Afinidade: qualidade de afim, conformidade, conexão, aproximação, relação, semelhança, simpatia. As afinidades aproximam as pessoas mesmo que fisicamente muito distantes. É pensar parecido a respeito de coisas que mobilizam, que impressionam. Não raro, são as mesmas coisas que afetam pessoas com afinidades.
Afinidades são atemporais. Quando há afinidade, naturalmente o diálogo é retomado e a relação é (re)colocada no ponto mesmo em que foi interrompido. Ter afinidade significa que a relação (seja ela do tipo que for) está pairando num patamar superior, num estágio mais evoluído. As afinidades sublimam as relações. É o mistério acima do real, o subjetivo acima do objetivo. A vitória do permanente sobre o transitório.
Afinidades não têm limites espaciais. Já li que durante o sono nossos fluidos saem do corpo e voam longe, buscam os amigos distantes, os amores latentes, buscam o não vivido. Li também que os sonhos estão numa dimensão sublimada onde o impossível não existe. Afinidade é inconsciente, é ancestral, é maior que a existência, vence a morte. Não depende dos códigos verbais. É o mais independente dos sentimentos.
No começo do ano, um amigo me perguntou se eu conhecia Roberta Sá. Ele estava encantado com o álbum Quando o Canto é Reza, de 2010, trabalho em parceria com o trio Madeira Brasil e canções de Roque Ferreira. São 13 belas canções, ouvi e gostei.
Roberta Sá é potiguar de Natal, cujo natalício, com o perdão do trocadilho, aconteceu em 1980. Seu primeiro álbum foi Braseiro, de 2005, e belas interpretações de canções de Chico Buarque, Pelas Tabelas, Miltinho e Paulo César Pinheiro, Cicatrizes, Dorival Caymi, A Vizinha do Lado, e, de Marcelo Camelo a bela canção Casa Pré-Fabricada. Gravou com Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede, MPB-4. Em 2007, Que belo estranho dia pra se ter alegria, traz mais um belo repertório e parcerias com Hamilton de Holanda, Marcos Suzano. Em 2009, Pra Se Ter Alegria ao vivo no Rio.
Ela conta: “lá em casa, qualquer reunião de família vira festa. E quando digo ‘lá em casa’, também me refiro à família da minha mãe (...) onde aprendi as primeiras músicas da minha vida. Me ensinaram a gostar e, sobretudo, idolatrar os compositores e poetas da música popular brasileira. A família do meu pai, igualmente grande, como toda família nordestina, adora mesa farta, família em volta e, claro, música para acompanhar”.
Roberta Sá é uma cantora talentosa e de ótimas influências musicais. Cursou a faculdade de comunicação social e se encontrou profissionalmente no rádio. Contudo, já havia sido escolhida pela música. O jornalismo e a comunicação talvez tenham perdido. Ganharam a música popular brasileira e quem se delicia com sua voz suave, com seu repertório cuidadoso, com sua alegria inibida sobre o palco. Dentre eles, o amigo que me fez a pergunta e eu próprio.
Mas por que estou falando disso? Bem, o álbum (e a pergunta) que resultou numa reflexão sobre as afinidades, foi premiado no 22º prêmio da Música Popular Brasileira como o melhor álbum na categoria Música Popular Brasileira. Roberta Sá foi escolhida melhor cantora na mesma categoria.
Afinidades.
Pelas Tabelas
Falsa Bahiana
Cicatrizes
Casa pré fabricada
sobre o proceso de criação do CD parte I
sobre o processo de criação do CD - parte 2
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