Roda BALEIRO, atenção

Quem, mais ou menos da minha geração, se lembra das balas de leite Kids?

Roda, roda baleiro, atenção. Quando o baleiro parar põe a mão. Pegue a bala mais gostosa do planeta. Não deixe que a sorte se intrometa. Bala de leite Kids, a melhor bala que há. Bala de leite Kids, quando o baleiro parar. Esse jingle de autoria de Sérgio Mineiro e Renato Teixeira, foi veiculado no final da década de 1970 e é lembrado até hoje. Sim, o caipira Renato Teixeira de Romaria gravada por Elis Regina, Tocando em frente gravada por Maria Bethânia, Amanheceu, peguei a viola, das parcerias com Almir Sater, Sérgio Reis e outros. Sonho de criança ser bombeiro, astronauta, cientista, eu pensava em ser caminhoneiro inspirado nas histórias de Pedro e Bino da sério Carga Pesada, e na canção Frete, tema de abertura.

O álbum de 1992 com Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho ao vivo em Tatuí, prêmio Sharp de melhor disco e prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte é um dos mais belos da minha coleção. Me encontrei com Pena Branca no Terminal Rodoviário do Tietê. Eu a caminho de Rio Claro, ele e suas violas a caminho de algum lugar que já não me lembro. Falamos da parceria e do álbum. O que mais me chamou a atenção durante a conversa foi o carinho e a saudade que devotava ao irmão, Xavantinho, falecido em 1999 aos 56 anos de idade. Pena Branca faleceu em 2010 aos 70 anos de idade.

Mas vamos falar de outro Baleiro. José Ribamar Coelho Santos, maranhense de São Luiz nascido em 11 de abril de 1966. Descendente de comerciantes cristãos vindos de Homs na Síria que aportaram em terras brasileiras em 1905. Músico, cantor e compositor de influência eclética que resultou numa musicalidade bem peculiar. Suas composições são interessantes, suas letras criativas, suas sacadas perspicazes, o que torna sua obra marcante. Ao ouvir algumas de suas canções interpretadas por outros cantores ou cantoras, é possível perceber: essa canção é do Zeca Baleiro.

A influência musical da mãe trouxe o samba de Noel Rosa, Wilson Batista, Ismael Silva e outros bambas. Baleiro adora Jackson do Pandeiro, gosta de rock, folk, blues, e revela a influência da música africana em sua obra, também do baião, do pop e até da música eletrônica.

Em coro com as crianças de casa, cantamos Mamãe Oxum, de domínio público cuja adaptação de Zeca Baleiro interpretada em parceria com Chico Cesar, está no bom CD Por onde andará Stephen Fry (1997). Eu vi mamãe oxum na cachoeira / sentada na beira do rio / colhendo lírio lirulê / colhendo lírio lirulá / colhendo lírio pra enfeitar o seu gongá (...). No mesmo disco está Pedra de Responsa em parceria com Chico César. Baleiro começou sua carreira com canções para peças infantis. Foi morar em São Paulo onde, nos anos 90, dividiu apartamento com Chico César. Gravou também com Arnaldo Antunes, Paulinho Moska, Fagner, Zeca Pagodinho, Zé Ramalho e outros.

Brinca com a sonoridade das palavras independente do idioma. Samba do approach e Babylon são exemplos. Fala do cotidiano com uma graça respeitosa. Eu curto Heavy metal do senhor e Salão de Beleza.

Zeca Baleiro esteve em Rio Claro no aniversário da cidade. Acompanhado da Orquestra Sinfônica de Rio Claro, o show rolou no Jardim Público. Foi muito bom. O centro da cidade como pólo atrativo, o povo na praça, um show aberto à participação de todos e todas democratizando o acesso. Boa iniciativa da Prefeitura Municipal que caminha para se tornar política pública de cultura.

Espetáculo de convívio social. Saímos de casa, fomos às ruas, ocupamos o espaço público com boa música, com dança e com alegria. Rodamos com o Baleiro a sola do meu bamba chegar ao fim, como ele sugere na canção Vai de Madureira.

Bem, para desvendar o mistério, o apelido deste Baleiro vem de seu consumo implacável de doces, balas e outras guloseimas.

Ivan Rubens Dário Jr

Publicado do Jornal Cidade de Rio Claro

 


Frete



em Rio Claro




Salão de Beleza - lindo o clipe

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