Estive recentemente com o xamã Yanomami Davi Kopenawa. O xamã lança suas palavras na esperança de ouvidos abertos, cabeças abertas para pensamentos novos, corações férteis para, quem sabe, brotar homens e mulheres renovados, um povo novo, um mundo novo.
Davi Kopenawa Yanomami sonhou muito, conversou com os seres da floresta, com os seres encantados, conversou com as lideranças indígenas mais antigas, com seus ancestrais, Davi pensou muito para fazer (o livro) ‘A Queda do Céu’. A propósito das palavras que estão no livro, ele apontou caminhos que podemos percorrer no sentido de viver uma vida boa, como se a vida fosse uma grande viagem... andarilhagens pelo mundo.
O xamã Yanomami falou aos não indígenas: “Vou explicar para vocês, e isso é muito importante, eu sempre falo da minha mãe Terra. Eu sempre agradeço pela água porque a água é vida para mim e para todos os seres vivos. Sem água não há vida para ninguém. Vamos respeitar a água!!! Esse é o caminho…”. Muitos são os caminhos. Tem o caminho da mineração, tem o caminho do desmatamento, tem o caminho da destruição, escolher os caminhos é uma escolha política, uma decisão política. As decisões não veem do nada. As decisões políticas nascem no coração das pessoas, no modo como elas se relacionam consigo mesmas, consigo e com os outros seres, no modo de relação consigo - com os outros - com o mundo. Ele nos convida a pensar que nós somos resultado dessas relações. Davi Kopenawa aponta a decisão política do povo Yanomami:
“Nós também escolhemos o caminho de viver bem. Para viver bem é preciso ter água boa, é um caminho para ter saúde e alegria com vida, comida boa, água boa. Esse é o caminho dos Yanomamis: viver bem com a nossa mãe terra”. Pensar a Terra nessa dimensão maternal produz uma relação outra entre sujeito e ambiente. Um afeto positivo, um bom afeto, um afeto de alegria com a Terra. Talvez os Yanomamis conheçam a filosofia de Baruch de Espinosa (1632-1677). Talvez Espinosa conheça a filosofia dos Yanomamis na Amazônia, o jeito como têm vivido aqui na Amazônia nos últimos 10 mil anos. Ao tratar a Terra como mãe, um afeto bom se produz nas relações ‘sociedade e a natureza’, entre humanos e o meio ambiente, esta forma de vida humana e a forma de vida floresta.
Do ponto de vista dos indígenas como os Yanomamis, as escolhas políticas, o modelo de desenvolvimento, a economia dos não_indígenas deve parecer extremamente agressiva, para não dizer destruidora. Por exemplo: A mineração seria abrir buracos, fazer feridas no corpo da mãe; o desmatamento seria arrancar os cabelos, tirar a pele do corpo da própria mãe; o garimpo seria jogar mercúrio, a monocultura seria jogar veneno na pele, nos olhos, no nariz da própria mãe. Existe quem queira mal à própria mãe?
Escrevo este texto subindo o rio Amazonas. Navegamos no canal do Chicaia entre Almeirim e Prainha no estado do Pará. Do terceiro andar do barco vejo o pôr do sol: deslumbrante. Contemplo a mãe Terra. Logo encontrarei minha mãe Sandra. A benção minha mãe!
Ivan Rubens Dário Jr
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro na edição de 8 de julho de 2025.
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