Marchando em Carnaval


A Páscoa é, para cristãos, o dia em que se comemora a ressurreição do Cristo. O ovo da Páscoa é o símbolo da vida que inicia, uma espécie de novo tempo. Quaresma é o período de 40 dias que antecede o domingo de Páscoa. É um tempo dedicado à penitência, ao sacrifício como preparação para a Páscoa. Mas o que interessa nesta 3a feira é o carnaval.


Uma das origens da palavra carnaval vem do latim “carnem levare”, que significa “afastar-se da carne”. Então, pense comigo: vamos nos afastar de nossa carne, vamos libertar o corpo da realidade para brincar o carnaval. Vamos profanar no sentido de um tempo para, suspendendo a dureza do dia a dia, brincar. Então, carnaval é uma festa profana. No carnaval, a realidade está suspensa. É uma espécie de autorização para viver outras dimensões da existência. No carnaval as pessoas vestem suas fantasias, vivem suas fantasias. No carnaval as pessoas são pirata, bailarina, Pierrô, Colombina...


Renato Terra é um artista brasileiro. Ele assina o roteiro e a direção do documentário “Uma noite em 67”, registro do 3º Festival de Música Brasileira ocorrido em 1967. Entre os concorrentes estão Chico Buarque e MPB4, Caetano Veloso e Beat Boys, Gilberto Gil e Mutantes, Edu Lobo, e outros. Canções como Roda Viva, Alegria Alegria, Domingo no Parque, Ponteio e Sérgio Ricardo quebrando seu violão sob vaias do público presente. Mas voltemos ao carnaval.


Marchinha de carnaval é um gênero musical muito utilizado para ironizar a vida cotidiana, marcante sobretudo no século XX. Falo do humor sadio, aquele humor que torna a vida mais leve, em oposição a ironia de bolso, que rebaixa e desqualifica as pessoas, uma ironia de péssimo gosto que enverniza o racismo, o sexismo e a xenofobia. Encontrei num texto de Renato Terra e circulando na internet, marchinhas atualizadas para 2020. Veja:


Mamãe eu quero / mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar. / Dá a chupeta / dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê não chorar. Em 2020: Papai eu quero / papai eu quero, papai eu quero mamar. / Dá embaixada / dá embaixada, dá embaixada pro PT não voltar.


Yes, nós temos banana / Banana pra dar e vender... Em 2020: Yes, nós temos laranja / Laranja pra dar e vender / Laranja milícia / Emprega a família / Laranja é vitamina Q.


Sa-sa-saricando! Em 2020: Ra-ra-rachadinha / Todo mundo leva a vida na boquinha / Ra-ra-rachadinha / A viúva e o brotinho do Adriano / Flagraram no caixa eletrônico / Foi um assombro / Passaram pano. 


Lata d’água, assim: Lata d’água na cabeça / Lá vai Maria, não vai pra Disney / Sobe o dólar você dança / Acabou essa festança / Não vai pra Disney


Jardineira: Ô paneleiro por que está tão triste? / mas o que foi que te aconteceu / trocou o Temer pelo Bolsonaro / pagou de otário e se arrependeu.

E Cabeleira do Zezé, assim: Qual o paradeiro do Queiroz? / Onde é que ele tá? / Onde que ele tá? / Será que ele foi motorista? / Será que ele foi assessor? / Parece que anda sumido / Ninguém sabe onde ele foi / Corta o sigilo dele! / Corta o sigilo dele!