Doce de lua


Lua 

Lua nos olhos dela, 

bela lua no céu

Olhar: lua de mel !


Lua reflete no mar

reflete no rio, ilumina a noite.

É lua na terra, lua no chão

Silenciosa, lua na mata.


Linda, lua que anda

Vinda de Luanda.

Vida de Lua que dança no céu:

na dança, lua desabrocha

em doce de lua, doçura

Lua na rocha.



Uma Revolução Rosa


Zélia Duncan canta Conversa de Botequim
música de Noel Rosa
Leia o texto ouvindo a canção. clique aqui:  


Noel Rosa, o sambista de Vila Isabel, nasceu em 1910 e morreu em 1937 aos 26 anos de idade. Ele deixou uma obra musical densa e suas canções são regravadas até hoje.  


A cantora e compositora Zélia Duncan entende o caráter revolucionário de Noel Rosa como modernidade. Jovem, Noel Rosa falava dos lugares na cidade do Rio de Janeiro. Rosa revolucionou o jeito de falar das coisas do Brasil dos anos 1930; Rosa revolucionou o jeito de ser jovem; Rosa revolucionou o jeito de olhar a cidade e falar dela, da boemia, da vida. Ele andava com Aracy de Almeida pelas ruas da cidade, entrando em botequins e boates, cantando, vivendo a vida em seu fluxo intensivo e, naturalmente, recolhendo os elementos para sua criação. Uma criação realista com efeito de encruzilhada: abre caminhos!

Zélia fia as suas linhas criativas com Noel: “música moderna é aquela que dura, que permanece moderna até hoje visto que revoluciona”. A artista retorna à década de 1930 e encontra canções que revolucionam, que transformam, que modificam a sua produção musical. Para Zélia, “Noel é moderno para sempre. Acho que o Noel é procurado até hoje para revolucionar”.


Interessante pensar com a Zélia Duncan: encontrar um revolucionário para provocar revoluções em si mesmo. Imagino a compositora criando uma canção e, nesse seu movimento de busca, de criação, encontra em Rosa aspectos que rompem com o já estabelecido, aspectos de solavanco, empurrões que tiram do lugar conhecido e lançam no espaço, que levam a ação criativa por caminhos inimagináveis. É como abrir as portas de uma casa pouco conhecida. Sabemos que dentro de uma casa há cômodos, portas, corredores, talvez escadas, janelas que dão para fora da casa. Contudo, por mais que saibamos os elementos que constituem uma casa, toda casa desconhecida é uma casa a conhecer. Para conhecê-la é preciso entrar nela, andar, se surpreender, percorrê-la... se assustar, sentir medo no porão, sentir arrepios aos ouvir seus barulhos, imaginar os perigos... e ao mesmo tempo surpreender-se com as paredes, as cores, o sol iluminando os cômodos, os objetos deixados no caminho, caídos ou colocados cuidadosamente por serem úteis ou por serem belos. O que importa mesmo é a experiência e os encontros nesta busca de si em uma vida se fazendo obra.


Noel é de uma malandragem que se faz no fluxo da vida, dos encontros, da errância que fortalece o movimento e a produção de sentidos. Particularmente de sensações que atravessam o corpo nas composições afetivas que fiamos com o mundo povoado de seres criando e re_criando mundos. Essa malandragem considerada como um corpo_que_dança, um corpo_que_ginga, essa ginga na dança da vida, esse movimento de busca permanente que podemos chamar de andarilhagem. Andarilhagem compreendida aqui como experiência, uma certa andança com cadência, uma certa ginga com uma boa malandragem. Andança e malandragem: uma certa revolução provocada pelo revolucionário Noel Rosa.

Uma revolução Rosa.


Ivan Rubens

Educador



publicado no Jornal Cidade de Rio Claro em 22/02/2022 (olha isso)