Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. É certo que a posse oficial aconteceu no Palácio 9 de julho, mas para um mandato popular, uma festa popular. Foram incontáveis manifestações de apoio, demonstração da liderança de Candido e dos vínculos políticos com a base social. O grupo Bom Ambiente fez um samba cuja inspiração tem relação com Suzano.
Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas foi com a avó que conheceu os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria. São poucos registros de sua obra. ‘O Canto dos Escravos’ com Clementina de Jesus e Doca da Portela merece destaque.
No programa Ensaio da TV Cultura (1982), Geraldo Filme conta a história do samba ‘Silêncio no Bexiga’. Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Desde o cordão do Vai-Vai, passou pelo Bexiga, pela Vila Santa Isabel que hoje é a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, Peruche, Camisa Verde. Apitadores são os atuais diretores de bateria.
Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade. Visitou amigas, um cafezinho aqui, um papo acolá. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê aqui em Suzano. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.
Sobre essa história, Plínio Marcos (1935-1999) escreveu: "A notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, (...) o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga". (Folha de São Paulo, 13/fev/1977)
Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu;
Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu;
Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu;
Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus.
Silêncio...
José Candido é a expressão política desse povo que, mesmo enfrentando muita dificuldade, é capaz de dizer algo tão lindo em forma de samba. E deixar marcas profundas na nossa vida com a defesa de políticas públicas que transformam a vida para melhor, na organização da luta popular por justiça e igualdade, na superação do preconceito e do racismo. Vamos neste mês de maio fazer silêncio aos negros e negras que foram (para não dizer que ainda são) vítimas de genocídio. E também celebrar a abolição da escravatura, a resistência negra e a luta pelos direitos humanos.
Viva José Candido, Geraldo Filme e Pato N’água.
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