o que se esconde por trás do ódio ao PT? - parte II
o que se esconde por trás do ódio ao PT - parte II
O que se esconde por trás do ódio ao PT(II)?
07/03/2015
Já dissemos anteriormente e o repetimos: o ódio disseminado na sociedade e nas mídias sociais, não é tanto ao PT, mas àquilo que o PT propiciou para as grandes maiorias marginalizadas e empobrecidas de nosso país: sua inclusão social e a recuperação de sua dignidade. Não são poucos os beneficiados dos projetos sociais que testmunharam: “sinto-me orgulhoso não porque posso comer melhor e viajar de avião, coisa que jamais poderia antes, mas porque agora recuperei minha dignidade”. Esse é o mais alto valor político e moral que um governo pode apresentar: não apenas garantir a vida do povo, mas faze-lo sentir-se digno, alguém participante da sociedade.
Nenhum governo antes em nossa história conseguiu esta façanha memorável. Nem havia condições para realizá-la porque nunca houve interesse em fazer das massas exploradas de indígenas, escravos e colonos pobres, um povo consciente e atuante na construção de um projeto-Brasil. Importante era manter a massa como massa, sem possibilidade de sair da condição de massa, pois assim não poderia ameaçar o poder das classes dominantes, conservadoras e altamente insensíveis aos padecimentos do próximo. Essas elites não amam a massa empobrecida. Mas tem pavor de um povo que pensa, pois faz valer seus direitos e pode ameaçar os privilégios dela.
Para conhecer esta anti-história aconselho aos políticos, aos pesquisadores e aos leitores/as que leiam o estudo mais minucioso que conheço:”a política de conciliação: história cruenta e incruenta”, um largo capítulo de 88 páginas do clássico “Conciliação e reforma no Brasil” de José Honório Rodrigues (1965 pp. 23-111). Ai se narra, como a dominação de classe no Brasil, desde Mende de Sá até os tempos modernos, foi extremamente violenta e sanguinária, com muitos fuzilamentos e enforcamentos e até de guerras oficiais de extermínio dirigidas contra tribos indígenas como contra os botocudos em 1808.
Também seria falso pensar que as vítimas tiveram um comportamento conformista. Ao contrário, reagiram também com rebeliões e violência. Foi a massa indígena e negra, mestiça e cabocla a que mais lutou e que foi reprimida cruelmente, sem qualquer piedade cristã. Nosso solo ficou ensopado de sangue.
As minorias ricas e dominantes elaboraram uma estratégia de conciliação entre si, por cima da cabeça do povo e contra o povo, para manter a dominação. O estratagema sempre foi mesmo. Como escreveu Marcel Burstztyn (O país das alianças: as elites e o continuismo no Brasil, 1990): “o jogo nunca mudou; apenas embaralharam-se diferentemente as cartas do mesmo e único baralho.”
Foi a partir da política colonial e continuada até recentemente que se lançaram as bases estruturasis da exclusão no Brasil, como foi mostrado por grandes historiadores, especialmente por Simon Schwartzman com o seu “Bases do autoritarismo brasileiro” (1982) e Darcy Ribeiro com seu grandioso “O povo Brasileiro” (1995).
Existe, pois, com raízes profundas, um desprezo pelo povo, gostemos ou não. Esse desprezo atinge o nordestino, tido por ignorante (quando a meu ver é extremamente inteligente, vejam seus escritores e artistas), os afrodescendentes, os pobres econômicos em geral, os moradores de favelas (comunidades), e aqueles que têm outra opção sexual.
Ocorre que irrompeu uma mudança profunda graças às políticas sociais do PT: os que não eram começaram a ser. Puderam comprar suas casas, seu carrinho, entraram nos shoppings, viajaram de avião às multidões, tiveram acesso a bens antes exclusivos das elites econômicas.
Segundo o pesquisador Márcio Pochmann em seu Atlas da Desigualdade social no Brasil : 45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5 mil famílias extensas. Estas são nossas elites. Vivem de rendas e da especulação financeira, portanto, ganham dinheiro sem trabalho. Pouco o nada investem na produção para alavancar um desenvolvimento necessário e sustentável.
Segundo o pesquisador Márcio Pochmann em seu Atlas da Desigualdade social no Brasil : 45% de toda a renda e a riqueza nacionais é apropriada por apenas 5 mil famílias extensas. Estas são nossas elites. Vivem de rendas e da especulação financeira, portanto, ganham dinheiro sem trabalho. Pouco o nada investem na produção para alavancar um desenvolvimento necessário e sustentável.
Veem, temerosas, a ascensão das classes populares e de seu poder. Estas invadem seus lugares exclusivos. No fundo, começa a haver uma pequena democratização dos espaços sociais.
Essas elites formaram, atualmente, um bloco histórico cuja base é constituida pela grande mídia empresarial, jornais, revistas e canais de televisão, altamente censuradores do povo, pois lhe ocultam fatos importantes, banqueiros, empresários centrados nos lucros, pouco importa a devastação da natureza e ideólogos (não são intelectuais) que se especializaram em criticar tudo o que vem do governo do PT e fornecem superficialidades intelectuais em defesa do status quo.
Esta constelação anti-popular e até anti-Brasil suscita, nutre e difunde ódio ao PT como expressão do ódio contra aqueles que Jesus chamou de “meus irmãos e irmãs menores”, os humilhados e ofendidos de nosso pais.
Como teólogo me pergunto angustiado: na sua grande maioria, essas elites são de cristãos e de católicos. Como combinam esta prática perversa com a mensagem de Jesus? O que ensinaram as muitas Universidades Católicas e as centenas de escolas cristãs para permitirem surgir esse movimento blasfemo, pois, atinge o próprio Deus que é amor e compaixão e que tomou partido pelos que gritam por vida e por justiça?
Mas entendo, pois para elas vale o dito espanhol: entre Deus e o dinheiro, o segundo é primeiro.
Infelizmente.
O que se esconde atrás do ódio ao PT? parte I
o que se esconde atrás do ódio ao PT - parte I
O que se esconde atrás do ódio ao PT (I)?
07/03/2015
Há um fato espantoso mas analiticamente explicável: o aumento do ódio e da raiva contra o PT. Esse fato vem revelar o outro lado da “cordialidade” do brasileiro, proposta por Sérgio Buarque de Holanda: do mesmo coração que nasce a acolhida calorosa, vem também a rejeição mais violenta. Ambas são “cordiais”: as duas caras passionais do brasileiro.
Esse ódio é induzido pela midia conservadora e por aqueles que na eleição não respeitaram rito democrático: ou se ganha ou se perde. Quem perde reconhece elegantemene a derrota e quem ganha mostra magnanimidade face ao derrotado. Mas não foi esse comportamento civilizado que triunfou. Ao contrário: os derrotados procuram por todos os modos desligitimar a vitória e garantir uma reviravolta política que atendesse a seu projeto, rejeitado pela maioria dos eleitores.
Para entender, nada melhor que visitar o notório historiador, José Honório Rodrigues que em seu clássico Conciliação e Reforma no Brasil (1965) diz com palavras que parecem atuais:
”Os liberais no império, derrotados nas urmas e afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes; construíram uma concepção conspiratória da história que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias” (p. 11).
Esses grupos prolongam as velhas elites que da Colônia até hoje nunca mudaram seu ethos. Nas palavras do referido autor: “a maioria foi sempre alienada, antinacional e não contemporânea; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”(p.14 e 15). Hoje as elites econômicas continuam a abominar o povo. Só o aceitam fantasiado no carnaval. Mas depois tem que voltar ao seu lugar na comunidade periférica (favela).
Lamentavelmente, não lhes passa pela cabeça que “as maiores construções são fruto popular: a mestiçagem racial, que criava um tipo adaptado ao país; a mestiçavel cultural que criava uma síntese nova; a tolerância racial que evitou o descaminho dos caminhos; a tolerância religiosa que impossibiltou ou dificultou as perseguições da Inquisição; a expansão territorial, obra de mamelucos, pois o próprio Domingos Jorge Velho, devassador e incorporador do Piaui, não falava português; a integração psico-social pelo desrespeito aos preconceitos e pela criação do sentimento de solidariedade nacional; a integridade territorial; a unidade de língua e finalmente a opulência e a riqueza do Brasil que são fruto do trabalho do povo. E o que fez a liderança colonial (e posterior)? Não deu ao povo sequer os beneficios da saúde e da educação, o que levou Antônio Vieira a dizer:’Não sei qual lhe faz maior mal ao Brasil, se a enfermidade, se as trevas”(p. 31-32).
A que vêm estas citações? Elas reforçam um fato histórico inegável: com o PT, esses que eram considerados carvão no processo produtivo (Darcy Ribeiro) e o rebutalho social, conseguiram, numa penosa trajetória, se organizar como poder social que se transformou em poder político no PT e conquistar o Estado com seus aparelhos. Apearam do poder, pelo voto, as classes dominantes; não ocorreu simplesmente uma alternância de poder mas uma troca de classe social, base para um outro tipo de política. Tal saga equivale a uma autêntica revolução social, pacífica e de cunho popular.
Isso é intolerável para as classes poderosas que se acostumaram a fazer do Estado o seu lugar natural e de se apropiar privadamente dos bens públicos pelo famoso patrimonialismo, denunciado por Raymundo Faoro.
Por todos os modos e artimanhas querem ainda hoje voltar a ocupar esse lugar que julgam de direito seu. Seguramente, começam a dar-se conta de que, talvez, nunca mais terão condições históricas de refazer seu projeto de dominação/conciliação. Outro tipo de história política dará, finalmente, um destino diferente ao Brasil.
Para eles, o caminho das urnas se tornou inseguro pelo nível crítico alcançado por amplos estratos do povo que rejeitaram seu projeto político de alinhamento neoliberal ao processo de globalização, como sócios dependentes e agregados. O caminho militar será hoje impossível dado o quadro mundial mudado. Cogitam com a esdrúxula possibilidade da judicialização da política, contando com aliados na Corte Suprema que nutrem semelhante ódio ao PT e sentem o mesmo desdém pelo povo.
Através deste expediente, poderiam lograr um empeachment da primeira mandatária da nação. É um caminho conflituoso pois a articulação nacional dos movimentos sociais tornaria arriscado este intento e talvez até inviável.
O ódio contra o PT é menos contra PT do que contra o povo pobre que por causa do PT e de suas políticas sociais de inclusão, foi tirado do inferno da pobreza e da fome e está ocupando os lugares antes reservados às elites abastadas. Estas pensam em fazer, com boa consciência, apenas caridade, doando coisas, mas nunca buscando a justiça social.
Antecipo-me aos críticos e aos moralistas: mas o PT não se corrompeu? Veja o mensalão? Veja a Petrobrás? Não defendo corruptos. Reconheço, lamento e rejeito os malfeitos cometidos por um punhado de dirigentes. Devem ser julgados, condenados à prisão e até expulsos do PT. Traíram mais de um milhão de filiados e principalmente botaram a perder os ideais de ética e de transparência. Mas nas bases e nos municípios – posso testemunhá-lo em dezenas de assessorias – vive-se um outro modo de fazer política, com participação popular, mostrando que um sonho tão generoso não se deixar matar assim tão facilmente: o de um Brasil menos malvado, mais digno, justo pacífico. As classes dirigentes, por 500 anos, no dizer rude de Capistrano de Abreu, “castraram e recastraram, caparam e recaparam” o povo brasileiro. Há maior corrupção histórica do que esta?
Voltaremos ao tema.
*Leonardo Boff é colunista do Jornal do Brasil, teólogo, filósofo e escritor
Mega-cidade incomum
Sábado choroso, perfeito pra leitura, cinema, namoro. Na mais paulista das avenidas, passearam. Circularam pelas transversais, interagiram com instalações, observaram pessoas, comportamentos. Contemplaram o MASP - Museu de Arte de São Paulo e o Parque Trianon – Parque Tenente Siqueira Campos. Observaram o frenesim de todo tipo de gentes, de casais. Amaram, se beijaram, circularam. Mais um belo e estranho dia para se ter alegria.
Ouviram trechos de canções na FNAC, fragmentos de literatura e recomposição das forças no conforto relativo dos sofás e pufes da Livraria Cultura. Um café para outra conversa e a caminhada segue. Sob a garoa num clima de romance, meia noite em Paris numa das salas do espaço Unibanco da rua Augusta. Dirigido por Woody Allen, a comédia romântica é ambientada em Paris. A canção Let’s do it (let’s fall in love) de Cole Porter, de 1928, um bem-humorado convite à vida instintiva, deixa o romance convidativo. A versão Façamos (vamos amar), de Carlos Rennó interpretada por Chico Buarque e Elza Soares fala da universalidade do amor.
Caminharam novamente pela noite paulistana sem destino. O durante era mais saboroso. Na estação da Luz uma cena chamou a atenção de ambos. Três moças caminhavam e, ao redor delas, muitos meninos tentando interagir com pouca gentileza. Tática nada exitosa.
No trem, lugares ocupados, algumas pessoas em pé. Um pastor pregando compulsivamente. As três moças sentadas lado a lado. Um rapaz aparentando 30 anos, em pé de frente para uma delas. Segue viagem. De súbito, um salto, um grito. A jovem com sapatos de salto alto, tentando recuperar o fôlego, acusa o rapaz de tê-la atentado o pudor. O pastor pregando. O rapaz mudo. A moça aos berros. Atônitos, passageiros buscando compreensão.
Recuperada do susto inicial, a moça reafirma suas acusações. Revoltadas com a obscenidade e tamanha violência, as amigas ajudaram a vítima a raciocinar: o que nós vamos fazer com esse safado?
O pastor pregando. Passageiros/as tomando partido até o momento em que escutaram do acusado: “foi sem querer”. Aquele júri popular decretara a sentença e nenhuma dúvida mais pairava naquele vagão: trata-se de um tarado. Revolta geral. A pequena multidão enfurecida, situação fora de controle, vias de fato. De sapato em punho, a vítima desferia golpes contra o rapaz. O salto agulha zumbia. O pastor pregava.
Portas abertas, a equipe de segurança da estação agiu entre sopapos e bofetões. Dizem que o procedimento padrão é averiguar na delegacia de polícia. Quem permaneceu no vagão, seguindo viagem, ânimos se acalmando. Nesse ínterim, a revolta migrava ao pastor que, pregando, percebeu e tratou de descer apressado antes que sobrasse algum sopapo pecador.
veja um pouco de Meia Noite em Paris
Let’s do it (let’s fall in love) de Cole Porter, de 1928
Façamos (vamos amar), de Carlos Rennó.
Interpretação: Chico Buarque e Elza Soares
A cidade está sendo
O advérbio ‘quase’ é proposital. Claro
que não passo por lá todos os dias. Passo várias vezes por semana, sei lá
quantas, quatro ou cinco vezes. A paisagem também está ‘quase’ porque passa por
uma profunda transformação. Aquele lugar quase é o mesmo, mas não é. Isso
também serve para o sujeito da frase, para mim, e para você.
Paisagem e lugar são conceitos
geográficos. Para o geógrafo Milton Santos (1926-2001) a paisagem é expressão
materializada do espaço geográfico, é forma. “A paisagem se dá como conjunto de
objetos reais concretos”. Ao falar da força do lugar, Milton Santos qualifica
lugar como espaço produzido pela lógica das vivências cotidianas das pessoas e
a lógica dos processos econômicos, políticos e sociais. São fixos o arruamento,
os canteiros, as construções, e são fluxos os movimentos, o vai e vem
interminável das gentes. E por aí vai...
Voltemos então ao cruzamento da 7
com a 1. Lembra-se do pontilhão? Bem, mesmo que quisesse eu não poderia
esquecê-lo. No tempo em que atuei na Defesa Civil de Rio Claro, junto com
valorosos companheiros de trabalho estive várias vezes naquele que, de acordo
com a Política Nacional de Defesa Civil, era considerado um ponto de risco. A
passagem de veículos e pedestres que acontecia sob a linha do trem, acumulava
água nas ocorrências de chuva forte e concentrada, típicas de verão. Faço aqui
um parêntese para lembrar, com orgulho, que Rio Claro foi em 2002 referência
para os municípios brasileiros com a medalha nacional de Defesa Civil. A obra,
em fase final de execução, permite à Defesa Civil retirar mais um ponto do seu mapa
de risco.
Pois então, por muitas décadas o
pontilhão da avenida 7 permitiu idas e vindas, permitiu fluxos ligando dois
lados da cidade. Contudo, o incremento da vida urbana e o conseqüente aumento
de veículos e gentes tornou o pontilhão um obstáculo. Ele passou a estrangular
o fluxo e interditar o movimento. O fixo ‘pontilhão’ já não compõe aquela
paisagem.
Até pouco tempo atrás, muros e
obstáculos visuais limitavam o olhar. Agora, o olhar está mais profundo, tem
mais horizonte. Olhar a estação ferroviária daquela perspectiva provoca a
memória e traz lembranças da infância e das histórias que contam dos áureos
tempos da ferrovia. Disse minha avó: ‘uma obra que enfim está acontecendo’. Na
visão dela, o pontilhão da avenida 7 dividia a cidade em dois, um obstáculo à
circulação. Quase não é mais.
Importante decisão política da
atual gestão e mais um bom trabalho da Prefeitura. A obra está quase pronta e
está muito boa. Com jardinagem, folhagens e plantas ornamentais, a decoração
tornará ainda mais agradável meu caminhar. Além de melhorar o fluxo, os
movimentos, a cidade está ficando mais bonita. Caminhar faz bem para saúde, beleza
faz bem para os olhos e alimenta a vida. O povo merece!
Como diria o educador Paulo
Freire (1921-1997): “o mundo não é, o mundo está sendo”. A cidade está sendo.
Stuart, Zuleica e Angélica
Ainda menino, já se incomodava
nada acomodava diante da injustiça cravada
Um brilho de tragédia
O roteiro de um drama
Homem, lembra do abraço acolhedor no encontro
Povoa a memória dela a culpa de tê-lo perdido na praia
Ele quer mudar o mundo
Ela quer justiça no mundo
Para ele tudo acabou na escuridão do mar
Para ela tudo acabou na ausência dele
Ele tem coragem
Ela tem autoridade
Histórias se entrelaçam
e morteiros que abafam
Stuart e Zuleica
Angélica, a canção
nada acomodava diante da injustiça cravada
Um brilho de tragédia
O roteiro de um drama
Homem, lembra do abraço acolhedor no encontro
Povoa a memória dela a culpa de tê-lo perdido na praia
Ele quer mudar o mundo
Ela quer justiça no mundo
Para ele tudo acabou na escuridão do mar
Para ela tudo acabou na ausência dele
Ele tem coragem
Ela tem autoridade
Histórias se entrelaçam
e morteiros que abafam
Stuart e Zuleica
Angélica, a canção
discurso em homenagem ao JUCA JORDÃO na Câmara Municipal de Rio Claro/SP
Boa
noite.
Eu
sou Ivan Rubens, neto de José Rodrigues Jordão Filho, o Juca Jordão,
homenageado nesta noite.
Quero
cumprimentar aos presentes nessa noite, em particular a minha família, na
pessoa da minha avó. MARIA WITZEL JORDÃO.
Cumprimentar
aos vereadores dessa casa na pessoa do vereador SÉRGIO DESIDERÁ.
Agradecer
ao vereador SÉRGIO CARNEVALE pela iniciativa, e aos demais vereadores e
vereadoras que aprovaram o decreto legislativo e nesta sessão solene entregam a
medalha de honra post mortem. Importante dizer que esse tipo de homenagem, os
cumprimentos, as lembranças revelam o quão querido era o Juca e confortam nossa
família e ajudam a preencher o vazio deixado por ele.
Quero
cumprimentar ainda a família LUIZ GONZAGA DE ARRUDA CAMPOS, CARLOS RAFAEL
SANTOS ANDRADE e ARIOVALDO BUENO, homenageados nesta noite.
E,
na pessoa do músico SYDNEI BARRETO, parceiro de gaita do meu avô, cumprimentar
os músicos homenageados e presentes.
Quero
cumprimentar também OLGA SALOMÃO, vice Prefeita de Rio Claro, Dr. ÁLVARO PERIM,
ex-prefeito de Rio Claro e Dr. FERNANDO PADULA, mui digno juiz de direito.
Esta
noite solene e festiva reúne algumas coincidências curiosas. Meu avô está, de
algum lugar, nos olhando com um sorriso largo e muito orgulhoso por ter
reconhecida sua dedicação à comunidade rio-clarense. Mas principalmente por
estar mais uma vez junto do seu grande amigo Dr. Luiz Gonzaga de Arruda Campos,
e pela homenagem aos músicos. Neste dia da música, vou falar do meu avô a
partir de uma canção do João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro.
Chama-se:
ALÉM DO ESPELHO
Sempre
que um filho meu me dá um beijo
Sei
que o amor do meu pai não se perdeu
Só
de olhar seu olhar eu sei seu desejo
Assim
como meu pai sabia o meu
Mas
meu pai foi-se embora num cortejo
E
no espelho eu chorei porque doeu
Só
que vendo meu filho agora eu vejo
Que
ele é o espelho do espelho que sou eu
Vou
falar do Juca Jordão começando por sua contribuição cultural. Sua musicalidade
merece destaque. Foi gaiteiro dos bons. Tocou na Orquestra de Gaitas de Rio
Claro ainda menino. Tocou no Rapaziada do Morro - Quarteto Aparecida, no Trio
Continental de Gaitas e nos Anjos da Gaita. Acompanhou Nelson Gonçalves, ficou
amigo de Orlando Silva, Francisco Alves, Ivon Cury. Acompanhou Luis Vieira na
Rádio Tupy. Tocou com Sérgio Reis, esteve com Roberto Carlos. Em 1987 os Anjos
da Gaita se apresentaram na TV Bandeirantes com Fausto Silva, o Barreto estava
lá. Em 2005 venceu o quadro avós do Brasil no programa da Eliana na TV Record
tocando numa gaitinha de 4 furos a canção Cidade Maravilhosa.
Juca
também tocava violão. Bacana mesmo era tocar violão e gaita ao mesmo tempo,
cantar e fazer graça.
Juca
transbordava alegria em seus causos e piadas. E tinha a habilidade de aprimorar
seus causos a cada repetição, burilando e melhorando, tornando-os ainda mais
engraçados.
Ouvimos
histórias curiosas e engraçadíssimas do meu avô. Numa das tantas passagens com
o Dr. Luiz Gonzaga, ambos desciam a avenida 1 na baratinha 29 do Juca. Dr. Luiz
pediu para parar em frente ao cine Variedades quando meu avô respondeu: agora é
tarde. O senhor precisa avisar antes porque preciso de uns 100 metros para
frear até parar. A baratinha 29 tinha freios a varão.
Além
dos causos, muitos casos judiciais envolveram o Juiz de Direito e o advogado,
via de regra, na defesa dos interesses populares, do povo pobre e socialmente
injustiçado.
Juca
nasceu nas mãos de parteira, na Vila Aparecida em 1926. O pai do Juca, Zezinho
Ferreira, foi um dos pioneiros na construção da Igreja da Aparecida. Quando
menino, Juca foi coroinha, tirava as lágrimas das velas e acumulava a tarefa de
tocar o sino da igreja.
A
família era numerosa: Mauro, Celina, Aparecida, Adelino, Juca, Miguel, Luiz,
Doroti, Darcy e Maria Célia. Tio Mauro assumiu a prefeitura em 1947.
Juca
Jordão estudou no Grupo Escolar Irineu Penteado, no Bilac e no Alem.
Formou-se
contador, professor primário, pedagogo, orientador e diretor de escola,
advogado e cientista social.
Foi
comissário de menores e subdelegado de polícia. Trabalhou na Central Elétrica
de Rio Claro, lecionou na rede pública.
Juca
foi vereador na Câmara Municipal de Rio Claro, por três legislaturas até o
limiar do golpe militar de 1964. Sua atuação parlamentar foi popular. Já
naquela época, andava pelos bairros no diálogo direto com a população. Seus
conhecimentos em contabilidade permitiam um acompanhamento rigoroso das contas
públicas. Foi presidente da comissão de finanças, não é Dr. Perin?
Foi
professor muito querido. Era comum vermos ex-alunos falando com carinho ao
encontrá-lo na rua. Calculamos que cerca de 13.000 alunos aprenderam com ele
muita coisa, principalmente a gostar da vida e das pessoas.
Durante
os quase 70 anos de união com minha avó, MARIA WITZEL JORDÃO, a vida lhe deu 5
gerações sempre iniciadas por uma mulher professora:
as
filhas Vera Lúcia e Sandra Elisabete.
netas
e netos: Carla e Junior, Ivan, Graziella e Ivanessa.
Bisnetas/os:
Thais e Fábio, Raphael, Victor e Alícia, Helena e Sofia.
E
a tataraneta: Beatriz.
Gostava
de todos à sua volta. Irritantemente pontual. E pescador, donde buscava
inspiração para as suas melhores histórias.
Quero
dizer, vereador Sergio Desiderá, da justa homenagem e do reconhecimento que
muito conforta a família nessa experiência ainda recente da perda. Um processo
de luto que não termina com a aceitação da ausência do Juca, mas com o
aprendizado da ausência física dele, e a felicidade de poder sentir saudade,
recordando os bons momentos com ele vividos.
A
canção ALÉM DO ESPELHO continua assim:
Toda
imagem no espelho refletida
Tem
mil faces que o tempo ali prendeu
Todos
tem qualquer coisa repetida
Um
pedaço de quem nos concebeu
A
missão do meu pai já foi cumprida
Vou
cumprir a missão que Deus me deu
Se
o meu pai foi espelho em minha vida
Quero
ser pro meu filho espelho seu
Que
a memória do Juca e do Dr. Luiz permaneça viva servindo de espelho para essa
Câmara Municipal nos princípios da ética e na luta por uma por uma sociedade
justa, democrática e tolerante.
Que
fique para os vereadores, independentemente de coloração partidária ou opções
ideológicas, como espelho no sentido da coerência de quem nunca terceirizou a
prerrogativa de legislar tampouco privilegiou interesses privados. Muito pelo
contrário, o vereador Sergio Carnevalle sabe disso, sempre trabalhou como
vereador, professor ou advogado, pelo bem de uma cidade inteira, para todos e
todas, sem distinção.
Que
a memória do Juca permaneça viva num espelho de alegria, de convite para a
festa e de amor pela vida, a todos os presentes e em particular aos músicos.
Que
a memória do Juca permaneça viva espelhando carinho, dedicação, cuidado e união
em cada uma das filhas, netos e netas, bisnetos, bisnetas, tataraneta e tantos
que ainda virão.
Por
fim, quero agradecer aos trabalhadores e trabalhadoras desta casa, o pessoal de
apoio, funcionários, enfim, todos aqueles e aquelas que fazem viva essa casa de
leis e tornam possível essa bela e justa homenagem.
Sabe
Olga, o samba do João Nogueira e do Paulo Cesar Pinheiro termina com o refrão
que diz assim:
A
vida é mesmo uma missão
A
morte é uma ilusão
Só
sabe quem viveu
Pois
quando o espelho é bom
Ninguém
jamais morreu
Que
todos se espelhem nas pessoas que amam ou que amaram.
Obrigado
e Boa noite
Dr. Álvaro Perin e Maria Witzel Jordão.
Maria Witzel, Vera Lúcia e, ao fundo, Maria Tereza e Pedro Ivo
Maria Witzel, Vera Lucia e Sandra Elisabete ao fundo
Fala da vice prefeita de Rio Claro, Olga Salomão
com o vereador Sérgio Desiderá
Dr. Fernando Padula, Juiz de Direito; vereador Sérgio Carnevale, autor do decreto legislativo e Olga Salomão, vice prefeita de Rio Claro.
Com Malaguenha, Sidnei Barreto encerrou a sessão solene.
Além do espelho. João Nogueira
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