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A Seta e o Alvo é uma canção de Paulinho Moska. Certo dia, durante uma roda de conversa, um professor colocou a canção para alimentar o diálogo entre estudantes. A canção diz assim:
Eu falo de amor à vida, você de medo da morte / Eu falo da força do acaso e você, de azar ou sorte / Eu ando num labirinto e você, numa estrada em linha reta / Te chamo pra festa mas você só quer atingir sua meta / Sua meta é a seta no alvo / Mas o alvo, na certa não te espera
O diálogo entre estudantes fluindo… A menor distância entre dois pontos é a reta. Podemos olhar a reta em sua extensão: um risco numa folha de papel. Podemos olhar a partir de uma extremidade, de um ponto a outro ponto como se fosse um tubo, como sendo um ponto de partida e um ponto de chegada: um alvo, uma meta.
Eu olho pro infinito e você, de óculos escuros / Eu digo: "Te amo" e você só acredita quando eu juro / Eu lanço minha alma no espaço, você pisa os pés na terra / Eu experimento o futuro e você só lamenta não ser o que era / E o que era? Era a seta no alvo / Mas o alvo, na certa não te espera
O diálogo entre estudante continua fluindo… Existe uma certa obsessão por metas. Olhar apenas para a meta é uma espécie de vale tudo para atingir a meta, para chegar ao sucesso num jogo cruel onde os fins justificam os meios. E assim vamos criando pessoas “producentes”, “ambiciosas”, bem sucedidas. Mas, para que mesmo?
Eu grito por liberdade, você deixa a porta se fechar / Eu quero saber a verdade, e você se preocupa em não se machucar / Eu corro todos os riscos, você diz que não tem mais vontade / Eu me ofereço inteiro, e você se satisfaz com metade / É a meta de uma seta no alvo / Mas o alvo, na certa não te espera
O diálogo esquenta… Mesmo a seta não segue em linha reta até o alvo. A seta desenha uma parábola, ela faz um desvio, uma curva, um arco. E dá um susto danado perceber que os caminhos na vida não são linhas retas. Dá um susto danado perceber que a existência assumirá contornos que findarão na ironia da incerteza da chegada. Porque, limitar os processos a uma meta, a um alvo, é reduzir a acerto e sucesso de um lado, quando do outro lado está frustração, tristeza, fracasso. Mas, e o caminho? o caminho tocou você? O que você tocou durante a caminhada?
O diálogo pega fogo… Colocar a atenção no ponto final retira a atenção do trajeto, das paisagens, dos acontecimentos. As pedras do caminho exigem equilíbrio, nos fazem desacelerar. Então, apontamos o nosso olhar para a pedra e vemos uma pepita, um diamante de valor estético, uma escultura, uma obra de arte da natureza. Como “nasce” uma pedra?
Então me diz qual é a graça / De já saber o fim da estrada / Quando se parte rumo ao nada?
“Obrigada por me ensinar a olhar o caminho”, diz a estudante. E o professor, por sua vez, agradece ao artista cuja obra funciona como lanterna, a luz que ilumina o caminho, funciona como vela, a chama que anima a caminhada.
Ivan Rubens
publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 19/abril/2022
publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 19/abril/2022