Rio Claro tem sua história marcada pela ferrovia. Quem não ouviu histórias desse tempo? Tais marcas estão na cidade: a estação ferroviária situada exatamente na rua 1 com avenida 1. As oficinas da antiga companhia paulista. O horto Florestal Edmundo Navarro de Andrade, o museu do eucalipto e vai por aí.
Começou a circular o Expresso 2222 / Que parte direto de Bonsucesso pra depois / Começou a circular o Expresso 2222 / Da Central do Brasil / Que parte direto de Bonsucesso / Pra depois do ano 2000
A ferrovia entrou em declínio e, desde então, é como se uma nuvem de nostalgia cobrisse a cidade. Percebo nos mais velhos uma certa saudade...
Dizem que tem muita gente de agora / Se adiantando, partindo pra lá / Pra 2001 e 2 e tempo afora / Até onde essa estrada do tempo vai dar / Do tempo vai dar, menina, do tempo vai
Saudade é uma palavra interessante. É um sentimento geográfico, uma espécie de território. Explico: a saudade de uma pessoa que está longe. É histórico também. Saudade descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim ‘solitatem’ (solidão), passando pelo galego-português ‘soidade’, que deu origem às formas arcaicas ‘soidade’ e ‘soudade’, que sob influência de "saúde" e "saudar" originaram sua forma atual: ‘saudade’.
Segundo quem já andou no Expresso / Lá pelo ano 2000 fica a tal / Estação final do percurso-vida / Na terra-mãe concebida / De vento, de fogo, de água e sal (...) / Ô, menina, de água e sal
O carnaval também é uma espécie de território. Uma espécie de infância. São 4 dias de folia onde a suposta ‘ordem’ está suspensa para fruição da alegria e da festa. Fruição do corpo onde nos permitimos ser outro/a, ser reis, homens-mulheres, piratas, Napoleão, Guevara, anjo-diabo.
Dizem que parece o bonde do morro / Do Corcovado daqui / Só que não se pega e entra e senta e anda / O trilho é feito um brilho que não tem fim / (...) Ô, menina, que não tem fim / Nunca se chega no Cristo concreto / De matéria ou qualquer coisa real / Depois de 2001 e 2 e tempo afora / O Cristo é como quem foi visto subindo ao céu / Subindo ao céu / Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu
Também podemos pensar a ferrovia como uma linha de vida, e o trem como a cápsula que nos carrega em viagens no tempo e no espaço. Mas falo de uma saudade concreta: no dia 21/jan/2016 nasceu, em Rio Claro, o BLOCO da SAUDADE. Aos pés do cristo no início da avenida da Saudade que finda no cemitério. Numa quinta de carnaval que finda na 4a feira de cinzas. Finda na geometria da cidade, finda na frieza do calendário gregoriano. Permanece viva no desejo que empurra a alegria para frente. Permanece viva no desejo de festa, no imponderável dos encontros. Na magia do ser-outro/a, da fantasia, do permitir-se. Quando a alegria rompe os limites do corpo e explode na rua. Um, por assim dizer, Expresso dionisíaco que passa lentamente convidando a todos e todas, dançando nas ruas, um mar de corpos em esbarramento. Segundo quem já andou no Expresso, o Bloco da
Saudade vem 2222 em 2020.
Expresso 2222 é uma canção de Gilberto Gil.
(publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 03/12/2019)
Ivan, vc deve escrever mais e mais. Sempre um prazer te ler!
ResponderExcluir