Conselheiros têm formação com Leonardo Boff

Jornal Diário de Suzano em 2009.
Matéria publicada na edição: 8274  
Gabriele Doro

DA REPORTAGEM LOCAL

Durante um evento de formação, na noite de ontem, o teólogo Leonardo Boff falou sobre a importância de construir escolas participativas. O evento, realizado no Complexo Educacional Mirambava, teve como tema “Participação popular é garantir direitos”. O intuito foi de proporcionar conhecimento para os 750 conselheiros municipais da educação

Desde quando foi formado em 2005, a Prefeitura procura proporcionar formação aos escolhidos para compor o conselho. “Este é o quinto ano que fazemos à formação dos conselhos. Desde o primeiro que foi formado avançamos muito no que estamos oferecendo”, comentou o prefeito Marcelo Candido (PT) que participou do evento.

Boff procurou abordar diversos temas com os educadores para que uma discussão ampla pudesse ser feita. “Temos que mostrar a necessidade de enriquecer nossa democracia em duas frentes. A primeira é de mostrar a democracia representativa e participativa. Já, a segunda frente é criar a consciência ecológica e ambiental”.

Antes de passar a formação aos educadores, Boff deu entrevista à imprensa no gabinete de Candido. Para ele, o ideal é que os estudantes pudessem ficar em tempo integral nas escolas. “O problema é em que estratégia vai manter os alunos na escola. Não devemos deixá-los por tempo integral só por deixar. O importante é que tudo seja educativo e que o aprendizado seja múltiplo. Que não privilegie somente uma inteligência”.

Candido afirmou que dentro do que foi exposto por Boff é importante ressaltar que os conselheiros, em Suzano, tem o poder de decisão. “Eu acho muito importante isto que o Leonardo Boff disse que a obrigação dos conselheiros é trazer a vida para dentro das escolas. Mesmo porque muitas vezes a escola é um ente distante, embora muitas vezes presente. A partir do momento que os conselhos podem decidir o destino da escola, nós damos um salto”.

CONSELHOS O Conselho de Escola tem como principais atribuições discussão e deliberação sobre questões de natureza administrativa, pedagógica e financeira nas unidades escolares. O processo eleitoral proposto tem por objetivo realizar uma ampla, transparente e democrática consulta aos segmentos de pais, responsáveis, alunos, professores e funcionários para sua composição.

Cerca de 12 mil pessoas participaram ao longo do mês de abril do processo eleitoral que definiu a composição dos Conselhos de Escola, sendo pouco mais de 10 mil da rede usuária, 900 professores e 730 funcionários. O resultado foi a eleição de 753 conselheiros e 311 suplentes.

Detalhes no sítio do Jornal Diário de Suzano

Conheço um homem...


Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Esbelto, de figura elegante, sempre fumando seu palheiro, ele foi um desbravador. Quando os colonos italianos não tinham mais terras para cultivar na Serra Gaúcha, eles, em grupo, emigraram para o interior de Santa Catarina, para as terras de Concórdia, notória por ser a sede das mais conhecidas empresas de carnes do pais, a Sadia e a Perdigão. Não havia nada, exceto alguns caboclos, sobreviventes da guerra do Contestado e grupos de indígenas kaigan. Reinavam os pinheirais, soberbos, a perder de vista.

Os colonos italianos vieram, organizados em caravanas, trazendo seu professor, seu puxador de reza e uma imensa vontade de trabalhar e de fazer a vida a partir do nada. Ele estudara vários anos com os jesuitas de São Leopoldo e acumulara vasto saber humanístico. Sabia latim e grego e lia em linguas estrangeiras. Viera para animar a vida daquela povera gente. Era mestre-escola, figura de referência e respeitadíssimo. Dava aulas de manhã e de tarde. À noite ensinava português para colonos que só falavam em casa italiano e alemão. Ao lado disso, abriu uma escolinha com os mais inteligentes para formá-los como guarda-livros para fazer a contabilidade das bodegas e vendas da região.

Como os adultos tinham especial dificuldade em aprender, usou um método criativo. Fez-se representante de uma distribuidora de rádios. Obrigava cada família a ter um rádio em casa e assim aprender o “brasilian” ouvindo programas em português. Montava cataventos e pequenos dínamos onde havia uma cascata para que pudessem recarregar as baterias. Como mestre-escola era um Paulo Freire avant la lettre. Conseguiu montar uma biblioteca de dois mil livros. Obrigava cada familia a levar um livro para casa, lê-lo e no domingo, depois da reza do terço em latim, formava-se uma roda onde cada um contava em português o que havia lido e entendido. Nós, pequenos, ríamos, a mais não poder, pelo português ruim que falavam. Não ensinava apenas o básico, mas tudo o que um colono devia saber: como medir terras, como devia ser o telhado do paiol, como tirar os juros, como cuidar da mata ciliar e tratar os terrenos com grande declive. Introduzia-nos nos rudimentos de filologia, ensinando-nos as palavras latinas e gregas. Nós pequenos, sentados atrás do fogão por causa do frio géiido, devíamos recitar todo o alfabeto grego, alpha, beta, gama, delta, teta...E mais tarde no colégio, nos enchíamos de orgulho ao mostrar aos outros e até aos professores donde vinham as palavras. Aos onze filhos incitava-os à muita leitura. Eu decorava frases de Hegel e de Darwin, sem entendê-las, para dar a impressão que tinha mais cultura que os outros.

Mas era um mestra-escola no sentido pleno da palavra porque não se restringia às quatro paredes. Saía com os alunos para contemplar a natureza, explicar-lhes os nomes das plantas, a importância das águas e das árvores frutíferas. Naqueles interiores distantes de tudo, funcionava como farmacêutico. Salvou dezenas de vidas usando a piniscilina sempre que chamado, não raro, tarde da noite. Estudava em livros técnicos os sintomas das doenças e como tratá-las.

Naqueles fundos ignotos de nosso pais, havia uma pessoa angustiada por problemas políticos e metafísicos. Criou até uma pequena roda de amigos que gostavam de discutir “coisas sérias” mas mais que tudo para ouvi-lo. Sem interlocutores, lia os clássicos do pensamento como Spinoza, Hegel, Darwin, Ortega y Gasset. Passava longas horas à noite colado ao rádio para escutar programas estrangeiros e se informar do andamento da segunda guerra mundial.

Era crítico à Igreja dos padres porque estes não respeitavam os vizinhos, todos protestantes alemães, condenados já ao fogo do inferno por não serem católicos. Opunha-se com dureza àqueles que discriminavam os “negriti” e os “spuzzetti”(os que cheiravam mal). A nós, filhos, obrigava-nos a sentar na escola sempre ao lado deles para aprender a respeitá-los e a conviver com os diferentes.

Sua piedade era interiorizada. Passou-nos um sentido espiritual e ético de vida: ser sempre honesto, nunca enganar e confiar irrestritamente na Providência divina. Para que seus onze filhos pudessem estudar e chegar à universidade vendia, aos pedaços, todas as terras que tinha ou herdara. No fim, vendeu até a própria casa. Sua alegria era sem limites quando vínhamos de férias pois assim podia discutir horas e horas conosco. E nos batia a todos. Morreu jovem, com 54 anos, extenuado de tanto trabalho e de serviço em função de todos. Sabiaa que ia morrer. Sonhava conversar com Platão, discutir com Santo Agostinho e estar entre os sábios. Na mesma hora e no mesmo dia em que embarquei no navio para estudar na Europa seu coração deixou de bater. Vim saber somente quando cheguei em Munique. Os irmãos e as irmãs inscreveram seu lema de vida na sua tumba:”De sua boca ouvimos, de sua vida aprendemos: quem não vive para servir não serve para viver”.


No dia 25 de maio de 2011 ele completaria cem anos. Este mestre-escola sábio e interiorano era Mansueto Boff, meu querido e saudoso pai.

Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

Veja seus artigos em http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm

Medalha Defesa Civil Nacional 2002


No Quartel General do Exército Brasileiro, o Prefeito Claudio Di Mauro
 recebeu a Medalha Defesa Civil Nacional.

A experiência de Defesa Civil Municipal trouxe para Rio Claro o reconhecimento nacional nesta área. O Prefeito Municipal Cláudio Di Mauro recebeu a Medalha Nacional de Defesa Civil na primeira edição de concessão, conforme Decreto Federal nr. 4.217, de 6 de maio de 2002.
Informações no sítio http://www.defesacivil.gov.br/

O negro samba, o negro joga capoeira

O samba é um gênero musical de raízes africanas surgido no Brasil, uma das principais manifestações da cultura popular. Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Hélio do Carmo, diretor de bateria e presidente do conselho deliberativo da GRASIFS, ao ouvir ‘Silêncio no Bexiga’, lembrou do episódio que inspirou essa linda canção.

Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas os cantos de escravos entoados pela avó também o influenciaram. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria.

Ele conta que Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Apitadores são os atuais diretores de bateria. Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade visitando suas amigas, batendo papo, tomando café. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N’água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.

A notícia chegou ao Bexiga na hora da Ave-Maria. O povão chorou a morte do sambista Pato N’água que foi imortalizado no samba ‘Silêncio no Bexiga’:
Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu; Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu; Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu; Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus. Silêncio...

Apenas o surdo encerra a canção, diminuindo seu compasso lentamente, simulando as batidas do coração. Até que pára de bater. Fim da história.


Nos primórdios do carnaval rioclarense, Tamoio e Voz do Morro desfilavam no centro da cidade. Ambas estão na origem da GRASIFS – a voz do morro (1956). Falar do samba e das religiões de matrizes africanas em Rio Claro é falar do povo negro. O compositor Gersão, parceiro do CCA, foi mestre-sala; seus netos, Lio e Sandra têm papel relevante na escola. Os sambistas Cidão, Durvalzinho, Celso e o mestre Malvino são a memória viva de um tempo cuja história é contada em sambas que sequer foram gravados. O Conselho da Comunidade Negra é presidido pela Diva; Sua neta, Kizie, é assessora da igualdade racial e conta com o apoio da Juventude Negra de RC – JUNERC que, junto da família Bronx, organizam a Black June, maior festa junina black do interior, sob coordenação do Davi Romualdo. Ari Rios, filho do finado Carlão (Magiclick), é presidente da GRASIFS. José de Assis, filho do Pilé, está na ala dos compositores.

Essa lista de nomes expressa, cada um à sua maneira, a luta por justiça e igualdade, a luta pela superação do preconceito, do racismo e, ao mesmo tempo, a alegria contagiante do carnaval. Na cadência bonita do samba, vamos agradecer ao povo negro sua contribuição fundamental na constituição da cultura brasileira. Um canto de alegria como superação do soluçar de dor.


publicado no Jornal Cidade de Rio Claro




GRASIFS 2011. o desfile na avenida. O samba é Griô



GRASIFS 2012 - samba enredo e imagens do carnaval 2011

A resistência negra, um samba e um Deputado

O samba é um gênero musical de raízes africanas surgido no Brasil, uma das principais manifestações da cultura popular brasileira. Podemos dizer que é uma linguagem por meio da qual os/as sambistas se expressam.

Recentemente, o mandato do Deputado Estadual José Candido organizou um importante ato político para marcar sua segunda posse junto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. É certo que a posse oficial aconteceu no Palácio 9 de julho, mas para um mandato popular, uma festa popular. Foram incontáveis manifestações de apoio, demonstração da liderança de Candido e dos vínculos políticos com a base social. O grupo Bom Ambiente fez um samba cuja inspiração tem relação com Suzano.

Geraldo Filme (1928-1995) foi um grande sambista. Seu pai era violinista mas foi com a avó que conheceu os cantos de escravos que influenciaram sua formação musical. Sua mãe, fundadora do primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, depois Escola de Samba Paulistano da Glória, tinha uma pensão nos Campos Elíseos onde fazia marmitas que o menino entregava, circulando por rodas de samba e tiririca (capoeira). Geraldo tem o nome ligado à história do carnaval paulistano, respeitado e querido por todas as escolas, em especial por sua ligação com o cordão do Vai-Vai. ‘Quem nunca viu o samba amanhecer / vai no Bexiga pra ver...’ é de sua autoria. São poucos registros de sua obra. ‘O Canto dos Escravos’ com Clementina de Jesus e Doca da Portela merece destaque.

No programa Ensaio da TV Cultura (1982), Geraldo Filme conta a história do samba ‘Silêncio no Bexiga’. Wálter Gomes de Oliveira, o Pato N´água, foi um dos maiores apitadores do samba paulistano. Desde o cordão do Vai-Vai, passou pelo Bexiga, pela Vila Santa Isabel que hoje é a Escola de Samba Acadêmicos do Tatuapé, Peruche, Camisa Verde. Apitadores são os atuais diretores de bateria.

Fera no apito, Pato N’água era um típico malandro dos anos 60, negro, alto, forte e valente na tiririca. Num dia de 1969, acertou com um taxista da capital de circular pela cidade. Visitou amigas, um cafezinho aqui, um papo acolá. Lá pelas tantas, o motorista, desconfiado, avisou a polícia. O corpo de Pato N’água foi encontrado numa lagoa às margens do rio Tietê aqui em Suzano. "O laudo dava infarte. Mas de susto não morreu porque era bravo. Afogado também não porque era Pato N´água", disse Geraldo Filme. Seus contemporâneos suspeitaram de perfuração com baioneta ou punhal.

Sobre essa história, Plínio Marcos (1935-1999) escreveu: "A notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, (...) o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga". (Folha de São Paulo, 13/fev/1977)

Silêncio / O sambista está dormindo / Ele foi mas foi sorrindo / A notícia chegou quando anoiteceu;
Escolas / Eu peço silêncio de um minuto / O Bixiga está de luto / O apito de Pato N'água emudeceu;
Partiu / Não tem placa de bronze / Não fica na história / Sambista de rua morre sem glória / Depois de tanta alegria que ele nos deu;
Assim / Um fato repete de novo / Sambista de rua, artista do povo / E é mais um que foi sem dizer adeus.
Silêncio...

José Candido é a expressão política desse povo que, mesmo enfrentando muita dificuldade, é capaz de dizer algo tão lindo em forma de samba. E deixar marcas profundas na nossa vida com a defesa de políticas públicas que transformam a vida para melhor, na organização da luta popular por justiça e igualdade, na superação do preconceito e do racismo. Vamos neste mês de maio fazer silêncio aos negros e negras que foram (para não dizer que ainda são) vítimas de genocídio. E também celebrar a abolição da escravatura, a resistência negra e a luta pelos direitos humanos.

Viva José Candido, Geraldo Filme e Pato N’água.





http://www.diariodesuzano.com.br/noticia.php?id=257863