Para além do Orçamento Participativo
A experiência da implementação do Orçamento Participativo em Suzano nos coloca diante de um complexo de experiências e de vivências, ricas na multiplicidade e na pluralidade. Com a aposta do governo Marcelo Candido nos resultados do OP, trabalhamos com o amparo bibliográfico de Boaventura de Souza Santos, Suely Rolnik e Milton Santos para garantir a riqueza do processo, sob orientação do educador Romualdo Dias. Também aproveitamos os acúmulos de vários municípios que desenvolvem o OP, músicas de Chico Buarque, Gonzaguinha, Arnaldo Antunes, Chico César e poesias de Thiago Lara e Carlos Drummond.
Experimentamos espaços de interconhecimento e de auto-educação que potencializam o aprendizado recíproco entre os movimentos e organizações, tornam possível coligações e ações conjuntas. Porém, as ecologias de saberes não emergem espontaneamente do confronto com a monocultura do saber científico.
Nesta reflexão, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, aponta para a adoção de uma sociologia das ausências para tornar presentes e credíveis os saberes suprimidos, marginalizados e desacreditados. Há em Suzano um conjunto de condições para emergência desses saberes contra-hegemônicos, com possibilidade inclusive de formalização e convalidação institucional.
Conhecemos lugares que permitiram o diálogo permanente entre os diferentes tipos de saberes, a identificação de fontes alternativas de conhecimento, efetivando experiências com critérios alternativos de rigor e relevância, à luz de objetivos partilhados de transformação social emancipatória.
As ecologias dos saberes apelam para saberes contextualizados, situados e úteis, ao serviço de práticas transformadoras. Por conseguinte, só podem florescer em ambientes tão próximos quanto possível dessas práticas e de um modo tal que os protagonistas da ação social sejam reconhecidos como protagonistas da criação do saber.
No contexto dessa discussão surgiu e ganha força desde 2003, entre os participantes do Fórum Social Mundial, a proposta de criação da Universidade Popular dos Movimentos Sociais. As UPMSs têm por objetivo principal contribuir e aprofundar o interconhecimento no interior da globalização contra-hegemônica, mediante a criação de uma rede de interações orientadas, para promover a valorização crítica da enorme diversidade de saberes e práticas protagonizados pelos diferentes movimentos e organizações.
A novidade da UPMS reside no seu caráter intertemático, na promoção de reflexões/articulações entre movimentos. Trata-se de criar no mundo do ativismo progressista, uma consciência intertemática, intercultural, radicalmente democrática. Ou seja, se encontra com o nosso OP na medida em que procura superar a fragmentação das coisas, das idéias, dos pensamentos, buscando a complexidade maravilhosa da cidade, da sociedade e da vida.
O OP Suzano nos lança neste movimento em favor de uma universidade popular que, depois de um século de educação superior elitista, seja necessariamente uma contra-universidade. Para Carlos Drummond de Andrade no livro O CORPO:
Se procurar bem,
Você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.
(Lembrete, 1984)
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