Tem canções que são obras de arte. Alguns compositores são capazes de eternizar poesia em melodia. Muita gente conhece Chico César na canção ‘mama África’. Eu prefiro a canção ‘mulher eu sei’ em que ele aliou o feminino e o masculino numa composição.
Francisco César Gonçalves nasceu em Catolé do Rocha, cidade do interior na Paraíba, em janeiro de 1964. Aos 16 anos foi para João Pessoa onde estudou jornalismo na Universidade Federal da Paraíba. Aos 21, mudou-se para São Paulo onde trabalhou como jornalista e revisor de textos ao mesmo tempo em que multiplicou suas composições e formou seu próprio público. Sua poética é de encanto lingüístico.
A temática do amor é muito forte na obra de Chico César. O amor quando acontece, invade sem pedir licença e torna a pessoa amada presente com força e sutileza. A linda canção ‘onde estará o meu amor’, conhecida na voz de Maria Bethânia, diz assim: “como esta noite findará e o sol então rebrilhará, estou pensando em você. Onde estará o meu amor? Será que vela como eu, será que chama como eu, será que pergunta por mim? Se a voz da noite responder, onde estou eu onde está você, que estamos cá dentro de nós, sós. Se a voz da noite silenciar, raio de sol vai me levar, raio de sol vai me trazer. Onde estará o meu amor?”
A noite finda, o sol brilha. Vela ou chama, imortal e infinito. Um amor que transcende tempo e espaço. Amor invasivo, absoluto. Ou apenas amor, simples e singelo. O artista fala de um amor permanente, faça chuva ou faça sol. Passa o tempo, passa a vida, ama e é amado. Na língua portuguesa, a palavra amor pode significar afeição, atração, apetite, paixão, querer bem, conquista, desejo, libido e etc. Seu conceito mais popular envolve a formação de um vínculo emocional com alguém que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para sua manutenção e motivação.
Em parceria com Vanessa Bumagny, a canção ‘pétala por pétala’ fala de um amor descoberto na ausência. É linda: a sua falta me fez ver / o que de mau a vida pode ter / e a sua volta me dá mais / de todo o mel que eu ousaria querer. Sua presença me faz rir / dos dias feitos pra chover / não há revolta pra sentir / nem há milagre pra não crer. Vinda que finda / a tinta de pintar tristeza / deixa os mistérios plenos de sentido / e a flor da vida toda. Pétala por pétala / que um tolo pode colher / sem saber que é amor. Vem e aumenta em mim / o único que sou / me subtrai do que em mim passou / é amor, vem...
Nesta letra, o artista sugere que o amor independe das convenções, independe da presença. Ele é e pronto. Na ausência ele se recolhe, na presença o amor se expande. Amor, nas suas mais diferentes manifestações, é uma das expressões mais belas da espécie humana.
Por meio da Secretaria Municipal de Cultura, a Prefeitura de Suzano trouxe esse lirismo romântico no último domingo (21). Chico César apresentou-se no Pavilhão Zumbi dos Palmares que fica no parque Max Feffer cujo espetáculo integrou a programação da consciência negra. Muito apropriado por sinal.
Finalizo com linda ‘pensar em você’: é só pensar em você que muda o dia / minha alegria dá pra ver / não dá pra esconder / nem quero pensar se é certo querer / o que vou lhe dizer: um beijo seu e eu / vou só pensar em você / se a chuva cai e o sol não sai / penso em você / vontade de viver mais / e em paz com o mundo / e comigo (e consigo).
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