Naquela mesa está faltando ele. Para Juarez Araújo Braga

Jacob do Bandolim é um importante artista brasileiro. Carioca nascido em 1918 trabalhou como arquivista no Ministério da Guerra, serventuário na justiça do Rio de Janeiro e escrivão na capital carioca. Contribuiu com cultura brasileira, em particular ao choro.
O Choro, ou chorinho, é um gênero musical, uma música popular e instrumental brasileira com mais de 130 anos. Considerada primeira música popular urbana típica do Brasil, é de difícil execução. Quem faz choro é chorão. Chiquinha Gonzaga era chorona. ‘Carinhoso’ é um choro de Pixinguinha. ‘Tico-tico no Fubá’ é de Zequinha de Abreu, ‘Brasileirinho’ de Waldir Azevedo. Heitor Villa-Lobos também chorava.
Jacob do Bandolim faleceu em 1968. Seu filho, Sérgio Bittencourt, compositor e jornalista, criado em rodas de choro, apesar da escrita dura e desaforada era considerado sentimentalista. Abalado com a morte do pai, compôs ‘Naquela mesa’: “Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre, o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias, que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã (...)”
Recentemente perdemos Juarez de Araújo Braga. Ele completaria 80 anos em 26 de novembro. Sinto uma falta danada do professor Juarez, das conversas intermináveis, do seu otimismo e da sua energia. Do alto da sua sabedoria, alimentava todos/as à sua volta com energias fundamentais para luta. Ele próprio era a representação concreta de uma vida dedicada à construção de um mundo melhor.
A paciência e a calma do Juarez, a visão de que a vida é processo e a forma sempre tranquila como tratava questões complexas, referenciaram muita gente. Desde 2005 viveu intensamente o processo de democratização da gestão nas escolas da rede municipal de Suzano. Seu envolvimento com o tema era tamanho que a aprovação da Lei que dispõe sobre a criação dos conselhos de escola levou aquele homem de 75 anos às lágrimas. Acreditava cegamente na democracia em todos os espaços da sociedade.
Juarez acolhia com respeito. Do jeito dele, chamando para uma conversa, para um vinho, para uma baladinha, como ele lançava seu convite. Dispunha de conhecimento teórico e filosófico, mas preferia usar do carinho e da tolerância para ensinar, característica de um homem sábio e de um enorme ser humano.
Diziam que eu levava o Juarez para o ‘mau caminho’. Discordo: trilhávamos caminhos da música, da cultura, da filosofia, da política e da democracia. Aprendi com ele, em diálogos às mesas que ele convidava, vivendo momentos de especial sabedoria.
Tinha gosto musical refinado. ‘Canto das 3 raças’, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, na voz da Clara Nunes, ‘o mundo é um moinho’ de Cartola. Ao som de Ataulfo Alves, falava com saudade da professorinha.
‘Naquela mesa’ termina assim: “Eu não sabia que doía tanto uma mesa no canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doia assim. Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala no seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim’.
As mesas estão vazias, a alegria está triste. Quando dói uma saudade, o coração aperta e a voz embarga, basta lembrar do Juarez na celebração da vida. É hora de outro chorinho.

2 comentários:

  1. Beijão\filho.
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    Amigos Afetuosos
    "Aqueles que contam com amigos afetuosos são mais saudáveis e mais felizes do que aqueles que não o têm. Um amigo é um tesouro mais valioso do que o ouro e as pedras preciosas. O dinheiro pode comprar muitas coisas boas e más; porém, toda a riqueza do mundo não pode comprar um amigo nem compensar a perda de um deles."
    Autor: ( G. D. Prentice )

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  2. E chorinho contagioso....

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