Quando eu me encontrava preso / Na cela de uma cadeia / Foi que eu vi pela primeira vez / As tais fotografias / Em que apareces inteira / Porém lá não estavas nua / E sim coberta de nuvens / Terra, Terra / Por mais distante / O errante navegante / Quem jamais te esqueceria?
Caetano foi levado de sua casa, em São Paulo, para uma prisão no Rio de Janeiro. Foram 54 dias no cárcere sendo os primeiros dias na solitária. Anos depois ele nos conta suas memórias desse período sombrio da história brasileira. O início do documentário responde várias das minhas perguntas, sobretudo as que dizem respeito às férias. Narciso em Férias é um documentário sobre a prisão de Caetano Veloso pela Ditadura Militar em 1968.
Ninguém supõe a morena / Dentro da estrela azulada / Na vertigem do cinema / Mando um abraço pra ti, pequenina / Como se eu fosse o saudoso poeta / E fosses a Paraíba / Terra, Terra...
Foi neste período que os americanos chegaram à Lua. Preso numa cela escura, Caetano viu as imagens do planeta Terra tiradas numa outra perspectiva, num outro ponto de vista - imagine uma máquina fotográfica apontando para um ‘objeto’ a ser retratado - lá em cima, do alto, da amplidão do espaço sideral. Enquanto isso, limitado à cela minúscula, confinado, preso, o artista (e logo um artista) se depara com uma imagem, dentre as primeiras imagens que a humanidade produziu do planeta Terra livre, vagando, solta no espaço. Essa imagem ficou na cabeça do compositor. Anos mais tarde, recuperando essa lembrança, Caetano fez a canção Terra.
Eu estou apaixonado / Por uma menina terra / Signo de elemento terra / Do mar se diz: Terra à vista / Terra para o pé, firmeza / Terra para a mão, carícia / Outros astros lhe são guia / Terra, Terra...
Ver as imagens de degradação ambiental no Brasil, sobretudo as queimadas no Pantanal e na Amazônia, as violências cometidas sobre populações indígenas, sobre a biodiversidade, traz a pergunta: o que estamos fazendo da vida? porque a vida é a vida, não dá para pensar em hierarquias de vida, por exemplo, uma vida que vale ser preservada e outras não. Convido você para pensar a vida em si, suspendendo (mesmo que temporariamente) a ideia de vida neste/nesta, desta/deste ser. Não a vida que se faz carne mas a vida em sendo vida.
De onde nem tempo nem espaço / Que a força mande coragem / Pra gente te dar carinho / Durante toda a viagem / Que realizas no nada / Através do qual carregas / O nome da tua carne
Que as forças de vida nos mandem a coragem suficiente para expandir a vida e, neste mês da consciência negra, lutar por mais vida sobretudo para quem tem a vida sob constante ameaça. No dia 15 vote em candidatos comprometidos com a vida.
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