Participação e a educação popular

Acontece o Fórum Mundial de Educação na região do Alto Tietê com o tema “Educação: protagonismo na diversidade”. A programação permite, dentre várias coisas, debater a questão dos espaços de participação popular na construção, gestão, acompanhamento e avaliação das políticas públicas, objetivando o acesso ao conhecimento historicamente construído. Destaco aqui três mesas organizadas pela equipe de gestão democrática da Secretaria de Educação de Suzano que permitiram o encontro de experiências diferentes e, conseqüentemente, uma rica troca de conhecimentos.

Ao trazer para os debates o conjunto das ações desenvolvidas nesses dois anos e nove meses de governo de Suzano, constatamos quanto já foi feito. Os debates revelaram a formação de uma rede de participação popular, à medida que o universo de conselheiros aumenta em quantidade e qualidade; que o acesso às informações, os processos formativos e a prática do diálogo transformam indivíduos e, por conseguinte, recria grupos sociais.

O caminho percorrido no 2o ciclo do Orçamento Participativo foi longo. Doze plenárias regionais deliberativas, 36 prioridades eleitas diretamente, 24 conselheiros e conselheiras, assembléia geral dos representantes, seminário e reuniões. Nesse rico processo, os secretários municipais levaram as informações e o saber administrativo e o CORPO discutiu a viabilidade técnica, legal e orçamentária das prioridades oriundas das plenárias. Assim, afinamos a vontade popular construída numa amostra populacional de 2.300 pessoas.

Chegou a hora de fechar o Plano de Investimentos - documento que será entregue ao Prefeito de Suzano com a decisão final do OP para inclusão na Lei Orçamentária Anual. Após 17 reuniões ordinárias, um seminário de formação e a caravana do OP – etapa que totalizou aproximadamente 54 horas de intenso trabalho - redimensionamos o sonho coletivo aos limites da realidade.

Enquanto projeto político, a eleição do governo Marcelo Candido garantiu a participação popular em Suzano como eixo de governo. Permite a elaboração de planos e projetos coletivos nas diferentes áreas do governo: conselhos institucionais, conselhos gestores de saúde, conselhos de escola, promoção da cidadania, acesso às diversas manifestações culturais, informação como direito são alguns exemplos. É oportuno lembrar que os planos sempre são carregados de intencionalidade e se materializam no possível da vida real na cidade, tensionada permanentemente por uma cultura política secular. Isso significa que a participação popular se levada a sério, trabalha na perspectiva da (re)invenção do Estado e da democracia, provocando transformações tanto para o governo quanto para a sociedade.

Nos lançamos por caminhos nunca percorridos em Suzano. Juntos, encontramos surpresas ao longo desse caminho. Quanta novidade, quanta descoberta, quanta construção coletiva de conhecimento. Pensando na participação popular enquanto processo educativo, fica a certeza de que estamos no caminho certo.

CORPO diz SIM para Suzano

Tramita na Câmara Municipal de Suzano há tempos, o projeto SIM – Sistema Integrado Municipal de Transporte Público Coletivo. Polêmico, o projeto tem pautado o debate na cidade e o CORPO (Conselho do Orçamento Participativo) não ficou de fora. Para além das questões orçamentárias, o CORPO trata de temas mais gerais, especialmente das questões que dialogam com a maioria da população. Isso porque a representatividade dos conselheiros e das conselheiras está fundamentada num processo livre e democrático nas 12 regiões em que Suzano foi organizado.

O projeto SIM é polêmico. “Tribunal de contas julga irregular contrato da Visul” foi manchete na página 4, na edição de 31 de agosto deste diário. Segundo a matéria, o referido contrato foi firmado no dia 27 de dezembro de 2004, ao apagar das luzes da gestão passada. Outro aspecto a ser considerado é a existência dos chamados “alternativos” ou “lotação” que, sem amparo legal, demonstram a incapacidade do atual sistema (nem deve ser considerado como sistema de tão precário) e a baixa qualidade do serviço oferecido.

Ao criar a tarifa pública, o SIM permite a integração da tarifa nos veículos que circulam no sistema municipal e até com outros sistemas. Com a figura das linhas complementares, reorganizará o sistema diminuindo o tempo de espera na parada de ônibus e maior fluidez na circulação dos veículos. Garante vários modais interagindo linhas principais com linhas complementares. Cada estudante residente em Suzano receberá 50 passes por mês, o que permitirá o acesso aos serviços que a prefeitura oferece, de graça, no Centro Cultural, por exemplo. Biblioteca, internet, cursos e oficinas nas diversas áreas, uma programação mensal que oferece teatro, cinema, música, exposições e outros.

Garante também dignidade aos idosos, à medida que usarão o sistema de transporte sem qualquer distinção. As pessoas com deficiência terão mais carros adaptados à disposição. Isso porque o SIM permite que grande parte da receita, oriunda das tarifas pagas pelo povo, seja investida na melhoria do sistema.

Considerando o transporte público como favor e não como direito, alguns setores trabalham pela manutenção do status quo. São setores refratários às mudanças implementadas pelo governo Marcelo Candido por inverter as prioridades no estabelecimento das políticas públicas.

Ao assumir publicamente suas opiniões, os atores sociais se posicionam e tensionam os poderes instituídos. Foi o que fez o CORPO, a União dos Aposentados e Pensionistas de Suzano, o Conselho Municipal do Idoso, a União Municipal dos Estudantes de Suzano, além de várias entidades e associações. Isso é saudável, oxigena a vida na cidade à medida que exercita a democracia e aponta para uma sociedade diferente. A Néia ficou orgulhosa, a Cida quer que outros participem, a Cátia descobriu que existem métodos diferentes de mobilização. Para o Benedito é preciso defender o grupo. “Conversando com as pessoas do bairro sobre o SIM dá para convencer”, disse a Delma. Para ela, a sessão da câmara foi uma lição. Ela disse, sem perceber, que informação é poder. De posse das informações, podemos participar, podemos convencer, podemos discutir e opinar, enfim, podemos construir nossas próprias opiniões. Podemos lutar por aquilo que acreditamos.

Orçamento Participativo e a vida na cidade

Todos os 5.564 municípios brasileiros têm até o último dia de setembro para encaminhar às respectivas câmaras municipais a Lei do Orçamento Anual - LOA. A iniciativa da LOA compete privativamente ao poder executivo. A LOA estima receitas e fixa despesas para a execução orçamentária do ano seguinte. Trata-se de uma lei pela qual o Poder Legislativo (Câmara de Vereadores) autoriza o Poder Executivo (Prefeitura) a utilizar o dinheiro público, ou seja, o dinheiro do povo arrecadado com os tributos (impostos, taxas, contribuições e tarifas). O mesmo raciocínio serve para os 26 estados da Federação, para o Distrito Federal e para o Governo Federal.

Na dimensão do planejamento, o orçamento determina as prioridades do governo durante o ano. Na dimensão da democracia, o orçamento possibilita à sociedade conhecer e fazer pressão sobre a arrecadação e os gastos públicos. Garante transparência e dificulta a corrupção. Na dimensão política, o orçamento é um instrumento que permite à sociedade controlar o Poder Executivo. Afinal, informação é uma arma da sociedade. Alguns governos adotam a metodologia participativa na construção da LOA, criando canais de participação popular e de exercício da democracia direta, além de socializar as informações acerca do dinheiro público. Um estudo do Instituto Pólis demonstra que durante a gestão 2005-2008, dos 645 municípios paulistas, apenas 30 construíram a LOA na metodologia participativa.

Em Suzano, a gestão Marcelo Candido adotou o OP. Neste segundo ciclo, o processo continua muito rico. Nas últimas semanas, o CORPO (Conselho do OP) discutiu com as secretarias municipais de Educação, de Cultura, de Promoção da Cidadania e Inclusão Social. Das prioridades eleitas nas 12 plenárias regionais, os conselheiros receberam as informações das secretarias, conheceram os projetos construídos pelo governo, perceberam as possibilidades e os limites impostos pela legislação e pelo tensionamento das forças institucionais e das forças políticas, esclareceram dúvidas, contribuíram com sugestões e críticas, expressaram opiniões. Soma-se a esse esforço coletivo, produzido por 32 conselheiros e 32 suplentes - sendo 25% representantes do governo -, a sabedoria do Benedito, a disciplina da Cátia, a segurança do Vicente, a tranqüilidade do Márcio, a juventude do Allan e do Edvaldo, a garra da Néia e do Ademir, a força da Mairi e do Sérgio, a paciência do Paulo e da Rosani, a sensibilidade e a poesia da Valéria. Como diria a conselheira Cecília, “somos a tela e a tinta”, a expressão da dimensão humana, o encontro do saber popular com o técnico, na construção da cidade. Educadores populares na construção coletiva do conhecimento, da cidade, da democracia e da república.

No exercício do OP, o governo Marcelo Candido permite que a população se aproprie do orçamento, conheça os métodos de elaboração, das nomenclaturas, das fontes de informação, amplie os canais de diálogo e de informação visando ao controle social sobre a máquina pública. Quanto mais informado, menos enganado será o povo. Outro objetivo é reconhecer e valorizar o conhecimento popular e, no contato com o governo, aquecer a frieza dos planos, programas e projetos incorporando o calor da dimensão maravilhosa da vida real.

República, democracia e a cidade de Suzano

Ocorreu no dia 21 de julho o Seminário de Formação do Conselho do Orçamento Participativo (CORPO) de Suzano. Um sábado festivo, rico na troca de experiências, de conhecimentos e fundamental na construção de um grupo que tem a responsabilidade de definir, em nome dos milhares de suzanenses que participaram das plenárias do OP, o plano de investimentos para 2008. Licitações, funcionamento da administração pública, fluxos e procedimentos administrativos foram assuntos provocados pelo geógrafo Ivo Reseck. Governo municipal e população se fundindo e confundindo na riqueza e na intensidade das trocas, nos saberes complementares. Para os antigos gregos, democracia: demos (povo) kracia (governo).

Preparados, conselheiras e conselheiros avançaram nos debates com as secretarias municipais. Cabe ao CORPO estudar, detalhar, orçar, compreender as 36 prioridades eleitas durante o ciclo de plenárias, para que possa priorizar dentre as prioridades. Assim, nos quatro encontros que sucederam o Seminário, discutimos as prioridades relacionadas à saúde e às obras de infra-estrutura. Conselheiras e conselheiros dialogaram com as secretárias municipais Célia Bortoletto e Lúcia Montibeller. O saber técnico no encontro com o saber popular, a política como habilidade no trato das relações humanas com vistas à obtenção de resultados esperados: o impacto do investimento público numa região da cidade, a quem beneficiará esse investimento, se está havendo o respeito aos princípios norteadores da administração pública, se a escolha é coerente com os compromissos políticos (programa de governo eleito nas urnas), com as peças de planejamento (PPA e LDO) e, principalmente, com a capacidade de investimento da prefeitura municipal.

Na minha modesta opinião, outra compreensão de cidade e de sociedade à medida que a participação popular inverte as prioridades de investimento público e se constrói coletivamente a noção de responsabilidade com a coisa pública, com a res publica
(conceito romano).

As reuniões extrapolam as deliberações do OP. Prestar serviço de forma direta ou indireta, as concessões públicas, o real atendimento aos interesses da população ou aos interesses do capital, transporte coletivo e saneamento básico, o projeto SIM em tramitação na Câmara Municipal e a renovação do contrato com a Sabesp foram amplamente debatidos. E as diferenças aparecem naturalmente: 30 anos de silêncio foram importantes para o florescer da democracia em Suzano.

Por fim, a participação articula bastante bem democracia e república. O ideal republicano está dedicado à coisa comum ou coletiva. Essa participação nem sempre é politizada, mas é grande o seu potencial político, porque forma as pessoas para agirem sem esperar ordens de cima. O CORPO, voltando seu trabalho para o bem comum, é uma prática republicana. Somada a outras ações de democratização do Estado desencadeadas em Suzano pela gestão Marcelo Candido estamos acostumando as pessoas a agirem de baixo para cima, numa pedagogia democrática. Afinal, a educação para a democracia se faz na escola da vida, ou seja, na relação com o outro. Ou ainda, participando da vida social.

Formação do CORPO 2007

Neste sábado (21/7) realizaremos o I Seminário de Formação do Conselho do OP do ciclo 2007. Orçamento municipal, funcionamento da administração pública e os processos licitatórios, assuntos aparentemente difíceis, estarão em debate na Escola municipal (EMEF) Antonio Marques Figueira. O CORPO (Conselho do Orçamento Participativo, composto por 32 membros sendo 24 conselheiros eleitos pela população e 8 indicados pelo governo) se encontra para aprender, acumular informações e discutir o orçamento público, o dinheiro do povo. Será um dia intenso na troca de experiências e na construção coletiva do conhecimento.
O respeito permeia as relações do CORPO, o que garante fluidez e um movimento de construção coletiva. Conselheiras e conselheiros participam do seminário de “corpo” inteiro, pois estar no OP representa indignação diante das injustiças registradas na história da nossa cidade. Representa o desejo de melhorar a cidade das flores, um desafio permanente para o governo, que aposta na participação do povo e para o próprio povo. Esse novo tempo desafia a sociedade a pensar, em grupos, soluções para os problemas da vida na cidade, fazê-las saírem do papel e, de fato, mudarem a realidade. O OP será uma experiência cada vez melhor à medida que nos permitirmos conhecer, pesquisar, descobrir, ousar, criar.
Durante o seminário, discutiremos a cidade de Suzano. Compartilharemos muitas informações sobre receitas, despesas, origem e destino dos recursos públicos municipais. Os representantes da prefeitura contribuirão com o saber técnico e o povo contribuirá com o saber popular. Assim, daremos mais um passo na construção da Lei do Orçamento Anual (LOA) coletivamente, contrapondo a forma centralizadora dos governos anteriores. Mais do que isso, a população ampliará seu conhecimento sobre aquilo que é verdadeiramente seu: a prefeitura municipal.
Neste segundo ciclo do OP, o CORPO 2006 se encontra com o CORPO 2007, o que torna ainda mais rico o momento: experiência e responsabilidade se aproximam da expectativa e do entusiasmo.
Optar pela democracia é optar por diminuir as injustiças sociais, o que exige deixar o “colo”, ter autonomia. É tomar para si a responsabilidade das decisões. Neste sentido, o OP é um processo de escolhas, de definição de prioridades, que tem o potencial de construir mais poder para a maioria da população e, simultaneamente, romper com o injusto histórico de privilegiar, com recursos públicos, um pequeno grupo. Ou seja, toda escolha econômica privilegia algum interesse. Com o OP, estamos fazendo coletivamente escolhas econômicas sérias e com claro sentido ético.
PS.: “As cidades também acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem o outro bastam para sustentar as suas muralhas. De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas”. Ítalo Calvino

Posse do Conselho do Orçamento Participativo

Como temos discutido nesta coluna, o Orçamento Participativo na cidade de Suzano avança na democratização do orçamento público municipal. No processo do OP, a população apreende muita coisa, especialmente, o funcionamento da administração pública, orçamento público, a lógica da arrecadação dos tributos que sustentam o funcionamento do Estado, entre outras coisas.

Em grande medida, a experiência do OP numa cidade, a exemplo do que está ocorrendo em Suzano, tem uma dimensão pedagógica e, portanto, é importante na construção de um Estado cada vez mais democrático. Não à toa o lema do Orçamento Participativo é “Suzano construindo a democracia”. Afinal, o governo Marcelo Candido acredita na democracia e contribui para sua ampliação, contribui para sua expansão, se esforça no sentido de construir e reconstruir as instâncias de participação popular e as instituições democráticas na cidade, nosso foco de ação, contribuindo com o estado e com o país.

A democracia no Brasil está em construção. Infelizmente a história brasileira nos obriga a lembrar dos anos de escravidão, dos regimes autoritários, dos tempos de ditadura militar, dos governos de exceção. Em Suzano, dos tempos em que o coronel e seus amigos decidiam tudo, dos tempos em que a cidade tinha “dono” que instrumentalizava as instâncias supostamente de participação, forjava processos e discursava, discursava e discursava como paladino da boa administração pública. Então, vejamos um exemplo: em 56 anos de emancipação político-administrativa, apenas 40% das ruas foram asfaltadas. Muito pouco, não é? Na minha modesta opinião, trata-se do paladino do clientelismo e do assistencialismo, da arrumação, do toma-lá-dá-cá, do jeitinho. Essa é a contribuição de um governo autoritário: destruir nas pessoas a idéia do direito e substituí-la pela idéia do privilégio de uns em detrimento da maioria.

Diria Chico Buarque: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Desde 2005, os avanços democráticos na cidade de Suzano ganham fôlego com a vitória do governo Marcelo Candido. A cidade respira democracia, aceita o convite do governo, ocupa os espaços de participação popular e, no encontro, ensina, aprende e constrói as novas formas de planejamento e gestão. É o povo reconhecido e se reconhecendo como portador de direitos.

Neste segundo ciclo do Orçamento Participativo, após 12 plenárias regionais deliberativas realizadas, que elegeram 12 conselheiros populares em processo de escolha direta, dos outros 12 eleitos durante a Assembléia Geral dos Representantes e 8 indicados pelo prefeito de Suzano, estamos avançando para a composição do CORPO. Empossado, o Conselho do Orçamento Participativo organizará seu seminário de formação e iniciará o processo de debate acerca das viabilidades técnica, jurídica e da coerência política das 36 prioridades eleitas pela população, durante as 12 plenárias que cobriram toda a cidade. É a rica tarefa de perceber onde estão os limites impostos pela realidade jurídica, financeira e orçamentária, e trabalhar para estendê-los.

Aliás, a posse do Conselho do OP está marcada para a próxima terça-feira, dia 10 de julho, às 19h no auditório do Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi (rua Benjamin Constant, 682 - centro). Todos estão convidados. Nos vemos lá.

A Assembléia Geral do Orçamento Participativo

A tarde de 16 de junho, na EMEF Antônio Marques Figueira, foi marcada pela Assembléia Geral das/os Representantes do Orçamento Participativo, que encerra a fase externa do OP em Suzano. Acompanhando a experiência de 2006, a cidade foi organizada em 12 regiões e, para cada região, uma grande plenária deliberativa.
As plenárias foram animadas com intervenções teatrais do coletivo da Secretaria Municipal de Cultura que, dentre outros objetivos, provocaram a população a sonhar com um lugar melhor para viver e, brincando com a dimensão da cidade invisível, da cidade ideal, levaram os participantes a construir as propostas a serem incluídas na Lei do Orçamento Anual. Nas salas de aula da escola sede, grupos com cerca de 30 pessoas aprofundaram a discussão e construíram as propostas, além de escolher três representantes para cada grupo. De volta ao pátio, as plenárias deliberaram, em votação direta, as 36 prioridades do OP 2007.
Nas plenárias, o debate está fragmentado de acordo com a organização regional, ou seja, de acordo com o conjunto dos bairros e loteamentos que compõem cada uma das 12 regiões do OP. Na Assembléia Geral das/os Representantes o movimento muda: representantes e conselheiras/os eleitas/os se encontram, se conhecem e conhecem o conjunto das prioridades eleitas. Eis a pauta para discussão no Conselho do Orçamento Participativo, o CORPO.
 A receber as informações técnicas, o CORPO aprofunda a discussão, debate politicamente e, a partir daí inicia o processo que leva à tomada de decisão. Você deve estar se perguntando: mas qual a importante decisão a ser tomada pelo CORPO? É bem provável que não haja disponibilidade orçamentária para todas as 36 prioridades decididas nas Plenárias do OP. Portanto, cabe ao CORPO priorizar dentre as prioridades. É sempre bom lembrar que o CORPO é formado por 24 conselheiras/os eleitas/os pela população e 8 conselheiras/os indicadas/os pelo governo municipal. Temos muito trabalho pela frente...
Voltando ao dia 16 de junho, o resultado foi interessante. Ocorre que a tarefa das/os representantes era escolher entre os presentes mais 12 conselheiras/os e 12 suplentes para o CORPO. Trocando em miúdos, a possibilidade de alterar a correlação de forças no CORPO, o que não aconteceu. Representantes pactuaram uma composição paritária e, no momento do registro das candidaturas, apareceram 12 candidatas/os - um por região, exceto a região 6 – Lírio, onde três candidaturas se apresentaram.
Desde o início do governo Marcelo Candido, nos esforçamos em trabalhar a dimensão da cidade, contribuir para uma compreensão mais adequada no debate público versus privado. Ou melhor, é urgente que a população perceba as diferenças abissais que existem entre o interesse público e o interesse privado. Apesar de abissais, na prática cotidiana sutis e, portanto, de difícil percepção. Então, não adianta o coronel querer apagar o passado como tem sugerido. Vinte e tantos anos fazendo da prefeitura um quintal, executando o orçamento público municipal ou, em outras palavras, gastando o dinheiro do povo para atender a interesses no mínimo duvidosos, produz muitos estragos. Basta olhar em volta e perceber o acúmulo de problemas de infra-estrutura na cidade, a demanda real da população por serviços públicos que foi reprimida pela inexistência de serviços e pela inoperância da prefeitura durante muitos anos. E, se não bastasse, produz estragos na cidade invisível, na dimensão do intangível, na cultura política local. Mas isso fica para outro artigo.

Suzano vive um novo tempo: democracia e liberdade

O Orçamento Participativo de Suzano está a pleno vapor. Nessa experiência democrática, a cidade e seu povo vivem um novo tempo. Não por acaso, na trilha sonora do OP 2007, está a música “Um novo tempo” do compositor Ivan Lins. Ano passado, o OP aconteceu animado com a versão ao vivo da música “vai passar” do Chico Buarque. O OP continua passando e passará enquanto nossa cidade for administrada por homens e mulheres que acreditam na democracia, na liberdade e na participação popular.

Para Ivan Lins, “no novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos/ (...) estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas”. A fase das plenárias do OP expressou bem a idéia da música. Afinal, percorremos toda a cidade de Suzano nas 12 plenárias regionais deliberativas e, nelas, 63 grupos de trabalho foram organizados em salas de aula permitindo bons debates, avançando na reflexão e na compreensão da cidade. Todos esses grupos estão representados pelos 182 membros eleitos no processo. Todas as regiões estão contempladas nas 36 prioridades eleitas e nos 12 conselheiros do OP eleitos durante as plenárias. E não termina aí...

O Conselho do OP (CORPO) é composto por 32 titulares e respectivos suplentes, sendo 24 deles eleitos pela população e 8 indicados pelo Prefeito. Nas plenárias, foram eleitos diretamente 12 conselheiros e conselheiras. O próximo passo é a Assembléia Geral das/os Representantes que acontecerá no dia 16/6, às 14 horas, na EMEF Antônio Marques Figueira.

Na oportunidade, os 182 representantes escolherão entre si os demais companheiros para compor o CORPO. É também a oportunidade das regiões do OP se encontrarem pela primeira vez, terem contato e conhecerem as 36 prioridades e a seqüência dos trabalhos. Afinal, mais de 2.300 pessoas priorizaram 36 ações para o governo Marcelo Candido. Os 182 representantes e os 32 conselheiros têm o papel importante de estudar cada uma das prioridades e, diante dos custos, indicar para o Prefeito de Suzano aquelas que deverão ser incluídas na Lei do Orçamento Anual e executadas em 2008 durante a vigência da LOA.

Costumo ouvir as pessoas dizerem: “democracia é bom, mas dá muito trabalho”. Dá mesmo. Justamente por acreditar na democracia é que o prefeito Marcelo Candido coloca a participação popular como eixo de governo e, exercitando-a de várias maneiras (estão acontecendo nesse mês a formação de conselheiros de escola, as eleições dos conselhos gestores de unidade de saúde, as pré-conferências da assistência social, entre outras ações), a constrói no exercício paciente do dia a dia.
Grosso modo, democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade humana. Democracia é a institucionalização da liberdade. Para Cecília Meirelles, “liberdade - essa palavra, que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda”.

Suzano consolida o Orçamento Participativo

Estamos vivenciando o 2o ciclo do orçamento participativo na cidade de Suzano. O OP é uma metodologia utilizada por governos populares para a democratização do debate e da decisão acerca do orçamento público. Tem como pano de fundo as diferenças entre público e privado, as esferas do poder público, a participação social e política, e a democracia.

Quando essa discussão ganha as ruas, evidentemente, vai ganhando força e expresão. Afinal, o tema do orçamento público, embora complexo, põe às claras as decisões políticas no sentido de quem se beneficia com as ações do poder público: a maioria da população ou uma minoria de privilegiados? Prefeitura é uma instituição mantida pelo povo com o objetivo de zelar por aquilo que é público, que é coletivo, que é de todas as pessoas. Por isso, pagamos os impostos e as taxas. Apesar das evidências, existem compreensões coletivas que são cultivadas ao longo do tempo e acomodam-se na cultura local.

Durante 20 anos o povo de Suzano viveu experiências autoritárias em que a prefeitura era de propriedade do coronel e seu bando. Ao contrário da reflexão acima, pensavam (e ainda pensam) que a prefeitura era propriedade particular e colocavam-na a serviço dos interesses econômicos do seu bando. Imaginem uma pessoa simples que procura ser respeitada nos seus direitos e, no lugar de um prefeito e uma equipe de governo, encontra um coronel e seu bando. Isso tem impacto na forma com que essa pessoa constitui no seu imaginário os temas que citei acima.

Suzano vive um novo tempo. As mudanças se dão no processo de conhecer a estrutura da prefeitura, os espaços de discussão coletiva, no processo de compreender que aquilo que é público é de todos e, por essa razão, eleger o prefeito e os vereadores a cada quatro anos é muito pouco. Vejamos o exemplo do OP. A primeira experiência em 2006 reuniu 1.486 pessoas nas 12 plenárias regionais deliberativas. Deste total, 58% de mulheres. Naquela oportunidade, a população teve um primeiro contato como o OP. Em 2007, o quadro já é outro: realizadas 11 plenárias, a população cresceu 53%, totalizando 2.082 pessoas. Devemos superar as 2.200 pessoas neste segundo ciclo do OP.

Se o dinheiro público é do povo, porque o povo foi excluído dessa discussão durante tanto tempo? Por que no tempo dos coronéis essa discussão ficava fechada em seu gabinete? A quem interessa o desconhecimento do povo sobre aquilo que é público?

Quem esteve nas plenárias encontrou um prefeito e sua equipe de governo. Foi bem recebido, sorriu, ouviu, falou, debateu, aprendeu, ensinou, propôs, votou, enfim, viveu uma experiência verdadeiramente democrática. O prefeito Marcelo Candido teve a coragem de colocar na rua, às claras, a discussão do orçamento público, convidando o povo para escolher as prioridades para o investimento público. São diferenças político e ideológicas abissais que separam dois grupos políticos em Suzano.

Em tempo: A última plenária do OP deste ano será na terça-feira, 29 de maio, na EMEF José Celestino Sanches (Avenida Paulo Sampaio, 50 - Jardim Varan). Nos vemos lá.

OP na cidade de ebulição permanente

Em 2007, a cidade de Suzano experimenta o segundo ciclo do Orçamento Participativo, o OP. Por acreditar no povo de Suzano, o governo Marcelo Candido coloca participação popular como eixo e, por meio de diversas ações, convida a população para (re)construir a cidade das flores. Isso porque a cidade é resultado de um processo de permanente construção coletiva. Para o urbanista Lúcio Costa, “cidade é a expressão palpável da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca - numa determinada circunstância físico-social e num contexto histórico”. Para o geógrafo Milton Santos, “é a cidade lugar de ebulição permanente”.
O hino de Suzano canta os dizeres do urbanista e do geógrafo: a cidade das flores despertou de uma hibernação que durou cerca de 20 anos. Sentindo-se respeitada enquanto portadora de direitos, a população aceita os convites do governo municipal. No campo do planejamento orçamentário, começamos com ousadia discutindo o plano plurianual no 2o semestre de 2005, atingindo uma participação de 1.330 pessoas em 3 plenárias regionais. Em 2006, o 1o ciclo do OP mobilizou 1.486 pessoas nas 12 plenárias regionais deliberativas. Na última quinta-feira (10/5), o OP atingiu a 7a plenária, totalizando até agora 1.399 pessoas credenciadas. Comparando os dois ciclos do OP, constata-se um crescimento proporcional de aproximadamente 60% na participação popular.
Outro aspecto importante é a qualidade da participação. Conhecendo melhor o processo e o funcionamento das plenárias, a participação cresce também em intensidade. A população chega às plenárias mais organizada e, desta maneira, a participação é mais propositiva. Os grupos apresentam seus interesses e disputam nos argumentos e no poder de mobilização. Tudo é muito livre, transparente e democrático. Esse é o OP de Suzano (re)construindo a democracia.
Uma amiga psicanalista me disse que para Freud, saúde é amar e trabalhar. Fiquei pensando nisso. Lembrei-me de uma frase do Oscar Niemeyer: “o importante em todos os sentidos é a liberdade. Tem que haver fantasia, tem que haver uma solução diferente”.
A plenária da região sálvia foi muito interessante. Tinha algo diferente no ar. As pessoas estavam dispostas, bem humoradas, felizes. A equipe do governo, que trabalha na coordenação dos trabalhos durante as plenárias, estava muito à vontade. Governo e população se fundem e se confundem: socializam a responsabilidade de organizar interesses e governar nossa cidade. Juntos encontram soluções diferentes. O grupo que se envolve no OP é um grupo feliz, tem cabeça boa, está com saúde: o corpo pede festa. Afinal, envolvimento não se dá por decreto. É preciso sonho, fantasia. Amor e trabalho se fundem e se confundem. O riso é inevitável, é acontecimento, é expressão da vida. E o mais legal é acontecer em grupo, no coletivo. Que bom participar do OP em Suzano!
Realizaremos mais 5 plenárias. Fique atento ao calendário e participe da plenária na sua região. Nos vemos lá.

A maior plenária do OP de Suzano

Desde nosso último encontro nesta coluna quinzenal, aconteceram quatro plenárias do Orçamento Participativo em Suzano. Para fins da discussão sobre o orçamento público, a cidade de Suzano foi organizada em 12 regiões e, em cada uma delas ocorre uma plenária regional deliberativa. As plenárias são espaços onde o povo toma conhecimento do orçamento público municipal e aponta as prioridades que serão aprofundadas no conselho do OP, o CORPO, composto por 32 pessoas sendo 8 indicados pelo governo e 24 eleitos pela população.

Numa análise quantitativa, o OP cresce em Suzano. Realizadas quatro plenárias, constatamos que a participação popular no OP cresceu em 30%. Destaque para a região Bromélia que, na noite da última quinta-feira (26/4), reuniu 284 pessoas credenciadas e com direito a voto, o que representou um aumento de aproximadamente 150% em relação à plenária de 2006. Importante salientar que o direito a voto no OP exige duas condições muito simples: morar na região da plenária e possuir idade eleitoral. Outro destaque é a presença feminina, que, acompanhando a tendência do ano passado, continua notória.

Qualitativamente, o crescimento também é perceptível. Na região Bromélia, uma das prioridades eleitas foi a “delegacia da mulher” que, na minha modesta opinião, atende demandas do conjunto da cidade. O que chamou minha atenção foi a construção da proposta na plenária. Evidentemente, à medida em que a população conhece o método e experimenta o processo do OP, as articulações aumentam e a mobilização também. Os bairros chegam às plenárias, muito mais organizados e com acúmulo prévio de discussão. Contudo, a “delegacia da mulher” apareceu de forma espontânea. Aprovada na sala, foi votada novamente em plenária e, para surpresa de todos, foi eleita com expressivo apoio.

Inspiração popular no processo, na intensidade e na sabedoria demonstrada nas decisões. Transpiração do governo municipal para garantir que a plenária concluísse seus trabalhos. A EMEF Odário Ferreira da Silva, lotada, explodiu de energia no momento da votação. Esta foi a maior plenária da história do OP de Suzano.

O governo Marcelo Candido, no seu compromisso com a participação popular, amplia a democracia na cidade e convida a população para um OP dialógico. Para Paulo Freire, “ser dialógico é vivenciar o diálogo, não invadir nem manipular, tampouco impor. É empenhar-se na transformação constante da realidade”. E continua o educador, "o diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo (...) o transformam e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos”. Enfim, o OP de Suzano tem claramente um caráter pedagógico por concordar com o professor Paulo Freire que a educação é um ato político.

Temos ainda pela frente, 8 plenárias. Chame também seus vizinhos, parentes e amigos. Organize o pessoal do bairro, da igreja, da escola. Quanto mais gente, melhor!
Fique atento ao calendário e participe da plenária na sua região.
Nos vemos lá.

Suzano começa hoje o Orçamento Participativo 2007

Gosto muito dos textos do Rubem Alves. Depois de reler “A arte de produzir fome”, assisti novamente a dois filmes sugeridos no artigo: “A festa de Babette” (dinamarquês, dirigido por Gabriel Axel/1987) e “Como água para chocolate” (mexicano, dirigido por Alfonso Arau/1993). Lembrei-me também de “Chocolate” (dirigido por Lasse Hallström/2000) e “Temperos da vida” (grego, dirigido por Tassos Boulmetis/2003). E o Rubem tem razão: “os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome”. Segue dizendo que “toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto”.

Afeto vem do latim “affetare”: ir atrás. Para Alves, “é o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado”.

Neste ano continuamos firmes com os nossos sonhos de uma vida melhor em nossa cidade. Cada morador e cada moradora sonham viver em uma cidade cada vez melhor. Esse sonho coletivo é o que alimenta um governo comprometido com seu povo. Mas por que o sonho é tão importante?

Para o educador Romualdo Dias, o sonho ajuda a redefinir nossos objetivos, nos faz repensar o lugar onde queremos chegar. “Entre o lugar em que vivemos e o lugar que sonhamos existe uma distância. O sonho não nos deixa perder o rumo, nos sustenta enquanto caminhamos. O sonho dá a energia”. E o sonho coletivo aparece durante as discussões em cada uma das 12 plenárias do OP. Expressam nossos afetos com a cidade.

O OP é o movimento. A cidade das flores, uma cidade cada vez melhor, é o fruto sonhado. É o afeto e o Eros platônico. São a expressão de um povo que, aos poucos, se reconhece como portador de direitos e toma para si aquilo que é público. Um prefeito comprometido com o povo sonha uma cidade com vida, sonha com um povo feliz. Quando o povo participa, contribui, luta, expressa seu desejo de viver. A cidade é tomada pela energia. A cidade tem vida. Suzano, cidade viva.

Em Suzano o orçamento é participativo! Construir o orçamento municipal com a participação da população é uma opção política. Demonstra uma concepção política e ideológica. Sonhar com uma cidade viva certamente motivou o prefeito Marcelo Candido a realizar o OP e, mais do que isso, colocar “participação popular” como eixo de governo.

Algumas alterações no calendário adequaram melhor o ciclo de plenárias e hoje começa oficialmente o OP 2007. Esperamos que você aceite mais uma vez nosso convite. Chame também seus vizinhos, parentes e amigos, o pessoal do bairro, os colegas da escola. Quanto mais gente, melhor! Afinal, construir a cidade dos nossos sonhos é tarefa para muitos. Então, nos encontramos às 14 horas, no auditório do Centro de Educação e Cultura “Francisco Carlos Moriconi”, que fica na rua Benjamin Constant, 682, no centro de Suzano.

Fique atento também ao calendário e participe da plenária na sua região. Nos vemos lá.

Navegando na participação popular

O ano de 2007 é particularmente interessante para a participação popular em Suzano. Originado no histórico de lutas das forças progressivas da sociedade, a participação popular na construção de políticas públicas, programas e projetos, teve início antes mesmo do governo Marcelo Candido. Nesse contexto, sempre me vem à memória a experiência do programa de governo, vitorioso nas eleições municipais de 2004.

A construção coletiva do programa de governo aproximou os saberes populares, as experiências dos movimentos e a energia da militância na elaboração do caderno “diretrizes para o programa de governo” da frente reconstruindo Suzano, cuja expressão pública era o então candidato a prefeito Marcelo Candido. Milhares de pessoas participaram de reuniões e debates, em especial das 13 plenárias temáticas realizadas no espaço denominado “idéias no lugar”.

O desafio de implementar nosso programa apontou para cinco eixos de governo, dentre os quais o da participação popular, sustentado em alguns instrumentos. Nos conselhos são cerca de 1.500 vagas criadas até esse momento possibilitando à população conhecer, discutir e aprimorar o Estado e, ao mesmo tempo, permitem ao Estado ser reinventado pela força do poder instituinte. O plano diretor participativo, que permite à população planejar a cidade, seu crescimento e desenvolvimento para os próximos 10 anos. Sem contar as ações que visam a educação popular, como plenárias, audiências, reuniões públicas e o orçamento participativo (OP). Este último coloca na pauta a questão do dinheiro público e do planejamento orçamentário.

Com essa intencionalidade política, o prefeito Marcelo Candido descolou a discussão dos gabinetes para a praça pública e desencadeou um processo de compreensão da dimensão pública e de empoderamento popular. Assim, o povo veleja por mares nunca dantes navegados. A primeira onda foi o plano plurianual (PPA) que mobilizou mais de 5 mil pessoas para um tema complexo, pois, grosso modo, oficializa a implementação do programa de governo elaborando uma “carta náutica” que orienta nossa viagem durante os 4 anos do governo. Trata-se da primeira peça do planejamento orçamentário.

A segunda onda é a lei das diretrizes orçamentárias (LDO), esta anual que liga o PPA à 3a peça do planejamento: a lei do orçamento anual (LOA). A LDO é a bússola que ajuda a não desviar da rota, e a LOA o instrumento que materializa a execução do orçamento. E a elaboração da LOA em 2006 e em vigor durante este ano, de 1o de janeiro a 31 de dezembro, contém 14 itens decididos pelas 10 mil pessoas que participaram das reuniões preparatórias e plenárias deliberativas do OP, com os encaminhamentos finais do Conselho do OP, cujos representantes foram eleitos pela população presente nas 12 plenárias.

Estamos num momento delicado de nossa viagem. Iniciaremos brevemente o 2o ciclo do OP e, durante as plenárias de 2007, as decisões de 2006 estarão cumprindo o trâmite que leva aos procedimentos licitatórios, para contratação das obras e/ou serviços, obedecendo às exigências legais. A partir de agora, o CORPO iniciará o acompanhamento das ações internas ao governo. Para tanto, é preciso aprofundar o conhecimento deste complexo mundo da execução orçamentária. Grande desafio que enfrentaremos com verdade, transparência e responsabilidade coletiva.

E é assim mesmo. Imaginem o que foi cruzar o oceano atlântico em três caravelas com os recursos de navegação de 500 anos atrás?

Começa o 2o ciclo do Orçamento Participativo

Às 9 horas do dia 29 de março, no Centro de Educação e Cultura “Francisco Carlos Moriconi”, tem início oficialmente o Orçamento Participativo 2007. Trata-se de um importante instrumento de participação popular que, desde o ano passado, aprimora as decisões da Prefeitura de Suzano.

Experiência inédita no Alto Tietê, o OP coloca outro paradigma no planejamento orçamentário. Suzano é o único município da região que adota o OP, porque cabe ao poder executivo a iniciativa do projeto de lei do orçamento anual. Orçamento é o dinheiro público vindo dos impostos e taxas pagos pelo povo. Portanto, é dinheiro do povo. Ora, se é dinheiro do povo por que só o prefeito e sua equipe decidem como e onde investir o dinheiro que é do povo? Prefeito é um sujeito escolhido pelo povo para, em nome do povo, cuidar da cidade usando o dinheiro do povo. Assim, a opção política pelo OP demonstra coerência, ousadia e coragem do prefeito Marcelo Candido.

Um bom OP deve ser rico no processo. Riqueza no processo significa, grosso modo, democratização das informações, preocupação pedagógica e cuidado com as questões subjetivas. Na perspectiva do encontro, governo e população aproximam seus saberes e, nessa riqueza, um se permite afetar pelo conhecimento do outro. Esse encontro deve ser generoso, deve criar vínculos e, a cada novo encontro, fortalecer esses vínculos. Afinal, se a cidade é de todos, é coletiva a responsabilidade de torna-la um lugar melhor para se viver.

Um bom OP deve ser bem-sucedido nos resultados. Do ponto de vista mais objetivo, as decisões populares que compõem o Plano de Investimentos devem ser executadas durante o ano de execução do orçamento. Plano de Investimentos é o conjunto de ações (obras públicas ou programas) que o Conselho do OP entrega ao prefeito para que ele incorpore à LOA. O cumprimento desse acordo político, verdadeiramente democrático, garante uma relação transparente e crível. Digo democrático, porque o OP desloca os debates e as decisões dos gabinetes palacianos para a praça pública e isso não é tranqüilo. É permanente a tensão dos setores mais reacionários e conservadores para quem as estruturas verticalizadas e hierarquizadas de poder, e suas conseqüentes relações de subordinação, são as mais interessantes.

Riqueza do processo sustenta sucesso nos resultados e vice-versa. Em levantamento recente, Rogério da Silva que sabiamente vive “di boa”, concluiu serem cerca de 1.500 vagas de conselheiros criadas na legislação. O raciocínio acima descrito serve para outros instrumentos de participação popular (de maior ou menor intensidade) nas decisões do governo e na formulação de políticas públicas. Falando um pouco de sua experiência à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o professor Paulo Freire destaca no livro “À sombra desta mangueira” a necessidade de “estar com”. Na esteira do professor, penso que: formular com é diferente de formular para; construir com é diferente de construir para. Certamente a preposição “com” seja mais apropriada para quem se deseja democrático, popular e participativo.

O despertar da Cidade das Flores permite que agora o povo participe das decisões. Com todas as dificuldades, Suzano está construindo a democracia.

Participação popular e a cultura política local

A cidade de Araraquara sediou, no dia 24 de fevereiro, um importante debate sobre participação popular. Com enfoque regional, o curso intitulado “Participação Popular: Mudança da Cultura Política Local” foi organizado pela Coordenadoria de Participação Popular de Araraquara em parceria com a Coordenação do Orçamento Participativo (OP) de São Carlos e o Fórum Paulista de Participação Popular. Conforme o relatório que foi produzido sobre a atividade e compartilhado com outras prefeituras que integram o Fórum Paulista de Participação Popular, incluindo a de Suzano, 15 municípios participaram da iniciativa.

Durante a abertura do curso, o prefeito de Araraquara Edinho Silva abordou a relação entre o OP e os conselhos municipais instituídos. Ele enfatizou que o OP inova as relações de poder na cidade e se institui como importante ferramenta na inversão das prioridades da gestão. “O grande desafio do OP é, de fato, a população entender que o processo não é apenas para a escolha de obras. O desafio é que tenham a consciência de que a cidade não pode ser dirigida apenas por aqueles que têm o poder formal”, acrescentou o prefeito.

O desafio é de transformar as concepções, afinal esse processo só pode ser construído a partir de pessoas comprometidas com a transformação social e com o poder popular. Para isso, contudo, não basta apenas vontade, é necessária uma metodologia pedagógica. Um método capaz de decifrar as expectativas e um esforço de tradução (debate aprofundado pelo sociólogo português Boaventura de Souza Santos) e uma linguagem que aproxima as realidades e democratiza a máquina estatal.

Outro eixo da discussão foi o da representação. Afinal, a ampliação da democracia exige socialização das informações, construção de processos participativos e requer ainda construção de redes articuladas de participação popular. O pano de fundo é a descentralização do poder.

Falando pelo Fórum Paulista de Participação Popular, o coordenador do OP de São Carlos Rosoé Francisco Donato destacou a proposição de um projeto de lei de iniciativa popular junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo tratando da implementação do Orçamento Participativo estadual.

A última fala da mesa foi a do Coordenador de Participação Popular da Prefeitura de Araraquara Edmilson de Nola Sá. Para ele, encontros desse tipo são importantes para aproximar as cidades e suas experiências de participação popular. Segundo ele, a dedicação de todos na atividade faria a participação popular ganhar novos horizontes e perspectivas de desenvolvimento regional.

Na tarde de debates foram três grupos de trabalho que discutiram a “representatividade”, “conselhos municipais” e “OP como ferramenta de gestão e planejamento”.

Suzano tem participado dos debates no Fórum Paulista de Participação Popular e já manifestou o interesse em sediar formações como a descrita neste artigo considerando, evidentemente, nossa cultura política experimentada no OP. Construir a democracia é tarefa longa trabalhosa. Que dirá reinventá-la.

A festa do CORPO

Na noite de 15 de fevereiro, o conselho do orçamento participativo (CORPO) se reuniu na Emef Antonio Marques Figueira. Mais um encontro animado com a presença de vários conselheiros, suplentes e representantes das diversas regiões da cidade de Suzano, além dos conselheiros que representam o governo. Na pauta, a preparação do ciclo 2007 do orçamento participativo, que exige uma metodologia participativa de planejamento, termo tão esgarçado nos dias de hoje. Por planejamento se entende tudo, já ouvi até a comparação, para fins didáticos é claro, a um plano de vôo. Exemplo que, aliás, exprime uma compreensão limitada de coletivos, uma vez que na cabine, além do piloto ficam mais uma ou duas pessoas enquanto a maioria é conduzida na condição de meros passageiros. Importante destacar que a última reunião de 2006 avaliou o OP, deu o pontapé inicial do planejamento que destacamos neste artigo.

Antecipando o carnaval, o conselheiro Pedro chegou com seu “trio elétrico” (uma bicicleta equipada com som), contagiando os demais que esperavam para dar início à reunião. O riso e a alegria do reencontro contagiaram de vez, quando Paulo e Barroso caíram na dança, afinal foram semanas de recesso. Na minha opinião, o CORPO de 2006 é um ótimo exemplo de convívio respeitoso entre contraditórios, de delegação do poder de decidir, de que o trabalho em grupo é mais acertado e mais rico.

O início formal da reunião, digo formal por entender que o trabalho é permanente para esse grupo que não se cansa de demonstrar o compromisso e o afeto com a cidade de Suzano, se deu com os informes e a leitura da pauta. Representando a Secretaria Municipal de Saúde, Creuza dos Santos convidou o CORPO para as atividades do carnaval, especialmente para participarem do Bloco da Prevenção. O simples encontro do CORPO é uma festa. Não vejo a hora de encontrar o CORPO nas festas de carnaval. Definimos o calendário do OP 2007, as escolas que sediarão as plenárias regionais deliberativas e ajustes no agrupamento dos bairros e loteamentos que compõem cada uma das reuniões. Assim se desenha coletivamente o OP 2007.

Quanto ao carnaval, para o antropólogo Roberto DaMatta, o carnaval brasileiro seria um ritual de inversão, onde as hierarquias se apagam: o pobre fantasia-se de príncipe, o homem de mulher e assim por diante. No carnaval, contrariando o projeto social, as leis são mínimas: "É o folião que conta. É o folião que decidirá de que modo irá ‘brincar’ o Carnaval".(DaMatta, 1978:93). Quando a pessoa está feliz, o corpo pede festa. Nosso CORPO está feliz, nossa cidade está em festa. Brinque o carnaval, cidade das flores. Motivos para comemorar é o que não faltam.

Saúde, qualidade de vida e participação popular

No dia 1º de fevereiro, aconteceu a reunião pública “Saúde em Suzano – Avanços e Perspectivas”. A atividade reuniu mais de 500 pessoas, entre trabalhadores da saúde, agentes comunitários do programa saúde da família, usuários do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), lideranças de bairro e conselheiros do Orçamento Participativo (OP).

A reunião começou com um texto sobre flores, jardim, cultivo e cuidado. Na melhor acepção da palavra, o cuidado como ato de carinho, de promoção da saúde, de ampliação da vida.

Em seguida, a Secretária Municipal de Saúde, Célia Cristina Pereira Bortoletto, prestou contas das conquistas dos últimos dois anos e falou de desafios para 2007. No eixo da participação popular são avanços a realização da Conferência Municipal de Saúde e a eleição do atuante Conselho Municipal de Saúde. A criação dos conselhos gestores de unidade de saúde aponta para uma relação diferente entre o usuário e o prestador do serviço de saúde, o que ganha relevância quando suportado num programa de formação para os conselheiros. Por meio desses mecanismos, população, trabalhadores e gestores passam a discutir e construir soluções para os problemas encontrados.

Em cumprimento ao compromisso assumido no OP, o planejamento da Secretaria aponta para a construção e reforma de várias unidades e ampliação do horário de atendimento em outras.

Estar doente exprime a tragédia do viver. Nos coloca diante das nossas fragilidades, nos demonstra os limites do corpo e torna presente a certeza inexorável da morte. Ter saúde é estar pronto para a festa. Quando se está feliz, a cabeça está boa, o corpo pede festa. Assim, o ato de comemorar normalmente implica em comer, beber, cantar, dançar. Cuidar das pessoas é permitir a expansão da vida. Muitos governos em Suzano trabalhavam a saúde pública exclusivamente na perspectiva de curar as doenças, o que não passa de obrigação. Para mim, o desafio de um governo comprometido com o povo é permitir a expansão da vida nas suas mais diversas formas de manifestação.

A saúde pública em Suzano caminha para a consolidação do modelo preventivo, que se antecipa às doenças e promove a saúde das pessoas, superando o antigo modelo centrado na doença. Esse entendimento reorienta o investimento público, uma vez que educação, cultura, esporte, lazer promovem a saúde e, saudável, a pessoa pode, dentre outra coisas, participar do OP e decidir como melhorar ainda mais sua cidade e sua vida. A Praça Cidade das Flores, por exemplo, representa melhoria na qualidade de vida: um espaço público pode ser um “areião” destinado ao estacionamento de carros ou um lugar bonito e agradável onde as pessoas possam se integrar, passear, se encontrar e se divertir.

Desta maneira, qualidade de vida e participação popular, mais do que eixos do governo representam transformações efetivas na vida das pessoas.

“O silêncio é o começo do papo”

Durante o mês de dezembro, a Prefeitura de Suzano publicou e divulgou o caderno “População define investimentos públicos”. Nele está descrito o processo do Orçamento Participativo durante o ano 2006: reuniões preparatórias, plenárias regionais deliberativas, assembléia geral, o CORPO (conselho do OP), a caravana do OP, conselheiros, suplentes e o ‘plano de investimentos’. A publicação é bem interessante e, por essa razão, quero chamar a atenção para alguns aspectos.

O caderno tem basicamente dois objetivos: registrar momentos históricos do despertar da cidade das flores para a participação popular e socializar o OP enquanto uma experiência inédita na região do Alto Tietê. Para o prefeito de Suzano, Marcelo Candido, mais do que um relatório, trata-se do retrato de uma história que começou a ser escrita na cidade: “São os primeiros resultados de um processo de participação popular que inauguramos em Suzano”. E é sempre bom lembrar que construir a lei do orçamento anual com a metodologia participativa por meio do OP é opção política, é acreditar na ampliação da democracia.

O caderno é rico em imagens. São belas as fotos que demonstram parte daquilo que realmente aconteceu. São pessoas de diversas origens, olhares curiosos, encantados e encantadores. Sorrisos de homens e mulheres demonstrando a ebulição das emoções, a efervescência dos corpos, a energia que, no encontro com o outro, constrói um ambiente favorável para a reconstrução da cidade das flores. Nas votações, os reais mandatários do poder decidem o que fazer na cidade (todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição).

O caderno é rico em depoimentos. São frases de vários artistas: Arnaldo, Marcelo, Gonzaga, Célia, Maria, Tereza, Roberto, Waldineide, Albertina, José, Guerreiro, Wladimir, Elaine, Kátia, Gicélia, Francisco e Antunes. Na sua simplicidade, essas pessoas rompem o silêncio, doam o melhor de si e se unem num movimento de construção da vida melhor para todos.

O caderno é rico em provocações. Começa com uma página em vermelho e a frase “o silêncio é o começo do papo”: a participação popular rompe o silêncio de décadas. Termina com “o desejo é o começo do corpo”. O OP se alimenta no desejo incontrolável de construir a cidade dos nossos sonhos, fazendo de Suzano um lugar cada vez melhor para se viver. Esse desejo está cristalizado na cultura local. Aliás, as duas frases estão numa música do Arnaldo Antunes chamada “Cultura”.

Se você ficou curioso para conhecer o caderno, procure o conselheiro do OP da sua região ou a Secretaria Municipal de Governo que fica no 1º andar do paço municipal.

Em Suzano o orçamento é um documento com vida

No final de 2006 a Câmara de Suzano aprovou a Lei do Orçamento Anual (LOA). A novidade é que pela primeira vez na história de Suzano e do Alto Tietê, povo escreve a LOA junto com os técnicos e agentes políticos. Demonstração de coragem do prefeito Marcelo Candido, a opção política por uma metodologia participativa e popular na elaboração da LOA representa conquistas efetivas para a população e alarga a democracia na cidade.

Importante lembrar que 7.998 pessoas participaram nas 250 reuniões preparatórias, 1.486 pessoas participaram nas 12 plenárias regionais deliberativas, credenciadas e com direito a voz e voto. O conselho do OP é composto por 32 conselheiros(as) sendo 24 eleitos pela população e 8 indicados pelo governo. É papel do conselho, definir o ‘plano de investimentos’ que é o conjunto das obras e ações a serem incluídas na LOA, somando R$ 7.388.707,00 de um total de aproximadamente R$ 47 milhões referente à parcela de investimento. Um processo que na sua primeira edição mobiliza 3,7% da população e define 15% do investimento é, não canso de repetir, ousado e inédito.

Evidentemente uma ação dessa grandeza desagrada muita gente conservadora. Dizer que o governo destinou apenas 2% do orçamento para atender às demandas do OP é desconhecer a peça orçamentária uma vez que ignora os ‘custos fixos’ como folha de pagamento, repasse para o legislativo entre outros. Talvez seja mais uma demonstração da fúria oposicionista. O OP possibilita o conhecimento da cidade como um todo e o entendimento de que a cidade é de todos, descortina a prefeitura e as finanças públicas, socializa o saber técnico, torna a população ciente de seus direitos e deixa os políticos sob constante vigilância. O OP é premiado como das melhores inovações democráticas das últimas décadas e está em várias cidades do mundo. Será por isso que os “(neo)coronéis” desqualificam ? será por isso que os “coronéis”, esses que suspiram um pouquinho fora da catacumba, nunca permitiram um exercício democrático como esse ?

Queiram ou não, Suzano está construindo a democracia: o OP rompe com as velhas práticas, gesta um outro jeito de fazer política e possibilita a construção de um orçamento que materializa decisões coletivas e inverte prioridades. Essa é a novidade: fazer mais do que uma peça técnica, um documento com vida.

Diante da polêmica em torno da votação da LOA e as críticas dirigidas ao OP e rebatidas por alguns conselheiros, quero destacar a opinião deste jornal publicada no dia 2 de janeiro sob o título “A cidade é sua”. Essa idéia de responsabilidade permite uma compreensão da esfera pública, daquilo que é de todos nós e, portanto, requer cuidado e atenção. Ao ler o texto me dei conta de que miopia política não é contagiosa. Melhor começar o ano assim.

Por um pouco de poesia

Neste último artigo de 2006, peço licença para brindar o ano novo com um texto provocativo. Embora paire uma controvérsia em relação à autoria da obra, por muitos creditada ao poeta gaúcho Mario Quintana e por outros assegurada à escritora Martha Medeiros, o conteúdo é da melhor qualidade e nos faz refletir sobre nossas existências. Decerto não terá nesse detalhe a redução na importância da mensagem.

FELICIDADE REALISTA
A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser
magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:
queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa 5 estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos
conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar
pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente
apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes
inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos
sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o
que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você
pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um
parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando
se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção.
Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se
sentir seguro, mas não aprisionado.
E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,
buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e
um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato,
amar sem almejar o eterno.
Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,
instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde
só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas
desta tal competitividade.
Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as
regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo.
Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a
felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir
embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não
sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.
Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...

A avaliação do Orçamento Participativo em Suzano

Em nosso último encontro, discutimos o início do processo de avaliação do OP em Suzano. Durante a manhã deste sábado, acontece a segunda etapa com a reunião do Fórum dos Representantes (grupo formado por conselheiros e representantes eleitos nas 12 plenárias regionais deliberativas). Essa população de aproximadamente 90 pessoas é responsável por concluir a avaliação que aponta para a construção do OP 2007.

Avaliar é observar um dado momento, percebendo sua proximidade ou distância do projeto que almejamos construir. Processos de avaliação são momentos coletivos, participativos, livres para a crítica e, fundamentalmente, espaços de formulação dos próximos passos. É relembrar os pressupostos de nossas ações e planejar o futuro.
Nesse sentido, a avaliação do OP de Suzano é o momento de analisar o processo vivido, percebendo uma das formas que a participação popular se realiza em nossa cidade.

São muitos os sujeitos que construíram (e ainda constroem) essa história e diversos são os olhares que a compõem no enorme esforço de fazer sínteses das divergências. Buscando alargar a democracia na forma de gerir a cidade, dividindo a responsabilidade de responder aos problemas existentes e resgatando o sonho de viver em uma cidade cada vez melhor. Os sentidos se deslocam do particular para o coletivo, do bairro para a cidade. É o povo transformando a cidade e se transformando com a cidade.

Durante as duas últimas semanas, conselheiros e conselheiras do OP organizaram reuniões nas suas respectivas regiões para informar sobre os trabalhos desenvolvidos pelo CORPO (conselho do OP), prestar contas das decisões contidas no plano de investimento, explicar o processo de avaliação do OP e fomentar a participação de todos. Afinal, tanto melhor será o OP quanto mais plural e diversa a observação da história que se constrói. Acompanhamos as reuniões e percebemos quanta coisa boa o OP propiciou às pessoas.

Com a avaliação do OP e com a votação da Lei Orçamentária Anual 2007 que deve ocorrer nos próximos dias na Câmara Municipal, encerramos uma etapa importante desse processo. Seguramente há muito a ser revisto, mantido, aprofundado, aprimorado e incorporado. E essa experiência deve ser feita com participação e criatividade. “Antes de mais nada a gente tem que se sentir orgulhoso, porque o OP vai servir de modelo para os conselhos gestores da saúde”, advertiu Valter de Souza, conselheiro da Região Bromélia.

E é desse processo que resultará a organização e planejamento do ciclo 2007.     

Bem, agradecendo às inúmeras manifestações de apoio recebidas pelo último artigo, encerro novamente com saudações tricolores...