O negro samba, o negro joga capoeira

O samba é um gênero musical de raízes africanas surgido no Brasil, uma das principais manifestações da cultura popular. Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Hélio do Carmo, diretor de bateria e presidente do conselho deliberativo da GRASIFS, ao ouvir ‘Silêncio no Bexiga’, lembrou do episódio que inspirou essa linda canção.

Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas os cantos de escravos entoados pela avó também o influenciaram. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria.

Ele conta que Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Apitadores são os atuais diretores de bateria. Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade visitando suas amigas, batendo papo, tomando café. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N’água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.

A notícia chegou ao Bexiga na hora da Ave-Maria. O povão chorou a morte do sambista Pato N’água que foi imortalizado no samba ‘Silêncio no Bexiga’:
Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu; Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu; Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu; Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus. Silêncio...

Apenas o surdo encerra a canção, diminuindo seu compasso lentamente, simulando as batidas do coração. Até que pára de bater. Fim da história.


Nos primórdios do carnaval rioclarense, Tamoio e Voz do Morro desfilavam no centro da cidade. Ambas estão na origem da GRASIFS – a voz do morro (1956). Falar do samba e das religiões de matrizes africanas em Rio Claro é falar do povo negro. O compositor Gersão, parceiro do CCA, foi mestre-sala; seus netos, Lio e Sandra têm papel relevante na escola. Os sambistas Cidão, Durvalzinho, Celso e o mestre Malvino são a memória viva de um tempo cuja história é contada em sambas que sequer foram gravados. O Conselho da Comunidade Negra é presidido pela Diva; Sua neta, Kizie, é assessora da igualdade racial e conta com o apoio da Juventude Negra de RC – JUNERC que, junto da família Bronx, organizam a Black June, maior festa junina black do interior, sob coordenação do Davi Romualdo. Ari Rios, filho do finado Carlão (Magiclick), é presidente da GRASIFS. José de Assis, filho do Pilé, está na ala dos compositores.

Essa lista de nomes expressa, cada um à sua maneira, a luta por justiça e igualdade, a luta pela superação do preconceito, do racismo e, ao mesmo tempo, a alegria contagiante do carnaval. Na cadência bonita do samba, vamos agradecer ao povo negro sua contribuição fundamental na constituição da cultura brasileira. Um canto de alegria como superação do soluçar de dor.


publicado no Jornal Cidade de Rio Claro




GRASIFS 2011. o desfile na avenida. O samba é Griô



GRASIFS 2012 - samba enredo e imagens do carnaval 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário