica e ética. Fala da importância de exercitar nossa capacidade de pensar, de indignar-se e de indignar, de duvidar, de experimentar hipóteses de ação, de programar e de não apenas seguir os programas ‘propostos’, para não dizer impostos. Fiquei pensando como seria nossa democracia se os/as quilombolas, os/as camponeses/as das Ligas e os/as sem-terra aceitassem passivamente a ideia fatalista e conformista de que a vida é assim mesmo, que não há o que fazer. Como seria a vida se aceitássemos que “é uma pena existir tanta gente com fome entre nós, mas a realidade é assim mesmo”, “o desemprego é uma fatalidade do final do século” ou “galho que nasce torto, torto se conserva”? Sonhar com uma sociedade sem injustiça, sem violência, mais humana, exige sujeitos/as progressistas acreditando na capacidade do ser humano avaliar, comparar, escolher, decidir e, finalmente, intervir no mundo. Ou seja, o conhecimento é libertador.

Basta estar atento para perceber as iniciativas criativas e interessantes, experiências novas, vida pulsando e irradiando em várias direções. Em Suzano, por exemplo, o governo municipal criou a Secretaria de Participação e Descentralização. Consolidar o Orçamento Participativo, descentralizar a administração municipal facilitando o acesso da população aos equipamentos e serviços públicos, criar a cidade digital, articular os conselhos institucionais e conselhos gestores locais, implantar as coordenadorias especiais (igualdade racial, igualdade de gênero, direitos humanos, juventude, idoso) são tarefas importantes. Contribuem para integrar ainda mais as ações setoriais, especialmente Educação, Cultura, Saúde e Esportes fazendo desses espaços ricas possibilidades de formação, diálogo, aprendizado. E por aí se caminha na perspectiva de uma cidade educadora e, portanto, libertadora.

É assim que contrapomos os céticos de plantão que teimam em afirmar que a “história acabou”. Nada disso. Outro mundo é possível, mas sua construção depende do engajamento e da luta paciente e cotidiana de cada um e cada uma de nós. Nesse sentido, Paulo Freire está conosco.

Ivan Rubens Dario Jr.
Publicado no Diário de Suzano

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro

Dom Hélder Câmara: santo ou comunista?

Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909. Um franzino nordestino que enfrentou o regime militar, defendeu a democratização do país sem titubear e fez de sua vida instrumento de luta em favor da justiça e da igualdade entre as pessoas!

Aos 14 anos ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza. Em 1931 foi ordenado padre e fundou a Legião Cearense do Trabalho. Em 1933, criou a Sindicalização Operária Feminina Católica que congregava as lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Foi diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará durante cinco anos sem se distanciar de suas convicções e da luta popular.

Em 1956 fundou a Cruzada São Sebastião, com a finalidade de dar moradia decente às pessoas. Em 1959 fundou o Banco da Providência destinado a ajudar famílias pobres. Foi fundador da CNBB (Conferência Nacional de Bispos Brasileiros) e propôs ao Vaticano a fundação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Foi um dos propositores do Pacto das Catacumbas, documento assinado por cerca de 40 padres durante o Concílio Vaticano II em 1965, que teve forte influência na Teologia da Libertação.

Arcebispo de Olinda e Recife (PE), em 1964, organizou setores pastorais e instituiu um governo colegiado na diocese. Criou o Movimento Encontro de Irmãos e a Comissão Justiça e Paz. Fortaleceu as comunidades eclesiais de base, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Devido a sua atuação política e social, sua pregação libertadora em defesa dos mais pobres, seja pela denúncia da exploração a que são submetidos os países subdesenvolvidos ou por sua pastoral religiosa em prol da valorização dos pobres e leigos, foi chamado de comunista e passou a sofrer retaliações e perseguições do regime militar. Nem mesmo o Ato Institucional nº 5 (AI-5) o fez recuar. Pelo contrário, seguiu defendendo uma igreja simples voltada aos pobres e à não-violência. “Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista”, refletia Câmara.

Sua lucidez e história de lutas conferiram a ele vários títulos de Doutor honoris causa, Cidadão Honorário dentro e fora do país. Nos EUA, o Prêmio Martin Luther King, na Noruega, Prêmio Popular da Paz, entre tantos. Recebeu quatro indicações para o Prêmio Nobel da Paz. Justas homenagens!
Faleceu no dia 27 de agosto de 1999, de parada cardiorrespiratória. Conforme declaração de Frei Betto, destacada no jornal mensal A Verdade, “Sem dom Hélder, talvez não houvesse comunidades eclesiais de base, pastorais sociais, campanhas da fraternidade, gritos dos excluídos”. O pedido de sua beatificação foi encaminhado ao Vaticano em 2008.

O que diria Dom Hélder Câmara ao ler na Folha de SP o então Secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, atribuindo aos movimentos migratórios o aumento da violência no litoral de São Paulo? Afirmou que os investimentos da Petrobrás na região influenciam o aumento dos índices de homicídios, com o claro objetivo de aliviar o governador José Serra e os 14 anos de governos tucanos, responsáveis pela política repressiva de segurança pública no estado que mascara a péssima distribuição de renda e as evidentes injustiças sociais, como no caso da recente barbárie em Paraisópolis. Decerto Dom Hélder não se calaria.

Ivan Rubens Dario Jr.

publicado no Jornal Diário de Suzano
publicado no Jornal Cidade de Rio Claro

A conversa que não houve...

Dois colegas se encontraram às vésperas do Natal. Amigos dos tempos de escola, os caminhos da vida levaram a amizade às baixas latitudes. Mesmo morando e trabalhando na mesma cidade, próximos física e ideologicamente, a rotina não permitia maiores aproximações, embora se vissem com certa frequência. Também, pudera: transformar o mundo num lugar melhor para todos dá trabalho e toma tempo.

No canto do salão de um discreto restaurante, longe dos olhos e ouvidos do mundo, ambos iniciaram o diálogo com amenidades. Interrompidos apenas para o pedido: feijoada. Falaram sobre futebol, cuja afinidade clubística provocou boas risadas. Falaram dos amigos e do passado. Comentaram sobre o resultado das eleições municipais, das alterações no cenário político, das especulações sobre a ‘dança das cadeiras’, dos tensionamentos de grupos que disputam os espaços institucionais, daqueles movidos pelo interesse público e daqueles nem tão legítimos assim. Até que uma pergunta mudou o rumo da conversa: “então, o que realmente fica?”

Fiquei pensando sobre isso. As pessoas se conhecem, trabalham, convivem. Juntas, planejam uma viagem ou um churrasco. Trocam presentes no Natal. Tem projetos ainda maiores como vida a dois, um bebê, dois, três... Então, o que realmente fica?

Governos passaram, outros passarão. Os demo-tucanos a frente do governo do Estado de São Paulo, se dizem bom gestores. E daí? Basta entrar numa escola da rede estadual, visitar uma unidade da Fundação Casa, uma delegacia, e constatar que a realidade é cruel. Então, o que realmente fica?

Para Machado de Assis, o melhor jeito de saber o que há dentro das ideias e das nozes é quebrando-as. Ao sair de casa, encha uma pequena mala com nozes, ideias e frases prontas. Nada mais cômodo. Quando chegar n’algum lugar, basta abrir a mala e sacar uma das ideias ou frases. Trata-se de um modo breve e econômico de fazer amizades porque todos conhecem há muito tempo. De tão acostumados com essas ideias, as pessoas creem nelas mais do que em si mesmas. Quando topei o desafio de contribuir para ampliar a democracia na cidade de Suzano, com um governo popular ilhado numa região conservadora a Leste de São Paulo, por meio da implementação do Orçamento Participativo, estávamos desarmados..., eu carregava um quebra-nozes. Quebramos várias ideias e percebemos que muitas estavam vazias. De dentro de algumas nozes saíram até um bicho feio e visguento. O Orçamento Participativo é uma ferramenta de planejamento que permite ‘planejar com’. Na minha modesta opinião, é muito mais interessante do que ‘planejar para’ pois amplia a visão de mundo e funciona como processo de formação política, de politização dos temas e das discussões.

Um dos comedores de feijoada rompeu o silêncio: “na prática, o que vamos fazer?” essa resposta requer um coletivo maior, a conversa que não houve...
Isso me fez lembrar a fábula em que uma galinha e um porco resolveram fazer omelete com bacon. Coube à galinha entregar os ovos, coube ao porco entregar a vida. Transformar o mundo num lugar melhor para viver não é tarefa fácil. Para fazer omelete é necessário quebrar os ovos!

Ivan Rubens Dario Jr

Publicado no Diário de Suzano

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro, 08 de Abril de 2010
Disponível no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

Do mundo para Suzano

O que uma praça tem em comum com um conjunto habitacional para abrigar moradores de área de risco, com uma quadra multiuso onde a criançada joga peteca, uma pista de caminhada para melhor idade, uma área urbanizada onde existia uma favela? A vontade do povo expressa numa decisão no Orçamento Participativo (OP). 

Escrevo mais uma vez de Belo Horizonte (MG). Participo do 1º Seminário Internacional do OP, do 1º Encontro Internacional de Redes de OP e 3º Encontro da Rede Brasileira de OP. Desta vez vim numa caravana. Afinal, o OP não é um processo apenas institucional, tampouco exclusivamente do movimento popular. É tudo junto e misturado.

O representante da rede portuguesa de OP, Nelson Dias, inspirado nos estudos do sociólogo lusitano Boaventura de Souza Santos, ‘Estado como novíssimo movimento social', entende o OP como inovação democrática. Para Aurenir, moradora da Vila Monte São José e conselheira do OP de BH, "o OP é um mecanismo histórico de construção da democracia que garante dignidade à nossa vida".

O OP foi implementado na capital mineira pelo então prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias - que inaugurou em Suzano nosso premiado Restaurante Popular na condição de Ministro do Desenvolvimento Social. Aliás, o almoço num Restaurante Popular em BH saciou minha fome de pão. Já a fome de beleza, o Restaurante Popular de Suzano foi justamente premiado.

O Seminário é curioso. Um dos expositores fez inúmeras provocações em sua fala: “o OP é uma idéia revolucionária ou é pura demagogia? É um jeito de planejar incluindo a população (real mandatária do poder institucional) ou pura enrolação?” É, sem dúvida, um grande liquidificador porque coloca tudo junto, o governo, o povo, o orçamento, as informações, mistura tudo e faz uma receita nova. Alimenta os corpos e as subjetividades. É tanto mais rico e profundo quanto maior a vontade política dos envolvidos. Então, o que está no nosso horizonte? Onde queremos chegar com o OP? Pode ser apenas uma ferramenta de melhoria de gestão. Em Harare, capital do Zimbabwe, segundo Takawira Mumvuma, o OP constrói solidariedade, dá voz a quem nunca teve voz.

Representantes de vários países trouxeram para o debate a capacidade de inverter as prioridades quando do investimento público. Concordo: a vida real nesses lugares onde mora a população é diferente das idealizações no conforto dos gabinetes dos técnicos de planejamento. Alguns foram enfáticos: "Inversão de prioridades não acontece no gabinete". Para atender aos verdadeiros anseios da população e não do corpo técnico e administrativo ou de políticos, que fazem dos lugares seus currais eleitorais, é necessário envolver todo mundo no projeto, em todas as fases de sua elaboração. O OP tem a capacidade de mudar o jeito de fazer política e de viver na cidade.

Outro aspecto que me chama a atenção é a participação da delegação de Suzano. Estamos bem articulados com Guarulhos, Osasco, Embu das Artes, Taboão da Serra, Porto Feliz, mas conselheiros e conselheiras suzanenses se posicionam com tranqüilidade e se movem com ousadia. Lançam aos ventos as sementes das mudanças que ocorrem em Suzano, germinando nos corações e mentes africanas, européias, indianas, sul-americanas e estadunidenses. Aliás, o conselheiro Brauner, morador da cidade Edson, aí em Suzano, participou da mesa ‘A experiência das comissões e conselhos de OP'. Falou do intercâmbio que realizamos durante 2008 na região metropolitana de São Paulo. E dessa forma vamos aprendendo ensinando, na dialética da vida, onde compartilhando conhecimentos, enriquecemos a nós e a outros, aprimoramos e construímos outro tipo de sociedade.

publicado no jornal Diário de Suzano

De Suzano para o mundo


O Orçamento Participativo (OP) é uma política criada no Brasil no final dos anos 80 e início da década de 90 por governos democráticos e populares no esforço de incluir a população na discussão dos orçamentos públicos municipais. De lá para cá, as experiências nos mais diversos municípios têm aprimorado o processo do OP no Brasil e no mundo. É isso mesmo: do Brasil para o mundo. Tanto que serão realizados em Belo Horizonte (MG), nos dias 11, 12 e 13 de dezembro, o 1º Seminário Internacional do Orçamento Participativo e o 1º Encontro Internacional de Redes de OP. A delegação de Suzano apresentará o nosso OP. De Suzano para o mundo.

O Orçamento Participativo chegou a Suzano apenas em 2005. Em cumprimento ao programa de governo eleito nas urnas, a gestão Marcelo Candido criou a assessoria para implementação do OP que, a partir da Secretaria Municipal de Governo, num esforço de trabalhar transversalmente, convidou companheiros e companheiras de todas as secretarias municipais para conceber e pactuar coletivamente o nosso OP, com as peculiaridades próprias de nossa cidade.

Estava composta a ‘secretaria executiva do OP'. Assim, o governo municipal democratizou o Plano Plurianual (PPA). Foram três grandes plenárias para discutir, com a população, a elaboração do projeto de lei que planeja as ações da prefeitura nos quatro anos seguintes.

Em 2006, iniciamos o OP propriamente dito. Em 12 plenárias regionais, a população apontou as demandas e elegeu conselheiros e conselheiras. Composto por 32 titulares, sendo 24 eleitos(as) pela população e 8 representantes do governo municipal, e igual número de suplentes, o Conselho do OP (Corpo) definiu as prioridades para o investimento da Prefeitura de Suzano, com sua inclusão na Lei Orçamentária Anual, a LOA.

O trabalho do governo municipal, somado ao trabalho dos conselheiros e das conselheiras, levou ao crescimento significativo de participação da população nas plenárias. Em 2008, o processo foi aprimorado com a Ciranda do OP, a discussão de prioridades para a cidade e a plenária temática do OP Jovem.

O OP é um dos instrumentos de participação popular, de controle social e de gestão democrática da gestão pública na cidade. Esses instrumentos compõem o projeto político que foi reeleito nas urnas pela ampla maioria dos(as) suzanenses.

Então, o desafio de consolidar o OP em Suzano está no horizonte da nossa caminhada para os próximos quatro anos. Para tanto, planejar é fundamental e um bom planejamento, que se pretenda sério e efetivo, começa numa boa avaliação.

Assim, o processo de avaliação da implementação do OP em Suzano acontecerá em etapas. Na quinta-feira (4/12), conselheiros e conselheiras (titulares e suplentes) eleitos(as) em 2006, 2007 e 2008, estarão reunidos na Emef Antônio Marques Figueira (rua Missionária Sarah Cooper, 27 - Centro) com este objetivo.

No início do ano que vem, realizaremos um seminário para conhecer os diferentes aspectos de nossa avaliação e, a partir dela, iniciarmos o planejamento. Assim, esperamos continuar a construção coletiva do OP. Nossa experiência é única. Fique atento(a) e participe. 

publicado no jornal Diário de Suzano

Laço Branco em Suzano

No dia 6 de dezembro de 1989, um rapaz de 25 anos invadiu uma sala de aula da Escola Politécnica, na cidade de Montreal, Canadá. Ele ordenou que os homens (aproximadamente 48) se retirassem da sala e permanecessem apenas as mulheres. Gritando: “você são todas feministas!?”, assassinou 14 mulheres e, em seguida, suicidou-se. Afirmou, numa carta, ter feito aquilo por não suportar a idéia de mulheres estudando engenharia, um curso majoritariamente masculino.

O crime mobilizou a opinião pública de todo o país, gerando amplo debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência gerada por esse desequilíbrio social. Assim, homens canadenses se organizaram para dizer que existem pessoas do sexo masculino que cometem violência contra a mulher, mas também existem aqueles que repudiam essa atitude. Eles elegeram o laço branco como símbolo e adotaram como lema: jamais cometer um ato violento contra as mulheres e não fechar os olhos frente a essa violência.

Lançaram, assim, a primeira Campanha do Laço Branco: homens pelo fim da violência contra a mulher. Distribuíram cerca de 100 mil laços entre os homens canadenses, principalmente entre os dias 25 de novembro e 6 de dezembro, período que concentra um conjunto de ações e manifestações públicas em favor dos direitos das mulheres e pelo fim da violência. Assim, 25 de novembro foi proclamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia Internacional de Erradicação da Violência contra a Mulher e 6 de dezembro foi escolhida para que a morte daquelas mulheres (e o machismo que a gerou) não fosse esquecida.

A Campanha do Laço Branco tem o objetivo de sensibilizar, envolver e mobilizar os homens no engajamento pelo fim da violência contra a mulher. As atividades são desenvolvidas em consonância com as ações dos movimentos organizados de mulheres e de outras representações sociais que buscam promover a eqüidade de gênero, através de ações em saúde, educação, trabalho, ação social, justiça, segurança pública e direitos humanos.

Ao longo de duas décadas, a campanha foi implementada na Índia, Japão, Vietnã, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Espanha, Bélgica, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Namíbia, Quênia, África do Sul, Marrocos, Israel, Austrália e Estados Unidos. No Brasil, algumas iniciativas começaram em 1999 com o objetivo de ampliar cada vez mais nossa rede. Em 2001, foram promovidas como parte da campanha diferentes atividades: distribuição de laços brancos, camisetas e folhetos informativos, realização de eventos públicos, caminhadas, debates, oficinas temáticas, entrevistas para jornais e revistas, coleta de assinaturas, termos de adesão à campanha etc. (www.lacobranco.org.br)

Em Suzano, nos 16 dias de ativismo, a mobilização em favor do enfrentamento à violência contra as mulheres reserva uma programação muito interessante. Fique atento ao calendário (www.suzano.sp.gov.br) e participe. Na próxima quarta-feira (19/11), às 14h, haverá uma formação no Centro de Educação e Cultura “Francisco Carlos Moriconni”. São os “homens unidos pelo fim da violência contra as mulheres”.

publicado no jornal Diário de Suzano

A farsa Kassab

Não é novidade que várias eleições são definidas pela ação do marketing e da propaganda eleitoral. Foi assim em 1989, quando a maioria dos brasileiros foi convencida de que Collor representava novidade, mudança, progresso. Foi assim que se convenceu também o eleitorado de que Pitta era um homem de luta, que representava São Paulo. E é com a mesma fórmula que tentam novamente convencer a população de que Kassab é o melhor representante da maior cidade do país. Mentira.

A prática de falsear a realidade, por meio do marketing, e ludibriar o eleitor é ação comum dos partidos de direita no Brasil. Vejamos alguns exemplos:
Em primeiro lugar o Partido de Kassab por si só já representa uma mentira. Foi Arena, partido que sustentou a ditadura, depois virou PDS (Partido Democrático Social), reunindo as oligarquias mais conservadoras, virou PFL (Partido da Frente Liberal) e agora, em busca de apresentar-se simpático à sociedade, ressurge como Democratas, mesmo estando completamente dissociado da origem da expressão (do grego, demo significa povo e cracia poder).

Outra farsa, Kassab tem atacado Marta por dizer que na sua gestão (2001-04) ela não acabou com as escolas de lata que existiam. O que Kassab não diz é que as tais escolas de lata foram criadas exatamente nas duas gestões anteriores, Maluf (1994-97) e Pitta (1998-2001), gestões da qual Kassab teve importante participação. Foi, por exemplo, Secretário de Planejamento de Pitta, que por sua vez foi secretário de Finanças do Maluf.

Marta acabou com muitas escolas de lata, substituindo e implementando um novo modelo de educação, os CEUs (Centros de Educação Unificada), grandes escolas que oferecem aos alunos e à comunidade mais do que aulas tradicionais, garante também cursos de artes, cinema, opções de cultura, esporte e lazer. Pitta, Maluf, Kassab, José Serra, Geraldo Alckimin – PSDB-PFL/DEM - todos foram contra a criação dos CEUs. Marta bancou, os CEUs foram criados, mudaram a vida de muita gente, e agora Kassab vem mostrar no seu programa os CEUs, dizendo que foi ele quem fez. Mentira.

É assim que a direita age. Comparemos com Suzano: vocês lembram das escolas de madeira? Pois é, o que Pitta e Kassab fizeram em São Paulo, o ex-prefeito Estevam Galvão fez em Suzano. Tentando enganar a população, o ex-prefeito que já havia governado por quatro vezes, prometeu que iria garantir às crianças das escolas municipais material, uniforme escolar, universalização do transporte, alimentação de qualidade. Nada mais do que o PAP (Programa de Acesso e Permanência), que começou em 2005 com o prefeito Marcelo Candido.

É isso que o PFL/DEM faz, copia as políticas e ações implantadas pelos governos do PT e partidos do campo democrático-popular. Para o PT essas ações são coerentes com o projeto de construir uma sociedade mais justa e solidária, democrática e igualitária. Para o PFL/DEM não passam de peças publicitárias eleitorais.

No domingo, a população de São Paulo escolherá entre a peça publicitária e a retomada de um projeto político para São Paulo. Esperamos que confirme a escolha, a exemplo do que as populações de Suzano e de muitas cidades pelo Brasil afora demonstraram nas urnas: quem mente e quem faz, quem engana e quem inova, quem manipula e quem democratiza. Onde essas questões já ficaram evidentes a população varreu o conservadorismo, mostrando que o brasileiro está experimentando e gostando de um novo modelo de gestão, baseado na democratização do estado, por meio da participação popular.

Leonel Luz e Ivan Rubens


este texto seria publicado na véspera do segundo turno em São Paulo

Deixa o homem trabalhar!


Olha a chuva!/ A ponte quebrou!/ É mentira... As populares canções de festas juninas contam mentiras inofensivas. As pessoas se divertem, cantam e dançam quadrilha.

Há quem diga que as eleições são a festa da democracia. Mas as mentiras contadas durante a campanha eleitoral em Suzano afrontaram a democracia. Um candidato lançou sua campanha eleitoral declarando guerra. Seu grupo político plantou mentiras, usou do preconceito e estimulou o racismo na tentativa de desqualificar o adversário. Rebaixaram a política num verdadeiro vale-tudo para ganhar a eleição. Intolerantes, revelaram sua essência.

Tom Jobim morava em Poço Fundo, em Nova Iorque e no Rio de Janeiro. Citava Carlos Drummond de Andrade: “os senhores me desculpem, mas devido ao adiantado da hora me sinto anterior às fronteiras.” Para Tom, as fronteiras são fictícias: “o sujeito mura, cerca e o urubu passa por cima”. Se as pessoas não mudassem de endereço, não estivessem em constante êxodo na busca de melhores condições de vida, resultado das profundas desigualdades sociais históricas, como seria Suzano?

A canção “Garota de Ipanema”, para Tom, perpassou o tempo por abordar um sentimento universal: o desejo de beleza. Tem gente que acha um exagero o Terminal de Transportes Urbanos (Terminal Norte) e a Praça Cidade das Flores. Essa idéia plantada pela oposição a Marcelo Candido demonstra uma concepção privatista do Estado. E para convencer as pessoas, associam o público ao ruim e o privado à eficiência. Discordo: o Estado deve prestar serviços de qualidade diretamente e saciar nossa fome, inclusive a fome de beleza. No governo Marcelo Candido, obras públicas são feitas com esmero porque o povo de Suzano merece.

Obcecado pela arquitetura, Tom Jobim começou a construir sua casa no Jardim Botânico ao mesmo tempo em que iniciou a criação do poema “Chapadão”. A construção durou quatro anos. A criação, oito. Suzano vive processos de construção e de criação. Com Candido, as obras constroem a cidade material, os processos de participação popular estimulam o interesse pela política, revelam direitos, combatem preconceitos, ampliam a visão de mundo e (re)inventam a democracia e as formas de estar na cidade. Saciam necessidades básicas com políticas de combate à fome, distribuição de renda e inclusão social, estimulam o sonho de um mundo melhor, o desejo de beleza, a utopia de uma sociedade mais justa e mais humana.

“Os cães ladram e a caravana passa...” A campanha de Marcelo Candido passou em caminhadas, em mutirões e em carreatas eternizando momentos em nossas memórias. Presenciei manifestações de carinho, de respeito, de gratidão e de intensa alegria. Além de vencer as eleições, o povo cantou e a ‘quadrilha’ dançou: caminho da roça...

A cidade de Suzano cresce, seu povo fica mais feliz. O segundo mandato de Candido será ainda melhor. Agora, deixa o homem trabalhar...


Meninas de Sinhá, meninas de Suzano


O poder público tem investido na criação e ampliação de canais de participação direta, reestruturando os conselhos municipais, criando conselhos gestores, estimulando a população a tomar para si a responsabilidade com aquilo que é público, que é do povo. A participação popular é eixo de governo em Suzano. 

Foi-se o tempo em que a população acompanhava a política como mero espectador calado. Hoje a população é convidada a participar da formulação das políticas públicas, acompanha sua execução, avalia e constrói coletivamente a cidade e seus destinos. A cidade não tem dono, a cidade é de todas as pessoas. É governada na perspectiva da garantia de direitos de todos cidadãos e cidadãs.

Teatro Municipal Armando de Ré, noite de 25 de setembro. O encerramento de mais uma turma do curso de formação de conselheiros e conselheiras de escola contou com o show das “Meninas de Sinhá”. Laureadas com os prêmios Cultura Viva (2007), Aval do Rival Petrobrás de Música (2008) e Tim de Música (categoria Grupo Regional, em 2008), as “meninas” começaram há 12 anos no Alto da Vera Cruz, periferia de Belo Horizonte (MG). A história é mais ou menos assim: Dona Valdete Cordeiro percebeu que muitas mulheres saíam do centro de saúde local com sacolinhas de antidepressivos. “Elas não eram doentes, precisavam de ocupação”, disse. Convidando-as para bater papo, começaram com trabalhos manuais, passaram para expressão corporal e o grupo aumentou. Vieram as brincadeiras que levaram as “meninas” de volta à infância: chicotinho queimado, barra-manteiga, passa anel. O grupo se encontrou mesmo foi nas brincadeiras de roda. Com os convites para apresentações e shows, perceberam-se artistas. Desde então, participam das conferências municipais em BH, do Orçamento Participativo e da vida na cidade. A sexagenária Maria Geralda disse que os filhos estimularam e ela foi: “Me sinto muito feliz. Cantar, dançar, toda vida eu gostei. Aprendi a viver e aproveitar todo o tempo que Deus me deu”.

Espetacular: um grupo de senhoras, corpos marcados pelo tempo na luta pela sobrevivência. Fontes inesgotáveis de histórias e de uma alegria contagiante. Mistura de experiência, sabedoria, carisma com uma inexplicável vontade de viver. Trinta mães, avós e bisavós, do alto de sua simplicidade, nos ensinaram lições importantes de vida. Por meio de sua arte, confirmaram Fernando Pessoa: “tudo vale à pena (...)”. A alma dessas “meninas” é infinita.

Cerca de 1.500 pessoas atuam nos conselhos de escola, de unidades de saúde ou nos conselhos institucionais. Cerca de 50 mil pessoas participaram do Orçamento Participativo, do Plano Diretor  (engavetado pelo presidente da câmara municipal) e das conferências promovidos pela Prefeitura.

Hoje Suzano é uma cidade com vida. Esta é a grande mudança, que merece ser ampliada e renovada a cada dia. Afinal, esta é a principal chave para a consolidação da democracia: a participação popular. 

Equipe de Coordenação do OP Suzano




Em defesa da democracia


Desde o mês de abril, quando se iniciaram as reuniões preparatórias e as plenárias deliberativas do Orçamento Participativo (OP), a população de Suzano vem discutindo o orçamento público municipal e decidindo os investimentos da Prefeitura. No ciclo 2008 do OP, cerca de 4 mil suzanenses apresentaram seus desejos para a melhoria dos bairros e da vida na cidade.

A primeira plenária temática, da juventude, tornou o Conselho do OP (CORPO) mais animado e nos obrigou a pensar a cidade para um segmento específico da sociedade. Preocupados se a experiência temática poderia fragmentar a discussão, percebemos o contrário. O OP Jovem aprimorou ainda mais o processo que este ano associou também a discussão de prioridades para a cidade, permitindo que se enxergasse a cidade como um organismo vivo, ao mesmo tempo uno e diverso. Esse deslocamento do olhar facilitou, por exemplo, a decisão do Pronto-Atendimento 24 horas na região do Rio Abaixo, que contou com a solidariedade de conselheiros e conselheiras das regiões Crisântemo, Sálvia, Rosa e Lírio.

O aprimoramento do OP em Suzano levou o CORPO a definir um Plano de Investimentos (PI) com duas dimensões: a dimensão das prioridades regionais e macro-regionais e a dimensão do compromisso político a ser perseguido no longo prazo e que exige parcerias. Juntos, o povo de Suzano e o governo vão caminhar, passo a passo, perseguindo o Hospital Público em Suzano, sonho antigo que conta com o apoio do Ministério da Saúde e do Governo Lula, e o Passe Livre para os/as estudantes. Em resumo, o plano de investimentos do OP é um compromisso político construído por 4 mil suzanenses e um governo democrático, popular e participativo.

Foram aproximadamente 60 horas de trabalho, incluindo as reuniões ordinárias e extraordinárias do CORPO, o seminário de formação e a caravana do OP, que percorreu 152 quilômetros pela cidade de Suzano. Desta maneira, 33 conselheiros e conselheiras titulares (igual número de suplentes) eleitos/as democraticamente nas 13 plenárias deliberativas (26) ou indicados pelo governo (8), num esforço coletivo de transformar o sonho de cidade à realidade orçamentária, definiram 18 prioridades que serão executadas pela prefeitura a partir da vigência da Lei do Orçamento Anual 2009. Isso é democracia. 


Publicado no jornal Diário de Suzano

Caravana do OP, geografia e política.

O Conselho do Orçamento Participativo de Suzano, o CORPO, realizou a caravana das prioridades no sábado passado (23/8). Percorremos as 12 regiões em que a cidade foi organizada para a discussão do OP, totalizando 152 quilômetros. Nosso ônibus foi “conduzido” por conselheiros e conselheiras que, ao apresentarem os bairros, explicavam as características da região e discorriam sobre as prioridades eleitas em plenária. Em outras palavras, o povo indicando os caminhos.

Li recentemente ‘O que é ser geógrafo’, escrito por Cynara Menezes a partir das memórias e depoimentos de Aziz Nacib Ab’Saber. Premiado nacional e internacionalmente, Aziz dedicou parte de seus 80 anos de vida à compreensão das formações geomorfológicas do Brasil. Geógrafo se preocupa com as interações entre o homem (as sociedades) e a natureza. Para ele, “o geógrafo tem que estar sempre atento à história em processo (...). Na realidade, não existe planejamento regional sem estudos básicos de geografia humana e social”. A leitura confirma a necessidade da observação das paisagens e dos processos, cuja interpretação requer olhar crítico.

Esta foi a 3ª caravana do OP. Enquanto observávamos a paisagem urbana e a dinâmica social, em interação com o ambiente construído, percebíamos as mudanças em processo. Pela primeira vez na história desta cidade, é possível observar um centro cultural cravado no meio do Jardim Colorado, como resultado da discussão do povo no OP. Impressionante a felicidade de crianças e jovens durante as aulas de caricatura e dança e das mães observando a descoberta do mundo da arte; a ansiedade da comunidade acompanhando as obras da Unidade Básica de Saúde da Família em construção na Vila Fátima; a ampliação da Unidade de Saúde do Jardim Alterópolis, entre outras decisões do povo no OP.

Conselheiros e conselheiras compreenderam o que é responsabilidade com o investimento público, por afetar, inevitavelmente, a vida das pessoas. Na atual gestão é assim: investimento público é feito com responsabilidade, transparência, decisão coletiva e num processo pedagógico para que o povo se aproprie daquilo que é, de fato, seu. Isso é a expressão da democracia na cidade. É trabalho coletivo com o corpo em movimento de criação.

Não existe ser humano sem natureza, da mesma forma que inexiste ser humano sem política. São grandezas indissociáveis assim como a democracia e a participação popular. Governos autoritários escondem os dados do orçamento. O mesmo raciocínio serve para as eleições. Portanto, fica o alerta e o convite: vamos aproveitar o processo eleitoral para banir do cenário político os mentirosos e irresponsáveis. E por falar em natureza, é dos Titãs a música ‘nome aos bois’. Importante dar nome aos bois mesmo que isso provoque desconforto.

Publicado no jornal Diário de Suzano