Estatuto do idoso!!! Prá quê?

Tenho 83 anos, sou professora aposentada, nascida e residente em Rio Claro. Nunca tive inimigos, só conquistei amigos. Dediquei  30 anos de minha vida, a princípio na zona rural e, mais tarde, na cidade, alfabetizando, educando, formando e informando crianças a partir dos sete anos de idade. Sentia por elas um amor semelhante ao que sentia por minhas filhas, deixadas em casa aos cuidados de meus pais.


Sempre acreditei que as leis existem para a grandeza das nações, a paz entre os povos e a felicidade das pessoas. Vivi à sombra do mandamento maior: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Ensinei que nos casos de perigo, medo,  os alunos deveriam procurar auxílio dos adultos, principalmente daqueles que foram preparados para isso: os seguranças, os guardas, os policiais. Entretanto, hoje estou em dúvida: estaria enganada?

Eu e meu marido (também octogenário, professor e advogado aposentado) freqüentamos Cachoeira de Emas, pertencente ao município de Pirassununga, escolhida para momentos de lazer com amigos e familiares.

Voltávamos de lá, no fatídico 22 de julho de 2011, por volta de 14h30. Não sei precisar exatamente o local na rodovia SP-201, mas próximo a um riacho entre Emas e Pirassununga, quando um guarda rodoviário nos parou pedindo os documentos do carro, o que é seu dever.

Infelizmente o nosso motorista, esposo de uma de minhas filhas (ambos nos acompanhavam na viagem) havia se esquecido dos documentos. Cumprindo o seu dever, já lavrada multa, o policial nos informou que, devido à falta da documentação, o carro seria guinchado imediatamente. Diante de nosso apelo para que não ficássemos sem o carro, ele consultou seu superior. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi negativa.

Descendo do carro, ficou à espera do guincho. Nós, de um lado da estrada, ele do outro, chegando a atravessá-la para nos vigiar. Senti-me como na época do nazismo, observando o próprio Hitler, tal a expressão de sua face.

Telefonamos para Rio Claro, mas, no meio da tarde nossos familiares estavam no ocupados com seus afazeres.

Cansada, gritei-lhe (ele permanecia ainda do outro da pista) se havia um banco no qual pudesse me sentar, não obtendo resposta.

Quando o guincho chegou, fomos forçados a sair do carro. Então, cumprido o seu papel, o senhor policial retirou-se, deixando-nos sós à beira da estrada.

Absolutamente constrangedor... eu de bengala, pois tenho problemas no joelho, nossos pertences espalhados pelo chão à beira da rodovia! uma visão tão estranha que ninguém nos ofereceu carona!

Eu permanecia sentada à beira do caminho, recebendo “chuva de poeira”. O céu nublando... sem contar o perigo, carros e caminhões carregados passando em alta velocidade. Para mim foi deprimente demais!

Meu marido, que também tem problemas de saúde, não conseguia ficar em pé. Não tínhamos condições nenhuma, sequer para satisfazer as necessidades mais elementares. Foram mais de duas horas de medo e aflição, até a chegada de um dos netos.

Agora me pergunto: para que serve o estatuto do idoso se até a polícia rodoviária, criada para a segurança de motoristas e passageiros nas estradas, paga com a renda de nossos impostos, transforma-se em vilão, provocando o medo e a insegurança?  Por que esse militar foi tão cruel, maculando a imagem de toda uma corporação que presta serviços à sociedade?

Poucos anos me restam de vida; não guardo nenhum rancor, mas essa horrível ocorrência nunca mais sairá da minha memória. Este cidadão será contemplado em minhas orações, para que Deus transforme o seu coração de pedra.

Maria Witzel Jordão  
A autora é professora aposentada, escoteira, bandeirante, membro atuante da comunidade católica de Rio Claro.

Um comentário:

  1. Vergonhoso o ato deste "cidadão" , deprimente ao ponto de não restar palavras para descreve-lo...O respeito ao idoso só existe no papel, a realidade é bem diferente, infelizmente...

    ResponderExcluir