Educar para a celebração da vida e da Terra

Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitalidade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização, seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e criativo, visando uma profissão e um  bom nivel de vida, mas nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até irresponsável. Os analistas mais sérios da pegada ecológica da Terra nos advertem que se não cuidarmos, podemos conhecer catástrofes piores do que aquelas vividas em 2011 no Brasil e no Japão. Para se garantir, a Terra poderá, talvez, ter que reduzir sua biosfera, eliminando  espécies e milhões de seres humanos.

Entre tantas excelências, próprias do conceito do cuidado, quero enfatizar duas que interessam à nova educação: a integração do globo terrestre em nosso imaginário cotidiano e o encantamento pelo mistério da existência. Quando contemplamos o planeta Terra a partir do espaço exterior, surge em nós um sentimento de reverência diante de nossa única Casa Comum. Somos insepráveis da Terra, formamos um todo com ela. Sentimos que devemos amá-la e cuidá-la para que nos possa oferecer tudo o que precisamos para continuar a viver.

A segunda excelência do cuidado como atitude ética e forma de amor é o encantamento que irrompe em nós pela  emergência mais espetacular e bela que jamais existiu no mundo que é o milagre, melhor, o mistério da existência de cada pessoa humana individual. Os sistemas, as instituições, as ciências, as técnicas e as escolas não possuem o que cada pessoa humana possui: consciência, amorosidade, cuidado, criatividade, solidariedade, compaixão e sentimento de pertença a um Todo maior que nos sustenta e anima, realidades que constituem o nosso Profundo.

Seguramente não somos o centro do universo. Mas somos aqueles seres, portadores de consciência e de inteligência. pelos quais o próprio Universo se pensa, se conscientiza e se vê a si mesmo em  sua esplêndida complexidade e  beleza. Somos o universo e a Terra que chegaram a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Essa é nossa dignidade que deve ser interiorizada e que deve imbuir cada pessoa da nova era planetária.

Devemos nos sentir orgulhosos de poder desempenhar essa missão para a Terra e para todo  o universo. Somente cumprimos com esta missão se cuidarmos de nós mesmos, dos  outros e de cada ser que aqui habita.

Talvez poucos expressaram melhor estes nobres sentimentos do que o exímio músico e também poeta Pablo Casals. Num discurso na ONU nos idos dos  anos 80 dirigia-se à Assembléia Geral pensando nas crianças como o futuro da nova humanidade. Essa mensagem vale também para todos nós, os adultos. Dizia ele:

A criança precisa saber que ela própria é um milagre, saber, que desde o início do mundo, jamais houve uma criança igual a ela e que, em todo o futuro, jamais aparecerá outra criança como ela. Cada criança é algo único, do início ao final dos tempos. E assim a criança assume uma responsabilidade ao confessar: é verdade, sou um milagre. Sou um milagre do mesmo modo que uma árvore é um milagre. E sendo um milagre, poderia eu fazer o mal? Não. Pois sou um milagre. Posso dizer Deus ou a Natureza, ou Deus-Natureza. Pouco importa. O que importa é que eu sou um milagre feito por Deus e feito pela Natureza. Poderia eu matar alguém? Não. Não posso. Ou então, um outro ser humano que também é um milagre como eu,  poderia ele me matar? Acredito que o que estou dizendo às crianças, pode ajudar a fazer surgir um outro modo de pensar o mundo e a vida. O mundo de hoje é mau; sim, é um mundo mau. E o mundo é mau porque não falamos assim às crianças do jeito que estou falando agora e do jeito que elas precisam que lhes falemos. Então o mundo não terá mais razões para ser mau.

Aqui se revela grande realismo: cada realidade, especialmente, a humana é única e preciosa mas, ao mesmo tempo, vivemos num mundo conflitivo, contraditório e com aspectos terrificantes. Mesmo assim, há que se confiar na força da semente. Ela é cheia de vida. Cada criança que nasce é uma semente de um mundo que pode ser melhor. Por isso, vale ter esperança. Um paciente de um hospital psiquiátricoque visitei, escreveu, em pirografia, numa tabuleta que ma deu de presente:”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”. Nada mais é necessário dizer, pois nestas palavras se encerra todo o sentido de nossa esperança face aos males e às tragédias  deste mundo.

Leonardo Boff é autor de “Cuidar da Terra-proteger a vida”, Record, Rio de Janeiro 2010.

Estatuto do idoso!!! Prá quê?

Tenho 83 anos, sou professora aposentada, nascida e residente em Rio Claro. Nunca tive inimigos, só conquistei amigos. Dediquei  30 anos de minha vida, a princípio na zona rural e, mais tarde, na cidade, alfabetizando, educando, formando e informando crianças a partir dos sete anos de idade. Sentia por elas um amor semelhante ao que sentia por minhas filhas, deixadas em casa aos cuidados de meus pais.


Sempre acreditei que as leis existem para a grandeza das nações, a paz entre os povos e a felicidade das pessoas. Vivi à sombra do mandamento maior: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Ensinei que nos casos de perigo, medo,  os alunos deveriam procurar auxílio dos adultos, principalmente daqueles que foram preparados para isso: os seguranças, os guardas, os policiais. Entretanto, hoje estou em dúvida: estaria enganada?

Eu e meu marido (também octogenário, professor e advogado aposentado) freqüentamos Cachoeira de Emas, pertencente ao município de Pirassununga, escolhida para momentos de lazer com amigos e familiares.

Voltávamos de lá, no fatídico 22 de julho de 2011, por volta de 14h30. Não sei precisar exatamente o local na rodovia SP-201, mas próximo a um riacho entre Emas e Pirassununga, quando um guarda rodoviário nos parou pedindo os documentos do carro, o que é seu dever.

Infelizmente o nosso motorista, esposo de uma de minhas filhas (ambos nos acompanhavam na viagem) havia se esquecido dos documentos. Cumprindo o seu dever, já lavrada multa, o policial nos informou que, devido à falta da documentação, o carro seria guinchado imediatamente. Diante de nosso apelo para que não ficássemos sem o carro, ele consultou seu superior. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi negativa.

Descendo do carro, ficou à espera do guincho. Nós, de um lado da estrada, ele do outro, chegando a atravessá-la para nos vigiar. Senti-me como na época do nazismo, observando o próprio Hitler, tal a expressão de sua face.

Telefonamos para Rio Claro, mas, no meio da tarde nossos familiares estavam no ocupados com seus afazeres.

Cansada, gritei-lhe (ele permanecia ainda do outro da pista) se havia um banco no qual pudesse me sentar, não obtendo resposta.

Quando o guincho chegou, fomos forçados a sair do carro. Então, cumprido o seu papel, o senhor policial retirou-se, deixando-nos sós à beira da estrada.

Absolutamente constrangedor... eu de bengala, pois tenho problemas no joelho, nossos pertences espalhados pelo chão à beira da rodovia! uma visão tão estranha que ninguém nos ofereceu carona!

Eu permanecia sentada à beira do caminho, recebendo “chuva de poeira”. O céu nublando... sem contar o perigo, carros e caminhões carregados passando em alta velocidade. Para mim foi deprimente demais!

Meu marido, que também tem problemas de saúde, não conseguia ficar em pé. Não tínhamos condições nenhuma, sequer para satisfazer as necessidades mais elementares. Foram mais de duas horas de medo e aflição, até a chegada de um dos netos.

Agora me pergunto: para que serve o estatuto do idoso se até a polícia rodoviária, criada para a segurança de motoristas e passageiros nas estradas, paga com a renda de nossos impostos, transforma-se em vilão, provocando o medo e a insegurança?  Por que esse militar foi tão cruel, maculando a imagem de toda uma corporação que presta serviços à sociedade?

Poucos anos me restam de vida; não guardo nenhum rancor, mas essa horrível ocorrência nunca mais sairá da minha memória. Este cidadão será contemplado em minhas orações, para que Deus transforme o seu coração de pedra.

Maria Witzel Jordão  
A autora é professora aposentada, escoteira, bandeirante, membro atuante da comunidade católica de Rio Claro.

Chico Buarque 2011

vídeos sobre os bastidores da gravação desse excelente disco do Chico, e vídeos das canções.

chico fala do disco: esse é o melhor, até o próximo...

querido diário

Rubato

Essa Pequena


Tipo um Baião

Se eu soubesse

Sem você 2

Sou eu

Nina

Barafunda

Sinhá


Lara, Lara, Lara... Ivone

Assim começa a canção Lara de Martinho da Vila e Zé Catimba. Quando pega no cavaco / sai divina criação / vai brotando na garganta / o que vem do coração. Criou tanta obra-prima / pra se cantar com prazer / o Império, a Serrinha / e o canto do tiê. Tiê, canta pra Ivone.


Uma das homenagens à dama do samba aconteceu no Centro Cultural da Juventude da Vila Nova Cachoeirinha, zona Norte de São Paulo. No esforço de preservação das raízes culturais afro-brasileiras, o anfitrião Moisés da Rocha, produtor cultural, pesquisador e apresentador do excelente programa O Samba Pede Passagem na rádio USP FM (93,7), chamou ao palco Fabiana Cozza que cantou para receber Ivone. Em conversa com Moisés, a constatação de que Suzano é exemplo na gestão de políticas públicas na área da cultura, e as justas referências ao prefeito Marcelo Candido e ao secretário de Cultura Walmir Pinto, lembrança dos sambistas da região como Rabicho e Xavier, e o setorial de cultura vinculado ao mandato do deputado estadual José Candido.


Yvonne Lara da Costa, ou Dona Ivone Lara, é carioca nascida em 13 de abril de 1921. Formada em enfermagem com especialização em terapia ocupacional, foi assistente social, trabalhou em hospitais psiquiátricos. Criada pelos tios, conheceu o samba e aprendeu a tocar cavaquinho. Foi aluna de Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do maestro Villa-Lobos. Casou-se com Oscar Costa, filho do presidente da escola de samba Prazer da Serrinha. Com a fundação do Império Serrano em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Compondo, tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala dos compositores de escola de samba. A aposentadoria em 1977 permitiu dedicação total à carreira artística.


Aposto que você conhece: Sonho meu, sonho meu / vai buscar quem mora longe, sonho meu... E essa então? Foram me chamar / Eu estou aqui, o que é que há / Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho / Mas eu vim de lá pequenininho / Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho... Ou ainda: Um sorriso negro, um abraço negro / traz felicidade...


Mas quem disse que eu te esqueço, Acreditar, Enredo do meu samba ou Tendência são canções obrigatórias em toda roda de samba que se preze. A propósito, o Império Serrano irá pra avenida em 2012 com Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba.


Ivone Canta. Na garganta de Ivone Lara, emoções e o coração se transformam em palavras. Aos 90 anos de idade e esbanjando vitalidade, a dama estava no palco. É de se perguntar quantas vezes isso aconteceu nesses 60 anos de carreira. Mesmo ela deve ter perdido a conta. Sentada ou em pé, regendo a platéia ou puxando as canções e os sambistas, com o carinho de Bruno Castro, seu neto, seu anjo e seu banjo. A voz trêmula demonstra os sinais do cansaço, mas a beleza, o talento e a simpatia, o amor que devota ao samba convocam à celebração da vida, irradiam alegria e felicidade. Ivone encanta.


A segunda estrofe da canção do Martinho (que está no bom CD Lambendo a Cria) diz assim: Com a luz da poesia / maravilhosas canções / uma fonte de emoções / samba, tá ginga, tá na mente / ela é o chão e a semente. É importante dizer / com certeza, faço parte desses que amam você Dona Ivone. Lara, Lara, Lara... Ivone.


Eu também.

Publicado no Jornal Diário de Suzano em 18 de agosto de 2011 



Sonho meu, com Paula Lima

Alguém me avisou e Tiê, com Martinho da Vila e 'família'

Sorriso negro no CCJ

Mas quem disse que eu te esqueço e Acreditar, com Beth Carvalho

Tendência, com Fundo de Quintal

Enredo do meu samba, com Maria Rita

Candeeiro de vovó

Várias, no programa Sr. Brasil

várias do CD Lambendo a cria. Lara está nos 3 minutos e pouco

Diálogo sobre os incidentes na Inglaterra

Diego Scardone é meu amigo.
Estudante de Ciência Política na Universidade de Birmingham.
Ele é natural de Campinas, estudou na UNESP de Rio Claro.
Pesquisa inovações democráticas brasileiras.
Esteve em Rio Claro durante o ano de 2010 pesquisando o Orçamento Participativo.
Mora em Londres/Inglaterra.

Veja nosso diálogo sobre os incidentes, conflitos e/ou manifestações na Inglaterra.


Diego Scardone


Tudo iniciou com a morte de uma pessoa pela policia. A comunidade local se revoltou, porém grupos de jovens começaram a atacar prédios com fogo e saquear lojas. Os resultados da exclusão social aqui de Londres e outras cidades grandes da Inglaterra. São comunidades excluídas, e o estado não as alcança. Elas crescem num meio extremamente diferente do que eles próprios veem pela TV, ou pelo resto da cidade. Enfim, algo que aprendi com a minha experiência do orçamento participativo ai, principalmente em Várzea Paulista (Diego visitou Várzea Paulista, Suzano, Guarulhos, Rio Claro, e no estado de Minas Gerais visitou Pouso Alegre como objeto de sua pesquisa sobre democracia). É que estes problemas devem ser confrontados pela população local e não apenas pelos burocratas de Westminster.


Ivan Rubens
São ingleses? são migrantes? grupos organizados? quem são esses grupos?


Diego Scardone
São ingleses, em grande parte negros. São grupos organizados e não organizados (que se juntam através de facebook, internet, telefone móvel e outros social networks).


Ivan Rubens
Organizados em torno de partidos, associações, entidades? tem algum ideário, algum perfil ideológico ou são movimentos autônomos.


Diego Scardone
A mídia diz que são gangues. Mas não acredito. Quero ver isso apurado de forma clara. Tem muita especulação no momento. Então, até o momento dizem que são grupos de jovens normalmente em áreas pobres das cidades. Não existe nenhuma evidência de que seja algo organizado. Eu acredito que seja um fenômeno resultante da crise financeira que estamos passando, mas com mais ênfase nos cortes a gastos e serviços públicos. O governo cortou o EMI, uma política de transferência de renda para crianças pobres que atendem a escola depois dos 16 anos. Não é obrigatório depois desta idade. Cortes nos recursos de universidades, desemprego alto. E tem ainda o fenômeno da sociedade de consumo em que vivemos. Bombardeando a todos com propagandas de como devem se vestir, como devem se comportar, como devem ser. Mas como não têm dinheiro para comprar essas coisas partem para a força. E através das redes sociais passam a mensagem para o pais td. O que mais me provoca é a classe média e a mídia Britânica, como eles mostram a notícia, colocando uma parte da população contra a outra. Isso é a substituição da guerra contra o terror (com o medo vindo de fora) pela guerra do terror interno, com o medo vindo de dentro. Tudo que o governo atual precisa para intensificar a legislação contra as liberdades civis.


Ivan Rubens
Qual a relação disso com a crise entre o magnata da mídia britânica e o primeiro ministro inglês? e as crises provocadas na imprensa sensacionalista?


Diego Scardone
Policiais de alto escalão se despediram da policia. Jornalistas foram presos, e políticos investigados. Num pais que já sofre com denúncias de complacência no envio de presos políticos para serem torturados no Egito. Cortes públicos que atingiram os mais pobres traves de planos ‘the austeridade’, escândalos de apropriação indevida de despesas por políticos. Mas vamos pressionar o governo para implementar ‘regulations’ para a mídia daqui. Quem sabe outros países não seguem o mesmo exemplo?


Ivan Rubens
os conflitos chegaram a Birmingham. Como está a rotina na cidade? houve fechamento de serviços públicos destinados a população de baixa renda?


Diego Scardone
Está tudo bem. Em Birmingham foi mais interessante, pois os conflitos chegaram ao centro. A discrepância entra ricos e pobres em Birmingham é alarmante. Sempre participo das manifestações aqui. Não participei deste conflito pois não acredito que esta seja a melhor forma de manifestação.


MERITOCRACIA NA EDUCAÇÃO E SUCATEAMENTO DO SERVIÇO PÚBLICO


Crianças não receberão mais os incentivos se continuarem na escola depois dos 16. A política conservadora agora é de privilegiar as escola que vão bem em detrimento das que vão mal (a política do ‘Labour’ era o contrário). Tentaram mexer no serviço público de saúde para "aumentar a competição". Mas não conseguiram pois é o maior orgulho deste pais. Tentaram vender as florestas e parques mas a classe média disse: não. Privatizaram todas as universidades do pais. Cortaram benefícios e welfare para a população, e cortaram empregos no setor público e QUANGOS (organizações que prestam serviços a pequenos negócios e também em outras áreas da população como apoio ao turismo local e tal. Aparentemente fecharam alguns centros juvenis.


Ivan Rubens
É possível comparar essa reação violenta da juventude na Inglaterra com as manifestações nas praças da Espanha? na linha do movimento de multidão?


Diego Scardone
Não. Infelizmente não. O norte da Europa não esta em crise como o Sul. A crise foi forte entre 2007-8 e 2010, mas a situação está melhor. Vamos ver o que acontecerá nos próximos dias. Enquanto a classe média Britânica não sentir no bolso o que está havendo, eles não vão se rebelar. Sugiro a leitura do material do Breno Altman. O conheci aqui em Londres, gosto bastante da linha jornalística dele.


http://operamundi.uol.com.br/index.php


Ele tem um projeto muito interessante de jornalismo internacional, com um twist mais crítico o Brasil esta muito suscetível a BBC e outros meios de comunicação que não são sempre "imparciais".


Ivan Rubens
o que vc acha que vai acontecer no curto e no médio prazo?


Diego Scardone
Em relação aos eventos dos últimos dias aqui em Londres?
Nós temos que fazer esta pergunta a comunidade local que foi afetada por estes problemas. Na minha opinião, o governo Conservador vai utilizar este evento como uma “oportunidade” para endurecer as regras relativas a “etiqueta de protestos”, e também começar uma vigilância mais robusta a social networks (às redes sociais). Londres é a cidade mais vigiada do planeta, e mesmo com todas estas câmeras nada foi “evitado”. Eles vão investir agora numa tecnologia de vigilância que pretende “prevenir” o crime e não somente trazer “criminosos” a justiça após o crime ser cometido. Se a saúde da economia não piorar, eu acho que as coisas vão voltar a normalidade. Será interessante assistir a reação da população quando os detalhes da morte do Mark Duggan vier à tona. Na semana passada qdo ele foi morto, um jornal transformou o policial que o matou em herói dizendo que ele “foi salvo pelo rádio do carro q “segurou” a bala que o mataria. Agora, as investigações demonstram que esta bala encontrada no radio veio da arma do policial. E agora o policial afirma que em momento algum ele afirmou que Duggan tentou atirar nele. Isso traz lembranças quanto a morte do Jean Charles aqui em Londres. Quando Jean Charles foi morto disseram que ele correu da policia e que ele estava usando uma jacket que era muito suspeita (poderia conter explosivos). Depois de “muita” investigação, congluíram que ele não correu da policia. Se somarmos tudo isso com o escândalo dos grampos telefônicos, onde “cabeças” da Scotland Yard renunciaram seus cargos antes da bomba explodir nas mãos deles (pois eles sabiam dos grampos), a moral da policia deveria estar baixa no momento. Mas é o oposto, a fama da policia esta altíssima pois eles “salvaram Londres e arriscaram as suas vidas nas últimas horas “para “proteger” a população dos bairros afetados. Enfim, a população está muito suscetível ao que a midia diz. Além deste caso, tivemos um outro cidadão que foi morto durante os protestos do G20 em 2009. Enfim, não acredito que tenha uma conexão com os protestos do sul da Europa. Agora, se esta crise financeira atingir a Franca, a Alemanha e a Inglaterra... ai veremos a Europa pegar fogo.


Ivan Rubens
A policia inglesa tem reagido violentamente com quem usa roupas supostamente 'suspeitas'.


Diego Scardone
Sugeri uns vídeos que estão no youtube.
(consulte os vídos em luisclaudiopt.blogspot.com)
Esta parece ser uma questão de Multiculturalismo. Em 2009 se não me engano a Angela Merkel disse que multiculturalismo falhou na Alemanha. Em 2010, vem o Cameron dizendo o mesmo. Você tem todas as leis estabelecidas na França contra artigos religiosos que são visíveis (portando uma política heterogênea onde tds parecem iguais, então espera que a violência diminua). O parlamento italiano está votando nessa semana medidas parecidas às da França. A policia melhorou muito aqui mas ainda deve existir preconceito. Durante a guerra contra o terror, a maioria das pessoas paradas pela policia era de aparência árabe por exemplo. Mas essas são questões mais difíceis de lidar. O governo usa a chamado "Segurança Nacional" para lidar com estes problemas. A segurança nacional que entrou no lugar da SEGURANCA SOCIAL com todas a carga trazida pelas reformas neoliberais. Diante de todas essas transformações, como será que um país imagina a si próprio? Como a imagem do "outro" do "diferente" é estabelecida? A policia tem uma instituição poderosa em suas costas e pode fazer uso desta para atingir os seus objetivos. Muitas pessoas estão atacando os chamados "chavs" nas redes sociais. "Chavs" no Brasil nós os chamaríamos de "bregas"? não sei, mas não ficarei surpreso se a policia esteja parando tds q se vistam desta forma hj pela capital.


Mais tarde...


Diego Scardone
Interessante como as coisas estão evoluindo aqui. Esta se alastrando pelo país todo.
Então, várias cidades reportando problemas.
Interessante q a mídia não está mostrando muita coisa.
Escutei helicópteros e sirenes o dia td. Mas a mídia só repete o q já foi dito.
Não acho que está acontecendo a revolta que ambos gostaríamos que fosse.
Mas também o que a mídia fala pode não ser verdade.
Não ficarei surpreso se o que estiver acontecendo esteja sendo manipulado pela mídia para que pareça algo negativo. Todo o medo que colocam nas pessoas, enfim.


Ivan Rubens
Sem julgamentos. Estou certo de que existem razões, motivações. Algumas legítimas e outras não. Aposto que são impactos, de alguma forma, das políticas.


Diego Scardone
sim... de ideologias eu acho....




Ivan Rubens
Tem gente também que está aproveitando a situação. Mas as políticas de estado, as ideologias que se traduzem Tb nas políticas de Estado, e fundamentalmente os reflexos da crise do paradigma capitalista. Vc falou do estímulo ao consumo, do avanço desenfreado das fronteiras do mercado mundial e suas conseqüências. Jovens são bombardeados o tempo todo com anúncios, propagandas que falam dum mundo que existe mas não pertence a eles.


Diego Scardone
sim. Temo que a mídia esteja mostrando o q esta mostrando para deixar o povo com medo. Talvez esse fosse uma oportunidade para tds irem as ruas e protestar qto as políticas de austeridade. O medo colocado nas pessoas os prende em casa, paralisa. Tvz sejam "as massas" lá fora, mas a TV filtra o q quer mostrar. Mostra apenas os saques e não o propósito de destruir o símbolo do capital (bancos e outras corporações).


Outros comentários do Diego




Fico meio triste por ver esta juventude meio que se perdendo.
Penso muito no Brasil e nos problemas que temos ai: Exclusão social, consumismo e o bombardeio midiático dizendo a toda hora como "devemos ser/ o que devemos ter".
A destruição de prédios e os saques em lojas obviamente são irresponsáveis, mas acho fraco focarmos todo nosso senso crítico na punição dos responsáveis e não nas causas.


participaram desta conversa ainda, Luis Cláudio Messa Longo, Jaime Cabral e Antonio Morgado.
outras informações e vídeos disponíveis em luisclaudiopt.blogspot.com

A propósito das conferências e a vida real

Sábado choroso, perfeito pra leitura, cinema, namoro. Na mais paulista das avenidas, passearam. Circularam pelas transversais, interagiram com instalações, observaram pessoas, comportamentos. Contemplaram o MASP - Museu de Arte de São Paulo e o Parque Trianon – Parque Tenente Siqueira Campos. Observaram o frenesim de todo tipo de gentes, de casais. Amaram, se beijaram, circularam. Mais um belo e estranho dia para se ter alegria.

Ouviram trechos de canções na FNAC, fragmentos de literatura e recomposição das forças no conforto relativo dos sofás e pufes da Livraria Cultura. Um café para outra conversa e a caminhada segue. Sob a garoa num clima de romance, meia noite em Paris numa das salas do espaço Unibanco da rua Augusta. Dirigido por Woody Allen, a comédia romântica é ambientada em Paris. A canção Let’s do it (let’s fall in love) de Cole Porter, de 1928, um bem-humorado convite à vida instintiva, deixa o romance convidativo. A versão Façamos (vamos amar), de Carlos Rennó interpretada por Chico Buarque e Elza Soares fala da universalidade do amor.

Caminharam novamente pela noite paulistana sem destino. O durante era mais saboroso. Na estação da Luz uma cena chamou a atenção de ambos. Três moças caminhavam e, ao redor delas, muitos meninos tentando interagir com pouca gentileza. Tática nada exitosa.

No trem, lugares ocupados, algumas pessoas em pé. Um pastor pregando compulsivamente. As três moças sentadas lado a lado. Um rapaz aparentando 30 anos, em pé de frente para uma delas. Segue viagem. De súbito, um salto, um grito. A jovem com sapatos de salto alto, tentando recuperar o fôlego, acusa o rapaz de tê-la atentado o pudor. O pastor pregando. O rapaz mudo. A moça aos berros. Atônitos, passageiros buscando compreensão.

Recuperada do susto inicial, a moça reafirma suas acusações. Revoltadas com a obscenidade e tamanha violência, as amigas ajudaram a vítima a raciocinar: o que nós vamos fazer com esse safado?

O pastor pregando. Passageiros/as tomando partido até o momento em que escutaram do acusado: “foi sem querer”. Aquele júri popular decretara a sentença e nenhuma dúvida mais pairava naquele vagão: trata-se de um tarado. Revolta geral. A pequena multidão enfurecida, situação fora de controle, vias de fato. De sapato em punho, a vítima desferia golpes contra o rapaz. O salto agulha zumbia. O pastor pregava.

Portas abertas, a equipe de segurança da estação agiu entre sopapos e bofetões. Dizem que o procedimento padrão é averiguar na delegacia de polícia. Quem permaneceu no vagão, seguindo viagem, ânimos se acalmando. Nesse ínterim, a revolta migrava ao pastor que, pregando, percebeu e tratou de descer apressado. O casal do início da história nunca imaginou um sábado choroso iniciado com cultura, passando pelo romance e terminando no crime.

Nesse universo, temas como cultura, lazer, trânsito e transporte, comportamento, violência e outros, estão em debate na Conferência de Políticas para Mulheres e na Conferência de Políticas para Juventude.


Ainda o fundamentalismo

O ato terrorista perpetrado na Noruega de forma calculada por um solitário extremista norueguês de 32 anos, trouxe novamente  à baila a questão do fundamentalismo. Os governos ocidentais e a mídia induziram a opinião pública mundial a associar o fundamentalismo e o terrorismo quase que exclusivamente a setores radicais do Islamismo. Barack Obama dos USA e David Cameron do Reino Unido se apressaram em solidarizar-se com governo da Noruega e reforçaram a idéia de dar batalha mortal ao terrorismo, no pressuposto de que seria um ato da Al Qaeda. Preconceito. Desta vez era um nativo, branco, de olhos azuis, com nivel superior e cristão, embora o The New York Times o apresente “sem qualidades e fácil de se esquecer”.

Além de rejeitar decididamente o terrorismo e o fundamentalismo devemos procurar entender o porquê deste fenômeno. Já abordei algumas vezes nesta coluna tal tema que resultou num livro “Fundamentalismo, Terrorismo, Religião e Paz: desafio do século XXI”(Vozes 2009). Ai refiro, entre outras causas, o tipo  de globalização que predominou desde o seu início, uma globalização fundamentalmente da economia, dos mercados e das finanças. Edgar Morin a chama de “a idade de ferro da globalização”. Não se seguiu, como a realidade pedia, uma globalização política (uma governança global dos povos), uma globalização ética e educacional. Explico-me: com a globalização inauguramos uma fase nova da história do Planeta vivo e da própria humanidade. Estamos deixando para trás os limites restritos das culturas regionais com suas identidades e a figura do estado-nação para entrarmos cada vez mais no processo de uma história coletiva, da espécie humana, com um destino comum, ligado ao destino da vida e, de certa forma, da própria Terra. Os povos se puseram em movimento, as comunicações universalisaram os contactos e multidões, por distintas razões, começam a circular pelo mundo afora.

A transição do local para o global não foi preparada, pois o que vigorava era o confronto entre duas formas de organizar a sociedade: o socialismo estatal da União Soviética e o capitalismo liberal do Ocidente. Todos deviam alinhar-se a uma destas alternativas. Com o desmonte da União Soviética, não surgiu um mundo multipolar mas o predomínio dos EUA como a maior potência econômico-militar que começou a exercer um poder imperial, fazendo que todos se alinhassem a seus interesses globais. Mais que globalização em sentido amplo, ocorreu uma espécie de ocidentalização mundo e, em sua forma pejorativa,uma hamburguerização. Funcionou como um rolo compressor, passando por cima de respeitáveis tradições culturais. Isso foi agravado pela típica arrogância do Ocidente de se sentir portador da melhor cultura, da melhor ciência, da melhor religião, da melhor forma de produzir e de governar.

Essa uniformização global gerou forte resistência, amargura e raiva em muitos povos. Assistiam a erosão de sua identidade e de seus costumes. Em situações assim surgem, normalmente, forças identitárias que se aliam a setores conservadores das religiões, guardiães naturais das tradições. Dai se origina o fundamentalismo que se caracteriza por conferir valor absoluto ao seu ponto de vista. Quem afirma de forma absoluta sua identidade, está condenado a ser intolerante para com os diferentes, a desprezá-los e, no limite, a eliminá-los.

Este fenômeno é recorrente em todo o mundo. No Ocidente grupos significativos de viés conservador se sentem ameaçados em sua identidade pela penetração de culturas não-européias, especialmente do Islamismo. Rejeitam o multiculturalismo e cultivam a xenofobia. O terrorista norueguês estava convencido de que a luta democrática contra a ameaça de estrangeiros na Europa estava perdida. Partiu então para uma solução desesperada: colocar um gesto simbólico de eliminação de “traidores” multiculturalistas.

A resposta do Governo e do povo norueguês foi sábia: responderam com flores e com a afirmação de mais democracia,  vale dizer, mais convivência com as diferenças, mais tolerância, mais hospitalidade e mais solidariedade. Esse é o caminho que garante uma globalização humana, na qual será mais difícil a repetição de semelhantes tragédias.



Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Face à crise: quatro princípios e quatro virtudes

A frase de Einstein goza de plena atualidade: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai superá-la”. É tarde demais para fazer só reformas. Estas não mudam o pensamento. Precisamos partir de outro, fundado em princípios e valores que possam sustentar um novo ensaio civilizatório. Ou então temos que aceitar um caminho que nos leva a um precipício. Os dinossauros já o percorreram.

Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.

O primeiro é o cuidado. É uma relação de não agressão e de amor à Terra e a qualquer outro ser. O cuidado se opõe à dominação que caracterizou o velho paradigma. O cuidado regenera as feridas passadas e evita as futuras. Ele retarda a força irrefreável da entropia e permite que tudo possa viver e perdurar mais. Para os orientais o equivalente ao cuidado é a compaixão; por ela  nunca se deixa o outro que sofre abandonado, mas se caminha, se solidariza e se alegra com ele.

O segundo é o respeito. Cada ser possui um valor intrínseco, independetemente de seu uso humano. Expressa alguma potencialidade do universo, tem algo a nos revelar e merece exisitir e  viver. O respeito reconhece e acolhe o outro como outro e se propõe a conviver pacificamente com ele. Ético é respeitar ilimitadamene  tudo o que existe e vive.

O terceiro é a responsabilidade universal. Por ela, o ser humano e a sociedade se dão conta das consequências benéficas ou funestas de suas ações. Ambos precisam cuidar da qualidade das relações com os outros e com a natureza para que não seja hostil mas amigável à vida. Com os meios de destruição já construidos, a humanidade pode, por falta de responsabilidade, se autoeliminar e danificar a biosfera.

O quarto princípio é a cooperação incondicional. A lei universal da evolução não é a competição com a  vitória do mais forte mas a interdependência de todos com todos. Todos cooperam entre si para coevoluir e para assegurar a biodiversidade. Foi pela cooperação de uns com os outros que nossos ancestrais se tornaram humanos. O mercado globalizado se rege pela mais rígida competição, sem espaço para a cooperação. Por isso, campeiam o individualismo e o egoismo que subjazem à crise atual e que impediram até agora qualquer consenso possível face às mudanças climáticas.

Os quatro princípios devem vir acolitados por quatro virtudes, imprescindíveis para a consolidação da nova ordem.

A primeira é a hospitalidade, virtude primacial, segundo Kant, para a república mundial. Todos tem o direito de serem acolhidos o que correspode ao dever de acolher os outros. Esta virtude será fundamental face ao fluxo dos povos e aos milhões de refugiados climáticos que surgirão nos próximos anos. Não deve haver, como há, extra-comunitários.

A segunda é a convivência com os diferentes. A globalização do experimento homem não anula as diferenças culturais com as quais devemos aprender a conviver, a trocar, a nos complementar e a nos enriquecer com os intercâmbios mútuos.

A terceira é a tolerância. Nem todos os valores e costumes culturais são convergentes e de fácil aceitação. Dai impõe-se a tolerância ativa de reconhecer o direito do outro de existir como diferente e garantir-lhe sua plena expressão.

A quarta é a comensalidade. Todos os seres humanos devem ter acesso solidário e suficiente aos meios de vida e à seguridade alimentar. Devem poder  sentir-se membros da mesma família que comem e bebem juntos. Mais que a nutrição necessária, trata-se de um rito de confraternização.

Todos os esforços serão em balde se a Rio+20 de 2012 se limitar à discussão apenas de medidas práticas para mitigar o aquecimento global, sem discutir outros princípios e valores que podem gerar um consenso mínimo entre todos e assim conferir sustentabilidade à nossa civilização. Caso contrário, a crise continuará sua corrosão até se transformar num tragédia. Temos meios e ciência para isso. Só nos faltam vontade e amor à  vida, à nossa, e a de nossos filhos e netos. Que o Espírito que preside à história, não nos falte.

Leonardo Boff é autor de Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela Terra, Vozes 1999.

Quando o canto é reza e afinidades

Afinidade: qualidade de afim, conformidade, conexão, aproximação, relação, semelhança, simpatia. As afinidades aproximam as pessoas mesmo que fisicamente muito distantes. É pensar parecido a respeito de coisas que mobilizam, que impressionam. Não raro, são as mesmas coisas que afetam pessoas com afinidades.

Afinidades são atemporais. Quando há afinidade, naturalmente o diálogo é retomado e a relação é (re)colocada no ponto mesmo em que foi interrompido. Ter afinidade significa que a relação (seja ela do tipo que for) está pairando num patamar superior, num estágio mais evoluído. As afinidades sublimam as relações. É o mistério acima do real, o subjetivo acima do objetivo. A vitória do permanente sobre o transitório.

Afinidades não têm limites espaciais. Já li que durante o sono nossos fluidos saem do corpo e voam longe, buscam os amigos distantes, os amores latentes, buscam o não vivido. Li também que os sonhos estão numa dimensão sublimada onde o impossível não existe. Afinidade é inconsciente, é ancestral, é maior que a existência, vence a morte. Não depende dos códigos verbais. É o mais independente dos sentimentos.

No começo do ano, um amigo me perguntou se eu conhecia Roberta Sá. Ele estava encantado com o álbum Quando o Canto é Reza, de 2010, trabalho em parceria com o trio Madeira Brasil e canções de Roque Ferreira. São 13 belas canções, ouvi e gostei.

Roberta Sá é potiguar de Natal, cujo natalício, com o perdão do trocadilho, aconteceu em 1980. Seu primeiro álbum foi Braseiro, de 2005, e belas interpretações de canções de Chico Buarque, Pelas Tabelas, Miltinho e Paulo César Pinheiro, Cicatrizes, Dorival Caymi, A Vizinha do Lado, e, de Marcelo Camelo a bela canção Casa Pré-Fabricada. Gravou com Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede, MPB-4. Em 2007, Que belo estranho dia pra se ter alegria, traz mais um belo repertório e parcerias com Hamilton de Holanda, Marcos Suzano. Em 2009, Pra Se Ter Alegria ao vivo no Rio.

Ela conta: “lá em casa, qualquer reunião de família vira festa. E quando digo ‘lá em casa’, também me refiro à família da minha mãe (...) onde aprendi as primeiras músicas da minha vida. Me ensinaram a gostar e, sobretudo, idolatrar os compositores e poetas da música popular brasileira. A família do meu pai, igualmente grande, como toda família nordestina, adora mesa farta, família em volta e, claro, música para acompanhar”.

Roberta Sá é uma cantora talentosa e de ótimas influências musicais. Cursou a faculdade de comunicação social e se encontrou profissionalmente no rádio. Contudo, já havia sido escolhida pela música. O jornalismo e a comunicação talvez tenham perdido. Ganharam a música popular brasileira e quem se delicia com sua voz suave, com seu repertório cuidadoso, com sua alegria inibida sobre o palco. Dentre eles, o amigo que me fez a pergunta e eu próprio.

Mas por que estou falando disso? Bem, o álbum (e a pergunta) que resultou numa reflexão sobre as afinidades, foi premiado no 22º prêmio da Música Popular Brasileira como o melhor álbum na categoria Música Popular Brasileira. Roberta Sá foi escolhida melhor cantora na mesma categoria.

Afinidades.


Pelas Tabelas


Falsa Bahiana

Cicatrizes

Casa pré fabricada



sobre o proceso de criação do CD parte I

sobre o processo de criação do CD - parte 2

A perda de confiança na ordem atual

Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo



Na perspectiva das grandes maiorias da humanidade, a atual ordem é uma ordem na desordem, produzida e mantida por aquelas forças e países que se beneficiam dela, aumentando seu poder e seus ganhos. Essa desordem se deriva do fato de que a globalização econômica não deu origem a uma globalização política. Não há nenhuma instância ou força que controle a voracidade da globalização econômica. Joseph Stiglitz e Paul Krugman, dois prêmios Nobel em economia, criticam o Presidente Obama por não ter imposto freios aos ladrões de Wall Street e da City, ao invés de se ter rendido a eles. Depois de terem provocado a crise, ainda foram beneficiados com inversões bilionários de dinheiro público. Voltaram, airosos, ao sitema de especulação financeira.
Estes excepcionais economistas são ótimos na análise mas mudos na apresentação de saidas à atual crise. Talvez, como insinuam, por estarem convencidos de que a solução da economia não esteja na economia mas no refazimento das relações sociais destruidas pela economia de mercado, especialmente, a especulativa. Esta é sem compaixão e desprovida de qualquer projeto de mundo, de sociedade e de política. Seu propósito é acumular maximamente, apropiando-se de bens comuns vitais como água, sementes e solos e destroçado economias nacionais.
Para os especuladores, também no Brasil, o dinheiro serve para produzir mais dinheiro e não para produzir mais bens. Aqui o Governo tem que pagar 150 bilhões de reais anuais pelos empréstimos tomados, enquanto repassa apenas cerca de 60 bilhões para os projetos sociais. Esta dispariedade resulta eticamente perversa, consequência do tipo de sociedade a qual nos incorporamos, sociedade essa que colocou, como eixo estruturador central, a economia  que de tudo faz mercadoria até da vida.
Não são poucos que sustentam a tese de que estamos num momento dramático de decomposição dos laços sociais. Alain Touraine fala até de fase pós-social ao invés de pós-industrial.
Esta decomposição social se revela por polarizações ou por lógicas opostas: a lógica do capital produtivo cerca de 60 trilhões de dólares/ano e a do capital especulativo, cerca de 600 trilhões de dólares sob a égide do “greed is good”(a cobiça é boa). A lógica dos que defendem a maior lucratividade possivel e a dos que lutam pelos direitos da vida, da humanidade e da Terra. A lógica do individualismo que destrói a “casa comum”, aumentando o número dos  que não  querem mais conviver e a lógica da solidariedade social a partir dos mais vulneráveis. A lógica das elites que fazem as mudanças intrasistêmicas e se apropriam dos lucros e a lógica dos assalariados, ameaçados de desemprego e sem capacidade de intervenção. A lógica da aceleração do crescimento material (o PAC) e a dos limites de cada ecossistema e da própria Terra.
Vigora uma desconfiança generalizada de que deste sistema não poderá vir nada de bom para a humanidade. Estamos indo de mal a pior em todos os itens da vida e da natureza. O futuro depende do cabedal de confiança que os povos depositam em suas capacidades e nas possibilidades  da realidade. E esta confiança está minguando dia a dia.
Estamos nos confrontando com esse dilema: ou deixamos as coisas correrem assim como estão e então nos afundaremos numa crise abissal ou então nos empenharemos na gestação de uma nova vida social, capaz de sustentar um outro tipo de civilização. Os vínculos sociais novos não se derivarão nem da técnica nem da política, descoladas da natureza e de uma relação de sinergia com a Terra. Nascerão de um consenso mínimo entre os humanos, a ser ainda construido, ao redor do reconhecimento e do respeito dos direitos da vida, de cada sujeito, da humanidade e da Terra, tida como Gaia e nossa Mãe comum. A essa nova vida social devem servir a técnica, a política, as instituições e os valores do passado. Sobre isso venho pensando e escrevendo já pelo menos há vinte anos. Mas é voz perdida no deserto. “Clamei e salvei a minha alma”(clamavi et salvavi animam meam), diria desolado Marx. Mas importa continuar. O improvável é ainda possível.

Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Leonardo Boff é autor de Virtudes para um outro mundo possivel 3 vol. Vozes 2005.

Raquearam o email da Dilma

Raquearam a caixa de email da presidenta Dilma.
Isso quer dizer o seguinte: a presidenta Dilma tem, como é normal, contas de email. Não tenho ideia de quantas, mas tem. Inclusive contas de email em que ela trata de questões pessoais.
Bem, raquearam os emails da presidenta. E a Folha de São Paulo deu o furo acerca do conteúdo das 600 mensagens. E a FSP especula a respeito do conteúdo das mensagens.
Em nenhum momento a FSP aborda a quetão do direito ao sigilo ou a quebra.
Fico imaginando se fato parecido ocorresse com algum tucano. Imaginem comigo: FHC tem seu email pessoal violado. Como seria a abordagem da FSP? abordariam o escândalo da quebra do sigilo, do direito à privacidade, fariam apologia às liberdades individuais e dos interesses políticos 'escusos' de quem promoveu tal ato, absurdo é claro. E iniciariam um processo de caça às bruxas que praticaram tal heresia. Crime é pouco.
Na Folha de hoje, nenhuma linha sobre a segurança das informações do grupo UOL. O email da presidenta Dilma que foi violado é @uol.
E mais um detalhe: até onde eu sei, a FSP é acionista do grupo UOL.

Roda BALEIRO, atenção

Quem, mais ou menos da minha geração, se lembra das balas de leite Kids?

Roda, roda baleiro, atenção. Quando o baleiro parar põe a mão. Pegue a bala mais gostosa do planeta. Não deixe que a sorte se intrometa. Bala de leite Kids, a melhor bala que há. Bala de leite Kids, quando o baleiro parar. Esse jingle de autoria de Sérgio Mineiro e Renato Teixeira, foi veiculado no final da década de 1970 e é lembrado até hoje. Sim, o caipira Renato Teixeira de Romaria gravada por Elis Regina, Tocando em frente gravada por Maria Bethânia, Amanheceu, peguei a viola, das parcerias com Almir Sater, Sérgio Reis e outros. Sonho de criança ser bombeiro, astronauta, cientista, eu pensava em ser caminhoneiro inspirado nas histórias de Pedro e Bino da sério Carga Pesada, e na canção Frete, tema de abertura.

O álbum de 1992 com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho ao vivo em Tatuí, prêmio Sharp de melhor disco e prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte é um dos mais belos da minha coleção. Me encontrei com Pena Branca no Terminal Rodoviário do Tietê. Eu a caminho de Rio Claro, ele e suas violas a caminho de algum lugar que já não me lembro. Falamos da parceria e do álbum. O que mais me chamou a atenção durante a conversa foi o carinho e a saudade que devotava ao irmão, Xavantinho, falecido em 1999 aos 56 anos de idade. Pena Branca faleceu em 2010 aos 70 anos de idade.

Mas vamos falar de outro Baleiro. José Ribamar Coelho Santos, maranhense de São Luiz nascido em 11 de abril de 1966. Descendente de comerciantes cristãos vindos de Homs na Síria que aportaram em terras brasileiras em 1905. Músico, cantor e compositor de influência eclética que resultou numa musicalidade bem peculiar. Suas composições são interessantes, suas letras criativas, suas sacadas perspicazes, o que torna sua obra marcante. Ao ouvir algumas de suas canções interpretadas por outros cantores ou cantoras, é possível perceber: essa canção é do Zeca Baleiro.

A influência musical da mãe trouxe o samba de Noel Rosa, Wilson Batista, Ismael Silva e outros bambas. Baleiro adora Jackson do Pandeiro, gosta de rock, folk, blues, e revela a influência da música africana em sua obra, também do baião, do pop e até da música eletrônica.

Em coro com as crianças de casa, cantamos Mamãe Oxum, de domínio público cuja adaptação de Zeca Baleiro interpretada em parceria com Chico Cesar, está no bom CD Por onde andará Stephen Fry (1997). Eu vi mamãe oxum na cachoeira / sentada na beira do rio / colhendo lírio lirulê / colhendo lírio lirulá / colhendo lírio pra enfeitar o seu gongá (...). No mesmo disco está Pedra de Responsa em parceria com Chico César. Baleiro começou sua carreira com canções para peças infantis. Foi morar em São Paulo onde, nos anos 90, dividiu apartamento com Chico César. Gravou também com Arnaldo Antunes, Paulinho Moska, Fagner, Zeca Pagodinho, Zé Ramalho e outros.

Brinca com a sonoridade das palavras independente do idioma. Samba do approach e Babylon são exemplos. Fala do cotidiano com uma graça respeitosa. Eu curto Heavy metal do senhor e Salão de Beleza.

Zeca Baleiro esteve em Rio Claro no aniversário da cidade. Acompanhado da Orquestra Sinfônica de Rio Claro, o show rolou no Jardim Público. Foi muito bom. O centro da cidade como pólo atrativo, o povo na praça, um show aberto à participação de todos e todas democratizando o acesso. Boa iniciativa da Prefeitura Municipal que caminha para se tornar política pública de cultura.

Espetáculo de convívio social. Saímos de casa, fomos às ruas, ocupamos o espaço público com boa música, com dança e com alegria. Rodamos com o Baleiro a sola do meu bamba chegar ao fim, como ele sugere na canção Vai de Madureira.

Bem, para desvendar o mistério, o apelido deste Baleiro vem de seu consumo implacável de doces, balas e outras guloseimas.

Ivan Rubens Dário Jr

Publicado do Jornal Cidade de Rio Claro

 


Frete



em Rio Claro




Salão de Beleza - lindo o clipe