A cidade está sendo



Quase diariamente caminho pela avenida 7 com rua 1 atento a uma quase paisagem.

O advérbio ‘quase’ é proposital. Claro que não passo por lá todos os dias. Passo várias vezes por semana, sei lá quantas, quatro ou cinco vezes. A paisagem também está ‘quase’ porque passa por uma profunda transformação. Aquele lugar quase é o mesmo, mas não é. Isso também serve para o sujeito da frase, para mim, e para você.

Paisagem e lugar são conceitos geográficos. Para o geógrafo Milton Santos (1926-2001) a paisagem é expressão materializada do espaço geográfico, é forma. “A paisagem se dá como conjunto de objetos reais concretos”. Ao falar da força do lugar, Milton Santos qualifica lugar como espaço produzido pela lógica das vivências cotidianas das pessoas e a lógica dos processos econômicos, políticos e sociais. São fixos o arruamento, os canteiros, as construções, e são fluxos os movimentos, o vai e vem interminável das gentes. E por aí vai...

Voltemos então ao cruzamento da 7 com a 1. Lembra-se do pontilhão? Bem, mesmo que quisesse eu não poderia esquecê-lo. No tempo em que atuei na Defesa Civil de Rio Claro, junto com valorosos companheiros de trabalho estive várias vezes naquele que, de acordo com a Política Nacional de Defesa Civil, era considerado um ponto de risco. A passagem de veículos e pedestres que acontecia sob a linha do trem, acumulava água nas ocorrências de chuva forte e concentrada, típicas de verão. Faço aqui um parêntese para lembrar, com orgulho, que Rio Claro foi em 2002 referência para os municípios brasileiros com a medalha nacional de Defesa Civil. A obra, em fase final de execução, permite à Defesa Civil retirar mais um ponto do seu mapa de risco.

Pois então, por muitas décadas o pontilhão da avenida 7 permitiu idas e vindas, permitiu fluxos ligando dois lados da cidade. Contudo, o incremento da vida urbana e o conseqüente aumento de veículos e gentes tornou o pontilhão um obstáculo. Ele passou a estrangular o fluxo e interditar o movimento. O fixo ‘pontilhão’ já não compõe aquela paisagem.

Até pouco tempo atrás, muros e obstáculos visuais limitavam o olhar. Agora, o olhar está mais profundo, tem mais horizonte. Olhar a estação ferroviária daquela perspectiva provoca a memória e traz lembranças da infância e das histórias que contam dos áureos tempos da ferrovia. Disse minha avó: ‘uma obra que enfim está acontecendo’. Na visão dela, o pontilhão da avenida 7 dividia a cidade em dois, um obstáculo à circulação. Quase não é mais.

Importante decisão política da atual gestão e mais um bom trabalho da Prefeitura. A obra está quase pronta e está muito boa. Com jardinagem, folhagens e plantas ornamentais, a decoração tornará ainda mais agradável meu caminhar. Além de melhorar o fluxo, os movimentos, a cidade está ficando mais bonita. Caminhar faz bem para saúde, beleza faz bem para os olhos e alimenta a vida. O povo merece!

Como diria o educador Paulo Freire (1921-1997): “o mundo não é, o mundo está sendo”. A cidade está sendo.

Stuart, Zuleica e Angélica

Ainda menino, já se incomodava
nada acomodava diante da injustiça cravada

Um brilho de tragédia
O roteiro de um drama

Homem, lembra do abraço acolhedor no encontro
Povoa a memória dela a culpa de tê-lo perdido na praia

Ele quer mudar o mundo
Ela quer justiça no mundo

Para ele tudo acabou na escuridão do mar
Para ela tudo acabou na ausência dele

Ele tem coragem
Ela tem autoridade

Histórias se entrelaçam
e morteiros que abafam

Stuart e Zuleica
Angélica, a canção

discurso em homenagem ao JUCA JORDÃO na Câmara Municipal de Rio Claro/SP



Boa noite.

Eu sou Ivan Rubens, neto de José Rodrigues Jordão Filho, o Juca Jordão, homenageado nesta noite.
Quero cumprimentar aos presentes nessa noite, em particular a minha família, na pessoa da minha avó. MARIA WITZEL JORDÃO.
Cumprimentar aos vereadores dessa casa na pessoa do vereador SÉRGIO DESIDERÁ.
Agradecer ao vereador SÉRGIO CARNEVALE pela iniciativa, e aos demais vereadores e vereadoras que aprovaram o decreto legislativo e nesta sessão solene entregam a medalha de honra post mortem. Importante dizer que esse tipo de homenagem, os cumprimentos, as lembranças revelam o quão querido era o Juca e confortam nossa família e ajudam a preencher o vazio deixado por ele.
Quero cumprimentar ainda a família LUIZ GONZAGA DE ARRUDA CAMPOS, CARLOS RAFAEL SANTOS ANDRADE e ARIOVALDO BUENO, homenageados nesta noite.
E, na pessoa do músico SYDNEI BARRETO, parceiro de gaita do meu avô, cumprimentar os músicos homenageados e presentes.
Quero cumprimentar também OLGA SALOMÃO, vice Prefeita de Rio Claro, Dr. ÁLVARO PERIM, ex-prefeito de Rio Claro e Dr. FERNANDO PADULA, mui digno juiz de direito.

Esta noite solene e festiva reúne algumas coincidências curiosas. Meu avô está, de algum lugar, nos olhando com um sorriso largo e muito orgulhoso por ter reconhecida sua dedicação à comunidade rio-clarense. Mas principalmente por estar mais uma vez junto do seu grande amigo Dr. Luiz Gonzaga de Arruda Campos, e pela homenagem aos músicos. Neste dia da música, vou falar do meu avô a partir de uma canção do João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro.

Chama-se: ALÉM DO ESPELHO

Sempre que um filho meu me dá um beijo
Sei que o amor do meu pai não se perdeu
Só de olhar seu olhar eu sei seu desejo
Assim como meu pai sabia o meu
Mas meu pai foi-se embora num cortejo
E no espelho eu chorei porque doeu
Só que vendo meu filho agora eu vejo
Que ele é o espelho do espelho que sou eu

Vou falar do Juca Jordão começando por sua contribuição cultural. Sua musicalidade merece destaque. Foi gaiteiro dos bons. Tocou na Orquestra de Gaitas de Rio Claro ainda menino. Tocou no Rapaziada do Morro - Quarteto Aparecida, no Trio Continental de Gaitas e nos Anjos da Gaita. Acompanhou Nelson Gonçalves, ficou amigo de Orlando Silva, Francisco Alves, Ivon Cury. Acompanhou Luis Vieira na Rádio Tupy. Tocou com Sérgio Reis, esteve com Roberto Carlos. Em 1987 os Anjos da Gaita se apresentaram na TV Bandeirantes com Fausto Silva, o Barreto estava lá. Em 2005 venceu o quadro avós do Brasil no programa da Eliana na TV Record tocando numa gaitinha de 4 furos a canção Cidade Maravilhosa.
Juca também tocava violão. Bacana mesmo era tocar violão e gaita ao mesmo tempo, cantar e fazer graça.
Juca transbordava alegria em seus causos e piadas. E tinha a habilidade de aprimorar seus causos a cada repetição, burilando e melhorando, tornando-os ainda mais engraçados.
Ouvimos histórias curiosas e engraçadíssimas do meu avô. Numa das tantas passagens com o Dr. Luiz Gonzaga, ambos desciam a avenida 1 na baratinha 29 do Juca. Dr. Luiz pediu para parar em frente ao cine Variedades quando meu avô respondeu: agora é tarde. O senhor precisa avisar antes porque preciso de uns 100 metros para frear até parar. A baratinha 29 tinha freios a varão.
Além dos causos, muitos casos judiciais envolveram o Juiz de Direito e o advogado, via de regra, na defesa dos interesses populares, do povo pobre e socialmente injustiçado.
Juca nasceu nas mãos de parteira, na Vila Aparecida em 1926. O pai do Juca, Zezinho Ferreira, foi um dos pioneiros na construção da Igreja da Aparecida. Quando menino, Juca foi coroinha, tirava as lágrimas das velas e acumulava a tarefa de tocar o sino da igreja.
A família era numerosa: Mauro, Celina, Aparecida, Adelino, Juca, Miguel, Luiz, Doroti, Darcy e Maria Célia. Tio Mauro assumiu a prefeitura em 1947.
Juca Jordão estudou no Grupo Escolar Irineu Penteado, no Bilac e no Alem. 
Formou-se contador, professor primário, pedagogo, orientador e diretor de escola, advogado e cientista social.
Foi comissário de menores e subdelegado de polícia. Trabalhou na Central Elétrica de Rio Claro, lecionou na rede pública.
Juca foi vereador na Câmara Municipal de Rio Claro, por três legislaturas até o limiar do golpe militar de 1964. Sua atuação parlamentar foi popular. Já naquela época, andava pelos bairros no diálogo direto com a população. Seus conhecimentos em contabilidade permitiam um acompanhamento rigoroso das contas públicas. Foi presidente da comissão de finanças, não é Dr. Perin?
Foi professor muito querido. Era comum vermos ex-alunos falando com carinho ao encontrá-lo na rua. Calculamos que cerca de 13.000 alunos aprenderam com ele muita coisa, principalmente a gostar da vida e das pessoas.

Durante os quase 70 anos de união com minha avó, MARIA WITZEL JORDÃO, a vida lhe deu 5 gerações sempre iniciadas por uma mulher professora:
as filhas Vera Lúcia e Sandra Elisabete.
netas e netos: Carla e Junior, Ivan, Graziella e Ivanessa.
Bisnetas/os: Thais e Fábio, Raphael, Victor e Alícia, Helena e Sofia.
E a tataraneta: Beatriz.
Gostava de todos à sua volta. Irritantemente pontual. E pescador, donde buscava inspiração para as suas melhores histórias.

Quero dizer, vereador Sergio Desiderá, da justa homenagem e do reconhecimento que muito conforta a família nessa experiência ainda recente da perda. Um processo de luto que não termina com a aceitação da ausência do Juca, mas com o aprendizado da ausência física dele, e a felicidade de poder sentir saudade, recordando os bons momentos com ele vividos.

A canção ALÉM DO ESPELHO continua assim:

Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos tem qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão do meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se o meu pai foi espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seu

Que a memória do Juca e do Dr. Luiz permaneça viva servindo de espelho para essa Câmara Municipal nos princípios da ética e na luta por uma por uma sociedade justa, democrática e tolerante.

Que fique para os vereadores, independentemente de coloração partidária ou opções ideológicas, como espelho no sentido da coerência de quem nunca terceirizou a prerrogativa de legislar tampouco privilegiou interesses privados. Muito pelo contrário, o vereador Sergio Carnevalle sabe disso, sempre trabalhou como vereador, professor ou advogado, pelo bem de uma cidade inteira, para todos e todas, sem distinção.

Que a memória do Juca permaneça viva num espelho de alegria, de convite para a festa e de amor pela vida, a todos os presentes e em particular aos músicos.
Que a memória do Juca permaneça viva espelhando carinho, dedicação, cuidado e união em cada uma das filhas, netos e netas, bisnetos, bisnetas, tataraneta e tantos que ainda virão.

Por fim, quero agradecer aos trabalhadores e trabalhadoras desta casa, o pessoal de apoio, funcionários, enfim, todos aqueles e aquelas que fazem viva essa casa de leis e tornam possível essa bela e justa homenagem.

Sabe Olga, o samba do João Nogueira e do Paulo Cesar Pinheiro termina com o refrão que diz assim:

A vida é mesmo uma missão
A morte é uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu

Que todos se espelhem nas pessoas que amam ou que amaram. 
Obrigado e Boa noite


 Dr. Álvaro Perin e Maria Witzel Jordão.

 Maria Witzel, Vera Lúcia e, ao fundo, Maria Tereza e Pedro Ivo

 Maria Witzel, Vera Lucia e Sandra Elisabete ao fundo



Fala da vice prefeita de Rio Claro, Olga Salomão

com o vereador Sérgio Desiderá



 Dr. Fernando Padula, Juiz de Direito; vereador Sérgio Carnevale, autor do decreto legislativo e Olga Salomão, vice prefeita de Rio Claro.

 Com Malaguenha, Sidnei Barreto encerrou a sessão solene.


Além do espelho. João Nogueira

PALAVRAS

Do latim, parabola
Do grego, parabolé
Momento do pensamento.

Fonema, ideia, escrita
Termo, se pronuncia.
Vocábulo, se explica.

Palavras
desconstruídas são letras
Reduzidas, semântica.
Combinadas são frases

Num sonho, palavras são utopia
Se estimulam questões, filosofia.
Engraçadas, as palavras são sorriso
Românticas, cartas de amor.

Palavras decoradas, discurso.
Palavras arrumadas, retórica.
Palavras arranjadas, canção.
Palavras temperadas, paixão.
Palavras sussurradas, amor.
Palavras encantadas, poesia.



Brasil de Tom Jobim, Sócrates e José Candido

Se estivesse ainda entre nós, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim completaria 85 anos de idade. Nascido no Rio de Janeiro (25/janeiro/1927), Tom Jobim foi compositor, músico e maestro, considerado um dos maiores expoentes de todos os tempos da música brasileira ao lado de Heitor Villa-Lobos. Da parceria com Vinícius de Moraes, ‘garota de Ipanema’ (olha que coisa mais linda, mais cheia de graça), é uma das canções mais executadas da história da música. Inesquecível a gravação de ‘águas de março’ (é pau, é pedra, é o fim do caminho) com Elis Regina. Percebi a dimensão mundial de sua obra assistindo ‘A música segundo Tom Jobim’, dirigido por diretor Nelson Pereira dos Santos, em cartaz nos cinemas. O maestro soberano nos deixou no dia 8 de dezembro de 1994, mas continua entre nós por meio de sua obra. Um artista da música, Tom Jobim é um grande Brasileiro.

Se estivesse ainda entre nós, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira completaria 58 anos de idade. Nascido em Belém (19/fevereiro/1954), o doutor Sócrates foi médico e jogador de futebol. Foi consagrado defendendo as cores do Sport Club Corinthians Paulista. Com a seleção brasileira que encantou o mundo sob comando de Telê Santana, disputou a Copa do Mundo de 1982, desclassificada para Itália de Paolo Rossi na ‘tragédia do Sarriá’ ainda nas quartas de final. Lembro a escalação da seleção canarinho, não me lembro da seleção tetracampeã (1994) e da pentacampeã (2002). Magrão foi considerado pela FIFA um dos melhores jogadores do mundo. Nos anos 80, liderou um movimento pela democratização do futebol, teve forte presença no movimento pelas ‘diretas já’. “Contra toda e qualquer forma de discriminação”, participava do ‘cartão verde’ (TV Cultura) com uma fita na cabeça. Sócrates nos deixou no dia 4 de dezembro de 2011, continua vivo na memória de muita gente. Um artista da bola, Sócrates é um grande Brasileiro.

Se estivesse ainda entre nós, José de Souza Candido completaria 70 anos de idade. Nascido na cidade de Sabino (30/setembro/1942), Zé Candido foi um lutador: lavrador, metalúrgico, sindicalista. Como figura pública que ocupou importantes espaços institucionais em seu partido, na Câmara de Suzano ou na Assembléia Legislativa, não perdeu o hábito de andar pela rua, fila em banco, atender todas as ligações que chegavam ao seu celular. Um homem simples, dos mais humildes que já conheci e uma importante referência política. Um exemplo a ser seguido por aqueles/as que desejam um mundo melhor. Presidiu a comissão de direitos humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Um idealista que fez da sua vida um instrumento na luta por uma sociedade justa. Um político como poucos, íntegro, honesto, acessível. E dono de um sorriso fácil, de uma alegria contagiante. Humano, demasiado humano.

Um dos filhos disse que na infância pediam pela presença do pai em casa mas, com o tempo entenderam que, para Candido, sua família era muito, mas muito grande. E tinha espaço para muita gente naquele coração que parou de bater no dia 12 de fevereiro de 2012. Parou mas continua vivo em nossa memória, pois fica conosco a responsabilidade de colocar em prática seus ensinamentos, seguir seus exemplos de ética na política e continuar a luta por um mundo justo. Um artista da Política, Candido é um grande Brasileiro.


Como disse Shamir Daleck, "José Candido, Tom Jobim e Sócrates são figuras que dão sentido e constroem a própria ideia do que é ser Brasileiro".



Tom e Vinicius em Garota de Ipanema

Tom e Elis Regina em Águas de Março


a música segundo Tom Jobim. Trailer oficial



Sobre as Conferências


Segundo a definição da Controladoria Geral da União, conferência é uma ferramenta de fomento à participação social que tem por finalidade institucionalizar a participação da sociedade nas atividades de planejamento, gestão e controle das políticas públicas. Trata-se de um momento de reflexão que permite avaliação das ações realizadas e aprofundamento da discussão a respeito do temário proposto.

A primeira conferência nacional que se tem registro foi sobre saúde em 1941. Não houve documento base nem regimento interno, mas a força do tema provocou o então Ministério da Educação e Saúde a discutir a ‘situação sanitária e assistencial dos estados’. Na 2ª Conferência Nacional de Saúde (1950) discutiu-se a malária e outros temas. O Ministério da Saúde foi criado em 1953. Na 3ª Conferência (1963), a discussão e os espaços foram ampliados com os movimentos democráticos na área da saúde, o que colocou a realidade concreta em discussão e apontou para a necessidade de um plano nacional de saúde nas três esferas de governo.

Durante a ditadura militar aconteceram quatro conferências nacionais de saúde. Na década de 1980, com a abertura democrática e a luta de movimentos sociais especialmente o movimento pela reforma sanitária, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), marco de uma nova era para saúde no Brasil devido à ampla participação popular, lançando as bases para um sistema único de saúde.

A Constituição de 1988 consagrou o princípio da participação social na afirmação da democracia. Houve uma proliferação de instâncias de participação, arenas públicas se constituíram como lugares de encontro entre a sociedade e o Estado. A construção de espaços capazes de incorporar as pautas e os interesses dos setores da sociedade ao longo do processo de produção das políticas públicas tem ajudado a superar desafios setoriais e contribuído para desenvolvimento econômico e desenvolvimento social caminharem juntos.

Além da Saúde, tem bom acúmulo a discussão de Direitos Humanos com 11 conferências e, com 8 conferências, Criança e Adolescente. Estão registradas 113 conferências nacionais, sendo 81% delas a partir de 2003. Foram 40 temas em 72 conferências nacionais que mobilizaram cerca de 5 milhões de pessoas. Entre 1941 e 2003 as conferências nacionais aconteciam na proporção de 0,65 conferências/ano. No governo do Presidente Lula aconteceram 9 conferências por ano em média.

Suzano acompanha essa tendência. Hoje, as escolas municipais possuem conselho de escola, as unidades de saúde possuem conselho gestor, conselhos municipais foram criados e ampliados. São mais de 100 espaços onde a população discute e decide sobre o equipamento e o serviço público oferecido. O conjunto das plenárias do Orçamento Participativo, do PPA e as conferências realizadas em Suzano, mobilizaram mais de 30.000 pessoas na definição das políticas públicas.

Priorizando a ‘participação popular’, a gestão do prefeito Marcelo Candido amplia a democracia na cidade e, por conseguinte, contribui para o fortalecimento da democracia no Brasil.


A reivenção do capital/dinheiro


Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Atualmente grande parte da economia é regida pelo capital financeiro, quer dizer, por aqueles papéis e derivativos que circulam no mercado de capitais e que são negociados nas bolsas do mundo inteiro. Trata-se de um capital virtual que não está no processo produtivo, este que gera aquilo que pode ser consumido. No financeiro, reina a especulação, dinheiro fazendo dinheiro, sem passar pela produção. Vigora um perverso descompasso entre o capital real e o financeiro. Ninguém sabe exatamente as cifras, mas calcula-se que o capital financeiro soma cerca de 600 trilhões de dólares enquanto o capital produtivo, do conjunto de todos os paises, alcança cerca 580 trilhões. Logicamente, chega o momento em que, invertendo a frase de Marx do Manifesto, “tudo o que não é sólido se desmancha no ar”.
Foi o que ocorreu em 2007/2008 com o estouro da bolha financeira ligada aos imóveis nos EUA que representava um tal volume de dívidas que nenhum capital real, via sistema bancário, podia saldar. Havia o risco da quebra em cadeia de todo o sistema econômico real. Se não tivesse havido o socorro aos bancos, feito pelos Estados, injetando capital real dos contribuintes, assistiríamos a uma derrocada generalizada.
Esta crise não foi superada e possivelmente não o será enquanto prevalecer o dogma econômico, crido religiosamente pela maioria dos economistas e pelo sistema com um todo, segundo o qual as crises econômicas se resolvem por mecanismos econômicos. A heresia desta crença reside na visão reducionista de que a economia é tudo, pode tudo e que dela depende o bem-estar de um pais e de um povo. Ocorre que os valores que sustentam uma vida humana com sentido não passa pela economia. Ela garante apenas a sua infra-estrutura. Os valores resultam de outras fontes e dimensões. Se assim não fosse, a felicidade e o amor estariam à venda nos bancos.
Este é o transfundo do livro de alta divulgação Reinventando o capital/dinheiro de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012). Rose é uma conhecida escritora com mais de 35 livros publicados e uma diligente editora com cerca de 1600 títulos lançados. Num intenso diálogo, juntos trabalhamos, por mais de vinte anos, na Editora Vozes. Dois temas ocupam sempre sua agenda: a questão feminina e a questão da cultura tecnológica. Foi ela quem inaugurou oficialmente o discurso feminino no Brasil escrevendo livro com um método inovador: A sexualidade da mulher brasileira(Vozes 1993). Com um olhar perspicaz denunciou o poder destruidor e até suicida da tecno-ciência, especialmente, em seu livro: Querendo ser Deus? Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade (Vozes 2009).
Neste livro Reinventando o capital/dinheiro faz um histórico do dinheiro desde a mais remota antiguidade, seguindo um  esquema esclarecedor: o ganha/ganha, o ganha/perde, o perde/perde e a necessária volta ao ganha/ganha se quisermos salvar nossa civilização, ameaçada pela ganância capitalística.
Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e os níveis de juros compostos. Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza. Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos.

Mas devido ao controle do capital, o ganha/ganha não consegue se impor. Mas sua força interna irá inaugurar uma nova era, quem sabe, até com uma moeda universal, sugerida pelo  economista brasileiro Geraldo Ferreira de Araujo Filho, cujo valor não incluirá apenas a economia mas valores  como a educação, a igualdade social e de gênero e o respeito à natureza e outros.
 Rose aposta nesta lógica do ganha/ganha, a única que poderá salvar a natureza e nossa civilização.
O livro de Rose Marie Muraro pode ser adquirido por 0800 160004.

Sustentabilidade: tentativa de definição


Há hoje um conflito entre as várias compreensões do que seja sustentabilidade. Clássica é a definição da ONU, do relatório Brundland, (1987) “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Esse conceito é correto mas possui duas limitações: é antropocêntrico (só considera o ser humano) e nada diz sobre a comunidade de vida (outros seres vivos que também precisam da biosfera e de sustentabilidade).Tentarei uma formulação, o mais integradora possível:
Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informaconais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução.
Expliquemos, rapidamente, os termos desta visão holística:
Sustentar todas as condições necessárias para o surgimento dos seres: estes só existem a partir da conjugação das energias, dos elementos físico-químicos e informacionais que, combinados entre, si dão origem a tudo.

Sustentar todos os seres: aqui se trata de superar radicalmene o antropocentrismo. Todos os seres constituem emergências do processo de evolução e gozam de valor intrínseco, independetente do uso humano.

Sustentar especialmente a Terra viva: a Terra é mais que uma “coisa” (res extensa), sem inteligência ou um mero meio de produção. Ela não contém vida. Ela mesma é viva, se autoregula, se regenera e evolui. Se não garantirmos a sustentabilidade da Terra viva, chamada Gaia, tiramos a base para todas as demais formas de sustentabilidade.
Sustentar também a comunidade de vida: não existe, o meio ambiente, como algo secundário e periférico. Nós não existimos: coeexistimos e somos todos interdependentes. Todos os seres vivos são portadores do mesmo alfabeto genético básico. Formam a rede de vida, incluindo os microorganismos. Esta rede cria os biomas e a biodiversidade e é necessária para a subsistência de nossa vida neste planeta.
Sustentar a vida humana: somos um elo singular da rede da vida, o ser mais complexo de nosso sistema solar e a ponta avançada do processo evolutivo por nós conhecido, pois somos portadores de consciência, de sensibilidade e de inteligência. Sentimos que somos chamados a cuidar e guardar a Mãe Terra, garantir a continuidade da civilização e vigiar também sobre nossa capacidade destrutiva.
Sustentar a continuidade do processo evolutivo: os seres são conservados e suportados pela Energia de Fundo ou a Fonte Originária de todo o Ser. O universo possui um fim em si mesmo, pelo simples fato de existir, de continuar se expandindo e se autocriando.
Sustentar o atendimento das necessidades humanas: fazemo-lo através do uso racional e cuidadoso dos bens e serviços que o cosmos e a Terra nos oferecem sem o que sucumbiríamos.
Sustentar a nossa geração e aquelas que seguirão à nossa: a Terra é suficiente para cada geração desde que esta estabeleça uma relação de sinergia e de cooperação com ela e distribua os bens e serviços com equidade. O uso desses bens deve se reger pela solidariedade generacional. As futuras gerações tem o direito de herdarem uma Terra e uma natureza preservadas.
A sustentabilidade se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se refaça e ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido para as futuras gerações. Esse conceito ampliado e integrador de sustentabilidade deve servir de critério para avaliar o quanto temos progredido ou não rumo à sustentabilidade e nos deve igualmente servir de inspiração ou de idéia-geradora para realizar a sustantabilidade nos vários campos da atividade humana. Se isso a sustentabilidade é pura retórica sem consequências.


Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Autor do livro Sustentabilidade: o que é e o que não é, a sair em fins de janeiro de 2012 pela Editora Vozes.