Dom Hélder Câmara: santo ou comunista?

Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909. Um franzino nordestino que enfrentou o regime militar, defendeu a democratização do país sem titubear e fez de sua vida instrumento de luta em favor da justiça e da igualdade entre as pessoas!

Aos 14 anos ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza. Em 1931 foi ordenado padre e fundou a Legião Cearense do Trabalho. Em 1933, criou a Sindicalização Operária Feminina Católica que congregava as lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Foi diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará durante cinco anos sem se distanciar de suas convicções e da luta popular.

Em 1956 fundou a Cruzada São Sebastião, com a finalidade de dar moradia decente às pessoas. Em 1959 fundou o Banco da Providência destinado a ajudar famílias pobres. Foi fundador da CNBB (Conferência Nacional de Bispos Brasileiros) e propôs ao Vaticano a fundação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). Foi um dos propositores do Pacto das Catacumbas, documento assinado por cerca de 40 padres durante o Concílio Vaticano II em 1965, que teve forte influência na Teologia da Libertação.

Arcebispo de Olinda e Recife (PE), em 1964, organizou setores pastorais e instituiu um governo colegiado na diocese. Criou o Movimento Encontro de Irmãos e a Comissão Justiça e Paz. Fortaleceu as comunidades eclesiais de base, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Devido a sua atuação política e social, sua pregação libertadora em defesa dos mais pobres, seja pela denúncia da exploração a que são submetidos os países subdesenvolvidos ou por sua pastoral religiosa em prol da valorização dos pobres e leigos, foi chamado de comunista e passou a sofrer retaliações e perseguições do regime militar. Nem mesmo o Ato Institucional nº 5 (AI-5) o fez recuar. Pelo contrário, seguiu defendendo uma igreja simples voltada aos pobres e à não-violência. “Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista”, refletia Câmara.

Sua lucidez e história de lutas conferiram a ele vários títulos de Doutor honoris causa, Cidadão Honorário dentro e fora do país. Nos EUA, o Prêmio Martin Luther King, na Noruega, Prêmio Popular da Paz, entre tantos. Recebeu quatro indicações para o Prêmio Nobel da Paz. Justas homenagens!
Faleceu no dia 27 de agosto de 1999, de parada cardiorrespiratória. Conforme declaração de Frei Betto, destacada no jornal mensal A Verdade, “Sem dom Hélder, talvez não houvesse comunidades eclesiais de base, pastorais sociais, campanhas da fraternidade, gritos dos excluídos”. O pedido de sua beatificação foi encaminhado ao Vaticano em 2008.

O que diria Dom Hélder Câmara ao ler na Folha de SP o então Secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, atribuindo aos movimentos migratórios o aumento da violência no litoral de São Paulo? Afirmou que os investimentos da Petrobrás na região influenciam o aumento dos índices de homicídios, com o claro objetivo de aliviar o governador José Serra e os 14 anos de governos tucanos, responsáveis pela política repressiva de segurança pública no estado que mascara a péssima distribuição de renda e as evidentes injustiças sociais, como no caso da recente barbárie em Paraisópolis. Decerto Dom Hélder não se calaria.

Ivan Rubens Dario Jr.

publicado no Jornal Diário de Suzano
publicado no Jornal Cidade de Rio Claro

2 comentários:

  1. Meu amigo bem intencionado: leia O Concilio Vaticano II, de Roberto de Mattei, um documentário.
    Layla

    ResponderExcluir