Se estivesse ainda
entre nós, Antonio Carlos Brasileiro
de Almeida Jobim completaria 85 anos de idade. Nascido no Rio de Janeiro (25/janeiro/1927),
Tom Jobim foi compositor, músico e maestro, considerado um dos maiores expoentes
de todos os tempos da música brasileira ao lado de Heitor Villa-Lobos. Da
parceria com Vinícius de Moraes, ‘garota de Ipanema’ (olha que coisa mais
linda, mais cheia de graça), é uma das canções mais executadas da história da
música. Inesquecível a gravação de ‘águas de março’ (é pau, é pedra, é o fim do
caminho) com Elis Regina. Percebi a dimensão mundial de sua obra assistindo ‘A
música segundo Tom Jobim’, dirigido por diretor Nelson Pereira dos Santos, em
cartaz nos cinemas. O maestro soberano nos deixou no dia 8 de dezembro de 1994,
mas continua entre nós por meio de sua obra. Um artista da música, Tom Jobim é um grande Brasileiro.
Se
estivesse ainda entre nós,
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira completaria 58
anos de idade. Nascido em Belém (19/fevereiro/1954), o doutor Sócrates foi
médico e jogador de futebol. Foi consagrado defendendo as cores do Sport Club
Corinthians Paulista. Com a seleção brasileira que encantou o mundo sob comando
de Telê Santana, disputou a Copa do Mundo de 1982, desclassificada para Itália
de Paolo Rossi na ‘tragédia do Sarriá’ ainda nas quartas de final. Lembro a
escalação da seleção canarinho, não me lembro da seleção tetracampeã (1994) e
da pentacampeã (2002). Magrão foi considerado pela FIFA um dos melhores
jogadores do mundo. Nos anos 80, liderou um movimento pela democratização do
futebol, teve forte presença no movimento pelas ‘diretas já’. “Contra toda e
qualquer forma de discriminação”, participava do ‘cartão verde’ (TV Cultura)
com uma fita na cabeça. Sócrates nos deixou no dia 4 de dezembro de 2011,
continua vivo na memória de muita gente. Um artista da bola, Sócrates é um
grande Brasileiro.
Se estivesse ainda
entre nós, José de Souza Candido completaria 70 anos de idade. Nascido na
cidade de Sabino (30/setembro/1942), Zé Candido foi um lutador: lavrador,
metalúrgico, sindicalista. Como figura pública que ocupou importantes espaços
institucionais em seu partido, na Câmara de Suzano ou na Assembléia
Legislativa, não perdeu o hábito de andar pela rua, fila em banco, atender todas
as ligações que chegavam ao seu celular. Um homem simples, dos mais humildes
que já conheci e uma importante referência política. Um exemplo a ser seguido
por aqueles/as que desejam um mundo melhor. Presidiu a comissão de direitos
humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Um idealista que fez
da sua vida um instrumento na luta por uma sociedade justa. Um político como
poucos, íntegro, honesto, acessível. E dono de um sorriso fácil, de uma alegria
contagiante. Humano, demasiado humano.
Um dos filhos disse que na infância pediam pela presença do
pai em casa mas, com o tempo entenderam que, para Candido, sua família era
muito, mas muito grande. E tinha espaço para muita gente naquele coração que
parou de bater no dia 12 de fevereiro de 2012. Parou mas continua vivo em nossa
memória, pois fica conosco a responsabilidade de colocar em prática seus
ensinamentos, seguir seus exemplos
de ética na política e continuar a luta por um mundo justo. Um artista da Política, Candido é um grande
Brasileiro.
Como disse Shamir Daleck, "José Candido, Tom Jobim e Sócrates são figuras que dão sentido e constroem a própria ideia do que é ser Brasileiro".
Segundo a definição da Controladoria Geral da União, conferência é uma ferramenta de fomento à participação social que tem por finalidade institucionalizar a participação da sociedade nas atividades de planejamento, gestão e controle das políticas públicas. Trata-se de um momento de reflexão que permite avaliação das ações realizadas e aprofundamento da discussão a respeito do temário proposto.
A primeira conferência nacional que se tem registro foi sobre saúde em 1941. Não houve documento base nem regimento interno, mas a força do tema provocou o então Ministério da Educação e Saúde a discutir a ‘situação sanitária e assistencial dos estados’. Na 2ª Conferência Nacional de Saúde (1950) discutiu-se a malária e outros temas. O Ministério da Saúde foi criado em 1953. Na 3ª Conferência (1963), a discussão e os espaços foram ampliados com os movimentos democráticos na área da saúde, o que colocou a realidade concreta em discussão e apontou para a necessidade de um plano nacional de saúde nas três esferas de governo.
Durante a ditadura militar aconteceram quatro conferências nacionais de saúde. Na década de 1980, com a abertura democrática e a luta de movimentos sociais especialmente o movimento pela reforma sanitária, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), marco de uma nova era para saúde no Brasil devido à ampla participação popular, lançando as bases para um sistema único de saúde.
A Constituição de 1988 consagrou o princípio da participação social na afirmação da democracia. Houve uma proliferação de instâncias de participação, arenas públicas se constituíram como lugares de encontro entre a sociedade e o Estado. A construção de espaços capazes de incorporar as pautas e os interesses dos setores da sociedade ao longo do processo de produção das políticas públicas tem ajudado a superar desafios setoriais e contribuído para desenvolvimento econômico e desenvolvimento social caminharem juntos.
Além da Saúde, tem bom acúmulo a discussão de Direitos Humanos com 11 conferências e, com 8 conferências, Criança e Adolescente. Estão registradas 113 conferências nacionais, sendo 81% delas a partir de 2003. Foram 40 temas em 72 conferências nacionais que mobilizaram cerca de 5 milhões de pessoas. Entre 1941 e 2003 as conferências nacionais aconteciam na proporção de 0,65 conferências/ano. No governo do Presidente Lula aconteceram 9 conferências por ano em média.
Suzano acompanha essa tendência. Hoje, as escolas municipais possuem conselho de escola, as unidades de saúde possuem conselho gestor, conselhos municipais foram criados e ampliados. São mais de 100 espaços onde a população discute e decide sobre o equipamento e o serviço público oferecido. O conjunto das plenárias do Orçamento Participativo, do PPA e as conferências realizadas em Suzano, mobilizaram mais de 30.000 pessoas na definição das políticas públicas.
Priorizando a ‘participação popular’, a gestão do prefeito Marcelo Candido amplia a democracia na cidade e, por conseguinte, contribui para o fortalecimento da democracia no Brasil.
Atualmente grande parte da economia é regida pelo capital financeiro, quer dizer, por aqueles papéis e derivativos que circulam no mercado de capitais e que são negociados nas bolsas do mundo inteiro. Trata-se de um capital virtual que não está no processo produtivo, este que gera aquilo que pode ser consumido. No financeiro, reina a especulação, dinheiro fazendo dinheiro, sem passar pela produção. Vigora um perverso descompasso entre o capital real e o financeiro. Ninguém sabe exatamente as cifras, mas calcula-se que o capital financeiro soma cerca de 600 trilhões de dólares enquanto o capital produtivo, do conjunto de todos os paises, alcança cerca 580 trilhões. Logicamente, chega o momento em que, invertendo a frase de Marx do Manifesto, “tudo o que não é sólido se desmancha no ar”. Foi o que ocorreu em 2007/2008 com o estouro da bolha financeira ligada aos imóveis nos EUA que representava um tal volume de dívidas que nenhum capital real, via sistema bancário, podia saldar. Havia o risco da quebra em cadeia de todo o sistema econômico real. Se não tivesse havido o socorro aos bancos, feito pelos Estados, injetando capital real dos contribuintes, assistiríamos a uma derrocada generalizada. Esta crise não foi superada e possivelmente não o será enquanto prevalecer o dogma econômico, crido religiosamente pela maioria dos economistas e pelo sistema com um todo, segundo o qual as crises econômicas se resolvem por mecanismos econômicos. A heresia desta crença reside na visão reducionista de que a economia é tudo, pode tudo e que dela depende o bem-estar de um pais e de um povo. Ocorre que os valores que sustentam uma vida humana com sentido não passa pela economia. Ela garante apenas a sua infra-estrutura. Os valores resultam de outras fontes e dimensões. Se assim não fosse, a felicidade e o amor estariam à venda nos bancos. Este é o transfundo do livro de alta divulgação Reinventando o capital/dinheiro de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012). Rose é uma conhecida escritora com mais de 35 livros publicados e uma diligente editora com cerca de 1600 títulos lançados. Num intenso diálogo, juntos trabalhamos, por mais de vinte anos, na Editora Vozes. Dois temas ocupam sempre sua agenda: a questão feminina e a questão da cultura tecnológica. Foi ela quem inaugurou oficialmente o discurso feminino no Brasil escrevendo livro com um método inovador: A sexualidade da mulher brasileira(Vozes 1993). Com um olhar perspicaz denunciou o poder destruidor e até suicida da tecno-ciência, especialmente, em seu livro: Querendo ser Deus? Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade (Vozes 2009). Neste livro Reinventando o capital/dinheiro faz um histórico do dinheiro desde a mais remota antiguidade, seguindo um esquema esclarecedor: o ganha/ganha, o ganha/perde, o perde/perde e a necessária volta ao ganha/ganha se quisermos salvar nossa civilização, ameaçada pela ganância capitalística. Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e os níveis de juros compostos. Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza. Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos.
Mas devido ao controle do capital, o ganha/ganha não consegue se impor. Mas sua força interna irá inaugurar uma nova era, quem sabe, até com uma moeda universal, sugerida pelo economista brasileiro Geraldo Ferreira de Araujo Filho, cujo valor não incluirá apenas a economia mas valores como a educação, a igualdade social e de gênero e o respeito à natureza e outros.Rose aposta nesta lógica do ganha/ganha, a única que poderá salvar a natureza e nossa civilização. O livro de Rose Marie Muraro pode ser adquirido por 0800 160004.
Há hoje um conflito entre as várias compreensões do que seja sustentabilidade. Clássica é a definição da ONU, do relatório Brundland, (1987) “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Esse conceito é correto mas possui duas limitações: é antropocêntrico (só considera o ser humano) e nada diz sobre a comunidade de vida (outros seres vivos que também precisam da biosfera e de sustentabilidade).Tentarei uma formulação, o mais integradora possível: Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informaconais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução. Expliquemos, rapidamente, os termos desta visão holística: Sustentar todas as condições necessárias para o surgimento dos seres: estes só existem a partir da conjugação das energias, dos elementos físico-químicos e informacionais que, combinados entre, si dão origem a tudo.
Sustentar todos os seres: aqui se trata de superar radicalmene o antropocentrismo. Todos os seres constituem emergências do processo de evolução e gozam de valor intrínseco, independetente do uso humano. Sustentar especialmente a Terra viva: a Terra é mais que uma “coisa” (res extensa), sem inteligência ou um mero meio de produção. Ela não contém vida. Ela mesma é viva, se autoregula, se regenera e evolui. Se não garantirmos a sustentabilidade da Terra viva, chamada Gaia, tiramos a base para todas as demais formas de sustentabilidade. Sustentar também a comunidade de vida: não existe, o meio ambiente, como algo secundário e periférico. Nós não existimos: coeexistimos e somos todos interdependentes. Todos os seres vivos são portadores do mesmo alfabeto genético básico. Formam a rede de vida, incluindo os microorganismos. Esta rede cria os biomas e a biodiversidade e é necessária para a subsistência de nossa vida neste planeta. Sustentar a vida humana: somos um elo singular da rede da vida, o ser mais complexo de nosso sistema solar e a ponta avançada do processo evolutivo por nós conhecido, pois somos portadores de consciência, de sensibilidade e de inteligência. Sentimos que somos chamados a cuidar e guardar a Mãe Terra, garantir a continuidade da civilização e vigiar também sobre nossa capacidade destrutiva. Sustentar a continuidade do processo evolutivo: os seres são conservados e suportados pela Energia de Fundo ou a Fonte Originária de todo o Ser. O universo possui um fim em si mesmo, pelo simples fato de existir, de continuar se expandindo e se autocriando. Sustentar o atendimento das necessidades humanas: fazemo-lo através do uso racional e cuidadoso dos bens e serviços que o cosmos e a Terra nos oferecem sem o que sucumbiríamos. Sustentar a nossa geração e aquelas que seguirão à nossa: a Terra é suficiente para cada geração desde que esta estabeleça uma relação de sinergia e de cooperação com ela e distribua os bens e serviços com equidade. O uso desses bens deve se reger pela solidariedade generacional. As futuras gerações tem o direito de herdarem uma Terra e uma natureza preservadas. A sustentabilidade se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se refaça e ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido para as futuras gerações. Esse conceito ampliado e integrador de sustentabilidade deve servir de critério para avaliar o quanto temos progredido ou não rumo à sustentabilidade e nos deve igualmente servir de inspiração ou de idéia-geradora para realizar a sustantabilidade nos vários campos da atividade humana. Se isso a sustentabilidade é pura retórica sem consequências.
Leonardo Boff Teólogo/Filósofo Autor do livro Sustentabilidade: o que é e o que não é, a sair em fins de janeiro de 2012 pela Editora Vozes.
Em Rio
Claro, a Consocial está programada para o início de dezembro. “É a primeira vez
que o país vai discutir como controlar a máquina pública e o governo. Isso
nunca foi visto no Brasil e, portanto, tem um valor muito grande”, disse a
secretária de governo Olga Salomão. E ela tem razão. Mas antes disso, ainda
neste final de semana, acontecerá a Conferência Municipal de Política Cultural.
Há quase um ano não nos vemos e nosso último encontro não foi dos mais
alegres. Vamos falar das boas lembranças, momentos alegres e intensos que partilhamos,
e das coisas que estão acontecendo desde sua partida. Tem muita coisa
importante acontecendo aqui.
Lembro como se fosse hoje meu primeiro contato com suas idéias. Foi
na plenária de encerramento do mandato do então Deputado Estadual Marcelo
Candido, lá pelos idos de dezembro de 2004 quando você e o filósofo Roberto
Romano fizeram um debate político de alto nível. Acompanhei sua preparação, as
leituras habituais e seus textos. Não o cumprimentei à época. Junto dos
parabéns pela brilhante contribuição, digo que me arrependo de não insistir
contigo para publicar seus escritos.
Alguns meses depois, em 2005, também assumimos a responsabilidade de
governar Suzano compondo a equipe de governo do Partido dos Trabalhadores com o
particular desafio de criar mecanismos para
democratização da gestão pública. Reuniões preparatórias foram algumas
centenas, quarenta plenárias do Orçamento Participativo e do PPA Participativo,
formações de conselheiros de escola, reuniões de conselho e vai por aí. Das
inesquecíveis viagens de intercâmbio pelo Brasil em Fóruns e Seminários. Sempre
em boa companhia mergulhamos nesse universo e nesse tema. Vivemos boas
experiências que estão se eternizando numa perceptível mudança na cultura
política local. Modesta se analisada na perspectiva de um país cuja democracia
é muito jovem, mas enorme na perspectiva das mudanças possíveis neste momento
histórico e neste curto espaço de tempo. Você repetia como um mantra: “não há
democracia sem participação popular”. Seguindo o teu exemplo, dialoguei com
essa reflexão num texto publicado em agosto de 2008.
Ainda
hoje vejo suas opiniões sobre futebol, sobre o cotidiano, e sua reflexão
política postados nos sítios especializados na internet. Sempre admirei sua desenvoltura na lida com a tecnologia
e no mundo virtual. Sempre cito seu exemplo em ingressar na universidade já
sexagenário.
Tenho
várias coisas para te contar, Juarez. Lembra dos ‘Encantos Pedagógicos’? A
Secretaria Municipal de Educação trabalha na reedição do projeto que você
coordenou em 2005. E outra: criamos um coletivo político socialista que leva
teu nome cujo manifesto de criação tem 122 assinaturas de apoio. A Ananda Grinkraut
acha que assumimos grande responsabilidade e que para honrar teu nome e tua
história o coletivo deve lutar por um mundo justo a partir do diálogo e da
construção coletiva. Ela também falou da sua influência no jeito como ela vê e
dialoga com o mundo. Legal, não?
Lembra-se
das nossas idas para minha terra natal? Lembra da Floresta? Lembra do melhor
sorvete do mundo nas intermináveis taças da Gelateria?
Para você uma taça diet. No caminho
entre a floresta e a sorveteria, o ônibus de turismo com o destino escrito:
‘puta que pariu’. Muita risada. E você dizia assim: ‘imagina pegar um ônibus que
vai pra puta que pariu?’
Imagino
que o tempo dedicado à luta te afastou um pouco do convívio familiar. Pois
saiba que teus filhos e filhas reconhecem e valorizam sua luta. A Débora fica
feliz com as homenagens e lembranças que te tornam presente por aqui; o Flávio
disse que você transmitiu sua dimensão de humanidade às pessoas que tiveram
contato contigo. Saiba que ética é, para sua família, uma marcante
característica tua. Imagino que você esteja feliz ouvindo isso.
Walmir
Pinto carrega um ensinamento que ouviu de ti numa reunião do PT: não se deve
ter vergonha daquilo que é feito com amor, carinho e verdade. Cecília
Figueiredo que te acha um semeador de coletivos, disse que você e o Júlio
Mariano acreditavam na participação do povo como instrumento efetivo de lutas e
vitórias. O Ivo Reseck sente falta da sua disposição para ‘baladinhas’ e da sua
animação em convocar-nos para as mesas de bar onde resolvíamos todos os
problemas do mundo. Cecilia Tome Habu te acha uma figura maravilhosa. Vanessa
Alves disse que você vive dentro do coração da gente. Saber disso me deixa mais
tranqüilo porque de coração você entende. Putz, já ia me esquecendo: Marcelo
Candido que devota amor táctil aos livros e diz que aprendeu a anotar durante a
leitura numa conversa contigo na câmara municipal nos tempos do mandato de
vereador do José Candido.
Leonel
Luz sente falta das suas histórias sobre futebol, música e política. Te tem na
cota das pessoas que conseguem transcender gerações, te acha atemporal. E o
pessoal do setor de gestão democrática da educação guarda na retina a tua
imagem com microfone à mão e dedo em riste falando aos quatro cantos da
democracia com participação popular. E do seu carinhoso bom dia acompanhado de:
“chefe e merda para mim é a mesma coisa”. Sempre que a Lili (Eliana Ramos)
escuta alguém falando ‘chefe’, conta sua passagem entre risos. Esse seu
comportamento é entendido como expressão do seu espírito subversivo,
incendiário e obcecado na construção de relações de poder horizontais no
trabalho, na escola, nos partidos e etc. Estão com saudade de ti e das ‘Bachianas’
de Vila Lobos como trilha sonora desta relação de carinho e afeto.
Quanto
a mim, sinto muito a falta das noites divertidas com nossos amigos no Bar do Zé
Vitor em intermináveis conversas e da boa música. Não sei se já te disse dos
pensamentos que as suas histórias me provocavam. Suas reflexões sobre o
futebol, a escalação do teu Palestra das décadas de 1940 e 50, e do meu
tricolor paulista dos tempos do Teixeirinha e Canhoteiro, o Mané Garrincha da
ponta esquerda. De batucar na mesa entre um cochilo e outro, e de cantar
contigo a saudade da professorinha em ‘Meus Tempos de Criança’de Ataulfo Alves:
Eu daria tudo que eu tivesse / Pra voltar aos dias de criança
/ Eu não sei pra que a gente cresce / Se não sai da gente essa lembrança. Aos
domingos, missa na matriz / Da cidadezinha onde eu nasci / Ai, meu Deus, eu era
tão feliz / No meu pequenino Miraí. Que saudade da professorinha / Que me
ensinou o beabá / Onde andará Mariazinha / Meu primeiro amor, onde andará? Eu
igual a toda meninada / Quanta travessura que eu fazia / Jogo de botões sobre a
calçada / Eu era feliz e não sabia.
Não
sei onde você está neste momento da inauguração do Espaço Cultural Juarez
Braga, mas acho que está muito perto daqui. Na verdade, acho que está aqui
conosco, batucando na mesa, tomando uma taça de vinho tinto seco. Pensando bem,
meu amigo, você permanecerá entre nós porque sua existência está eternizada nos
seus filhos, filhas e descendentes. Suas idéias estão vivas e pulsando entre
nós. Sua trajetória é lembrada e orienta nosso trabalho. Suas histórias povoam
as nossas lembranças. Seu exemplo de homem ético, como disse seu filho Flávio
no dia em que foste homenageado no projeto Memória Viva da Secretaria Municipal
de Cultura, orientam nossa luta política na construção de uma sociedade justa.
É
tanta coisa que eu tinha há dizer mais me foge à lembrança. Dilma Rousseff
ganhou a eleição e nosso projeto político para o Brasil segue em frente. A
popularidade do ex-presidente Lula só cresce. O projeto do Hospital em Suzano
está se tornando realidade. José di Filippi é Deputado Federal e seu escritório
Político em Suzano funciona junto do nosso Espaço Cultural Juarez Braga. O Luis
Cláudio está dizendo que nosso programa de formação e debate político chama-se
‘a cidade em debate: um olhar para Suzano’, te convida para participar na certeza
que podemos contar contigo.
Em
14 de setembro último, celebrou 90 anos de idade uma das figuras
religiosas brasileiras mais importantes do século XX: o Cardeal Paulo
Evaristo Arns. Voltando da Sorbonne, foi meu professor quando ainda
andava de calça curta em Agudos-SP e depois, em Petrópolis-RJ, já frade,
como professor de Liturgia e da teologia dos Padres da Igreja antiga.
Obrigava-nos a lê-los nas linguas originais em grego e latim, o que me
infundiu um amor entranhado pelos clássicos do pensamento cristão.
Depois foi eleito bispo auxiliar de São Paulo. Para protegê-lo porque
defendia os direitos humanos e denunciava, sob risco de vida, as
torturas a prisioneiros políticos nas masmorras dos órgãos de repressão,
o Papa Paulo VI o fez Cardeal. Embora
profético mas manso como um São Francisco, sempre manteve a dimensão de
esperança mesmo no meio da noite de chumbo da ditadura militar. Todos os
que o encontravam podiam, infalivelmente, ouvir como eu ouvi, esta palavra forte e firme: “coragem, em frente, de esperança em esperança”. Coragem, eis
uma virtude urgente para os dias de hoje. Gosto de buscar na sabedoria
dos povos originários o sentido mais profundo dos valores humanos. Assim
que na reunião da Carta da Terra em Haia em 29 de junho de 2010, onde
atuava ativamente sempre junto com Mercedes Sosa enquanto esta ainda
vivia, perguntei à Pauline Tangiora, anciã da tribo Maori da Nova
Zelândia qual era para ela a virtude mais importante. Para minha
surpresa ela disse:”é a coragem”. Eu lhe perguntei: “por que,
exatamente, a coragem?” Respondeu:
”Nós precisamos de coragem para nos levantar em favor do direito, onde
reina a injustiça. Sem a coragem você não pode galgar nenhuma montanha;
sem coragem nunca poderá chegar ao fundo de sua alma. Para enfrentar o
sofrimento você precisa de coragem; só com coragem você pode estender a
mão ao caído e levantá-lo. Precisamos de coragem para gerar filhos e
filhas para este mundo. Para encontrar a coragem necessária precisamos
nos ligar ao Criador. É Ele que suscita em nós coragem em favor da
justiça”. Pois é essa
coragem que o Cardeal Arns sempre infundiu em todos os que, bravamente,
se opunham aos que nos seqüestraram a democracia, prendiam, torturavam e
assassinavam em nome do Estado de Segurança Nacional (na verdade, da
segurança do Capital). Eu
acrescentaria: hoje precisamos de coragem para denunciar as ilusões do
sistema neoliberal, cujas teses foram rigorosamente refutadas pelos
fatos; coragem para reconhecer que não vamos ao encontro do aquecimento
global mas que já estamos dentro dele; coragem para mostrar os nexos
causais entre os inegáveis eventos extremos, conseqüências deste
aquecimento; coragem para revelar que Gaia está buscando o equilíbrio
perdido que pode implicar a eliminação de milhares de espécies e, se não
cuidarmos, de nossa própria; coragem para acusar a irresponsabilidade
dos tomadores de decisões que continuam ainda com o sonho vão e perigoso
de continuar a crescer e a crescer, extraindo da Terra, bens e serviços
que ela já não pode mais repor e por isso se debilita dia a dia;
coragem para reconhecer que a recusa de mudar de paradigma de relação
para com a Terra e de modo de produção pode nos levar, irrefreavelmente,
a um caminho sem retorno e destarte comprometer perigosamente nossa
civilização; coragem para fazer a opção pelos pobres contra sua pobreza e
em favor da vida e da justiça, como o fazem a Igreja da libertação e
Dom Paulo Evaristo Arns. Precisamos de
coragem para sustentar que a civilização ocidental está em declínio
fatal, sem capacidade de oferecer uma alternativa para o processo de
mundialização; coragem para reconhecer a ilusão das estratégias do
Vaticano para resgatar a visibilidade perdida da Igreja e as falácias
das igrejas mediáticas que rebaixam a mensagem de Jesus a um sedativo
barato para alienar as consciências da realidade dos pobres, num
processo vergonhoso de infantilização dos fiéis; coragem para anunciar
que uma humanidade que chegou a perceber Deus no universo, portadora de
consciência e de responsabilidade, pode ainda resgatar a vitalidade da
Mãe Terra e salvar o nosso ensaio civilizatório; coragem para afirmar
que, tirando e somando tudo, a vida tem mais futuro que a morte e que um
pequeno raio de luz é mais potente que todos as trevas de uma noite
escura.
Para anunciar e denunciar tudo isso, como fazia o Cardeal Arns e a
indígena maori Pauline Tangiori, precisamos de coragem e de muita
coragem.
Acompanhando
o noticiário local no Diário de Suzano, um conjunto de boas notícias me levaram a pensar
no legado de um governo para sua cidade. Apenas para informar, não leio aquela
parcela da imprensa que, escamoteando suas posições políticas e eleitoras,
verte pelas páginas seu veneno contra o governo suzanense. Bem, voltemos ao
legado. Por exemplo, sediar os mais importantes eventos esportivos do mundo
exige vultosos investimentos públicos. E o que fica depois dos Jogos Olímpicos
e da Copa do Mundo de Futebol para o povo brasileiro?
Inclusive está
instalada na Câmara dos Deputados a sub-comissão presidida pelo deputado
federal José de Filippi que trata do legado 2014. Discute-se a infraestrutura
para práticas esportivas, os equipamentos que servirão às competições,
alojamentos, coisas que permanecerão depois dos torneios. É preciso discutir
também a dimensão imaterial desse legado como por exemplo a melhoria dos ambientes
urbanos e ambientais, a inserção social e a criação de oportunidades, o
aproveitamento desses investimentos na melhoria da qualidade de vida do povo
brasileiro. Estou certo que a realização dos Jogos de 2016 tem, certamente, um
efeito transformador para a economia e para a história do Rio de Janeiro.
Guardadas as
devidas proporções, pensemos em Suzano. O legado deixado pelo governo Marcelo
Candido pode ser analisado em duas dimensões. Na dimensão estrutural podemos
listar o Hospital Regional de Suzano, cuja maquete apresentada e as iniciativas
para desapropriação do terreno são demonstrações claras do esforço
administrativo e da vontade política do governo atual em realiza-lo, para não
dizer o apoio do então Presidente Lula e o compromisso do ministro da saúde. O Instituto
Federal de Tecnologia - IFESP, a UNIPIAGET, a iluminação pública na cidade
inteira, o crescimento de 35% para 70% das ruas com pavimentação asfáltica, a
unidade 2 da Santa Casa, o Centro de Especialidades, o Centro de Especialidades
Odontológicas, as unidades de saúde, escolas, creches, equipamentos de cultura
e por aí vai... Às minhas visitas apresento o restaurante popular, a praça
Cidade das Flores e a feira noturna.
Quanto à
dimensão imaterial, a queda gradativa do índice de mortalidade infantil em
Suzano atingindo em 2010 o menor índice da história. É possível apresentar uma
lista interminável de melhorias, mas quero destacar minhas predileções. O
projeto Dança e Saúde, o Memória Viva, o Estúdio Público e o projeto Arte Pública.
Esse último é para mim, a cereja no bolo das excelentes políticas públicas de
cultura oferecidas desde 2005. Circular pela cidade e vê-la ganhando cores, contemplar
as cerejeiras em flor na Praça Cidade das Flores, encontrar figuras importantes
da nossa cultura popular desenhadas por aí torna os lugares mais alegres e nossa
cidade mais bonita. Além de uma contribuição estética, humaniza a cidade,
torna-a mais acolhedora, democratiza o acesso do povo à arte.
Precisaria de muitas linhas e vários artigos para listar
o legado estrutural, ético e estético do atual governo para esta cidade. Não é
o caso. Todavia, essa rápida reflexão nos leva à conclusão irrefutável que o
legado deixado por Marcelo Candido para Suzano é extraordinário. A continuidade
dessas políticas transformarão nossa cidade num museu a céu aberto.
Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitalidade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização, seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e criativo, visando uma profissão e um bom nivel de vida, mas nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até irresponsável. Os analistas mais sérios da pegada ecológica da Terra nos advertem que se não cuidarmos, podemos conhecer catástrofes piores do que aquelas vividas em 2011 no Brasil e no Japão. Para se garantir, a Terra poderá, talvez, ter que reduzir sua biosfera, eliminando espécies e milhões de seres humanos. Entre tantas excelências, próprias do conceito do cuidado, quero enfatizar duas que interessam à nova educação: a integração do globo terrestre em nosso imaginário cotidiano e o encantamento pelo mistério da existência. Quando contemplamos o planeta Terra a partir do espaço exterior, surge em nós um sentimento de reverência diante de nossa única Casa Comum. Somos insepráveis da Terra, formamos um todo com ela. Sentimos que devemos amá-la e cuidá-la para que nos possa oferecer tudo o que precisamos para continuar a viver. A segunda excelência do cuidado como atitude ética e forma de amor é o encantamento que irrompe em nós pela emergência mais espetacular e bela que jamais existiu no mundo que é o milagre, melhor, o mistério da existência de cada pessoa humana individual. Os sistemas, as instituições, as ciências, as técnicas e as escolas não possuem o que cada pessoa humana possui: consciência, amorosidade, cuidado, criatividade, solidariedade, compaixão e sentimento de pertença a um Todo maior que nos sustenta e anima, realidades que constituem o nosso Profundo. Seguramente não somos o centro do universo. Mas somos aqueles seres, portadores de consciência e de inteligência. pelos quais o próprio Universo se pensa, se conscientiza e se vê a si mesmo em sua esplêndida complexidade e beleza. Somos o universo e a Terra que chegaram a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Essa é nossa dignidade que deve ser interiorizada e que deve imbuir cada pessoa da nova era planetária. Devemos nos sentir orgulhosos de poder desempenhar essa missão para a Terra e para todo o universo. Somente cumprimos com esta missão se cuidarmos de nós mesmos, dos outros e de cada ser que aqui habita. Talvez poucos expressaram melhor estes nobres sentimentos do que o exímio músico e também poeta Pablo Casals. Num discurso na ONU nos idos dos anos 80 dirigia-se à Assembléia Geral pensando nas crianças como o futuro da nova humanidade. Essa mensagem vale também para todos nós, os adultos. Dizia ele: A criança precisa saber que ela própria é um milagre, saber, que desde o início do mundo, jamais houve uma criança igual a ela e que, em todo o futuro, jamais aparecerá outra criança como ela. Cada criança é algo único, do início ao final dos tempos. E assim a criança assume uma responsabilidade ao confessar: é verdade, sou um milagre. Sou um milagre do mesmo modo que uma árvore é um milagre. E sendo um milagre, poderia eu fazer o mal? Não. Pois sou um milagre. Posso dizer Deus ou a Natureza, ou Deus-Natureza. Pouco importa. O que importa é que eu sou um milagre feito por Deus e feito pela Natureza. Poderia eu matar alguém? Não. Não posso. Ou então, um outro ser humano que também é um milagre como eu, poderia ele me matar? Acredito que o que estou dizendo às crianças, pode ajudar a fazer surgir um outro modo de pensar o mundo e a vida. O mundo de hoje é mau; sim, é um mundo mau. E o mundo é mau porque não falamos assim às crianças do jeito que estou falando agora e do jeito que elas precisam que lhes falemos. Então o mundo não terá mais razões para ser mau. Aqui se revela grande realismo: cada realidade, especialmente, a humana é única e preciosa mas, ao mesmo tempo, vivemos num mundo conflitivo, contraditório e com aspectos terrificantes. Mesmo assim, há que se confiar na força da semente. Ela é cheia de vida. Cada criança que nasce é uma semente de um mundo que pode ser melhor. Por isso, vale ter esperança. Um paciente de um hospital psiquiátricoque visitei, escreveu, em pirografia, numa tabuleta que ma deu de presente:”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”. Nada mais é necessário dizer, pois nestas palavras se encerra todo o sentido de nossa esperança face aos males e às tragédias deste mundo.
Leonardo Boff é autor de “Cuidar da Terra-proteger a vida”, Record, Rio de Janeiro 2010.
Tenho 83 anos, sou professora aposentada, nascida e residente em Rio Claro. Nunca tive inimigos, só conquistei amigos. Dediquei30 anos de minha vida, a princípio na zona rural e, mais tarde, na cidade, alfabetizando, educando, formando e informando crianças a partir dos sete anos de idade. Sentia por elas um amor semelhante ao que sentia por minhas filhas, deixadas em casa aos cuidados de meus pais.
Sempre acreditei que as leis existem para a grandeza das nações, a paz entre os povos e a felicidade das pessoas. Vivi à sombra do mandamento maior: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Ensinei que nos casos de perigo, medo,os alunos deveriam procurar auxílio dos adultos, principalmente daqueles que foram preparados para isso: os seguranças, os guardas, os policiais. Entretanto, hoje estou em dúvida: estaria enganada?
Eu e meu marido (também octogenário, professor e advogado aposentado) freqüentamos Cachoeira de Emas, pertencente ao município de Pirassununga, escolhida para momentos de lazer com amigos e familiares.
Voltávamos de lá, no fatídico 22 de julho de 2011, por volta de 14h30. Não sei precisar exatamente o local na rodovia SP-201, mas próximo a um riacho entre Emas e Pirassununga, quando um guarda rodoviário nos parou pedindo os documentos do carro, o que é seu dever.
Infelizmente o nosso motorista, esposo de uma de minhas filhas (ambos nos acompanhavam na viagem) havia se esquecido dos documentos. Cumprindo o seu dever, já lavrada multa, o policial nos informou que, devido à falta da documentação, o carro seria guinchado imediatamente. Diante de nosso apelo para que não ficássemos sem o carro, ele consultou seu superior. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi negativa.
Descendo do carro, ficou à espera do guincho. Nós, de um lado da estrada, ele do outro, chegando a atravessá-la para nos vigiar. Senti-me como na época do nazismo, observando o próprio Hitler, tal a expressão de sua face.
Telefonamos para Rio Claro, mas, no meio da tarde nossos familiares estavam no ocupados com seus afazeres.
Cansada, gritei-lhe (ele permanecia ainda do outro da pista) se havia um banco no qual pudesse me sentar, não obtendo resposta.
Quando o guincho chegou, fomos forçados a sair do carro. Então, cumprido o seu papel, o senhor policial retirou-se, deixando-nos sós à beira da estrada.
Absolutamente constrangedor... eu de bengala, pois tenho problemas no joelho, nossos pertences espalhados pelo chão à beira da rodovia! uma visão tão estranha que ninguém nos ofereceu carona!
Eu permanecia sentada à beira do caminho, recebendo “chuva de poeira”. O céu nublando... sem contar o perigo, carros e caminhões carregados passando em alta velocidade. Para mim foi deprimente demais!
Meu marido, que também tem problemas de saúde, não conseguia ficar em pé. Não tínhamos condições nenhuma, sequer para satisfazer as necessidades mais elementares. Foram mais de duas horas de medo e aflição, até a chegada de um dos netos.
Agora me pergunto: para que serve o estatuto do idoso se até a polícia rodoviária, criada para a segurança de motoristas e passageiros nas estradas, paga com a renda de nossos impostos, transforma-se em vilão, provocando o medo e a insegurança?Por que esse militar foi tão cruel, maculando a imagem de toda uma corporação que presta serviços à sociedade?
Poucos anos me restam de vida; não guardo nenhum rancor, mas essa horrível ocorrência nunca mais sairá da minha memória. Este cidadão será contemplado em minhas orações, para que Deus transforme o seu coração de pedra.
Maria Witzel Jordão A autora é professora aposentada, escoteira, bandeirante, membro atuante da comunidade católica de Rio Claro.
Assim começa a canção Lara de Martinho da Vila e Zé Catimba. Quando pega no cavaco / sai divina criação / vai brotando na garganta / o que vem do coração. Criou tanta obra-prima / pra se cantar com prazer / o Império, a Serrinha / e o canto do tiê. Tiê, canta pra Ivone.
Uma das homenagens à dama do samba aconteceu no Centro Cultural da Juventude da Vila Nova Cachoeirinha, zona Norte de São Paulo. No esforço de preservação das raízes culturais afro-brasileiras, o anfitrião Moisés da Rocha, produtor cultural, pesquisador e apresentador do excelente programa O Samba Pede Passagem na rádio USP FM (93,7), chamou ao palco Fabiana Cozza que cantou para receber Ivone. Em conversa com Moisés, a constatação de que Suzano é exemplo na gestão de políticas públicas na área da cultura, e as justas referências ao prefeito Marcelo Candido e ao secretário de Cultura Walmir Pinto, lembrança dos sambistas da região como Rabicho e Xavier, e o setorial de cultura vinculado ao mandato do deputado estadual José Candido.
Yvonne Lara da Costa, ou Dona Ivone Lara, é carioca nascida em 13 de abril de 1921. Formada em enfermagem com especialização em terapia ocupacional, foi assistente social, trabalhou em hospitais psiquiátricos. Criada pelos tios, conheceu o samba e aprendeu a tocar cavaquinho. Foi aluna de Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do maestro Villa-Lobos. Casou-se com Oscar Costa, filho do presidente da escola de samba Prazer da Serrinha. Com a fundação do Império Serrano em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Compondo, tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala dos compositores de escola de samba. A aposentadoria em 1977 permitiu dedicação total à carreira artística.
Aposto que você conhece: Sonho meu, sonho meu / vai buscar quem mora longe, sonho meu... E essa então? Foram me chamar / Eu estou aqui, o que é que há / Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho / Mas eu vim de lá pequenininho / Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho... Ou ainda: Um sorriso negro, um abraço negro / traz felicidade...
Mas quem disse que eu te esqueço, Acreditar, Enredo do meu samba ou Tendência são canções obrigatórias em toda roda de samba que se preze. A propósito, o Império Serrano irá pra avenida em 2012 com Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba.
Ivone Canta. Na garganta de Ivone Lara, emoções e o coração se transformam em palavras. Aos 90 anos de idade e esbanjando vitalidade, a dama estava no palco. É de se perguntar quantas vezes isso aconteceu nesses 60 anos de carreira. Mesmo ela deve ter perdido a conta. Sentada ou em pé, regendo a platéia ou puxando as canções e os sambistas, com o carinho de Bruno Castro, seu neto, seu anjo e seu banjo. A voz trêmula demonstra os sinais do cansaço, mas a beleza, o talento e a simpatia, o amor que devota ao samba convocam à celebração da vida, irradiam alegria e felicidade. Ivone encanta.
A segunda estrofe da canção do Martinho (que está no bom CD Lambendo a Cria) diz assim: Com a luz da poesia / maravilhosas canções / uma fonte de emoções / samba, tá ginga, tá na mente / ela é o chão e a semente. É importante dizer / com certeza, faço parte desses que amam você Dona Ivone. Lara, Lara, Lara... Ivone.
Estudante de Ciência Política na Universidade de Birmingham.
Ele é natural de Campinas, estudou na UNESP de Rio Claro.
Pesquisa inovações democráticas brasileiras.
Esteve em Rio Claro durante o ano de 2010 pesquisando o Orçamento Participativo.
Mora em Londres/Inglaterra.
Veja nosso diálogo sobre os incidentes, conflitos e/ou manifestações na Inglaterra.
Diego Scardone
Tudo iniciou com a morte de uma pessoa pela policia. A comunidade local se revoltou, porém grupos de jovens começaram a atacar prédios com fogo e saquear lojas. Os resultados da exclusão social aqui de Londres e outras cidades grandes da Inglaterra. São comunidades excluídas, e o estado não as alcança. Elas crescem num meio extremamente diferente do que eles próprios veem pela TV, ou pelo resto da cidade. Enfim, algo que aprendi com a minha experiência do orçamento participativo ai, principalmente em Várzea Paulista (Diego visitou Várzea Paulista, Suzano, Guarulhos, Rio Claro, e no estado de Minas Gerais visitou Pouso Alegre como objeto de sua pesquisa sobre democracia). É que estes problemas devem ser confrontados pela população local e não apenas pelos burocratas de Westminster.
Ivan Rubens São ingleses? são migrantes? grupos organizados? quem são esses grupos?
Diego Scardone São ingleses, em grande parte negros. São grupos organizados e não organizados (que se juntam através de facebook, internet, telefone móvel e outros social networks).
Ivan Rubens Organizados em torno de partidos, associações, entidades? tem algum ideário, algum perfil ideológico ou são movimentos autônomos.
Diego Scardone A mídia diz que são gangues. Mas não acredito. Quero ver isso apurado de forma clara. Tem muita especulação no momento. Então, até o momento dizem que são grupos de jovens normalmente em áreas pobres das cidades. Não existe nenhuma evidência de que seja algo organizado. Eu acredito que seja um fenômeno resultante da crise financeira que estamos passando, mas com mais ênfase nos cortes a gastos e serviços públicos. O governo cortou o EMI, uma política de transferência de renda para crianças pobres que atendem a escola depois dos 16 anos. Não é obrigatório depois desta idade. Cortes nos recursos de universidades, desemprego alto. E tem ainda o fenômeno da sociedade de consumo em que vivemos. Bombardeando a todos com propagandas de como devem se vestir, como devem se comportar, como devem ser. Mas como não têm dinheiro para comprar essas coisas partem para a força. E através das redes sociais passam a mensagem para o pais td. O que mais me provoca é a classe média e a mídia Britânica, como eles mostram a notícia, colocando uma parte da população contra a outra. Isso é a substituição da guerra contra o terror (com o medo vindo de fora) pela guerra do terror interno, com o medo vindo de dentro. Tudo que o governo atual precisa para intensificar a legislação contra as liberdades civis.
Ivan Rubens Qual a relação disso com a crise entre o magnata da mídia britânica e o primeiro ministro inglês? e as crises provocadas na imprensa sensacionalista?
Diego Scardone Policiais de alto escalão se despediram da policia. Jornalistas foram presos, e políticos investigados. Num pais que já sofre com denúncias de complacência no envio de presos políticos para serem torturados no Egito. Cortes públicos que atingiram os mais pobres traves de planos ‘the austeridade’, escândalos de apropriação indevida de despesas por políticos. Mas vamos pressionar o governo para implementar ‘regulations’ para a mídia daqui. Quem sabe outros países não seguem o mesmo exemplo?
Ivan Rubens os conflitos chegaram a Birmingham. Como está a rotina na cidade? houve fechamento de serviços públicos destinados a população de baixa renda?
Diego Scardone Está tudo bem. Em Birmingham foi mais interessante, pois os conflitos chegaram ao centro. A discrepância entra ricos e pobres em Birmingham é alarmante. Sempre participo das manifestações aqui. Não participei deste conflito pois não acredito que esta seja a melhor forma de manifestação.
MERITOCRACIA NA EDUCAÇÃO E SUCATEAMENTO DO SERVIÇO PÚBLICO
Crianças não receberão mais os incentivos se continuarem na escola depois dos 16. A política conservadora agora é de privilegiar as escola que vão bem em detrimento das que vão mal (a política do ‘Labour’ era o contrário). Tentaram mexer no serviço público de saúde para "aumentar a competição". Mas não conseguiram pois é o maior orgulho deste pais. Tentaram vender as florestas e parques mas a classe média disse: não. Privatizaram todas as universidades do pais. Cortaram benefícios e welfare para a população, e cortaram empregos no setor público e QUANGOS (organizações que prestam serviços a pequenos negócios e também em outras áreas da população como apoio ao turismo local e tal. Aparentemente fecharam alguns centros juvenis.
Ivan Rubens É possível comparar essa reação violenta da juventude na Inglaterra com as manifestações nas praças da Espanha? na linha do movimento de multidão?
Diego Scardone Não. Infelizmente não. O norte da Europa não esta em crise como o Sul. A crise foi forte entre 2007-8 e 2010, mas a situação está melhor. Vamos ver o que acontecerá nos próximos dias. Enquanto a classe média Britânica não sentir no bolso o que está havendo, eles não vão se rebelar. Sugiro a leitura do material do Breno Altman. O conheci aqui em Londres, gosto bastante da linha jornalística dele.
http://operamundi.uol.com.br/index.php
Ele tem um projeto muito interessante de jornalismo internacional, com um twist mais crítico o Brasil esta muito suscetível a BBC e outros meios de comunicação que não são sempre "imparciais".
Ivan Rubens o que vc acha que vai acontecer no curto e no médio prazo?
Diego Scardone Em relação aos eventos dos últimos dias aqui em Londres? Nós temos que fazer esta pergunta a comunidade local que foi afetada por estes problemas. Na minha opinião, o governo Conservador vai utilizar este evento como uma “oportunidade” para endurecer as regras relativas a “etiqueta de protestos”, e também começar uma vigilância mais robusta a social networks (às redes sociais). Londres é a cidade mais vigiada do planeta, e mesmo com todas estas câmeras nada foi “evitado”. Eles vão investir agora numa tecnologia de vigilância que pretende “prevenir” o crime e não somente trazer “criminosos” a justiça após o crime ser cometido. Se a saúde da economia não piorar, eu acho que as coisas vão voltar a normalidade. Será interessante assistir a reação da população quando os detalhes da morte do Mark Duggan vier à tona. Na semana passada qdo ele foi morto, um jornal transformou o policial que o matou em herói dizendo que ele “foi salvo pelo rádio do carro q “segurou” a bala que o mataria. Agora, as investigações demonstram que esta bala encontrada no radio veio da arma do policial. E agora o policial afirma que em momento algum ele afirmou que Duggan tentou atirar nele. Isso traz lembranças quanto a morte do Jean Charles aqui em Londres. Quando Jean Charles foi morto disseram que ele correu da policia e que ele estava usando uma jacket que era muito suspeita (poderia conter explosivos). Depois de “muita” investigação, congluíram que ele não correu da policia. Se somarmos tudo isso com o escândalo dos grampos telefônicos, onde “cabeças” da Scotland Yard renunciaram seus cargos antes da bomba explodir nas mãos deles (pois eles sabiam dos grampos), a moral da policia deveria estar baixa no momento. Mas é o oposto, a fama da policia esta altíssima pois eles “salvaram Londres e arriscaram as suas vidas nas últimas horas “para “proteger” a população dos bairros afetados. Enfim, a população está muito suscetível ao que a midia diz. Além deste caso, tivemos um outro cidadão que foi morto durante os protestos do G20 em 2009. Enfim, não acredito que tenha uma conexão com os protestos do sul da Europa. Agora, se esta crise financeira atingir a Franca, a Alemanha e a Inglaterra... ai veremos a Europa pegar fogo.
Ivan Rubens A policia inglesa tem reagido violentamente com quem usa roupas supostamente 'suspeitas'.
Diego Scardone Sugeri uns vídeos que estão no youtube. (consulte os vídos em luisclaudiopt.blogspot.com) Esta parece ser uma questão de Multiculturalismo. Em 2009 se não me engano a Angela Merkel disse que multiculturalismo falhou na Alemanha. Em 2010, vem o Cameron dizendo o mesmo. Você tem todas as leis estabelecidas na França contra artigos religiosos que são visíveis (portando uma política heterogênea onde tds parecem iguais, então espera que a violência diminua). O parlamento italiano está votando nessa semana medidas parecidas às da França. A policia melhorou muito aqui mas ainda deve existir preconceito. Durante a guerra contra o terror, a maioria das pessoas paradas pela policia era de aparência árabe por exemplo. Mas essas são questões mais difíceis de lidar. O governo usa a chamado "Segurança Nacional" para lidar com estes problemas. A segurança nacional que entrou no lugar da SEGURANCA SOCIAL com todas a carga trazida pelas reformas neoliberais. Diante de todas essas transformações, como será que um país imagina a si próprio? Como a imagem do "outro" do "diferente" é estabelecida? A policia tem uma instituição poderosa em suas costas e pode fazer uso desta para atingir os seus objetivos. Muitas pessoas estão atacando os chamados "chavs" nas redes sociais. "Chavs" no Brasil nós os chamaríamos de "bregas"? não sei, mas não ficarei surpreso se a policia esteja parando tds q se vistam desta forma hj pela capital.
Mais tarde...
Diego Scardone Interessante como as coisas estão evoluindo aqui. Esta se alastrando pelo país todo. Então, várias cidades reportando problemas. Interessante q a mídia não está mostrando muita coisa. Escutei helicópteros e sirenes o dia td. Mas a mídia só repete o q já foi dito. Não acho que está acontecendo a revolta que ambos gostaríamos que fosse. Mas também o que a mídia fala pode não ser verdade. Não ficarei surpreso se o que estiver acontecendo esteja sendo manipulado pela mídia para que pareça algo negativo. Todo o medo que colocam nas pessoas, enfim.
Ivan Rubens Sem julgamentos. Estou certo de que existem razões, motivações. Algumas legítimas e outras não. Aposto que são impactos, de alguma forma, das políticas.
Diego Scardone sim... de ideologias eu acho....
Ivan Rubens Tem gente também que está aproveitando a situação. Mas as políticas de estado, as ideologias que se traduzem Tb nas políticas de Estado, e fundamentalmente os reflexos da crise do paradigma capitalista. Vc falou do estímulo ao consumo, do avanço desenfreado das fronteiras do mercado mundial e suas conseqüências. Jovens são bombardeados o tempo todo com anúncios, propagandas que falam dum mundo que existe mas não pertence a eles.
Diego Scardone sim. Temo que a mídia esteja mostrando o q esta mostrando para deixar o povo com medo. Talvez esse fosse uma oportunidade para tds irem as ruas e protestar qto as políticas de austeridade. O medo colocado nas pessoas os prende em casa, paralisa. Tvz sejam "as massas" lá fora, mas a TV filtra o q quer mostrar. Mostra apenas os saques e não o propósito de destruir o símbolo do capital (bancos e outras corporações).
Outros comentários do Diego
Fico meio triste por ver esta juventude meio que se perdendo. Penso muito no Brasil e nos problemas que temos ai: Exclusão social, consumismo e o bombardeio midiático dizendo a toda hora como "devemos ser/ o que devemos ter". A destruição de prédios e os saques em lojas obviamente são irresponsáveis, mas acho fraco focarmos todo nosso senso crítico na punição dos responsáveis e não nas causas.
participaram desta conversa ainda, Luis Cláudio Messa Longo, Jaime Cabral e Antonio Morgado. outras informações e vídeos disponíveis em luisclaudiopt.blogspot.com