Agora eu era...

"Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês. A noiva do cowboy era você além das outras três. Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões...". Sabe quando bate aquela vontade de descobrir uma coisa? Vontade que mobiliza, faz sonhar com maneiras de desvendar o mistério e saciar a curiosidade, vontade de vencer o desafio que se nos apresenta. Aproveitei o feriado e me lancei. Aceitei o desafio, remexi minhas coisas, tirei os livros da prateleira, selecionei CDs para ouvir novamente. Até que se desenhou um caminho.

Encontrei num dos documentários sobre a vida e a obra do Chico Buarque o fio condutor. Comentando sobre seu processo de criação, especialmente da composição de suas canções, Chico traça um caminho a percorrer atento ao trajeto, pois muitas coisas podem acontecer. Uma palavra, por exemplo, aparece sem querer ou um acorde errado. Errado? É criação, não tem certo nem errado. Sugere o erro enquanto possibilidade, caminho diferente ou mesmo um atalho que leve para um resultado tão ou ainda mais interessante. Segundo ele, o próprio Leonardo Da Vinci iniciava seus murais aproveitando as manchas existentes nas paredes para cobri-las com sua obra.

Ainda no DVD uma palavra, Chico fala sobre a composição da letra de João e Maria. Recebeu, lá pelos idos de 1976-77, uma fita cassete de Severino Dias De Oliveira, mais conhecido como Sivuca, com o pedido para que Chico escrevesse a letra para a música. O toque da sanfona e a melodia provocaram em Chico a lembrança das brincadeiras de infância. Fantasiando, as crianças diziam: agora eu era o herói; agora eu era o rei; agora eu era... Num mundo em que as brincadeiras são aceitas, os tempos misturam o passado lírico ao presente sapeca, e a vida fica recheada de alegria.

Essa capacidade criativa não é privilégio de alguns. É da natureza humana. A curiosidade e a vontade de desvendar os mistérios, também. É tudo uma questão de exercício associado ao olhar atento às belezas do mundo e da vida. O mesmo Chico Buarque caminhava pela Candelária no Rio de Janeiro quando ouviu os meninos poliglotas pedindo dinheiro aos turistas: monsieur have money per mangiare? Está na canção Pivete.

Assisti recentemente ao longa entre os muros da escola. O filme do cineasta francês Laurent Cantet, que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, aborda a geografia de uma sala de aula, as múltiplas relações entre aquele ambiente e as pessoas que ali convivem: alunos e professor, alunos e alunos, professor e professores, professor e pais, alunos e pais. É envolvente e muito realista: o elenco é de professores, alunos e pais na vida real que não interpretam a si mesmos, passaram por um workshop. O roteiro é inspirado no livro de bom François Bégaudeau, que interpreta o professor protagonista. Algumas dicas para o final de semana.



Publicado no Diário de Suzano

Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro

Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro

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