Sustentabilidade e cuidado: um caminho a seguir

Há muitos anos, venho trabalhando sobre a crise de civilização que se abateu perigosamente sobre a humanidade. Não me contentei com a análise estrutural de suas causas, mas, através de inúmeros escritos, tratei de trabalhar positivamente as saidas possíveis em termos de valores e princípios que confiram real sustentatibilidade ao mundo que deverá vir. Ajudou-me muito, minha paricipação na elaboração da Carta da Terra, a meu ver, um dos documentos mais inspiradores para a presente crise. Esta afirma:”o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal”.
Dois valores, entre outros, considero axiais, para esse novo começo: a sustentabilidade e o cuidado.
A sustentabilidade, já abordada no artigo anterior, significa o uso racional dos recursos escassos da Terra, sem prejudicar o capital natural, mantido em condições de sua reprodução, em vista ainda  ao atendimento das necessidades das gerações futuras que também têm direito a um planeta habitável.
Trata-se de uma diligência que envolve um tipo de  economia respeitadora dos limites de cada ecossistema e da própria Terra, de uma sociedade que busca a equidade e a justiça social mundial e de um meio ambiente suficientemente preservado para atender as demandas humanas.
Como se pode inferir, a sustentabilidadae alcança  a sociedade, a política, a cultura,  a arte,  a natureza, o planeta e a vida de cada pessoa. Fundamentalmente importa garantir as condições físico-químicas e ecológicas que sustentam a produção e a reprodução da vida e da civilização. O que, na verdade, estamos constatando, com clareza crescente, é que o nosso estilo de vida, hoje mundializado, não possui suficiente sustentabildade. É demasiado hostil à vida e deixa de fora grande parte da humanidade. Reina uma perversa injustiça social mundial com suas terríveis sequelas, fato geralmente esquecido quando se aborda o tema do aquecimento globl.
A outra categoria, tão importante quanto a da sustentabilidade, é o cuidado, sobre o qual temos escrito vários estudos. O cuidado representa uma relação amorosa, respeitosa e não agressiva para com a realidade e por isso não destrutiva. Ela pressupõe  que os seres humanos são parte da natureza e membros da comunidade biótica e cósmica com a responsabilidade  de protege-la, regenerá-la e cuidá-la. Mais que uma técnica, o cuidado é uma arte, um paradigma novo de relacionamento para com a natureza, para com a Terra e para com os humanos.
Se a sustentabilidade representa o lado mais objetivo, ambiental, econômico e social da gestão dos bens naturais e de sua distribuição, o cuidado denota mais seu lado subjetivo: as atitudes, os valores éticos e espirituais que acompanham todo esse processo sem os quais a própria sustentabilidade não acontece ou não se garante a médio e longo prazo.

Sustentabilidade e cuidado devem ser assumidos conjutamente para impedir que a crise se transforme em tragédia e para conferir eficácia às praticas que visam a fundar um novo paradigma de convivência ser-humano-vida-Terra. A crise atual, com as severas ameaças que globalmente pesam sobre todos, coloca uma improstergável indagação filosófica: que tipo de seres somos, ora capazes de depredar a natureza e  de por em risco a própria sobrevivência como espécie e ora de cuidar e de responsabilizar-nos pelo futuro comum? Qual, enfim, é nosso lugar na Terra e qual é a nossa missão? Não seria a de sermos os guardiães e e os cuidadores dessa herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram que é esse Planeta, vivo, que se autoregula, de cujo útero todos nós nascemos?

É aqui que, novamente, se recorre ao cuidado como uma possível definição operativa e essencial do ser humano. Ele inclui um certo modo de estar-no-mundo-com-os-outros e uma determinada práxis, preservadora da natureza. Não sem razão, uma tradição filosófica que nos vem da antiguidade e que culmina em Heidegger e em Winnicott defina a natureza do ser humano como um ser de cuidado. Sem o cuidado essencial ele não estaria aqui nem  o mundo que o rodeia. Sustentabilidade e  cuidado, juntos,  nos mostram um caminho a seguir.
Leonardo BoffTeólogo/Filósofo

 

depoimento do Eduardo Galeano

este mundo está grávido de um outro mundo.
a gravidez é difícil, o parto será difícil.
estamos gestando um mundo novo e bem melhor.
outro mundo é possível.

O coletivo Juarez Braga




É sempre bom lembrar / Que um copo vazio / Está cheio de ar. Assim começa a canção Copo vazio que Chico Buarque gravou no disco Sinal Fechado de 1974, seu primeiro disco como intérprete. Com canções de Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho e outros, destaca-se a doce canção O filho que eu quero ter de Toquinho e Vinicius de Moraes. A única exceção é Acorda amor, de Leonel Paiva e Julinho da Adelaide. Julinho, pseudônimo do próprio Chico, manobra para driblar a rigorosa perseguição que sofria da censura. O sinal estava fechado para Chico!


Copo vazio é de Gilberto Gil. "Eu estava em casa, sentado no sofá, já de madrugada. Tinha tomado um copo de vinho no jantar, e o copo estava sobre a mesa. Pensando no que é que eu ia fazer pro Chico, de repente vi o copo vazio e concentrei o olhar nele: O copo está vazio, mas tem ar dentro”, disse Gil. A canção continua: ‘Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho / Que o vinho busca ocupar o lugar da dor / Que a dor ocupa a metade da verdade / A verdadeira natureza interior / Uma metade cheia, uma metade vazia / Uma metade tristeza, uma metade alegria...


Esta se organizando em Suzano o Coletivo Juarez Braga. Seu manifesto de fundação fala de avanços imateriais com a ampliação da democracia e da participação popular, do orçamento participativo, dos conselhos gestores e institucionais, da gestão pública transparente e do combate à corrupção. Fala da cidade concreta, das políticas de Cultura, da ampliação das redes de saúde e de educação, do serviço público de qualidade. Fala da superação definitiva da política do favorzinho que durante décadas prevaleceu em Suzano. Apóia e defende o governo Marcelo Candido, o melhor governo da história de Suzano, e do governo Dilma Roussef. Um coletivo político que se pretende amplo, suprapartidário, com foco no debate e na formação política permanente.


Juarez Braga nasceu em 26 de novembro de 1930. Passou a infância com os seis irmãos na fazenda onde os pais trabalhavam. Influenciado pelo pai, tomou contato com os livros. Ingressou no Partido Comunista Brasileiro, impôs-se um auto-exílio após o golpe militar de 1964. Com o objetivo de auxiliar na formação político-pedagógica de jovens e adolescentes, aos 64 anos de idade Juarez ingressou no curso de Filosofia da USP. Desde 2005, auxiliava na implantação da ‘gestão democrática na educação’ junto à Secretaria Municipal de Educação de Suzano onde permaneceu até seus últimos dias.


O material de divulgação do Coletivo mostra um Juarez sorridente e dois copos vazios sobre a mesa. Partilhamos várias vezes o vinho com ele, enchendo nossos copos com sua bebida predileta e com profundas reflexões. Um coletivo político com seu nome irá, certamente, encher muitos copos com nossa alegria e nossa dor, com nossa tristeza e nossa verdade. Não com uma verdade absoluta, mas com um processo de construção coletiva das análises e das formulações. E principalmente, com uma prática política renovada, cada vez mais democrática e participativa. Justa homenagem a um homem ético que adorava a vida, os livros, a música, as pessoas e lutava por uma sociedade justa e igualitária.


No dia 10/6, às 18h30 no Sindicato da Construção Civil, estaremos juntos para homenagear o saudoso Juarez Braga, do jeito que ele tanto gostava: discutindo, debatendo, fazendo política no melhor sentido da palavra. Com um pouco de música também, afinal agora o sinal está aberto...


Ivan Rubens Dário Jr e Luis Claudio Messa Longo


Publicado no Jornal Diário de Suzano em 07/junho/2011





Manifesto de fundação do coletivo Juarez Braba

Assinaturas em apoio à criação do coletivo Juarez Braga

Notas de apoio

COPO VAZIO - Gilberto Gil
 


O FILHO QUE EU QUERO TER - Toquinho e Vinícius
  

Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo?


Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo



É de bom tom hoje falar de sustentabilidade.  Ela serve de etiqueta de garantia de que a empresa, ao produzir, está respeitando o meio ambiente. Atrás desta palavra se escondem algumas verdades mas também  muitos engodos. De modo geral, ela é usada como adjetivo e não como substantivo. 
Explico-me: como adjetivo é agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza da coisa. Exemplo: posso diminuir a poluição química de uma fábrica, colocando filtros melhores em suas  chaminés que vomitam gases. Mas a maneira com que a empresa se relaciona com a natureza donde tira os materiais para a produção, não muda; ela continua devastando; a preocupação não é com o meio ambiente mas com o lucro e com a competição que tem que ser garantida. Portanto, a sustentabilidade é apenas de acomodação e não de mudança; é adjetiva, não substantiva.
Sustentabilidade como substantivo exige uma mudança de relação para com a natureza, a vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da realidade. A Terra está viva e nós somos sua porção consciente e inteligente. Não estamos fora e acima dela como quem domina, mas dentro como quem cuida, aproveitando de seus bens mas respeitando seus limites. Há interação entre ser humano  e natureza. Se poluo o ar, acabo adoecendo e reforço o efeito estufa donde se deriva o aquecimento global.  Se recupero a mata ciliar do rio, preservo as águas, aumento seu volume e melhoro minha qualidade de vida, dos pássaros e dos insetos que polinizam as ávores frutíferas e as  flores do jardim.
Sustentabilidade como substantivo acontece quando nos fazemos responsáveis pela preservação da vitalidade e da integridade dos ecossistemas. Devido à abusiva exploração de seus bens e serviços, tocamos nos limites da Terra. Ela não consegue, na ordem de 30%, recompor o que lhe foi tirado e roubado. A Terra está ficando,  cada vez mais pobre: de florestas, de águas, de solos férteis, de ar limpo e de biodiversidade. E o que é mais grave: mais empobrecida de gente com solidariedade, com  compaixão, com respeito, com cuidado e com amor para com os diferentes. Quando isso vai parar?
A sustentabilidade como substantivo é alcançada no dia em que mudarmos nossa maneira de habitar a Terra, nossa Grande Mãe, de produzir, de distribuir, de consumir e de tratar os dejetos. Nosso sistema de vida está morrendo, sem capacidade de resolver os problemas que criou.  Pior, ele  nos está matando e ameaçando todo o sistema de vida. 
Temos que reinventar um novo modo de estar no mundo com os outros, com a natureza, com a  Terra e com a Última Realidade. Aprender a ser mais com menos e a satisfazer nossas necessidades com sentido de solidariedade para com os milhões que passam fome e com o futuro de nossos filhos e netos. Ou mudamos, ou vamos ao encontro de previsíveis tragédias ecológicas e humanitárias.
Quando aqueles que controlam as finanças e os destinos dos povos se reunem, nunca é para discutir o futuro da vida humana e a preservação da Terra. Eles se encontram para tratar de dinheiros, de como salvar o sistema financeiro e especulativo, de como garantir as taxas de juros e os lucros dos bancos. Se falam de aquecimento global e de mudanças climáticas é quase sempre nesta ótica: quanto posso perder com estes fenômenos? Ou então, como posso ganhar comprando ou vendendo bonus de carbono (compro de outros paises licença para continuar a poluir)? A sustentabilidade de que falam não é nem adjetiva, nem substantiva. É pura retórica. Esquecem que a Terra pode viver sem nós, como viveu por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela.
Não nos iludamos: as empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade socio-ambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja ameaçada. Portanto, nada de mudanças de rumo, de relação diferente para com a natureza, nada de valores éticos e espirituais. Como disse muito bem o ecólogo social uruguaio E. Gudynas: “a tarefa não é pensar em desenvolvimento alternativo mas em alternativas de desenvolvimento”. 
Chegamos a um ponto em que não temos outra saída senão fazer uma revolução paradigmática, senão seremos vítimas da lógica férrea do Capital que nos poderá levar a um fenomenal impasse civilizatório. 



Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo


Conselheiros têm formação com Leonardo Boff

Jornal Diário de Suzano em 2009.
Matéria publicada na edição: 8274  
Gabriele Doro

DA REPORTAGEM LOCAL

Durante um evento de formação, na noite de ontem, o teólogo Leonardo Boff falou sobre a importância de construir escolas participativas. O evento, realizado no Complexo Educacional Mirambava, teve como tema “Participação popular é garantir direitos”. O intuito foi de proporcionar conhecimento para os 750 conselheiros municipais da educação

Desde quando foi formado em 2005, a Prefeitura procura proporcionar formação aos escolhidos para compor o conselho. “Este é o quinto ano que fazemos à formação dos conselhos. Desde o primeiro que foi formado avançamos muito no que estamos oferecendo”, comentou o prefeito Marcelo Candido (PT) que participou do evento.

Boff procurou abordar diversos temas com os educadores para que uma discussão ampla pudesse ser feita. “Temos que mostrar a necessidade de enriquecer nossa democracia em duas frentes. A primeira é de mostrar a democracia representativa e participativa. Já, a segunda frente é criar a consciência ecológica e ambiental”.

Antes de passar a formação aos educadores, Boff deu entrevista à imprensa no gabinete de Candido. Para ele, o ideal é que os estudantes pudessem ficar em tempo integral nas escolas. “O problema é em que estratégia vai manter os alunos na escola. Não devemos deixá-los por tempo integral só por deixar. O importante é que tudo seja educativo e que o aprendizado seja múltiplo. Que não privilegie somente uma inteligência”.

Candido afirmou que dentro do que foi exposto por Boff é importante ressaltar que os conselheiros, em Suzano, tem o poder de decisão. “Eu acho muito importante isto que o Leonardo Boff disse que a obrigação dos conselheiros é trazer a vida para dentro das escolas. Mesmo porque muitas vezes a escola é um ente distante, embora muitas vezes presente. A partir do momento que os conselhos podem decidir o destino da escola, nós damos um salto”.

CONSELHOS O Conselho de Escola tem como principais atribuições discussão e deliberação sobre questões de natureza administrativa, pedagógica e financeira nas unidades escolares. O processo eleitoral proposto tem por objetivo realizar uma ampla, transparente e democrática consulta aos segmentos de pais, responsáveis, alunos, professores e funcionários para sua composição.

Cerca de 12 mil pessoas participaram ao longo do mês de abril do processo eleitoral que definiu a composição dos Conselhos de Escola, sendo pouco mais de 10 mil da rede usuária, 900 professores e 730 funcionários. O resultado foi a eleição de 753 conselheiros e 311 suplentes.

Detalhes no sítio do Jornal Diário de Suzano

Conheço um homem...


Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Esbelto, de figura elegante, sempre fumando seu palheiro, ele foi um desbravador. Quando os colonos italianos não tinham mais terras para cultivar na Serra Gaúcha, eles, em grupo, emigraram para o interior de Santa Catarina, para as terras de Concórdia, notória por ser a sede das mais conhecidas empresas de carnes do pais, a Sadia e a Perdigão. Não havia nada, exceto alguns caboclos, sobreviventes da guerra do Contestado e grupos de indígenas kaigan. Reinavam os pinheirais, soberbos, a perder de vista.

Os colonos italianos vieram, organizados em caravanas, trazendo seu professor, seu puxador de reza e uma imensa vontade de trabalhar e de fazer a vida a partir do nada. Ele estudara vários anos com os jesuitas de São Leopoldo e acumulara vasto saber humanístico. Sabia latim e grego e lia em linguas estrangeiras. Viera para animar a vida daquela povera gente. Era mestre-escola, figura de referência e respeitadíssimo. Dava aulas de manhã e de tarde. À noite ensinava português para colonos que só falavam em casa italiano e alemão. Ao lado disso, abriu uma escolinha com os mais inteligentes para formá-los como guarda-livros para fazer a contabilidade das bodegas e vendas da região.

Como os adultos tinham especial dificuldade em aprender, usou um método criativo. Fez-se representante de uma distribuidora de rádios. Obrigava cada família a ter um rádio em casa e assim aprender o “brasilian” ouvindo programas em português. Montava cataventos e pequenos dínamos onde havia uma cascata para que pudessem recarregar as baterias. Como mestre-escola era um Paulo Freire avant la lettre. Conseguiu montar uma biblioteca de dois mil livros. Obrigava cada familia a levar um livro para casa, lê-lo e no domingo, depois da reza do terço em latim, formava-se uma roda onde cada um contava em português o que havia lido e entendido. Nós, pequenos, ríamos, a mais não poder, pelo português ruim que falavam. Não ensinava apenas o básico, mas tudo o que um colono devia saber: como medir terras, como devia ser o telhado do paiol, como tirar os juros, como cuidar da mata ciliar e tratar os terrenos com grande declive. Introduzia-nos nos rudimentos de filologia, ensinando-nos as palavras latinas e gregas. Nós pequenos, sentados atrás do fogão por causa do frio géiido, devíamos recitar todo o alfabeto grego, alpha, beta, gama, delta, teta...E mais tarde no colégio, nos enchíamos de orgulho ao mostrar aos outros e até aos professores donde vinham as palavras. Aos onze filhos incitava-os à muita leitura. Eu decorava frases de Hegel e de Darwin, sem entendê-las, para dar a impressão que tinha mais cultura que os outros.

Mas era um mestra-escola no sentido pleno da palavra porque não se restringia às quatro paredes. Saía com os alunos para contemplar a natureza, explicar-lhes os nomes das plantas, a importância das águas e das árvores frutíferas. Naqueles interiores distantes de tudo, funcionava como farmacêutico. Salvou dezenas de vidas usando a piniscilina sempre que chamado, não raro, tarde da noite. Estudava em livros técnicos os sintomas das doenças e como tratá-las.

Naqueles fundos ignotos de nosso pais, havia uma pessoa angustiada por problemas políticos e metafísicos. Criou até uma pequena roda de amigos que gostavam de discutir “coisas sérias” mas mais que tudo para ouvi-lo. Sem interlocutores, lia os clássicos do pensamento como Spinoza, Hegel, Darwin, Ortega y Gasset. Passava longas horas à noite colado ao rádio para escutar programas estrangeiros e se informar do andamento da segunda guerra mundial.

Era crítico à Igreja dos padres porque estes não respeitavam os vizinhos, todos protestantes alemães, condenados já ao fogo do inferno por não serem católicos. Opunha-se com dureza àqueles que discriminavam os “negriti” e os “spuzzetti”(os que cheiravam mal). A nós, filhos, obrigava-nos a sentar na escola sempre ao lado deles para aprender a respeitá-los e a conviver com os diferentes.

Sua piedade era interiorizada. Passou-nos um sentido espiritual e ético de vida: ser sempre honesto, nunca enganar e confiar irrestritamente na Providência divina. Para que seus onze filhos pudessem estudar e chegar à universidade vendia, aos pedaços, todas as terras que tinha ou herdara. No fim, vendeu até a própria casa. Sua alegria era sem limites quando vínhamos de férias pois assim podia discutir horas e horas conosco. E nos batia a todos. Morreu jovem, com 54 anos, extenuado de tanto trabalho e de serviço em função de todos. Sabiaa que ia morrer. Sonhava conversar com Platão, discutir com Santo Agostinho e estar entre os sábios. Na mesma hora e no mesmo dia em que embarquei no navio para estudar na Europa seu coração deixou de bater. Vim saber somente quando cheguei em Munique. Os irmãos e as irmãs inscreveram seu lema de vida na sua tumba:”De sua boca ouvimos, de sua vida aprendemos: quem não vive para servir não serve para viver”.


No dia 25 de maio de 2011 ele completaria cem anos. Este mestre-escola sábio e interiorano era Mansueto Boff, meu querido e saudoso pai.

Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Veja seus artigos em http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm

Medalha Defesa Civil Nacional 2002


No Quartel General do Exército Brasileiro, o Prefeito Claudio Di Mauro
 recebeu a Medalha Defesa Civil Nacional.

A experiência de Defesa Civil Municipal trouxe para Rio Claro o reconhecimento nacional nesta área. O Prefeito Municipal Cláudio Di Mauro recebeu a Medalha Nacional de Defesa Civil na primeira edição de concessão, conforme Decreto Federal nr. 4.217, de 6 de maio de 2002.
Informações no sítio http://www.defesacivil.gov.br/

O negro samba, o negro joga capoeira

O samba é um gênero musical de raízes africanas surgido no Brasil, uma das principais manifestações da cultura popular. Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Hélio do Carmo, diretor de bateria e presidente do conselho deliberativo da GRASIFS, ao ouvir ‘Silêncio no Bexiga’, lembrou do episódio que inspirou essa linda canção.

Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas os cantos de escravos entoados pela avó também o influenciaram. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria.

Ele conta que Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Apitadores são os atuais diretores de bateria. Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade visitando suas amigas, batendo papo, tomando café. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N’água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.

A notícia chegou ao Bexiga na hora da Ave-Maria. O povão chorou a morte do sambista Pato N’água que foi imortalizado no samba ‘Silêncio no Bexiga’:
Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu; Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu; Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu; Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus. Silêncio...

Apenas o surdo encerra a canção, diminuindo seu compasso lentamente, simulando as batidas do coração. Até que pára de bater. Fim da história.


Nos primórdios do carnaval rioclarense, Tamoio e Voz do Morro desfilavam no centro da cidade. Ambas estão na origem da GRASIFS – a voz do morro (1956). Falar do samba e das religiões de matrizes africanas em Rio Claro é falar do povo negro. O compositor Gersão, parceiro do CCA, foi mestre-sala; seus netos, Lio e Sandra têm papel relevante na escola. Os sambistas Cidão, Durvalzinho, Celso e o mestre Malvino são a memória viva de um tempo cuja história é contada em sambas que sequer foram gravados. O Conselho da Comunidade Negra é presidido pela Diva; Sua neta, Kizie, é assessora da igualdade racial e conta com o apoio da Juventude Negra de RC – JUNERC que, junto da família Bronx, organizam a Black June, maior festa junina black do interior, sob coordenação do Davi Romualdo. Ari Rios, filho do finado Carlão (Magiclick), é presidente da GRASIFS. José de Assis, filho do Pilé, está na ala dos compositores.

Essa lista de nomes expressa, cada um à sua maneira, a luta por justiça e igualdade, a luta pela superação do preconceito, do racismo e, ao mesmo tempo, a alegria contagiante do carnaval. Na cadência bonita do samba, vamos agradecer ao povo negro sua contribuição fundamental na constituição da cultura brasileira. Um canto de alegria como superação do soluçar de dor.


publicado no Jornal Cidade de Rio Claro




GRASIFS 2011. o desfile na avenida. O samba é Griô



GRASIFS 2012 - samba enredo e imagens do carnaval 2011

A resistência negra, um samba e um Deputado

O samba é um gênero musical de raízes africanas surgido no Brasil, uma das principais manifestações da cultura popular brasileira. Podemos dizer que é uma linguagem por meio da qual os/as sambistas se expressam.

Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. É certo que a posse oficial aconteceu no Palácio 9 de julho, mas para um mandato popular, uma festa popular. Foram incontáveis manifestações de apoio, demonstração da liderança de Candido e dos vínculos políticos com a base social. O grupo Bom Ambiente fez um samba cuja inspiração tem relação com Suzano.

Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas foi com a avó que conheceu os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria. São poucos registros de sua obra. ‘O Canto dos Escravos’ com Clementina de Jesus e Doca da Portela merece destaque.

No programa Ensaio da TV Cultura (1982), Geraldo Filme conta a história do samba ‘Silêncio no Bexiga’. Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Desde o cordão do Vai-Vai, passou pelo Bexiga, pela Vila Santa Isabel que hoje é a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, Peruche, Camisa Verde. Apitadores são os atuais diretores de bateria.

Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade. Visitou amigas, um cafezinho aqui, um papo acolá. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê aqui em Suzano. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.

Sobre essa história, Plínio Marcos (1935-1999) escreveu: "A notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, (...) o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga". (Folha de São Paulo, 13/fev/1977)

Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu;
Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu;
Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu;
Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus.
Silêncio...

José Candido é a expressão política desse povo que, mesmo enfrentando muita dificuldade, é capaz de dizer algo tão lindo em forma de samba. E deixar marcas profundas na nossa vida com a defesa de políticas públicas que transformam a vida para melhor, na organização da luta popular por justiça e igualdade, na superação do preconceito e do racismo. Vamos neste mês de maio fazer silêncio aos negros e negras que foram (para não dizer que ainda são) vítimas de genocídio. E também celebrar a abolição da escravatura, a resistência negra e a luta pelos direitos humanos.

Viva José Candido, Geraldo Filme e Pato N’água.





http://www.diariodesuzano.com.br/noticia.php?id=257863


Bodas de safira: 65 anos de casamento

A palavra boda vem do latim vota (plural de votum - promessa), fazer votos matrimoniais. Dizem que na antiga Judéia tinha-se o costume de matar um cabrito para o churrasco nas comemorações de casamento. Com o tempo, o cabrito foi substituído pela fêmea do bode, a "boda", cuja carne era mais macia. Matar a "boda" era sinal de que haveria festa. O nome "boda" passou a ser sinônimo de festa, atualmente, comemoração do aniversário de casamento.
Um casal de rioclarenses completou neste mês de fevereiro (2011), 65 anos de casamento, bodas de safira.

José Rodrigues Jordão Filho, o Juca, nasceu na vila Aparecida em 1926. Completará 85 anos em breve. Filho José Rodrigues Jordão (nascido em 1893), conhecido como Zezinho Ferreira que tirava cisco dos olhos, uma espécie de curandeiro na primeira metade do século XX, e Anna Torres Santiago (nascida em 1898) que se casaram em 1916 nesta cidade (Rio Claro/SP). Juca foi vereador por três legislaturas, portanto durante doze anos, até o limiar do golpe militar de 1964. Aposentou-se da advocacia, do magistério, é associado da União dos Ferroviários Aposentados onde em conversas diárias formulam solução para os mais diversos problemas do mundo.

Maria Witzel nasceu em Rio Claro no ano de 1928. A mãe era Maria Donato (nascida em 1900) e o pai Anastácio Vitzel (nascido em 1895), também de Rio Claro. Mariquinha, como é carinhosamente chamada, estudou no Grupo Escolar Irineu Penteado, na Escola Normal Puríssimo Coração de Maria e no Instituto de Educação Joaquim Ribeiro. Trabalhou como professora e exerceu a função de auxiliar de direção de escola. Aposentou-se em 1980.

Juca é um grande contador de piadas e anedotas. Sua presença transforma o ambiente em riso. Burila as histórias garantindo-lhes graça. Mariquinha cuida de todos/as com muito carinho. Juntos, o poder de aglutinação é imenso. Crescemos ouvindo histórias, causos, serenatas e cantorias, saboreando café com leite, pão e manteiga e muita festa. Crescemos ao redor de duas pessoas encantadoras que dedicam a maior parte da vida às nossas vidas, nos preparando e nos ajudando a interagir com o mundo. Duas pessoas maravilhosas. Vivemos no cerne do afeto como diria Gilberto Gil.
Casaram-se na Igreja Matriz de São João Batista em fevereiro de 1946. Dessa união vieram Vera Lúcia e Sandra Elisabete. Vieram netas/os: Carla e Junior, Ivan, Graziella e Ivanessa. Bisnetas/os: Thais e Fábio, Raphael, Victor e Alícia, Helena e Sofia. E a tataraneta Beatriz.

São 5 gerações, todas iniciadas por mulheres, todas professoras. Todos/as contaminados/as pela doçura dela e pela alegria dele.

Ela segue os mandamentos de Deus, amai ao próximo como a si mesmo. Diariamente pede em orações que cada um dos descendentes siga a Jesus Cristo, que sejam pregadores do evangelho e encontrem a justiça e a paz. Ele pensa que as pessoas devem gostar de si, cuidar da saúde para ter vida longa, e não fumar. Somos fruto e resultado desse amor que rompe décadas, que sobrevive às intempéries e que alimenta nossos amores. Quero registrar meu testemunho do maior amor do mundo, um amor por inteiro, um amor em todas as dimensões, um amor que não obedece a nenhum limite, como este amor que sentimos pelo vô Juca e pela vó Mariquinha.

Maria Witzel Jordão, uma mulher excepcional que perfuma o mundo e nos faz acreditar no ser humano. José Rodrigues Jordão Filho, um homem que sabe tornar a vida mais alegre e colorida.

Ivan Rubens Dário Jr

Feito tatuagem ou cicatriz

Tatuagem, ou dermopigmentação é a arte de colorir a pele através da introdução por meio de agulhas pigmentações de cores variadas ou únicas de maneira a formar um desenho sob a pele.
A história da tatuagem é velha como o mundo. Iniciou-se cerca de 3500 anos atrás como forma de identificar membros de uma mesma sociedade tribal, para marcar fatos da vida como nascimento, puberdade, reprodução e desencarne. Serviu para destacar posição social: rei, guerreiro, curandeiro, sacerdote, prisioneiro e etc. Foi utilizado por cristãos perseguidos pelos governos pagãos. Na Inglaterra do século XIX, identificava prisioneiros, no regime nazista identificava Judeus com número de série no antebraço.
No Brasil, por volta de 1959 no cais de Santos, a tatuagem foi marcada com um rótulo negativo e marginal. Hoje é uma arte que exprime valores variados através da beleza de suas cores, significantes pessoais, na linha da estética, ornamentando corpos. A motivação para os cultuadores dessa arte é ser uma obra de arte viva, e temporal tanto quanto a vida.
Chico Buarque de Holanda é um artista brasileiro. Suas composições se notabilizaram pelo "eu" feminino, retratando temas a partir do ponto de vista das mulheres com notória poesia e beleza. A canção ‘tatuagem’, parceria com Ruy Guerra, diz assim: “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem. Que é pra te dar coragem, pra seguir viagem quando a noite vem”. Mas também quer brincar, quer pesar: ‘Quero brincar no teu corpo feito bailarina’. ‘Quero pesar feito cruz nas tuas costas’.
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
A estrela, por exemplo, pode representar a sorte. A estrela pode estar relacionada a viagens, aventuras e ao desconhecido. O sol pode representar fertilidade, paixão, coragem, juventude, criatividade. Representa a força que sustenta e dá significado à própria existência.
Cicatriz é o resultado de uma lesão na derme, normalmente em consequencia de um acidente ou de uma incisão. A cicatriz se forma depois de um tempo após o corte, pode durar poucos dias mas podemos carregar nossas cicatrizes a vida toda. A cicatrização alivia a dor do corte, recompõe a pele deixando apenas a marca.
Paulo César Pinheiro é um poeta e compositor brasileiro. A canção ‘Cicatrizes’ foi recentemente gravada por Roberta Sá no ótimo CD ‘Pra se ter alegria’. Diz assim: “Amor que nunca cicatriza, ao menos ameniza a dor que a vida não amenizou. Que a vida a dor domina, arrasa e arruína, depois passa por cima a dor em busca de outro amor. Acho que estou pedindo uma coisa normal. Felicidade é um bem natural”.
Tatuagem e suas cicatrizes durem enquanto é carnaval, pelo menos.



Conferência Nacional sobre Transparência e Participação Social

A Presidência da República convocou a 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Participação Social, a Consocial. Mas, o que é uma conferência?
Para a Controladoria Geral da União, trata-se de uma ferramenta de fomento à participação social, que tem por finalidade institucionalizar a participação da sociedade nas atividades de planejamento, gestão e controle das políticas públicas. Trata-se de um momento de reflexão que permite avaliação das ações realizadas anteriormente e o aprofundamento da discussão a respeito do temário proposto. A transparência pública e a participação social são os temas centrais da 1ª Consocial.
A primeira conferência nacional que se tem registro aconteceu em 1941, e foi de Saúde. Não houve documento base nem regimento interno, mas a força do tema fez o então Ministério da Educação e Saúde convocá-la para discutir a ‘situação sanitária e assistencial dos estados’. Na 2ª Conferência Nacional de Saúde (1950) discutiu-se a malária e outros temas. O Ministério da Saúde foi criado em 1953. Na 3ª Conferência (1963), os espaços e a discussão se ampliaram com os movimentos democráticos na área da saúde, os reais problemas enfrentados pelo povo aparecem na discussão, bem como a necessidade de um plano nacional de saúde nas três esferas de governo.
Mesmo durante a ditadura militar, aconteceram quatro conferências nacionais de saúde e, na década de 1980, com a abertura democrática e a luta de movimentos sociais, especialmente o movimento pela reforma sanitária, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986 – a primeira na Nova República), marco de uma nova era para saúde no Brasil devido à ampla participação popular além de lançar as bases para o que seria um sistema único de saúde.
A Constituição de 1988 consagrou o princípio da participação social na afirmação da democracia. A partir daí, houve uma proliferação de instâncias de participação em todos os âmbitos da federação, verdadeiras arenas públicas se constituíram como lugares de encontro entre a sociedade e o estado. A construção de espaços capazes de incorporar as pautas e os interesses desses setores ao longo do processo de produção das políticas públicas tem ajudado a superar desafios setoriais e fazer com que desenvolvimento econômico e desenvolvimento social caminhem juntos. 
Conferências e Conselhos sobre os mais diferentes temas de interesse da sociedade têm sido uma das formas mais abrangentes e consolidadas de diálogo que o governo vem mantendo com a sociedade civil ao longo dos últimos anos. Direitos Humanos com 11 conferências, Criança e Adolescente com 8 conferências, são temas com bom acúmulo.
Estão registradas 113 conferências nacionais, sendo 81% delas a partir de 2003. Foram 72 conferências nacionais que abordaram 40 temas/áreas diferentes no nível local, municipal, estadual e nacional e mobilizaram cerca de 5 milhões de pessoas. Isso significa que entre 1941 e 2003 as conferências nacionais aconteciam na proporção de 0,65 conferências/ano. No governo do Presidente Lula, a proporção foi de nove conferências/ano. Além disso, foram criados dezenove Conselhos Nacionais e outros dezesseis foram reformulados com o objetivo de aumentar ainda mais essa interação.




Publicado no Jornal Diário de Suzano







Se perguntarem o que é o amor?


Tem pergunta cuja resposta sai de bate e pronto. Tem pergunta que exige alguma reflexão. Agora, tem pergunta que nem mesmo pensando e pensando, parece que a resposta nunca nos agrada. Para questões muito complexas, até conseguimos elaborar respostas aparentemente sólidas. Disse aparentemente porque, com o tempo, tais respostas se desmancham no ar. As respostas são as mesmas, nós é que estamos em permanente transformação.

Arlindo Cruz é um sambista carioca forjado nas rodas de samba do Cacique de Ramos, zona Norte do Rio de Janeiro, com Jorge Aragão, Beth Carvalho, Beto sem Braço, Ubirani e Almir Guineto. Zeca Pagodinho e Sombrinha também participavam. Arlindo compôs uma canção intrigante chamada ‘o que é o amor’ em parceria com Maurição e Fred Camacho. Essa canção foi gravada por Maria Rita no excelente CD ‘Samba meu’. Diz assim: 

“Se perguntarem o que o amor para mim, não sei responder, não sei explicar. Mas sei que o amor nasceu dentro de mim, me fez renascer, me fez despertar. Me disseram uma vez que o danado do amor pode ser fatal, dor sem ter remédio para curar. Me disseram também que o amor faz bem e que vence o mal. E até hoje ninguém conseguiu definir o que é o amor (...)”

Na língua portuguesa, a palavra amor presta-se a vários significados: afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido. O conceito mais popular de amor envolve a formação de um vínculo emocional com alguém que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação. Fala-se do amor de muitas formas. Amar também tem o sentido de gostar muito.

Para Adélia Prado, o amor é a vitalidade. Diz a poetiza mineira nascida em 1935 que quando se ama uma pessoa, tem lugar para tudo menos para o tédio. Essa vitalidade amacia os sentimentos e os pensamentos. No contato, o corpo vai se transformando em leveza. A saliva do beijo sacia a sede do/a outro/a como o vinho que derruba as máscaras e expõe os olhos e a alma. O encontro transforma tensão em riso. ‘In Vino Veritas’ diziam os antigos romanos, ou seja, no vinho está a verdade. Na embriaguez, a língua fica mais solta e a verdade vem à tona. Vinho e amor têm capacidades transcendentes. Amantes estão despidos de preconceitos e de pudores. Amantes estão vestidos de amores.

Na conclusão de sua canção, Arlindo Cruz associa a chama do seu amor ao brilho do sol. “Quando a gente ama, brilha mais que o sol. É muita luz, é emoção o amor. Quando a gente ama, é o clarão do luar(...)”. O sol é uma estrela, um corpo celeste que produz e emite energia pelo espaço devido à fusão nuclear. Parte dessa energia eletromagnética é luz.

Para o gaúcho Mario Quintana (1906-1994), “bom mesmo é morrer de amor e continuar vivendo.” O poeta conseguiu acomodar um pouco essa nossa breve reflexão sobre o amor. Afinal, tem pergunta que a vida toda é insuficiente para responder. Pensando bem, existiriam respostas absolutas para determinadas perguntas? Provavelmente não. Sobre as indagações, conclui Quintana: ‘A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas’.

Permita-se viver as emoções. Escolha a boa trilha, vinho tinto seco e poesia.














Naquela mesa está faltando ele. Para Juarez Araújo Braga

Jacob do Bandolim é um importante artista brasileiro. Carioca nascido em 1918 trabalhou como arquivista no Ministério da Guerra, serventuário na justiça do Rio de Janeiro e escrivão na capital carioca. Contribuiu com cultura brasileira, em particular ao choro.
O Choro, ou chorinho, é um gênero musical, uma música popular e instrumental brasileira com mais de 130 anos. Considerada primeira música popular urbana típica do Brasil, é de difícil execução. Quem faz choro é chorão. Chiquinha Gonzaga era chorona. ‘Carinhoso’ é um choro de Pixinguinha. ‘Tico-tico no Fubá’ é de Zequinha de Abreu, ‘Brasileirinho’ de Waldir Azevedo. Heitor Villa-Lobos também chorava.
Jacob do Bandolim faleceu em 1968. Seu filho, Sérgio Bittencourt, compositor e jornalista, criado em rodas de choro, apesar da escrita dura e desaforada era considerado sentimentalista. Abalado com a morte do pai, compôs ‘Naquela mesa’: “Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre, o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias, que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã (...)”
Recentemente perdemos Juarez de Araújo Braga. Ele completaria 80 anos em 26 de novembro. Sinto uma falta danada do professor Juarez, das conversas intermináveis, do seu otimismo e da sua energia. Do alto da sua sabedoria, alimentava todos/as à sua volta com energias fundamentais para luta. Ele próprio era a representação concreta de uma vida dedicada à construção de um mundo melhor.
A paciência e a calma do Juarez, a visão de que a vida é processo e a forma sempre tranquila como tratava questões complexas, referenciaram muita gente. Desde 2005 viveu intensamente o processo de democratização da gestão nas escolas da rede municipal de Suzano. Seu envolvimento com o tema era tamanho que a aprovação da Lei que dispõe sobre a criação dos conselhos de escola levou aquele homem de 75 anos às lágrimas. Acreditava cegamente na democracia em todos os espaços da sociedade.
Juarez acolhia com respeito. Do jeito dele, chamando para uma conversa, para um vinho, para uma baladinha, como ele lançava seu convite. Dispunha de conhecimento teórico e filosófico, mas preferia usar do carinho e da tolerância para ensinar, característica de um homem sábio e de um enorme ser humano.
Diziam que eu levava o Juarez para o ‘mau caminho’. Discordo: trilhávamos caminhos da música, da cultura, da filosofia, da política e da democracia. Aprendi com ele, em diálogos às mesas que ele convidava, vivendo momentos de especial sabedoria.
Tinha gosto musical refinado. ‘Canto das 3 raças’, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, na voz da Clara Nunes, ‘o mundo é um moinho’ de Cartola. Ao som de Ataulfo Alves, falava com saudade da professorinha.
‘Naquela mesa’ termina assim: “Eu não sabia que doía tanto uma mesa no canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doia assim. Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala no seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim’.
As mesas estão vazias, a alegria está triste. Quando dói uma saudade, o coração aperta e a voz embarga, basta lembrar do Juarez na celebração da vida. É hora de outro chorinho.

Adoro canções infantis

Chega o final de ano, as festas que confraternizam, movimentam o comércio e a indústria. A indústria fonográfica e seus interesses comerciais, prepara grupos que vão fazer sucesso, estarão nos programas de TV, venderão milhões de cópias. Seremos violentados com canções de qualidade duvidosa, que pouco contribuem para a melhoria dos sujeitos e a transformação da sociedade.

Recentemente comprei um CD infantil para a filha de um amigo. Com canções de Vinícius de Moraes, Toquinho, Chico Buarque e outros, o belo CD chama-se “pra gente miúda” volume I, gravado em 1985. Elis Regina, Ney Matogrosso, Moraes Moreira, MPB4, Chico Buarque, Lucinha Lins e os Trapalhões entre outros, interpretam as canções. Sim, os trapalhões na sua formação original com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias visto que a trilha sonora do filme ‘os saltimbancos trapalhões’ constitui-se de versões do musical infantil de Sérgio Bardotti, Luis Enríquez Bacalov e Chico Buarque de Hollanda.

A pequenina está crescendo, dominando os movimentos, dominando a fala e ampliando seu vocabulário. Apesar dos noventa e poucos centímetros, ocupa todo o espaço aonde chega com sua alegria e vitalidade. Captura olhares e atenções, nunca passa despercebida. É uma graça de criança, puxou o pai. Tem lindos olhos claros, puxou a mãe. É uma menina sapeca e encantadora, filha de ambos.

Em Suzano, o diálogo entre Educação e Cultura tem mostrado resultados muito interessantes. São projetos que possibilitam acessar o conhecimento elaborado pela humanidade e que está registrado nos livros e na forma de arte. Um(a) sujeito(a) é resultado daquilo que lê, que escuta, que vê, que vive. Você certamente já se sentiu extasiado diante de uma linda paisagem, diante de um arco iris que contrasta seu espectro de cores com o fundo azul do céu e o branco das nuvens, diante de um por de sol que tinge o céu com a cor do fogo, uma tela deslumbrante ou um filme maravilhoso. Uma bela canção, uma bela poesia permitem tantas leituras quantas nossos olhos forem capazes de enxergar.

Canções são canções. Partem de uma inspiração, passam por um processo criativo e nunca estão concluídas. Até estão acabadas quando registradas no vinil, no CD ou outros formatos. Mas concluídas nunca estão, pois seu criador também é um ser inconcluso. O ser humano é inconcluso, sua obra é inacabada.

Adoro canções infantis.



publicado no jornal sete
página 6

http://www.jornalsete.com.br/pdf/jornal138.pdf

é só pensar em você



Tem canções que são obras de arte. Alguns compositores são capazes de eternizar poesia em melodia. Muita gente conhece Chico César na canção ‘mama África’. Eu prefiro a canção ‘mulher eu sei’ em que ele aliou o feminino e o masculino numa composição.

Francisco César Gonçalves nasceu em Catolé do Rocha, cidade do interior na Paraíba, em janeiro de 1964. Aos 16 anos foi para João Pessoa onde estudou jornalismo na Universidade Federal da Paraíba. Aos 21, mudou-se para São Paulo onde trabalhou como jornalista e revisor de textos ao mesmo tempo em que multiplicou suas composições e formou seu próprio público. Sua poética é de encanto lingüístico.

A temática do amor é muito forte na obra de Chico César. O amor quando acontece, invade sem pedir licença e torna a pessoa amada presente com força e sutileza. A linda canção ‘onde estará o meu amor’, conhecida na voz de Maria Bethânia, diz assim: “como esta noite findará e o sol então rebrilhará, estou pensando em você. Onde estará o meu amor? Será que vela como eu, será que chama como eu, será que pergunta por mim? Se a voz da noite responder, onde estou eu onde está você, que estamos cá dentro de nós, sós. Se a voz da noite silenciar, raio de sol vai me levar, raio de sol vai me trazer. Onde estará o meu amor?”

A noite finda, o sol brilha. Vela ou chama, imortal e infinito. Um amor que transcende tempo e espaço. Amor invasivo, absoluto. Ou apenas amor, simples e singelo. O artista fala de um amor permanente, faça chuva ou faça sol. Passa o tempo, passa a vida, ama e é amado. Na língua portuguesa, a palavra amor pode significar afeição, atração, apetite, paixão, querer bem, conquista, desejo, libido e etc. Seu conceito mais popular envolve a formação de um vínculo emocional com alguém que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para sua manutenção e motivação.

Em parceria com Vanessa Bumagny, a canção ‘pétala por pétala’ fala de um amor descoberto na ausência. É linda: a sua falta me fez ver / o que de mau a vida pode ter / e a sua volta me dá mais / de todo o mel que eu ousaria querer. Sua presença me faz rir / dos dias feitos pra chover / não há revolta pra sentir / nem há milagre pra não crer. Vinda que finda / a tinta de pintar tristeza / deixa os mistérios plenos de sentido / e a flor da vida toda. Pétala por pétala / que um tolo pode colher / sem saber que é amor. Vem e aumenta em mim / o único que sou / me subtrai do que em mim passou / é amor, vem...

Nesta letra, o artista sugere que o amor independe das convenções, independe da presença. Ele é e pronto. Na ausência ele se recolhe, na presença o amor se expande. Amor, nas suas mais diferentes manifestações, é uma das expressões mais belas da espécie humana.

Por meio da Secretaria Municipal de Cultura, a Prefeitura de Suzano trouxe esse lirismo romântico no último domingo (21). Chico César apresentou-se no Pavilhão Zumbi dos Palmares que fica no parque Max Feffer cujo espetáculo integrou a programação da consciência negra. Muito apropriado por sinal.

Finalizo com linda ‘pensar em você’: é só pensar em você que muda o dia / minha alegria dá pra ver / não dá pra esconder / nem quero pensar se é certo querer / o que vou lhe dizer: um beijo seu e eu / vou só pensar em você / se a chuva cai e o sol não sai / penso em você / vontade de viver mais / e em paz com o mundo / e comigo (e consigo).


 

Presidenta ou Presidente?

Eleição é momento importante. Momento de escolher nossos/as representantes para os espaços institucionais. Quem, dentre nós, assumirá, em nosso nome, a responsabilidade de conduzir durante os próximos quatro anos o Governo do Estado e a Presidência da República. E também quem nos representará no Senado Federal, na Câmara dos Deputados e na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Presidenta ou presidente? Eis a questão. Uma breve pesquisa me ajudou a recuperar conteúdos da gramática da língua portuguesa.

Presidente é substantivo. Substantivo é tudo o que nomeia as ‘coisas’ em geral. Substantivo é tudo o que pode ser visto, pego ou sentido. Os substantivos podem ser classificados em comum, próprio, concreto ou abstrato. Substantivo comum é aquele que designa os seres de uma espécie de forma genérica. Picolé e chuchu são comuns. Substantivo próprio é aquele que designa um ser específico, determinado. Normalmente iniciam com letra maiúscula como Candido, Filippi, Marta, Neto, Aloízio e Dilma. Substantivo concreto é aquele que designa seres que existem por si só, mesmo que apenas na imaginação. Ar e som são substantivos concretos. Já o substantivo abstrato é aquele que designa prática de ações verbais, existência de qualidades ou sentimentos humanos como ‘candura’.

Quanto ao gênero, masculino ou feminino, os substantivos são classificados em biforme, com duas formas para o mesmo radical como menina e menino. Heterônimos, com duas formas e dois radicais como mulher e homem. E uniforme quando apresentam apenas uma forma para os dois gêneros. Dentre eles, a categoria ‘comum de dois’ quando a mesma forma para os dois gêneros com alteração do artigo. A presidente, o presidente.

Com a breve pesquisa, cheguei às seguintes conclusões.
1) presidente é substantivo;
2) a gramática da língua portuguesa indica que a forma correta é ‘a presidente’ ou ‘o presidente’;
3) o povo brasileiro indica, segundo todas as pesquisas de opinião, a opção por ‘a presidente’.

É substantivo e é concreto: a voz de Deus é a voz do povo.


Publicado no jornal SETE, página 6.

Eleições 2010 - parte II

Eleições 2010 - Parte II


No dia 3 de outubro o povo brasileiro vai às urnas. O período de campanha eleitoral serve, entre outras coisas, para garantir a eleitores/as um cardápio de possibilidades, ou seja, chapas de candidatos/as que representarão esses mesmos eleitores/as nos espaços institucionais se eleitos, e um conjunto de informações sobre esses candidatos de forma que eu, você, o eleitorado de modo geral possa escolher seu/sua representante.

Aproveite bem o período de campanha eleitoral. É importante pesquisar bem para decidir em quem confiar o voto. Um aspecto importante que deve ser bem analisado é a biografia do/a candidato/a, tanto do ponto de vista da sua vida pública, da sua trajetória política e eleitoral quanto traços da composição do seu caráter como honestidade, idoneidade, sua capacidade de diálogo com a base eleitoral, entre outras. Isso é importante visto que vivemos numa democracia representativa, o que quer dizer que o/a eleito/a representará milhares de eleitores/as, ocupará em nosso nome um importante espaço de poder político. Veja também os materiais de campanha, veja o programa eleitoral, pesquise a biografia dos/as candidatos/as, quais compromissos políticos assume, que grupos de interesse representa. Não caia em conversinha fiada e não acredite em propostas vazias.

Se o candidato cumprir os requisitos que você julga essenciais para merecer sua confiança, sua decisão já está bem encaminhada. Tem uma ideia sempre utilizada nas eleições com maior insistência nos candidatos conservadores, que é estimular o eleitorado a votar em candidatos ‘da cidade’. Esse critério não é importante para mim. São 94 deputados estaduais num universo de 645 municípios. São 513 deputados federais para 5.565 municípios. Na democracia representativa alguém é eleito/a para representar um povo. Não existe um/a presidente, um/a governador/a, de parcela da população. Se é presidente do país, se é governador/a do estado e, no exercício do cargo deve-se estabelecer prioridades, ou seja, o que é mais importante dentre as coisas importantes. Entre os parlamentares, deputados estaduais ou federais e senadores, o princípio é o mesmo. É evidente que os compromissos políticos maiores são com sua base eleitoral, com os grupos de interesse que ele representa, com os vínculos que o/a eleito/a tem com sua base social.  Afinal, o que está em jogo e deve ser defendido (todo momento) é o interesse público, a democracia como princípio fundamental. Então, se o candidato for honesto, tiver uma boa biografia, se posicionar diante dos temas polêmicos de forma parecida com as suas convicções, eleitor/a, você está num bom caminho. Se estiver vinculado a um partido político, ou seja, a uma parcela da sociedade que se organiza num partido cujos princípios filosóficos expressos na sua carta de princípios e nos seus documentos principais, no seu estatuto inclusive, melhor ainda. E se, depois de preenchidos todos esses requisitos ainda for da sua cidade, aí sim.

As informações estão aí. Seja crítico, questione, tire suas dúvidas. Exija compromissos públicos. Converse sobre isso, reflita. Esse é o jeito de exigir mais qualidade dos/as candidatos/as. Afinal, os resultados dessa escolha serão sentidos por todos nós durante os quatro anos do mandato, oito no caso do senado. E, durante o mandato, participe também, organize reuniões de prestação de contas, acompanhe o trabalho do/a eleito/a pela internet e por publicações que os mandatos organizam, embora isso ainda não seja regra.

O período eleitoral é um momento importante na democracia brasileira. Participe.