Lá nos idos de 2005, aceitei o desafio de coordenar a implementação do Orçamento Participativo na cidade de Suzano, região metropolitana, zona Leste de São Paulo. Os municípios da região do alto Tietê caracterizam-se pela pequena alternância de poder político institucional e pelo conservadorismo. Assim, a experiência política suzanense é referência regional quando se discute a formulação e execução de políticas públicas destinadas à maioria da população na perspectiva da construção de uma cidade para todos e todas.
Falar da formulação de políticas é falar também de método. Do grego ‘méthodos’, “caminho para chegar a algum fim”. Se essa experiência de construir métodos democráticos é recente no Brasil, infelizmente em muitos municípios brasileiros o autoritarismo presente na cultura política ainda tem muita força e impede que processos cada vez mais democráticos sejam desencadeados no interior das instituições. Mandar fazer é bem mais fácil e proporcionalmente menos edificante. Nessa perspectiva, Rio Claro optou na última eleição municipal por um projeto político mais amplo, superando (espero que definitivamente) o outro projeto mais estreito, representado pelas figuras conservadoras da política local.
Iniciamos a implementação do Orçamento Participativo (OP) em Suzano diante do desafio de exercitar um governo municipal conectado com o esforço imenso de ampliar a democracia no país. Enquanto marca, denominamos participação popular um conjunto de ações nas diferentes áreas e trabalhamos essa idéia como eixo de governo. Animados(as), escolhemos a trilha sonora: ‘Vai passar’ de Chico Buarque.
Da mesma forma, um sem número de debates, livros e textos, conversas e canções nos animaram. Uma fala de Paulo Freire ajuda a dimensionar o desafio: “Tudo que a gente puder fazer no sentido de abrir mais a escola, no sentido de provocar, pedir, convocar, desafiar estudantes, merendeiras, zeladores, vigias, diretores de escola, coordenadores pedagógicos, médicos, dentistas, alunos, vizinho da escola, tudo que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão também. Tudo que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse país democraticamente. Quer dizer: o de ter voz, de ganhar voz e não apenas o de falar, não apenas o de dar bom dia. Ora, o conselho de escola é um dos momentos, um dos meios de que a gente pode se servir, se é que eu posso usar esse verbo, nessa luta pela democratização da escola e pela democratização do ensino no Brasil.” Nosso grande educador disse isso no período em que foi Secretário Municipal de Educação durante a gestão de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo.
Mas o raciocínio ganha amplitude e provoca inspiração se considerarmos que a atividade política é também pedagógica, e que todos os processos desencadeados no campo da ampliação da democracia são educativos. Para mim, trata-se de mostrar para as pessoas a necessidade de se apropriar daquilo que é nosso, daquilo que é de todos e todas, daquilo que é do povo. Todos os espaços e oportunidades se somam na construção paciente e cotidiana da democracia nas cidades e no país.
Você estava pensando que me esqueci do estado? não esqueci, não. É que na atual conjuntura, essa luta no estado de São Paulo é ainda muito maior.
Ivan Rubens Dario Jr.
Publicado no Diário de Suzano
Publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 02 de dezembro de 2009
Publicado no sítio do Jornal Cidade de Rio Claro
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